CONCELHO DE CAMINHA



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Nº 138: 21 a 27 Jun 03
Semanal - Sábados
1ª Pág. JORNAL DIGITAL REGIONAL


Festas de S. João Novo e S. Bento
Dias 19 a 24 de Junho de 2003

Tudo começou com a Procissão de Corpus Christi, com grandes tradições, ainda hoje, no Alto Minho, com destaque para três Municípios, nos seus aspectos mais populares e lúdicos, que são Ponte de Lima (Vaca das Cordas e Tapetes Floridos), Monção (Procissão do Corpo de Deus, com o Boi Bento, o Carro das Ervas, a Coca e S. Jorge, seguindo-se o tradicional combate no Campo do Souto entre Serpe e S. Jorge – o Mal e o Bem, sempre em disputa) e Caminha, com a sua excelência nos tapetes de flores.

No Séc. XVII, os cânticos e as danças com que o povo das aldeias se manifestava na Procissão , entre as quais a Mourisca (conjunto de doze mouros com o rei dançando e cantando), foi proibido pela Igreja.

O povo reagiu a esta decisão, transformando os mouros em hebreus e ao rei mouro, chamar-lhe Rei David. Mesmo assim, nada de integrar a procissão, passando, esta representação, a ser válida tão só para as Festas de S. João Batista.

Em Subportela, a dança do Rei David fazia-se, já, há mais de 150 anos. Mas, seguindo os costumes da época, transforma-se no Auto de S. João.

Era o célebre "carrão", que percorria os caminhos da freguesia, anunciando as festas; depois, o auto em si, com palco adequado a que o povo costuma, também, chamar-lhe "carrão".

O relato que trazemos hoje, é do Auto de S. João de 1964, em Subportela e, a literatura da época diz "constituir uma singela diversão teatral que os habitantes de Subportela", acerca de 7 kms, pela estrada que liga Viana do Castelo a Ponte de Lima, pela margem esquerda do Lima, "fazem representar, no prosseguimento de uma velha tradição, em honra de S. João.

O Auto compõem-se de breves invocações dialogadas e nela tomam parte rapazes e raparigas da localidade, que se exibem num lugar deveras pitoresco, junto à Ermida de S. João Novo. O espectáculo decorre ao ar livre, sendo em número de dezoito as personagens que declamam, cantando as suas falas, sobre um improvisado palanque, onde figura uma espécie de trono com S. João (menino), cujo respectivo "actor" é, precisamente, um pequeno de poucos anos de idade.

Teve, como "actores" principais Manuel Rodrigues Pereira de Almeida (Zacarias), Rosalina Santos da Silva (Anjo), Olinda Marques da Rocha (Nossa Senhora), Maria Lindalva da Silva Ribeiro (Santa Isabel) e Guilherme Alves Ribeiro no papel de S. José, além de mais 12 pastores e do próprio S. João.

Respigamos algumas das "conversações do Auto:

No I Acto – Zacarias, dizia assim:

"Como é triste ser velhinho/E não ter a nosso lado/O amparo e o carinho/d’um filhinho adorado. Passo as noites a orar/Com a minha companheira/Para Deus me abençoar/Nesta hora derradeira"

Aparece o Anjo cantando: "Não receies Zacarias/Nem se turbe o coração/Pois no Céu já foi ouvida/Tua bela oração". E, novamente, Zacarias: "No Santo Anjo do Senhor/Como pode isso acontecer/Porque eu e Isabel/Estamos prestes a morrer?". Regressa o Anjo que diz – "Não te importe a idade/Muito perto de morrer/Porque Deus Omnipotente/O que quer pode fazer", após o que "entra em cena Nossa Senhora e Santa Isabel": "Neste mundo peregrino/Pelos montes de Israel/Vou movido do amor/Visitar a Isabel. O Senhor e Rei Altíssimo/Houve dela compaixão/Quis graças perfumar/Tão amante coração. Isabel terá um filho/Destinado a Precursor/Porque vem trazer os homens/Para os braços do Senhor". Responde Santa Isabel: "Quem sou Virgem Maria/Mãe dos homens, Mãe de Deus?/Vens saudar a velha amiga/ Tu – Rainha lá dos Céus? Coração, meu coração/É um mar de alegria/Rejubila de contente/Na Grandeza deste dia". Durante este diálogo e no fim de cada quadra, dizem as duas: "Glória a Deus, nas alturas/À Santíssima Trindade/Por honrar as suas servas/Desde toda a eternidade".

Regressa, à cena, no VI Acto, o Anjo, para dizer: "Já em tempos mais antigos/Fez milagres iguais/Por um acto só de amar/Dar um filho aos tristes pais" e, ainda, "A tão linda criancinha/Venerando ancião/Hás-de dar-lhe, ordena o Céu/O lindo nome de João". Também Zacarias regressa à cena, com o agradecimento: "Sê bendito, Senhor Deus de Israel/Que visitaste o povo muito amado/Para dar ao mundo infiel/o Messias na Lei anunciado". Entram em cena os pastores: "Vinde, Vinde, pastorinhos/Lindos cantos entoar/Em louvor deste menino/Que seus pais veio alegrar", para continuar "Eia, vamos à porfia/A correr e a gritar/Em redor deste bercinho/O menino embalar", para terminar "Para todos nos salvar/Vais mandar o Redentor/E à frente lá chegou/O Santo Precursor. Zacarias, Isabel/Sois os pais abençoados/Do menino S. João/Que nos traz maravilhados. Neste mundo, que fizeste/Por bondade e amor/Nossos lábios vão contar/Para sempre em teu louvor". No fim de cada quadra, em coro: "Oh! Bendito S. João/Linda flor celestial/Toma o nosso coração/É tesouro sem igual".

No final da peça, juntam-se os dezoitos personagens, que cantam: Oh! Senhor que morais nos altos Céus/Inclinai para terra o vosso olhar/Mostrai-nos Vossa Face mas sem véu/Quando esta negra vida terminar".

Ano a ano e trinta e nove anos depois desta memória, repete-se o Auto de S. João com as mesmíssimas características e, naturalmente, outros actores. São duas as representações do Auto – a primeira no Sábado, dia 21, às 19 horas e a segunda, Domingo, às 18 horas.

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