TREINADOR CONTINUA EM "BLACK-OUT"

Já é um pouco da tradição caminhense, dizer-se que quando se vence a regata de Shell/8, um campeonato correu bem!

Assim sucedeu no final dos últimos Campeonatos Nacionais de Velocidade disputados na nova pista olímpica de Montemor-o-Velho no passado fim de semana, em que o Sporting Club Caminhense conquistou 7 dos 37 títulos em disputa, culminando da melhor forma a competição, pese embora alguma desilusão causada pela incapacidade em revalidar os triunfos no Shell/8HPL e no sempre apetecível e carismático Shell/4+.

Na primeira jornada (Sábado), os juniores inauguraram da melhor forma a série de finais dos campeonatos com uma vitória em 8+, depois de árduo despique com a revelação Náutico de Viana, reconfirmando a supremacia já evidenciada no Nacional de Fundo.

Ângela Chevarria conseguiria, a seguir, atingir o bronze em 1XPL, seguindo-se três resultados menos bons também em ligeiros, mas, masculinos (2X; 2- e 1X), até que o quadri-scull masculino interrompeu esta série, conseguindo atingir o 1º lugar.

Logo depois, o 4+ junior disputou arduamente o 1º posto com o Infante, perdendo por muito pouco, sendo compensado posteriormente com a vitória no 4- junior, em que os quatro jovens remadores caminhenses venceram com facilidade o único adversário que participou neste tipo de barco.

O Caminhense participaria ainda em 2+ junior (1º lugar), 4XJ (5º), 2-JF -a única vitória feminina neste campeonato- até que surgiu alguma desilusão a encerrar a tarde, quando o oito ligeiro não foi além de um terceiro lugar atrás do Galitos (a primeira vitória num barco de oito sénior ao fim de mais três décadas de jejum), depois de ter realizado uma excelente época.

Desdobramentos a mais, apostas em barcos que se sabia não terem possibilidade de êxito e um deficiente controle de peso que obrigou a medidas drásticas de última hora, resultaram num semi-insucesso nos pesos ligeiros, não fora as vitórias no quadri masculino e no dois sem feminino.

Pode-se dizer que os lugares de podium não são desprezíveis, mas o Caminhense aposta sempre na vitória e, se em algumas provas, um segundo lugar quase que representa um primeiro, face à competitividade registada -e cada vez mais, os clubes tentam a sua chance nos barcos em que prevêem mais possibilidades de êxito-, fica sempre aquele "sabor amargo do quase".

Dos juniores, pode-se dizer que cumpriram a sua missão, conquistando três títulos, embora o quatro com timoneiro pudesse ter ampliado o leque de vitórias.

Neste escalão etário, talvez não fosse de desprezar a possibilidade de enquadrar devidamente os remadores com um treinador. Um único técnico, embora com a colaboração de um ajudante, não parece ser a fórmula mais eficaz para orientar estes jovens, mais os seniores ligeiros e pesados. Tudo depende da quantidade de atletas existentes em cada escalão, podendo reajustar-se a parte técnica às necessidades do momento, mas sem se deixar de ter em consideração as vantagens de um acompanhamento mais próximo das embarcações em treino na água.

PESADOS

Sendo o escalão de pesos absolutos aquele de quem habitualmente mais se exige, os dois únicos títulos obtidos, poderão indicar alguma fragilidade neste sector. Poderia, frisamos. Porque o Caminhense conquistou o título em Shel/8 e já se sabe o quanto esta vitória representa para todos os que em Caminha, acompanham a modalidade com atenção, apesar do aspecto negativo que ofereceu o não preenchimento de todos os lugares da camioneta disponibilizada pela Câmara - será que os caminhenses andam distraídos ou a apatia a que a vila parece estar votada contagiou a maioria dos seus moradores?

Uma vitória no Shell/2+, dois segundos em 4+ (a Taça Lisboa voou para o Infante) e 4- e mais outros resultados sem direito a pódium (o que foi fazer a Montemor-o-Velho o skifista que correu em ligeiros e pesados?) e o tetra em Shell/8, deixaram no ar um sentimento de frustração e, simultaneamente, de dever cumprido.

O terceiro lugar do quatro com timoneiro (atenção: para o ano cumprem-se 100 anos da criação da Taça Lisboa), terá sido a principal desilusão da jornada de Domingo, levando a que muitos já duvidassem da possibilidade de êxito na derradeira prova - o oito pesado (previsões, que, finalmente, não se concretizaram). O quatro apresentou uma remada curta e demasiado rápida, ritmo que manteve mesmo a meio da regata, contrastando com a cadência mais pausada do Infante, que controlou o quatro verde e branco ao longo dos dois quilómetros.

Já no oito com timoneiro, o Caminhense veio de "menos a mais", após uma saída rápida do Infante, embora o "inesperado" Ginásio Figueirense (em cuja equipa se incluía o veterano remador caminhense Henrique Baixinho) se revelasse uma surpresa, chegando a superar as duas tripulações em boa parte da prova e acabando no segundo lugar a meio barco do Caminhense.

Assinale-se ainda que os clubes começam a apostar mais nos barcos compridos (Shell/8) e a concorrência é a maior, o que se regista para bem da modalidade. Recorde-se a prestação do 8 do Ginásio, lutando lado a lado com Caminhense e Infante.

Como pormenor bonito de ver no final desta prova, não poderia ser deixado em claro a amizade que os remadores nutrem uns pelos outros, com os do Caminhense a cumprimentarem o Henrique Baixinho e, acabando mesmo por o atirar à água com o Artur Antunes, uma prática habitual no mundo do remo, entre campeões.

No regresso aos pontões de embarque, após o cerimonial da entrega dos troféus, os remadores do 8 do Caminhense deram um prémio a Ruy Valença, ex-timoneiro olímpico do clube dos anos 60, e que vem acompanhando as regatas de remo.

"Há mais de quarenta anos que não me sentava no lugar do timoneiro!", referiu ao C@2000, antes de embarcar.

PISTA

Quanto à pista, apesar dos ventos dominantes que habitualmente sopram com maior incidência na parte da tarde, nestas regatas não se revelaram muito decisivos e, a comprová-lo, está a vitória do Infante no 4+, ao correr na pior pista (1). De qualquer modo, a possibilidade de realizar as provas na parte de manhã, poderá evitar que o vento lateral interfira negativamente na verdade desportiva. No entanto, se a assistência já é reduzidíssima, de manhã, poderá ser ainda pior.

Como aspectos negativos -além da falta de algumas bóias sinalizadoras das pistas- refira-se que os acessos continuam execráveis, incluindo a ligação à linha de largada.

Apenas foram plantadas árvores laterais à pista, de modo a atenuar (futuramente) o efeito dos ventos e pintada e envidraçada a torre de chegada. Falta ainda muito para que Montemor-o-Velho possa receber uma regata internacional de gabarito, conforme é seu desejo, aliás.

TAÇA DO MUNDO EM 2005

Pedro Machado assinalou que o secretário de Estado do Desporto se deslocou a este concelho e foi confrontado com a necessidade de ser encontrada uma alternativa para a 2ª fase do investimento (600/700 mil contos), o que perfará o total de 2 milhões, atendendo aos 1,2 já investidos nesta pista.

As dificuldades financeiras deverão agora ser superadas através de uma parceria com as secretarias de Estado do Desporto e Ambiente e Território, com a finalidade de conseguir um financiamento para a 2ª fase, a qual é "iminente e exigível", destacou o autarca.

Pedro Machado anunciou que foi apresentada uma candidatura à realização de uma Taça do Mundo nesta pista, em 2005, mas que será impraticável com as actuais estruturas, razão pela qual pensam organizar uma "prova intermédia em 2004", o que implicará a construção de hangares, balneários, acessos e melhoramentos a nível da sinalética rodoviária, pelo que as obras deverão decorrer entre 2003/04, assim o deseja o município montemorense.

FEDERAÇÃO ESPERANÇADA

Comentando os Nacionais deste ano, Fernando Estima mostrou-se agradado com o aumento do número de atletas, assim como do número de barcos em shell/8, considerando-o um facto "histórico".

O presidente da Federação destacou ainda a competitividade registada nalgumas provas, "disputadas até à última remada", e o facto de terem aparecido clubes desactivados ou sem resultados de nível no passado, e que agora ressurgiram, casos da AND e do Clube de Pesca e Caça da Régua ou do Ginásio em Shell/8.

4- VAI TENTAR ATENAS

Em termos de objectivos a curto prazo, a Federação Portuguesa de Remo vai tentar que um barco (Shell/4-) atinja uma classificação satisfatória (pelo menos o 11º posto) nos próximos Campeonatos do Mundo que lhe permita de imediato o apuramento para as Olimpíadas da Grécia em 2005 e, quanto aos juniores (2X), a presença na final do Campeonato do Mundo/03 e a obtenção de uma medalha, está no horizonte.

Prevê-se ainda a participação de juniores na Coupe de la Jeunesse, em Hazewinkel, tentando repetir os feitos de 2002, em Portugal.

AS OPINIÕES DOS CAMINHENSES NOS NACIONAIS/03

De entre um lote vasto de remadores do SCC presentes nos Nacionais deste ano, registámos alguns depoimentos sobre os seus êxitos:

"Gostei bastante da prova de 8. Bem disputada, todos bastante picados e só se decidiu no fim". Estou contente com os três títulos deste ano"

Não estou na selecção por motivos pessoais. Não se pode conjugar tudo. Não faço prognósticos a longo prazo".

A prova de oito foi um bocado aquilo que estávamos à espera. A eliminatória já nos tinha dado uma ideia daquilo que éramos em termos de equipa: Lenta na largada, enquanto que o Infante era rápido e isso comprovou-se na final, em que eles apostaram deliberadamente numa táctica que nos assustasse nos primeiros 200 metros, acabando por conseguir uma vantagem exagerada. O vento contra foi-nos favorável e a táctica do nosso treinador resultou.

Quanto ao Ginásio, foi uma equipa surpresa, tendo mostrado porque estão aqui e tenho que lhes pedir desculpas porque não estava a contar com tanto, mas só vieram engrandecer esta regata de Shell/8".

Já contava com o Ginásio para esta prova, devido à sua prestação em Gondomar.

Tenho uma saída em grande e só tenho a agradecer a todos os meus colegas pela ajuda que me deram.

Estes 11 anos no remo foram excelentes para equilibrar o físico e a mente".

João Paulo Garrido reconheceu que está "ultrapassada a ideia de que só existiam dois adversários fortes a apostarem em determinados barcos".

Não deixou em branco o facto de o 8+PL não ter conseguido vencer, depois da "dedicação registada pelos remadores em toda a época, lutando por um lugar no barco, controlando o peso e após terem conseguido boas prestações em que demonstraram o seu valor".

"Foi pena" que nessa regata, "não tivesse sido possível efectuar um controle rigoroso dos pesos", acrescentou, para de seguida referir que "isto de andar a perder peso antes das regatas dá mau resultado quando se chega à hora das provas, depois de terem sido feitas duas provas de atletismo", numa alusão aos esforços prévios para reduzi-lo.

Contudo, não deixou de elogiar o esforço realizado pelos remadores na tentativa de diminuir o peso, designadamente, para aqueles que "apresentam algumas dificuldades nesse campo".

O presidente do SCC destacou ainda alguns 2ºs lugares conquistados e que "não representam os primeiros lugares dos últimos. Isso é uma balela para quem não pratica desporto. Ficar em 2º, entre 12 ou 15 equipas não é nada mau, embora não seja aquilo que se anseia, isto é, não é um objectivo final".

Pretendendo saber qual a posição do SCC no próximo ano, quanto ao facto de se completarem 100 anos sobre a primeira vez em que a Taça Lisboa foi disputada, João Paulo Garrido, não deixou de sublinhar que a Taça Lisboa "em termos emocionais e afectivos é uma regata importante mas teremos que ponderar se a história do remo em Caminha, se resume ao Shell/4+ e à Taça Lisboa -embora represente muito", realçou.

Adiantou não concordar muito com a preparação de uma época "exclusivamente para um título, embora nos possamos orientar nesse sentido. Repito: Devemos ter outras opções e participar com toda a dignidade", concluiu.

Adiando sucessivamente um comentário a estes Campeonatos Nacionais, João Pinto, o treinador dos juniores e seniores do Sporting Club Caminhense, acabou por não expressar a sua opinião sobre eles, um facto inédito na carreira deste jovem técnico.

Submetido a estratégias pessoais que respeitamos mas discordamos, os leitores viram-se privados de apreciar o que tinha para dizer aos sócios do clube ou aos adeptos desta modalidade que lêem o C@2000.

Nos bons ou maus momentos (teria sido mesmo um mau momento? - Uma dúvida que pairará...), há que enfrentar com desportivismo os resultados.

O bom exemplo dado pelos seus pupilos no final da prova do Shell/8+, deveriam tê-lo feito reconsiderar a sua atitude.