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TRIBUNA
Espaço reservado à opinião do leitor
El-Rei D. Gambozino, perante um grupo de insatisfeitos, daqueles que sofrem, aguentam e pagam a dita crise, simplesmente comentou:
- Não sei se deva ter pena, nem sei se merecem que tenha pena de vocês…
- Porquê, D. Gambozino? Que mal fizemos nós?
- Ainda perguntam? Não foram vocês que puseram essa gente no poder? Então… que querem? Só vocês podem mudar tudo, se quiserem, e só se quiserem!
- Como, D. Gambozino?!
- Vocês não abrem, nem querem abrir os olhos. - No próximo domingo, 13 de Junho, vão votar para o Parlamento Europeu. Até quero ver como vão votar. - Vão continuar a creditar naqueles que vos têm roubado nos vencimentos, nos direitos, na saúde, no ensino, na segurança social? Vão continuar a cair como patos, para eles cinicamente proclamarem que vocês foram inteligentes em votar neles?! Inteligentes… para serem pisados, humilhados, até à penúria, até à miséria, por esses senhores?!
- Vossa Alteza bem fala, mas eles juram que são os melhores e, para votarmos neles, dizem que "andar para trás, não!".
- Vê-se bem que não aprenderam praticamente nada em trinta anos de democracia. Abram lá os olhos, e pensem: Não foi precisamente com esses senhores da Direita que tudo, no vosso país, andou para trás? Não foi por eles e com eles que a vossa vida andou para trás? - Já chega de andar para trás! E com esses senhores no poder tudo vai continuar a andar para trás.
- Sim, mas estas eleições não são para o Governo, são para o Parlamento Europeu!
- E querem mandar para o Parlamento Europeu aqueles que só sabem e só querem que tudo ande para trás? - A agricultura já se acabou, as pescas lá se vão indo, e tudo segue o mesmo caminho.
- Estamos todos confusos…
- Não me digam que são todos iguais, porque não são memo. Sabem muito bem quem está e sempre estará ao vosso lado. Sabem bem quem é que defende um novo caminho para a Europa, uma Europa que seja uma autêntica comunidade, comum unidade, com Estados iguais em direitos e obrigações. É nesses que têm de votar, sem medo nem hesitações. Abram os olhos! E não continuem a dar cabeçadas!
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O desinteresse revelado por grande parte da população face às eleições para
o Parlamento Europeu, resulta de certas forças políticas se mostrarem mais
preocupadas com o arranjo das suas listas de candidatos do que com uma
verdadeira discussão dos problemas da Europa. A realidade é que não há
questões políticas europeias que não tenham implicações em Portugal, daí a
importância da participação dos cidadãos no acto eleitoral de 13 de Junho
próximo. Estão em jogo interesses vitais dos portugueses.
Para decidir sobre o futuro da Europa, não podemos esquecer um conjunto de
interrogações que preocupam milhões de europeus:
_ Queremos uma Europa de ostentação, comandada pelas elites económicas e
financeiras, mas onde existem mais de 50 milhões de pobres dos quais 2
milhões são portugueses?
_ Queremos uma Europa em que, em nome do Pacto de Estabilidade e
Crescimento, o desemprego vai aumentando de modo galopante?
_ Queremos uma Europa onde meia dúzia de eurocratas discutem que fazer dos
excedentes de produção agrícola e que multas aplicar aos "prevaricadores",
enquanto de quatro em quatro segundos um ser humano morre à fome no Mundo?
_ Queremos uma Europa em que os serviços públicos, em particular a saúde, o
ensino e a segurança social, sejam destruídos, como o governo PSD/PP está a
fazer no nosso país?
_ Queremos uma Europa sem referências, sem moral, sem valores, onde o que
conta é o que se tem e não o que se é, e em que os jovens encontram no
suicídio uma das primeiras causas de morte?
_ Queremos uma Europa em que o desenvolvimento se faça à custa da destruição
irreparável do meio ambiente?
_ Queremos uma Europa submissa à estratégia imperial americana e alinhar em
guerras baseadas na mentira, como no caso do Iraque?
Não, esta Europa não queremos. Queremos uma Europa de paz, de emprego, com
protecção social, com direitos e deveres, com serviços públicos de qualidade
e com respeito pela natureza. E como bem sublinha o Bloco de Esquerda,
sejamos europeístas sem sermos eurocêntricos, ou seja, desejemos uma Europa
próspera, mas que essa prosperidade não se construa à custa da miséria de
outros povos. É no mínimo uma obrigação ética.
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Na Serra d'Arga ou em Paris - por uma Europa Solidária.
A identidade das pequenas comunidades locais ou regionais, das nações ou de comunidades como a europeia, vai-se estruturando em volta de sentimentos e ideias de pertença e de exclusão. Coisas simples que se reflectem em atitudes quotidianas de proximidade fraterna, por via da partilha de responsabilidades. Não se trata de anular a cultura de cada um. Muito pelo contrário, é pela sua afirmação, num encontro de diferenças respeitadas e de propósitos de bem-estar comum valorizados que se consolida uma verdadeira identidade colectiva.
Mas, e um cidadão de uma aldeia do interior do concelho de Caminha, de Paredes de Coura ou de Melgaço, entregue à sua realidade de abandono secular pelos políticos do país, sentirá vontade de participar nas eleições para o parlamento europeu do próximo dia 13 de Junho? Sentirá responsabilidade pelo futuro da Europa? Olhará para si próprio como cidadão europeu? Num primeiro impulso, talvez não. Solicitam-no para uma escolha que não lhe parece resolver nada do que o aflige. No entanto, se olhar com vontade de ver, encontrará razões muito fortes para se fazer ouvir neste escrutínio.
Os partidos grandes mais não tem feito do que distanciar-nos da Europa dos cidadãos para nos venderem a Europa feita à sua medida. A Europa dos fundos milagrosos. A Europa das negociatas. A Europa dos que mandam por conta da subserviência humilhante dos que obedecem.
Chegaram, nos últimos tempos, ao ponto de se mostrarem dispostos a subscrever um Tratado Constitucional Europeu onde a democracia política entra definitivamente no reino do faz-de-conta. Esta proposta de constituição europeia que pretende perpetuar uma união de governos com um directório dos países mais ricos, é o caminho inverso ao de uma Europa Democrática, fundada na vontade expressa dos seus cidadãos. Os resultados das próximas eleições europeias podem, de alguma forma, apontar uma vontade de cidadania contra estas imposições. Para isso, é necessário que o direito de voto seja consciente e massivamente exercido.
Para além desta questão, elementar para a construção europeia, colocam-se outras, não menos importantes, como a renúncia à corrida aos armamentos para concentrar o investimento público europeu na diminuição das desigualdades, no combate à fome e à pobreza, na criação de emprego, na saúde, na educação e na criação cultural, no ambiente, etc, etc. Por tudo isto, votar nas eleições de 13 de Junho é uma oportunidade que não deve ser desprezada sob pretexto algum. É tempo de manifestarmos opções claras por uma Europa da solidariedade, da democracia e contra a guerra e o terrorismo - seja ele de grupos desesperados ou de estados com ambições imperiais. E tudo isto importa aos cidadãos europeus na Serra d'Arga como em Paris.
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MEMÓRIAS DA SERRA D'ARGA |
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Autor Domingos Cerejeira |
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