Jornal Digital Regional
Nº 394: 14/20 Jun 08 (Semanal - Sábados)
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Colóquio "Indisciplina e Violência nas Escolas"

No passado dia 5 de Junho, pelas 21H30 no Auditório da Biblioteca desta Escola, realizou-se um colóquio subordinado ao tema aqui titulado e para o que foi convidado o Prof. Dr. Rui Trindade da FPCE da Universidade do Porto e que apresenta um extenso currículo profissional e académico como investigador de diferentes aspectos relativos a vários contextos da actividade educativa.

Iniciou-se este colóquio com uma breve apresentação do convidado feita pela Presidente do Conselho Executivo, Profª Maria Esteves que ainda salientou a actualidade e as intenções e objectivos desta iniciativa.

No sentido de contextualizar as actividades, interesses e projectos do Prof. Dr. Rui Trindade, o moderador do colóquio, Prof. José Araújo, especificou os aspectos mais relevantes do respectivo currículo e, observando a importância do debate em torno dos assuntos relacionados com as causas, tipologia, consequências e estratégias (de prevenção e intervenção), considerou a premência deste colóquio como possibilidade de esclarecimento e busca de soluções para estes aspectos de conflitualidade no contexto escolar. Assim, deu a palavra ao convidado que, ao longo da sessão, se referiu aos assuntos que aqui se mencionam.

Depois de apreciar certas questões inerentes à clarificação e contextualização dos conceitos e situações de indisciplina e de violência no meio escolar, o Prof. Dr. Rui Trindade apreciou que, tanto pela actualidade mediática como devido às actuais formas de manifestação deste modo de comportamento dos alunos, é necessário desenvolver um diálogo, aprofundado e sem preconceitos, que vise compreender factores e contextos alargados que possibilitem a eficácia e soluções humanizadoras destes problemas. Neste sentido, lembrou ao auditório que hoje a escola se apresenta como uma confluência de espaços físicos e de vivências circunstanciais muitas vezes dissonantes, devidas à pluralidade de valores culturais e de realidades sócio-económicas que se revelam nas relações do contexto sócio-educativo. Por isso, referiu ser preciso questionar quando é que a violência e/ou a indisciplina correspondem a fenómenos da interioridade do sujeito/aluno e quando resultam de reacções a estímulos exteriores à intencionalidade do indivíduo em formação e enquanto interactuante num meio, por vezes despoletador deste tipo de reacções; assim, observou o facto de dever-se reflectir em que situações a indisciplina e/ou violência é consequência da intenção dos discentes ou mera resposta comportamental a circunstâncias extrínsecas à sua individualidade.

Continuou esta exposição com a leitura de um artigo da autoria Profª Dr.ª Fátima Bonifácio, numa recente publicação periódica, que, depois de analisado criticamente, serviu para o Prof. Dr. Trindade desenvolver o que, no seu entender, são as típicas atitudes e discursos, das pessoas em geral e dos docentes em particular, face aos problemas vividos nas escolas. Assim assinalou:

1º Discurso catastrofista (expresso no citado artigo a propósito das competências dos alunos universitários) que põe em causa o nível de erudição e as capacidades dos discentes; segundo o conferencista, esta posição não tem em conta o esforço e sacrifício desenvolvidos pelos intervenientes nas diferentes escolas nem considera positivo o trabalho e preparação que as instituições educativas buscam integrar. Questionou-se se é possível existir a escola perfeita e elitista a que a Dr.ª Bonifácio alude e, por outro lado, criticou o carácter "indisciplinado" deste discurso porque conduz a preconceitos e generalizações abusivas, promove uma atitude pouco ética em relação aos docentes e discentes, aqui agredidos, moral e psicologicamente, por estas opiniões, e porque não aponta qualquer tipo de soluções face ao diagnóstico apresentado.

2º Discurso da ingenuidade que, de Rousseau a J. Watson, centraliza as causas do comportamento desviante nos contextos de vida, ora as condições sócio-económicas como factor marcante de discriminações e revolta no meio escolar ou o tipo de representações sócio-afectivas devidas ao meio familiar e às diferentes comunidades de inserção; desta situação decorre o questionamento sobre como ajudar os outros a alterarem os contextos de vida, como mobilizar a vontade dos diversos agentes e instituições neste processo de universalização de soluções, embora correndo o risco de não incluir os factores intrínsecos da individualidade nas esperadas mudanças comportamentais.

3º Discurso do "bode expiatório" em que, devido a crises sociais ou a modelos culturais em mudança, as pessoas imputam a alguém, nomeadamente à Escola, a responsabilidade pelo mal-estar social ou as causas do atraso no desenvolvimento do país; deste modo, acentua-se a falta duma atribuição positiva ao papel social da escola, bem como se procura um "alter ego" gerador de becos sem saída. Normalmente pouco rigorosa, também esta posição assenta em impressões primárias e estereótipos, por vezes, veiculados pelos meios de comunicação social.

Face a estes discursos ilustrados por exemplos quotidianos, o conferencista convidou os presentes (encarregados de educação, professores e educadores, auxiliares de acção educativa, alunos, etc.) a reflectirem sobre o que deve e pode fazer a escola pública e democrática, em que a Educação se entende como um direito e necessidade a salvaguardar para as gerações futuras, e acrescentou o questionamento que as famílias também devem fazer neste processo.

Procurando algumas respostas, em relação aos pais/encarregados de educação, disse não existirem teorias perfeitas ou receitas milagrosas e salientou o dever de estes assumirem uma paternidade responsável no acompanhamento da formação dos seus educandos e no esclarecimento das suas expectativas escolares. Observou o mito contemporâneo dos pais-companheiros em cuja relação se diluem referências e padrões de orientação educativa ou em que se verifica quebra de normas de relação e interacção pelo que, em última análise, não se atende ao seu papel na determinação dos respectivos papéis e estatutos. Defendeu que os encarregados de educação, como homens/mulheres do leme, devem procurar, com bom senso, saber dialogar para melhor conhecerem os filhos e os contextos escolares; doutro modo, chamou a atenção para as interpretações e atribuições distorcidas da realidade escolar que, sobretudo em momentos críticos como os da avaliação de resultados, os discentes podem fazer.

Em relação aos professores e educadores apreciou que não podem esperar que a escola seja um "paraíso" de boas vontades e pessoas ideais e, assim, devem entender os seus diversos significados e expectativas para conseguirem promover leituras contextualizadas e diferenciadoras em que caibam diagnósticos correctos quanto às causas e motivações subjacentes às respostas comportamentais não adequadas às aprendizagens esperadas; chamou a atenção para o facto de que, nem sempre, a causa da indisciplina se possa atribuir exclusivamente aos alunos e que os professores também devem atender ao tipo de relação e interacções a desenvolver com os discentes. Considerando esta relação, o conferencista citou os três níveis de indisciplina teorizados pelo Prof. João Amado, em que se indicam diferentes tipos, factores, consequências e modos de intervenção para os mesmos e, diferenciando estas formas de conflito, apreciou que se devem evitar actuações estereotipadas ou discriminatórias; para tal, mencionou que as estratégias para estes diferentes tipos de indisciplina devem seguir-se a um correcto diagnóstico e assentarão na comunicação interactiva, no dimensionamento de actividades punitivas ou optimizadoras do desempenho e nos processos de liderança subjacentes à intervenção desejada. Notou ainda que, para além da intervenção técnica, a eficácia das soluções deve atender a dimensão existencial que a própria Escola comporta e, com estas considerações, a palestra foi caminhando para o seu termo.

Entretanto, o moderador deu voz à intervenção de vários elementos do auditório que se pronunciaram sobre as situações anteriormente reportadas. Assim, questionou-se o papel amplificador e, possivelmente negativo, que certos meios de comunicação tiveram no tratamento do caso do telemóvel na escola "Carolina Michaelis" bem como o modo como as instituições lidaram com esta situação e apreciou-se se é necessário judicializar situações semelhantes. Também foram referidos os hábitos e usos dos alunos que resultam da observação e imitação de modelos sociais significativos, nomeadamente nos vídeos e telenovelas e comparou-se o modo de resolução da indisciplina nas escolas públicas e nos ditos "colégios", onde os regulamentos e modos de selecção parecem filtrar a ocorrência de comportamentos indisciplinados ou cuja visibilidade não é tão publicitada. Apesar da longa duração deste colóquio, os presentes mostraram o seu interesse havendo ainda tempo para apreciar como as áreas curriculares não disciplinares (Educação Cívica, Estudo Acompanhado e Área de Projecto) podem contribuir para melhorar o desempenho e a disciplina no meio escolar e, por outro lado, que consequências se podem entrever ao nível da aplicação do novo Estatuto do Aluno nas situações de indisciplina e/ou violência escolar.

Atendendo ao avanço das horas, o moderador reconheceu o interesse demonstrado pelos intervenientes e, solicitando ao público a necessidade de terminar o colóquio, agradeceu ao Prof. Dr. Rui Trindade a disponibilidade e os esclarecimentos prestados, dando por finalizada esta iniciativa promovida, no âmbito da Semana Cultural do Agrupamento de Escolas Coura e Minho.

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