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TRIBUNA
Espaço reservado à opinião do leitor
Tenores afinados pela banda polifónica do poder, no âmbito do custo/benefício que tanto convém, pelo menos o benefício, não hesitaram em cantar a mais recente sinfonia, mais que ensaiada:
- Como vê, D. Gambozino, os alcaides do nosso condado têm gerido a máquina do poder com invejável mestria, de forma hábil, concertada …
- Exacto. É aquilo que se chama uma gestão ao rubro; com espalhafatosas diversões ao rubro, ao som de discursatas ao rubro … Enfim, uma gestão demagógica e populista ao rubro.
- Seja como for, a verdade é que esta gente tem demonstrado uma especial sensibilidade para com o património cultural, digna de mérito.
- De notável mérito, sim senhor. Que o digam o aprovado, mas superiormente reprovado, loteamento do castro do Coto da Pena; que o digam os atropelos do IC, as figuras rupestres de Lanhelas, os moinhos de Vilar de mouros, etc., etc.
- Esqueçamos isso, por favor, que já lá vai; este não é o momento nada oportuno para tais recordações.
- Sim, sim; para não ter que apontar outros feitos, tais como, empréstimos de médio e longo prazo, do condado - também ao rubro.
- Não fugindo ao assunto, e voltando à sensibilidade cultural, veja Vossa Alteza se não é uma maravilha a recuperação do Chafariz da Praça, com aspecto novo, que nem parece ter as centenas de anos que tem. E a seguir vai ser restaurada a emblemática Torre do Relógio. Isto é que é bonito; isto é que é sensibilidade…
- E que o IPPAR supervisione e acompanhe, tecnicamente, e de acordo com as normas em vigor, toda a intervenção.
- Com certeza, D. Gambozino. E à custa dos fundos comunitários!
- Que têm de ser bem aproveitados e bem aplicados. Já houve, no passado, grandes apoios comunitários para recuperação dos cascos históricos, mas deixaram fugir essa oportunidade. Já a Espanha, que entrou depois de vós para a Comunidade Europeia, soube agarrar tudo e mais alguma coisa.
- Como vê, temos a nossa razão.
- Que não desculpa os erros cometidos, e que são graves, alguns dos quais já vos citei.
- Mas não lembre isso, D. Gambozino!
- Os vossos munícipes é que o hão-de lembrar, se tiverem memória. E, já agora, uma observação. A beleza do Chafariz, novo em folha, ainda mais põe em destaque o visual tão triste, tão melancólico e decadente do casario da vossa vila.
- E que se há-de fazer, D. Gambozino?
- Façam o que outros condados mais para Sul costumam fazer: ofereçam as tintas e mobilizem a população para a mão-de-obra, dando o aspecto de limpeza e higiene às vossas duas vilas com a pintura do povoado! Ou recorram às verbas do URBCOM!
- Não está mal pensado! Vamos ver o que se pode fazer.
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Quando os números são difíceis
Deficit e autarquias
Depois da austeridade, desinvestimento público e controlo de despesas, resultado da obsessão do deficit, o legado dos governos PSD/PP é precisamente o maior deficit da zona euro, atingindo um valor próximo dos 7%. É neste quadro que urge pensar, analisar criticamente, e ver que diferentes medidas fundamentais vai este governo PS implementar para resolver um problema idêntico. A atoarda de vozes já iniciaram o vaticínio do culpado funcionário público, bode expiatório de toda a ineficácia governativa, razão única da desgraça nacional. Nada mais falso. Estas afirmações não são gratuitas na sua origem, porque quem se encarrega de alimentar esta tese são aqueles que combatem a empresa pública, o valor essencial de sectores públicos fundamentais, garantia única de igualdade, justiça e regulação social. É fácil defender mais congelamentos nos salários e nos investimentos públicos para, assim, saciar a fome emergente do latente privado que almeja a dependência, a subordinação do povo, procurando o domínio sobre a água, a energia, a saúde, a educação, o apoio social, a justiça, entre outros.
De S. Exa. o Primeiro Ministro, Eng.º José Sócrates, são bem vindas duas afirmações, que se espera serem verdadeiramente assumidas. A primeira, que o poder local (as autarquias) não será penalizado pela situação encontrada. A segunda, que o compromisso eleitoral de não portajar as SCUT é para cumprir.
Reforçando a primeira, terão que ser as autarquias o motor de investimento e desenvolvimento, já que se não é o poder local a pagar a factura, terá que ser a administração central. É este o cenário que obriga a um olhar atento sobre o concelho de Caminha. Segundo dados do IEFP, o concelho de Caminha apresenta 519 desempregados inscritos, para uma oferta de 5 empregos. Maioritariamente, estes desempregados estão na faixa etária 35-54 anos. Com 5014 núcleos familiares residentes, estamos a falar, grosso modo, de 10 % das famílias do concelho de Caminha directamente afectadas pela situação de desemprego.
O quadro nacional não ajuda a melhorar o cenário. Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), no primeiro trimestre de 2005 a taxa de desemprego atingiu os 7,5 %, mantendo a tendência crescente, registando-se um total no país de 412,6 mil desempregados, 0,13 % dos quais pertencentes ao concelho de Caminha. Acresce ainda a desagradável constatação de que a região norte apresenta a maior taxa de desemprego do país com 8%.
Que soluções pode este concelho apresentar neste quadro?
Esta é uma questão a que os candidatos às próximas eleições terão que dar resposta. É uma questão incontornável. Todo o investimento local, pelo já referido, terá de ecoar num maior índice de empregabilidade, de qualidade no emprego, de estabilidade laboral. É de salientar que sempre que o desemprego aumenta, diminui a qualidade no trabalho, aumenta a pressão sobre os trabalhadores, diminui a consciência de direitos laborais, aumenta o poder patronal e com ele a submissão da classe trabalhadora.
A estatísticas são números; o país e as autarquias não são empresas; os trabalhadores e as famílias são seres humanos. O investimento público é patrocinado por todos, deve, por isso, reflectir-se em todos.
Joaquim Celestino Ribeiro
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RESPONDENDO AO SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA DA FREGUESIA DE VILA PRAIA DE ÂNCORA
A propósito das obras da Praça da República
Foi com surpresa e estupefacção que os signatários do abaixo-assinado que reclama melhorias no Projecto da Praça da República de Vila Praia de Âncora tomaram conhecimento das afirmações proferidas pelo senhor Presidente da Junta de Freguesia, na última sessão da Assembleia Municipal, em 2005/04/29.
Com surpresa pela agressividade colocada nas palavras proferidas. Com estupefacção pela adjectivação utilizada para classificar pessoas e definir os seus actos.
Importa lembrar que, em Setembro do ano passado, a Câmara Municipal de Caminha, em parceria com a Junta de Freguesia local, apresentou, à porta fechada, no Centro de Transportes da Vila, um anteprojecto para a remodelação da Praça da República. Nesse acto participaram delegados da Assembleia de Freguesia, representantes da GNR, dos Bombeiros, do Turismo e ainda o Pároco da Vila, pensando os organizadores que a população Ancorense não tinha que lá pôr os pés. Um grupo de cidadãos que, na altura, legitimamente, se apresentou no local para tomar conhecimento do referido anteprojecto viu vedada a sua entrada com o argumento de que não tinha sido convidado.
Portanto, senhor Presidente da Junta, ao contrário do que afirmou e o Jornal Caminhense reproduziu e citamos: - o Projecto foi tornado público em sessão pública - nós dizemos: não minta porque quem mente vai para o inferno (foi isso que nos ensinaram na catequese).
A partir dessa altura, as expectativas de contribuir com as nossas ideias para melhorar o Projecto revelaram-se muito difíceis e mais ainda quando, três dias antes das últimas eleições, o Executivo camarário colocou na Praça duas máquinas a levantar o piso. Importa ainda lembrar que o Projecto foi negado a quantos o solicitaram, para consulta, na Câmara Municipal.
Decidimos, então, avançar com os nossos contributos e colocá-los no papel com a ajuda de alguns técnicos amigos de Vila Praia de Âncora. Foi assim que, com o trabalho de casa feito, fizemos uma recolha de assinaturas para corporizar as nossas sugestões alternativas e enviá-las a várias Entidades públicas.
Em consequência disso, podemos informar o senhor Presidente que uma dessas Entidades nos respondeu, por escrito, congratulando-se com o nosso trabalho e com os contributos apresentados. Logo, como poderá aferir, nem todos reagem como o senhor Presidente.
O Presidente da Junta de Freguesia e o Executivo Municipal (agora amputado do vereador eleito pelo Vale do Âncora ) não conhecem, ou conhecem mal, a história da Vila e têm dificuldades em aceitar contribuições vindas de pessoas com outras sensibilidades e convicções, o que deixa transparecer uma certa debilidade democrática.
Ainda que não o queiram admitir, estamos certos que gostaram das nossas contribuições; pois parece certo que o fontanário vai regressar às suas origens, mas, por favor, não o prateiem como fizeram ao chafariz de Caminha.
Mais lhe dizemos, senhor Presidente, que o nosso amor por Vila Praia de Âncora não pode ser questionado por pessoas como o senhor. As nossas famílias estão cá há centenas de anos, por isso aprenda a respeitar-nos e deixe-se de sectarismos porque os mandatos políticos são efémeros. Tente, se for capaz, ser humilde, pois a prepotência não tem lugar em democracia.
Queremos que saiba, senhor Presidente, que quem subscreveu o abaixo-assinado são pessoas de maioridade reconhecida e como tal não lhe assiste o direito de, lá do alto da cadeira do poder, as vexar com o epíteto de "meros joguetes nas mãos de alguém". Estranha forma de fazer política, senhor Presidente...
De igual modo, todos refutamos, em absoluto, a invectiva que dirigiu aos mesmos signatários: "não conspurquem o nome de Vila Praia de Âncora". Esta, é de bradar aos céus, senhor Presidente. Quem subscreveu o abaixo-assinado, fê-lo na perspectiva de enriquecer o Projecto, de tornar a Vila mais linda, de lhe conferir mais história, de a tornar, em suma, mais Ancorense. A população de Vila Praia de Âncora sabe bem que estes subscritores jamais atentariam contra a sua Vila, jamais fariam qualquer coisa para denegrir (nas palavras do senhor Presidente conspurcar) Vila Praia de Âncora. Estas Pessoas, senhor Presidente, jamais seriam capazes de fazer aquilo que outras fizeram, num passado não muito longínquo. Essas sim, não se coibiram de chamar televisões e promover manifestações para denegrir, para conspurcar, o nome de Vila Praia de Âncora. E foi junto destas pessoas que os Ancorenses o puderam ver a si, senhor Presidente.
Terminamos esta resposta, lamentando ter de vir às páginas dos jornais defender a nossa honra, a nossa dignidade, o nosso bairrismo, que foram postos em causa, de forma leviana, pelo Presidente da Junta da nossa própria terra.
Para que isto não volte a acontecer, recomendamos-lhe, senhor Presidente, que aprenda a respeitar opiniões diferentes porque também elas poderão contribuir, e muito, para melhorar a nossa Terra.
Aristóteles dizia que o BELO era a unidade na diversidade. Democracia pode e deve ser, exactamente, a mesma coisa, senhor Presidente.
Os signatários do abaixo-assinado
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MEMÓRIAS DA SERRA D'ARGA |
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Autor Domingos Cerejeira |
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