Aos 23 anos, e colocado a voga do Shell/4-PL italiano, conseguiu uma medalha de bronze, embora fosse uma das tripulações apostadas na conquista do ouro.
E foi por aqui que começámos a entrevista:
P- A medalha de bronze soube a pouco?
R- Não. É sempre uma medalha conquistada nos Jogos Olímpicos e não pode saber a pouco. Na Itália é vista como quase igual à de ouro.
P- Mas vocês foram para Atenas com o objectivo do ouro...?
R- Claro, nós fomos campeões da Taça do Mundo em 2004 e se fossemos para lá com o pensamento de não sermos capazes de conquistar a medalha de ouro, nem a de bronze tínhamos conseguido.
Demos o máximo, conseguimos o terceiro lugar e ficámos satisfeitos.
P- Por que foi impossível chegar ao ouro, se na meia-final até vos classificastes em primeiro lugar?
R- Sim, mas as equipas italianas tinham um problema que muita gente não percebeu e que eu notei, sempre que vínhamos à frente nas provas.
Nos últimos quinhentos metros, não baixávamos de cadência mas do ponto de vista físico sim.
Depois das meis-finais realizadas no Sábado, tivemos a final no dia seguinte e estávamos todos partidos, mas com muita vontade e cabeça fria, conseguimos aguentar esta medalha por cinco centésimos, acabando por ficar super-felizes por atingirmos o pódium.
P- Por que é que a Dinamarca ganhou?
R- Porque são mais fortes e treinaram mais.
P- E a Austrália conseguiu o segundo lugar...
R- Se calhar podíamos ter superado essa equipa, mas fizeram uma óptima regata, muito bons tecnicamente -melhores do que nós-, como pude comprovar quando fui ver o vídeo da final.
Ganharam desta vez, mas não vai acontecer mais.
P- Apesar de seres o mais novo da tripulação, foste a voga...
R- De facto era o mais novo com 23 anos, e os demais colegas tinham 25, 28 e 29.
Mas o lugar de voga reveste-se de características particulares e nem todos conseguem fazer essa função. Tem de saber impor o ritmo, exprimir-se, fazer remar os que estão atrás, ter uma boa sensibilidade e tomar decisões na ocasião que não estavam previamente programadas.
Constataram que eu tinha essas qualidades, dificilmente errava e sabia improvisar na altura certa.
P- O que representou para ti a experiência nos Jogos Olímpicos?
R- Foi uma experiência inesquecível que não dá para exprimir em palavras. Só vivendo-a é que se pode perceber.
E é interessante, porque não é uma regata idêntica a qualquer outra competição internacional, inclusivamente um Mundial.
É muito mais difícil, porque qualquer atleta que no anos anteriores ficou em último, pode chegar às Olimpíadas e ganhar, desde que treine a 100% todo o ano, evidentemente.
Realço o apoio que uma Federação deve dar às equipas em ano de Olimpíadas, porque eu costumo dizer que nós não remamos contra federações, mas contra países, pelo que o país que representamos deve contribuir com os meios imprescindíveis. Há uma grande diferença em termos de apoio estatal, dos anos não olímpicos, para os que quando se realizam os Jogos.
P- Participaste no desfile inaugural?
R- Participei porque tinha uma grande curiosidade em provar essas emoções únicas, mas o mesmo já não sucedeu no final porque já estava de férias.
P- O que sente um atleta na véspera de participar numa Grande Final?
R- Não gostei muito.
Eu e os meus colegas somos muito tranquilos e sabemos quanto valemos, o que é importante.
Só que nas Olimpíadas, particularmente nestas, a atenção dos media, jornalistas, treinadores e de toda a gente que nos envolve, acaba por nos perturbar.
Estavam sempre a chatear-nos e fazer perguntas que a nós não nos interessavam, porque precisávamos de nos concentrar em muitas coisas, acabando por termos uma tarde e uma noite muito stressante.
P- O que sentiste quando estavas pronto para largar na Final A?
R- Até irmos para a água e alinharmos, fizemos tudo o que sempre fazemos nestas ocasiões, pensando depois em remar bem e perfeito do ponto de vista técnico, fazendo passar esta mensagem aos meus companheiros e amigos.
P- Eles pertencem ao teu clube, ou são de clubes diferentes?
R- São de clubes diferentes. Eu sou do Canotagio de Roma, os dois que se seguem atrás de mim são de Nápoles e o quatro de Pizza. Dois são polícias e outro bancário.
Apenas nos encontramos nos estágios.
P- Quantas medalhas já possuis, conquistadas em Mundiais?
R- Quatro, mais esta, Olímpica.
P- Conquistaste a primeira como júnior, com o Artur, e obtiveste agora esta nas Olimpíadas. Que diferenças sentiste em relação a elas?
R- A primeira medalha de ouro que eu e o Artur conquistámos para Portugal teve um sabor especial.
Era a primeira que ambos conseguíamos para Portugal, éramos jovens e foi isso que me deu vontade para continuar e obter êxitos maiores.
Foi muito bom o que veio depois, mas a primeira medalha nunca se esquece.
P- Qual o país que mais te impressionou nestas Olimpíadas?
R- Foi o oito masculino dos EUA. Foi uma potência. Sabia-se que o 4- andou muito bem em Lucerna, mas o Shell/8 surpreendeu, tal como o oito do Canadá que vinha dando cartas há uns anos.
P- Qual a tua opinião sobre a pista?
R- De facto, a pista não é muito boa, visto ter umas correntes e ventos estranhos que nos obrigavam contrabalançar com os remos, a fim de conseguir endireitar o barco.
P- Foram necessários quatro anos de preparação para atingir este nível?
R- Bem, há quatro anos ainda estava na selecção portuguesa, depois de ter conquistado a medalha de ouro como júnior e nem pensava em participar nos Jogos Olímpicos.
Assumi este barco em 2002, podendo assim dizer-se que foram dois anos de treinos até conseguir a medalha, mas para os meus colegas italianos foram quinze anos até atingirem o pódio.
Este último ano foi muito duro. Estivemos concentrados desde 13 de Outubro/03 até 7 de Agosto deste ano, no Centro Nacional de Estágios de Piediluco.
Foi terrível e só daqui a quatro anos é que repetirei a experiência.
Tivemos de renunciar a muitas coisas e tive algum azar, quando contraí uma tendinite num braço e fui obrigado a efectuar treino alternativo.
Estive sem os meus familiares durante muito tempo e até tive de renunciar à namorada depois de quatro anos de namoro, porque passei quase todo o ano em estágio, mas no fim, saí da Grécia com uma medalha ao pescoço e um novo amor (risos).
P- Para os mundiais não é assim?
R- Não. Começamos em Janeiro com um estágio de uma semana por mês e, depois, em Julho e até meados de Agosto, estamos juntos cerca de um mês.
P- Quantos atletas e barcos italianos estiveram na Grécia?
R- 32 atletas. Todos os barcos masculinos e um feminino. Foi a primeira vez que um barco feminino foi a umas Olimpíadas, o que foi histórico, estando agora a preparar-se um oito feminino para participar nas Olimpíadas de 2008., baseado em oito remadoras juniores que já ganharam mundiais e conquistaram outras medalhas, embora o nível das seniores femininas seja muito superior ao das juniores.
P- Os campeonatos nacionais em Itália decorrem antes ou depois dos Mundiais e Jogos Olímpicos?
R- Este ano foram depois. Em Sidney foram antes. Mas eu acho que é muito melhor fazer um mês antes dos Jogos, para depois estarmos tranquilos e podermos descansar.
Este ano decorreram depois de Atenas. estive uma semana a descansar, fui fazer um Campeonato Nacional sem treinos, e, como eu, fizeram todos os demais que estiveram na selecção, dando como resultado que nenhum conquistou qualquer título nacional.
P- E agora? Vais continuar na alta competição?
R- De certeza que não pararei aqui só com uma medalha desta cor. Vou pensar no Mundial do Japão do próximo ano, em Pequim 2008 e nas Olimpíadas de 2012. Isso ninguém me tira. Esse é o meu trabalho.
Vou continuar a lutar pelas medalhas, porque é errado estar a pensar-se apenas em atingir finais B ou C, como já ouvi alguém defender por cá.
P- És remunerado pela Federação Italiana?
R- Não. O meu patrão é o meu clube. Estou inscrito como treinador mas só remo e pagam-me para isso o mesmo sucedendo com a Federação que me dá prémios e o Comité Olímpico que me concedeu 40 mil euros pela medalha de bronze (eram 130 mil pela medalha de ouro).
P- Estás arrependido por teres optado por remar na Itália?
R- Não, porque pelos vistos, não sou assim tão mau com o treinador polaco da Federação Portuguesa me dizia. Mas gostaria que esta medalha fosse conquistada pelo meu país (nasceu em Lisboa e de pequeno foi viver com os pais para Roma). Não foi possível e tive de pensar nos meus objectivos.
P- O que pensas do facto de o Artur ter deixado de remar?
R- É um burro (Riem-se ambos).
Mas compreendo que com a falta de apoios verificados em Portugal e com este tipo de mentalidade neste desporto, ele não conseguiria subir mais do que aquilo que atingiu.
P- O que é que custa mais aguentar? O esforço físico ou psicológico?
R- É o psicológico. É muito duro mentalmente de aguentar e o físico deixa de estar controlado e logo aparecem os problemas musculares. Nós temos muito apoio médico na Itália, mas sobretudo psicológico e dá resultado, pois desde que tivemos a psicóloga, a Federação Italiana passou a trabalhar mais tranquilamente. Mas o psicólogo não apoia só os atletas. Não parece, mas os treinadores precisam mais deles do que os atletas, porque também são pessoas e estão connosco todo o ano e estão nas mesmas condições: sem a família, a mulher e os filhos.
P- O que falta em Portugal para atingirmos o nível de Itália?
R- É preciso meter gente nova e capaz que saiba o que se pode mudar para desenvolver este desporto, começar a trabalhar ano a ano e a obter bons resultados, tendo como objectivo os Jogos Olímpicos.
P- Vais conseguir uma medalha de ouro nas próximas Olimpíadas?
R- Sim, sim. Medalha de ouro!