Jornal Digital Regional
Nº 390: 17/23 Mai 08 (Semanal - Sábados)
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TRIBUNA
Espaço reservado à opinião do leitor


Periscópio Social

Populismos e Demagogia!

É comum nas democracias actuais a utilização da palavra populismo. Historicamente, o populismo, está associado à doutrina russa que defendia a possibilidade deste país aceder ao socialismo sem ter vivido o estado capitalista. Assim, o populismo russo tinha como preocupação instaurar o socialismo agrário através das comunidades rurais. Esta ideologia acabaria por inspirar o movimento social-revolucionário com os resultados que todos conhecemos e que a História registou.

Na Europa do século XX, por volta dos finais da década de 80 e princípios de 90, começou a desenvolver-se nalguns países da Europa um tipo diferente de populismo cuja caracterização passa pelo nacionalismo xenófobo, racismo e, acima de tudo, pelo facto de os mentores populistas afirmarem defender os interesses do povo contra as classes dirigentes (curiosamente, das quais eles fazem parte).

A procura da simpatia do povo tem conduzido os populistas ao uso e abuso da demagogia. Ou seja, uma forma ardilosa de democracia através da qual se constitui uma prepotência: dum povo, de um grupo ou de um chefe, que dissimulam falar e actuar em nome da vontade da maioria. Esta atitude conduz, não poucas vezes, a atropelos dos princípios democráticos, a perseguições, purgas e outras estratégias mais convencionais de manipulação dos órgãos de comunicação de massas.

Na última Assembleia Municipal de Caminha, vários membros da bancada do PSD lamentaram a instrumentalização e manipulação da comunicação social do concelho por, segundo eles, estar contra o seu trabalho e a população.

Praticamente na mesma semana, a expensas municipais, todos fomos brindados por um esquivo boletim municipal cheio de demagogia e populismo. Assim, com muita cor e imagem, ficámos a saber que a Câmara Municipal assinou com 18 freguesias do concelho protocolos no espectacular montante de 176.700,00 euros. Parece uma soma monstruosa mas, foi só "a montanha que pariu o rato" como diz o povo pois, em média, cada freguesia receberá 9816,6 euros, ou seja 800 euros por mês. A somar a isto, aparecem obras do mandato passado, a já habitual modernização dos serviços, passeios partidos pela própria autarquia e deixados ao abandono durante meses para, depois de todos estarem esquecidos dizer que se fez alguma coisa. A famigerada Ludoteca que não é resultado da visão deste executivo também aparece com arranjos exteriores. Mas, a imagem mais sublime pela vergonha que aos ancorenses causa, é a de um bocado de cimento num passeio do Mercado Municipal de Vila Praia de Âncora! Este edifício está completamente ao abandono como resultado da inexistência de visão comercial, turística e geradora de emprego desta Câmara. Isto sim, é demagogia e populismo!

O que não aparece no Boletim Informativo Municipal é quanto gasta a autarquia na página dum jornal municipal para se auto idolatrar, vangloriar e não poucas vezes fazer política partidária como aquela do "presidente da Junta de Caminha ter tido uma noite particularmente infeliz".

O que não refere este boletim é o abandono do mercado municipal, a bandeira azul que mais uma vez Vila Praia de Âncora não terá, o desamparo do mercado da venda de peixe no portinho de V. P. Âncora (obra que custou mais que o montante dado às freguesias), as dívidas da autarquia, a falta de um Jardim de Infância em V. P. Âncora, o desleixo total a que estão votadas várias artérias do concelho com piso decante e lixo permanente, os parques infantis que devem ser dos mais decrépitos e decadentes da região… São imensas as coisas que o colorido das fotografias esconde!

Pedro Ribeiro

Sensibilidade Política para as Questões Sociais

Seria interessante, e até surpreendente, poder saber-se, exactamente, com o rigor possível, disponibilizado pela ciência e obtido com a utilização de sofisticadas tecnologias, qual a grandeza, seja em que unidade de medida for, da sensibilidade humana de todos aqueles que exercem cargos políticos, para os assuntos sociais. Porque não basta alguém afirmar-se como um político profissional competente, no sentido demagógico e das vitórias eleitorais. A sensibilidade política para o discurso populista, para a defesa ideológica, em proveito do próprio e dos correligionários que o apoiam e/ou o seguem, é muito pouco face às carências, às fragilidades e ao pauperismo em que vive uma maioria, em crescendo, em todos os cantos do mundo.

Que importa aos mais pobres, aos marginalizados e aos excluídos, provavelmente, cada vez em maior número, apregoarem-se medidas económicas, obras estruturantes, algumas, eventualmente geradores de um futuro e desejável desenvolvimento; outras, talvez nem tanto e que, pelo contrário, se tornarão em autênticos "elefantes brancos", que em nada beneficiam aquela multidão de indigentes; que impacto causa, naquela população, a redução de um qualquer défice, a luta feroz contra determinadas infracções que, em alguns casos, parece uma autêntica caça às multas, aos impostos, aos trabalhadores, sejam eles por contra de outrem, sejam empresários, se tais resultados não forem visíveis na melhoria de vida dos mais carenciados, justamente daqueles que mais precisam? A dimensão social do homem, cidadão-governante continua, em muitos destes, portanto, e, lamentavelmente, irrelevante. É necessário, agora, passar dos resultados, das palavras, aos actos, acreditando-se que tal venha a acontecer.

Nos regimes político-democráticos existe um valor, entre, felizmente, muitos outros, que permite desenvolver imensas actividades, com objectivos sociais: trata-se da liberdade, que deveria ser exercida com várias finalidades, direccionar-se para a elaboração e desenvolvimento de verdadeiros e eficazes projectos sociais, porque segundo STIRN, (1999:20): "A liberdade é projecto, isto é, objectivo de fins que não são impostos pela situação de molde determinista e, aliás, antes respondem a essa situação. A liberdade é matéria do nosso ser. A consciência supõe a liberdade." em vez de ser excessivamente utilizada, em eloquentes e prolixos discursos de propaganda, por vezes, com autênticos ataques pessoais, ofensas, humilhações e infâmias, contra os adversários políticos

Aproveitar as potencialidades da liberdade, também na perspectiva de analisar e resolver as questões sociais, é um dever de todos aqueles que detêm o poder político, a legitimidade e legalidade para decidirem e utilizar os recursos necessários para, consistentemente, se reduzirem as desigualdades e resolver dramáticas situações sociais de pessoas, famílias, grupos étnicos e de outra e diversa natureza. Não será fácil aceitar a liberdade quando se vive no desemprego, com fome, doença, falta de habitação, salários e reformas que nem para a medicação são suficientes.

Compreende-se, até um determinado limite de tempo, que: nos grandes centros urbanos, nem sempre o político-governante tenha conhecimento preciso de muitas situações de natureza social; mas já é difícil entender que, nas pequenas vilas e aldeias, os governantes desconheçam a realidade social, no território geográfico sob sua jurisdição. Os autarcas são aquele tipo de políticos privilegiados, no sentido em que têm todas as condições para governar bem, junto do povo que os elegeu, conhecer, no local e no tempo oportuno, as dificuldades por que passam muitos dos seus eleitores, familiares e grupos diversos, bem como as intervenções que são necessárias para uma melhor qualidade de vida.

Além disso, estes políticos, normalmente, dispõem de estruturas técnicas e humanas que, rapidamente, conseguem efectuar os levantamentos necessários sobre determinadas situações sociais, sendo de realçar que, na maioria das pequenas vilas e cidades, com menos de vinte mil habitantes, o estudo/diagnóstico e a tomada de decisões ainda poderão ser facilitados pela cooperação das Juntas de Freguesia, no caso português; nos bairros e comissões de moradores, noutros ordenamentos administrativos. Não se vislumbram, portanto, argumentos, obstáculos ou quaisquer desculpas que inviabilizem o lançamento, funcionamento, controle e avaliação dos projectos sociais adequados. Só a insensibilidade política e pessoal, de alguns responsáveis, podem impedir melhores condições de vida para o povo, o que é completamente incompreensível, inaceitável e injusto.

A sensibilidade política para as questões sociais, não sendo uma qualidade genética, uma faculdade inata, que nasce com a pessoa, é, todavia, possível de se conseguir pela análise de situações, pelo sentido de responsabilidade, quando se exercem cargos, a partir dos quais se tem alguma influência na sociedade e, naturalmente, por uma aprendizagem permanente, assente em valores humanistas, como a justiça, a igualdade de oportunidades, a solidariedade e a fraternidade, a humildade, entre outros.

No fundo, o político com responsabilidades legislativas, executivas e sancionatórias, bem como, em algumas circunstâncias, quaisquer outros cidadãos com poderes e funções sócio-jurídicas, podem (e devem) envolver-se para que as desigualdades, as arbitrariedades, as injustiças e tantos outros males e discriminações negativas, sejam, no curto prazo, minimizados, depois reduzidos e, desejavelmente no médio prazo, eliminados. Evitar tudo o que é provisório porque, em bom estilo português, em muitas situações, o provisório se converte em definitivo, ou pelo menos por algumas décadas.

No final do século passado, muito se escreveu, muito se falou, muito se projectou, muito se desenvolveram as ciências e as correlativas tecnologias, muitos novos valores surgiram e outros foram, preconceituosa e envergonhadamente, esquecidos e/ou, pelo menos, pouco aflorados. O novo século XXI abriu com votos e expectativas de um mundo melhor, mais justo, humano, solidário, mais igual. Rapidamente se esqueceram os votos, as promessas, os projectos mais nobres, para se retomarem as velhas práticas, os ultrapassados preconceitos, as ambições, egoísmos e outros sentimentos que, civilizacional, moral e eticamente, já não deveriam ser visíveis na pessoa humana contemporânea.

Na última década do século passado, os projectos altruístas, generosos e que teriam possibilidades de êxito, foram elaborados, divulgados à escala mundial, porém, muitos e bons, não passaram de ideais impressas no papel. KUNG, (1990: 124-25), já então escrevia que: "Para o próximo milénio, é necessário encontrar uma via que conduza a uma sociedade em que os seres humanos possuam igualdade de direitos e vivam colectivamente numa atmosfera de solidariedade, é necessário encontrar um caminho: longe das diferenças que separam ricos e pobres, poderosos e oprimidos; longe das estruturas que causam a fome, a privação e a morte; longe do desemprego que afecta milhões de pessoas; longe do mundo em que os direitos humanos são violados, os seres humanos torturados e condenados ao isolamento; longe de um modo de vida em que os valores morais e éticos são subestimados, senão mesmo repudiados. Precisamos de uma nova ordem social ao nível mundial."

Inicie-se, então, este grandioso projecto, não com o objectivo de eliminar os ricos, os privilegiados e os que estão bem na vida, principalmente aqueles que o conseguiram de forma honesta, mas, pelo contrário, criar as condições para que os mais desfavorecidos consigam, também eles, aproximar-se daqueles níveis de vida, solicitando-se, inclusivamente, a cooperação dos mais favorecidos, dos mais capazes, dos que possuem os melhores recursos técnicos, financeiros e humanos. As desigualdades compreendem-se no domínio do mérito, na diferença entre quem trabalha, arrisca e investe e os que, pura e simplesmente, não querem trabalhar, mesmo quando se lhes oferecem as necessárias oportunidades.

Nestas circunstâncias não se pode tratar de forma igual e justa o que é desigual, oposto e sem mérito, porque então estariam a cometer-se injustiças e a patrocinar-se a desigualdade. Só pode ter tratamento igual o que é, objectivamente, igual, até porque, na opinião de BROCHADO, (1973: 8) "A idade do proteccionismo passou ou está a passar. Hoje cada qual sente mais a necessidade de se afirmar pelo seu valor, pelo seu trabalho persistente, pelo seu esforço social. A coerência e autenticidade da vida dos adultos impressionam fortemente os adolescentes. O jovem adora a autenticidade e a coerência."

O projecto que poderá conduzir a uma maior justiça social deverá ter como estratégia espacial, justamente, a pequena comunidade local, e desta para a sociedade nacional e por fim para humanidade, globalmente considerada, começando-se, precisamente, por, em todos os níveis, actividades e domínios, construírem-se as mega-equipas mistas: homens e mulheres; jovens, adultos e idosos; ricos e pobres; intelectuais e iletrados; profissionais e indiferenciados; governantes e governados. Todos são necessários e todos possuem capacidades, habilidades, conhecimentos e experiências que, colectivamente, podem produzir excelentes métodos de trabalho, com resultados compatíveis com a soma de tantas sinergias. Ninguém é dono absoluto da verdade.

Alguém, todavia, terá de ser o motor, o moderador, o incentivador, a referência. Na circunstância, considera-se que o poder político democrático local, obviamente com o apoio total do poder central, terá todas as condições para assumir a coordenação de tais projectos, sendo condição bastante, necessária e suficiente que os respectivos titulares de cargos políticos, possuam a indispensável sensibilidade política para as questões sociais.

Excluir destes projectos, os diversos estratos das populações, com base em preconceitos étnicos, políticos, religiosos, estatutários, etários (em Portugal, a partir dos 40-45 anos, as pessoas são consideradas velhas para trabalhar), económicos, profissionais ou quaisquer outros, revela-se um inqualificável desperdício de recursos. Em princípio, todos os conhecimentos e experiências de vida serão necessários para se construir uma sociedade mais humana e competente. Políticos, empresários, profissionais de quaisquer actividades, religiosos e leigos devem dar o seu contributo na resolução das questões sociais e todos serão bem-vindos. A compreensão de muitos problemas/conflitos sociais, o contributo para a sua resolução positiva, requerem pessoas sensibilizadas para estas questões, experientes, prudentes e sábias. A própria gestão destes recursos humanos, por vezes, anónimos, dispersos por pequenas localidades, deve ser uma prioridade do político-executivo, na circunstância, do autarca.

A sociedade contemporânea é, cada vez mais, multidiversificada nos seus valores, hábitos, objectivos, práticas, empregabilidade, o que exige uma melhor preparação dos cidadãos em geral e dos cidadãos-políticos, em particular, porque conforme muito bem refere MOREIRA, (1999: 201): "Quanto mais complexo for o mecanismo da sociedade, mais necessário será que os cidadãos estejam habilitados para apreciar as condições de existência social."

Bibliografia
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2002) Silvestre Pinheiro Ferreira: Paladino dos Direitos Humanos no Espaço Luso-Brasileiro, Dissertação de Mestrado, Braga, Universidade do Minho. (Não publicada)
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2008) Educação para a Cidadania Luso-Brasileira: Um Projecto de Formação ao Longo da Vida. Tese de Doutoramento, em fase final para apreciação por uma Universidade Portuguesa ou Brasileira. (Não publicada)
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2007). Curso de Formação Qualificação da Intervenção: Comissões Sociais das Freguesias - Manual de Estudos. (39 pág. 30 horas)
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2007). Curso Desenvolvimento Competências Pessoais e Sociais - Manual de Estudo (35 pág. 50 horas)
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2008). "Gestão Autárquica Solidária" site www.caminha2000.com in "Jornal Digital "Caminha2000 - link Tribuna", N. 384 Semana de 05/11 Abr.08
BROCHADO, Alexandrino, (1973). Sim e Não a Muita Coisa. Porto: Edição do Autor
KUNG, Hans, (1990). Projecto para uma Ética Mundial, Trad. Maria Luísa Cabaços Meliço, Lisboa: Instituto Piaget.
MOREIRA, José Manuel, (1999). A Contas com a Ética Empresarial, 1ª. Ed., S. João do Estoril-Cascais: Principia, Publicações Universitárias e Científicas, Apud Alexandre Herculano, (1853) "A Descentralização", em O Portuguez, de 8 de Junho de 1853.
STIRN, François, (1999). Os Grandes Pensadores Contemporâneos. Tradução Alexandre Emílio. Lisboa: Instituo Piaget

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
bartolo.profuniv@mail.pt
4910-354 Venade - Caminha - Portugal
Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea
Professor-Formador

ROTA DOS LAGARES DE AZEITE DO RIO ÂNCORA
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