Cerca de 1.500 livros raros, antigos ou de âmbito regional ficaram disponíveis desde ontem à tarde, no "Banco de Livros", um novo espaço situado junto à passagem de nível da Rua Cândido dos Reis.

Rafael Capela é um bibliógrafo que trocou o seu pacato depósito literário existente em sua casa, no Requeixo, por um espaço central de Vila Praia de Âncora, num local de passagem obrigatória para milhares de pessoas que diariamente utilizam esta artéria pedonal de ligação entre a Praça da República e a Av. Ramos Pereira.

Livros "usados, antigos e raros"

Pretende torná-lo num ponto de encontro activo, em que a literatura sirva de pretexto para convívios e troca de ideias, à moda de outros tempos em que as livrarias cultivavam o diálogo e a cultura.

Pouco virado para os discursos, ainda assim Rafael Capela proferiu algumas palavras nesta pequena loja alugada a preço módico pela proprietária (dona da Farmácia Brito) e que apreciou a abertura de um espaço com estas características, fez questão de frisar.

Rafael Capela confirmou a sua aposta na literatura regional e local e na literatura portuguesa do século XX, "a começar por Torga que é o meu grande inspirador", reconheceu, levando-o na ocasião a ler alguns extractos dos "Diários" (16) e a confessar (com humor) que "tento imitá-lo", apontando como exemplo "subir ao monte, visitar as igrejas - como ele fazia sempre ao visitar um país".

"Miguel Torga tem entradas muito precisas, nem tudo lhe serve", precisou este admirador do escritor transmontano nascido em 1907 em S. Marinho de Anta, concelho de Sabrosa, e falecido em 1995, em Coimbra, e a quem Cavaco Silva, então primeiro-ministro, tentou visitar, sem que para tal tivesse obtido a anuência deste vulto da literatura mundial.

Sexta-feira, dia 13, 18 horas

Rafael Capela, escutado pelos amigos que marcaram presença nesta Sexta-feira, dia 13, pelas seis horas da tarde, recordou algumas dessas passagens, nomeadamente, um texto sobre a morte de Fernando Pessoa e, outro, focando as suas (Miguel Torga) viagens pelo país, concluindo o escritor que a Portugal "restava a paisagem e a língua. O resto foi-se."