www.caminha2000.com - Jornal Digital Regional - - Semanário - Director: Luís Almeida

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"A Festa de São João, pelo menos em Portugal, é uma daquelas que sempre se vê, e de que sempre se fala, ora por um lado, ora pelo outro. São João é um dos Santos mais populares e o Povo gosta, mesmo quando desconhece o real porquê, de o celebrar com efusão de sentimento e emoção.

Não quero esquecer duas coisas: que João é nome de Precursor, sendo ele o Baptista, reconhecido pelo próprio Cristo como o maior de entre todos os Profetas; e que João é também nome de Apóstolo, aquele de quem se diz que "Jesus amava". Precursor ou Apóstolo, João, que em hebraico se diz Yochanan, é um nome muito especial, como de resto é especial todo o nome que diz quem a pessoa é.

A celebração do nascimento de São João Baptista recorda-nos que não há nome que não seja especial desde que nos demos conta de que não há nome verdadeiramente significativo que não esteja inscrito no coração de Deus.

Em âmbito cristão, o nome "João" é um dos mais usados, um dos mais ricos em variações e, possivelmente, o mais traduzido de entre todos os nomes bíblicos, facto de que também é indicação a existência, até ao momento, de vinte e três Papas da Igreja que se deram o nome de João. Penso que a extensão de um tal apelativo bem pode estar no facto de em sua mesma raiz o nome João significar a condição de "agraciado por Deus" ou "pessoa com forte espírito de liderança".

A propósito do nome "João", contudo, o dicionário dos nomes faz-nos também saber que não raro o nome evoca características como as seguintes: "Impulsivo, às vezes é mal interpretado, mas seus actos sempre visam o benefício da maioria, pois possui nobreza de carácter". Nos casos de João Baptista e do Apóstolo do mesmo nome, o caso foi certamente este. Se o é de outros, é questão para pensar. Apenas recordo que quando no Novo Testamento a propósito do nascimento de João Baptista se diz sob forma imperativa que "o seu Nome será João", o significado é basicamente este: ele "será a alegria de muitos", em Israel e não só! Penso, então, que desejar um Feliz São João não deixa de fazer todo o sentido! E se cada um/a tem o "nome" que lhe é próprio, ninguém deveria esquecer num dia como o de hoje que, como já dito, João é nome de Percursor e a Festa do Nascimento de João Baptista evidencia uma lição a não desperdiçar, e que julgo ser esta: reconhecer que não há maior grandeza do que definir a própria vida por relação com Cristo, assumindo como própria a condição de ser anunciador d'Aquele que está sempre, ou ainda, na dinâmica do por-vir, disposto a assumir a condição da Esperança e a fazer de tudo para se encontrar com Aquele que, embora já no meio de nós, ainda não assumiu na história a forma total, e completa, da Sua própria revelação.

Feliz São João!"
P. João Vila Cha


Lenda de Santo Aginha da Serra d'Arga

Em tempos que já lá vão e a que a memória perdeu conta, acoitava-se nas asperezas da Serra d'Arga um salteador de caminhos chamado Aginha. Por todas as redondezas era conhecido e temido, tais os seus brutais assaltos. Ninguém se atrevia a cruzar os caminhos depois do sol-posto, porque o Aginha nunca falhava os seus golpes. E, qualquer tentativa de resistência sempre dava mau resultado...

Ora, uma madrugada, descia a Serra vindo do mosteiro de S. João, um frade, que ía rezar missa a Arga de Baixo. O Aginha, confundido pelo negrume da madrugada ou porque nunca fora homem de muita fé, saltou-lhe ao caminho de facalhão em riste, soltando a frase costumeira: - A bolsa ou a vida! Mas o frade não tinha bolsa... e a vida não lhe custaria muito dar, desapegado dos valores terrenos como estava. Ainda ofereceu ao salteador a cruz que trazia pendurada ao peito. E o seu surrado hábito de religioso, mas o Aginha nenhum interesse tinha em tais peças! E ficou, pela primeira vez durante um assalto, tolhido, mudo e quedo, sem saber o que fazer.

Compadeceu-se dele o bom fradinho. Tomou-o pelo braço, sentou-o à beira do caminho e falou-lhe brandamente. Às palavras do religioso respondia um profundo silêncio do salteador de caminhos. Nunca se soube o que lhe disse o frade, mas o Aginha caiu-lhe aos pés ajoelhado, confessou-se de uma vida de misérias e de crimes, e soluçou por penitência.

O frade ordenou-lhe que se mantivesse pela Serra, pelos caminhos que sempre trilhara pelo mal, mas agora para ajudar aos viandantes e a todos os que se sentissem em dificuldades por aqueles trilhos pedregosos. Nessa convicção o deixou. Mas nada disse a ninguém do seu encontro, nem da conversão do malfadado Aginha.

Pouco tempo se passou, quando um dia, pela tardinha, um camponês seguia um caminho da Serra com um carro de lenha, ajoujado pela carga e puxado pela junta de animais. O caminho era mau e a carga pesada... logo, numa pedra, o carro tomba, estragando a atrelagem. O camponês tomou-se de medo, mas nada havia a fazer: começou a tentar descarregar o carro para o poder voltar a atrelar, quando lhe surge o Aginha, atraído pelo ruído. Vendo o apuro do camponês e lembrando-se da penitência que lhe dera o frade, o Aginha ia em seu auxílio. Mas o camponês estava possuído pelo pavor. Dissimuladamente, agarrou numa machada que tombara com a lenha e desferiu um golpe violento na cabeça do antigo salteador, que, não esperando o ataque, se não defendeu. Tombou morto. O camponês, convencido que matara em autodefesa, mas angustiado com o crime, arrastou o corpo para os brenhos, refez a carga do carro e seguiu à sua aldeia.

Passaram dias, e surgiu no povoado a notícia que El-Rei prometera grande recompensa a quem pusesse termo às malfeitorias do Aginha. O camponês, na mira do prémio, chamou gente e foi mostrar onde tinha derrubado o grande salteador. Mas chegados ao local, todos quedaram estarrecidos de espanto... haviam-se passado dias, mas o corpo estava incorrupto, e exalava um suave cheiro a flores silvestres. O pasmo era geral! Quando correu a notícia da conversão conseguida pelo frade, o povo logo clamou o Aginha como Santo e a ergueu-lhe, no local, uma capelinha de devoção.


Edições C@2000
Do Coura se fez luz. Hidroeletricidade, iluminação pública e política no Alto Minho (1906-1960)"
Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000/Afrontamento
Apoiado pela Fundação EDP

Da Monarquia à República no Concelho de Caminha
Crónica Política (1906 - 1913)

Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


O Estado Novo e outros sonetos políticos satíricos do poeta caminhense Júlio Baptista (1882 - 1961)

Organização e estudo biográfico do autor por Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


Rota dos Lagares de Azeite do Rio Âncora

Autor: Joaquim Vasconcelos
Edição: C@2000


Memórias da Serra d'Arga
Autor: Domingos Cerejeira
Edição: C@2000

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