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TRIBUNA
Espaço reservado à opinião do leitor


VERDADES INCONVENIENTES

Sem delongas, vamos directamente ao assunto, de forma simples e prática.

1.O Partido Socialista sensível aos apelos da nossa comunidade marítima e às reivindicações de investimento público produtivo para Vila Praia de Âncora e o seu entorno geográfico - o Vale do Âncora - cumpriu o sonho. Foram gerações de esperas, de dificuldades e de esperança até ao dia em que, com base nos estudos prévios o governo do engº António Guterres pressionado pelo então socialista e presidente da Câmara Valdemar Patrício, decidiu inscrever em PIDACC as verbas necessárias à execução do projecto do novo Portinho de Vila Praia de Âncora. Foi este o papel do governo socialista de então.

Mas, uma obra com particulares características de dinâmica costeira e de lugar, exigia uma permanente reavaliação em fase de execução por parte da tutela (IPTM) e de acompanhamento atento da Câmara Municipal cabendo-lhe ouvir as vozes que bem cedo alertavam para o erro de orientação do quebra-mar norte e agir em conformidade. A Câmara, porém, não acompanhou a obra como lhe competia e não se fez ouvir dando voz aos pescadores e aos activistas sociais que chamavam a atenção para o erro colossal que se estava a cometer. Sublinhe-se que a Câmara e o Governo neste período de execução da obra, eram do PSD. Obra que esteve depois de concluída para ser inaugurada oficialmente mas não chegou a acontecer porque seria inaugurar um fiasco.

O resultado da falta de acompanhamento da execução da obra por parte da Câmara de Caminha está na origem da precariedade deste porto, da frustração dos pescadores e daqueles que esperavam um polo notável de desenvolvimento para a nossa terra. O porto está constantemente assoreado e vai, presentemente, na 5ª operação de desassoreamento - em execução desde Janeiro, estamos em Junho - e a draga retira-se sem deixar o porto na cota estabelecida.

Para termos uma ideia das consequências, os nossos pescadores em cinco meses - de Janeiro a Maio - apenas foram ao mar vinte vezes, ou seja, em 120 dias foram ao mar 20 dias tendo perdido 100 dias de trabalho. Assim não vamos lá. Os responsáveis nunca foram chamados à razão nem o erro reparado. Com as operações de desassoreamento o custo desta obra vai em crescendo e nem Câmara PSD nem governo PSD reparam nos gastos inconsequentes que se estão a fazer, quando o contribuinte exige que o investimento financeiro tenha retorno. Ao não assumirem o erro e decidirem com urgência a sua reparação por uma intervenção de fundo, aumentam a despesa injustificadamente. Porque não se justifica estar volta e meia a desassorear, gastando nestes paliativos recursos financeiros inutilmente. Promessas de reparo já houve, mas não passou da boca para fora. Sabe-se que não há estudos que fundamentem a sua execução.

2. Ignorando esta tragédia, passando por cima de toda a sensatez, o grande desígnio acolitado pela Câmara de Caminha, virou-se para o atentado ambiental perpetrado no Campo do Castelo, a famigerada obra da 2ª fase, ou seja, a requalificação do espaço que era verde e agora é pedra e cimento com fartura.

A Câmara e a Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora rejubilaram. Com efeito, pela voz do arauto de serviço - Manuel Marques, presidente da Junta - foi assim anunciada esta megalomania que se decidiu pela decadência ambiental do lugar:

"Congratulo-me pelo facto de, finalmente, vir comunicar-vos notícias positivas sobre um assunto que tanto nos tem afligido - o novo Portinho de Vila Praia de Âncora e, em especial, a 2ª fase da obra". ( Acta nº12/05-09 da Reunião Ordinária da Assembleia Municipal de Caminha de 25. Setembro. 2007)

A trombeta tocou e nós ficamos emudecidos: as obras de mar, uma desgraça; as obras de terra um atentado ambiental de envergadura. Uma e outra, na voz estridente do arauto, é tudo uma maravilha.

O que ouvimos e agora vemos e testemunhamos é o resultado da "Comissão Técnica de Acompanhamento do Projecto de Execução do Arranjo da Zona Ribeirinha de Vila Praia de Âncora" constituída pelo ex-IPTM, IGESPAR, DOCAPESCA, CÂMARA DE CAMINHA e JUNTA DE FREGUESIA de Vila Praia de Âncora. Esta Comissão trabalhava no projecto desde 2003. Tempo demais para gerar tão grande malefício. Não atribuam culpas a quem não as tem. E não ignorem por falta de juízo objectivo.

A mim, contribuinte, resta-me esperar pela publicação das contas desta 2ª fase para ficar a saber o resultado final do investimento que, na minha condição de pagante, já estou a desembolsar. Sobre a obra, qualidade e necessidade, estamos conversados. Aliás, daquela Comissão não se podia esperar outra coisa. Quase todos vinham do fiasco anterior, da obra de mar.

A Associação de Pescadores, a ver gastar dinheiro nas operações de desassoreamento e nas obras da 2ª fase sem repararem primeiro os erros da 1ª fase ( obras de mar) clamam que acudam ao porto. E tem razão e muita, não só para clamar como também reclamar, porque está comprometido o futuro dos pescadores: são 18 embarcações de pesca a maior parte do ano encalhadas sem poderem exercer a sua actividade em razão da impraticabilidade do porto . Por obra e graça desta situação, as novas instalações de vendagem, Lota e anexas, permanecem vazias de actividade e condenadas a representar mais um mono. E tudo por causa da precariedade em que todo o projecto se constituiu.

O porto foi decidido no pressuposto de satisfazer dois desígnios: os pescadores e o desenvolvimento da nossa terra e da sua área geográfica - o Vale do Âncora. Só para isto se justificaria o investimento. Investimento que é público, logo, feito com dinheiro de todos nós que temos o direito de questionar. Dinheiro que foi mal gasto avaliado na perspectiva de não ter alcançado aqueles objectivos. Assim, temos o porto uma desgraça e o projecto de terra um atentado ambiental, que transformou um espaço verde num emaranhado de cimento e pedra sem necessidade.

3. Para quem não tem sensibilidade ambiental, e não percebe de mar nem de indústria de mar, irá ficar feliz com toda esta desgraça. Então, não é bonito? Não vão ter os pescadores ( a caminho de procurar porto com dia, isto é, outro rumo para sobreviverem) casinhas de aprestos, bar para mitigar as suas desilusões e sede da sua Associação? Não vai haver restaurante, esplanada, passeio marítimo, auditório para ouvir umas lascas daqueles que nunca souberam nem experimentaram a dolorosa vida do mar? Não vai haver uma "coisa" que ninguém sabe o que é para qualquer coisa que ainda não se sabe, apenas se especula, no lugar da antiga Lota?

Mas, teremos, por certo, uma piscina de marés - o porto assoreado com lagunas no baixa-mar - , alguns barcos de recreio náutico a saírem para o mar se o verão consentir, mas só na maré cheia, já que com a maré baixa fica tudo em seco, os barcos encalhados.; ah! E teremos ainda a inauguração oportuna do monumento aos náufragos ( com a qual concordo absolutamente).

Eu morro de saudade do meu Portinho. Ao menos, apesar das rudimentares instalações e naturais dificuldades, chegamos a ser o mais importante porto de pesca artesanal do Alto-Minho, e rivalizando com a Póvoa de Varzim. Não podendo permanecer aqui durante todo o ano, percorremos toda a costa portuguesa ao abrigo de outros portos. Aquilo é que era andar ao mar!

A Câmara de Caminha que não acompanhou a obra do porto como lhe competia e anuiu com o famigerado atentado ambiental do Campo do Castelo, deve assumir as suas responsabilidades.

Quanto aos pescadores, que abram os olhos e não se iludam se querem sobreviver. Nós, voltaremos a analisar tudo isto, a acta supra referida, o discurso de "levar o porto a bom porto" e " de o devolver à cidade". E também a posição actual da Associação dos Pescadores perante esta calamidade. Que aproveitem a vinda dos políticos para manifestarem as suas preocupações e anseios e analisem os seus programas. Observem quem tem mais capacidades e influência em Lisboa onde tudo se decide. É que há quem seja de Lisboa mas não tem a mínima influência lá e quem sendo de cá é capaz de reunir estas condições: capacidade e influência. É o que faz falta, mudar de paradigma, para mais e melhor.

CELESTINO RIBEIRO


Querem-nos num beco sem saída?

Para a esmagadora maioria de nós, povo anónimo arredado das grandes decisões, cada dia que passa traz consigo maiores dificuldades envoltas na pior das sensações sobre o dia seguinte, o mês seguinte, o ano seguinte... Uma espécie de descida aos infernos para uma eternidade que cabe na exacta medida do tempo de cada vida.

Uns desempregados à falsa fé e outros desempregados com a irrepreensível responsabilidade, até ao último momento, de quem assumia o seu vínculo laboral. Uns com salários encolhidos de supetão e outros com os rendimentos reduzidos a quase nada por falta de mercado para os seus serviços. Uns a reduzir a qualidade de vida para mínimos de sobrevivência e outros a perder o pé que os ia mantendo vivos.

Parecemos um exército pronto a perecer em nome de coisa nenhuma. Uma espécie de suicídio colectivo. Vivemos sob a mistura dormente de um estranho vazio de valores e dignidade com a aceitação acrítica de vozes difusas dos superiores interesses de um certo entendimento da economia como algo acima da vida humana comum.

De tempos a tempos, enchemos as ruas em sinal de que queremos continuar vivos. A gritar que não aguentamos mais. Que tem que haver outros caminhos. Às vezes, multidões de todas as idades e de todas as ideias sobre a vida, com explosões criativas mobilizadoras. Logo a seguir, poucos e sem chama. Entre uns e outros momentos o poder que comanda esta guerra kafkiana elogia a nossa serenidade e paciência num tom indiferente e de alguma forma, até, provocatório.

Uns, mais corajosos ou mais desesperados, vão fazendo marcação cerrada à agenda da comandita dos capatazes armados em generais. Vão criando algum desassossego nessa gente, é verdade. Mas longe de os impedir de prosseguirem a sua missão de acabar com as nossas vidas. E, como o que não os elimina os torna mais fortes, vão resistindo às ondas de protesto com pequenas doses de vitimização para consumo dos apoiantes da última linha.

Entretanto, vamos criando rituais catárticos para aliviar consciências sem que nada de fundamental mude. Emergem ódios, invejas e rivalidades entre classes profissionais e entre trabalhadores das empresas privadas e do estado. Generaliza-se uma imagem única sobre todos os protagonistas políticos e todos os partidos. Desvaloriza-se a democracia. Alastra a ideia de que não vale a pena fazer nada. Domina a maledicência inconsequente e, muitas vezes, orientada para bodes expiatórios de efeito instantâneo. Para purgar na hora e manter tudo na mesma.

Uma falsa certeza temos quase sempre: a de que cada um de nós não tem qualquer responsabilidade na forma como chegámos a este ponto. Cada um acha que fez sempre o que devia ou, pelo menos, o que podia. Se votámos nos partidos do poder, votámos bem, eles é que nos enganaram! Ou então, outros criaram os problemas e os nossos não puderam fazer melhor. Ou, os nossos estavam no bom caminho mas foram impedidos de resolver os problemas. Ou, mais decepcionados, na próxima até talvez não votemos, porque são todos iguais! Se o partido em que votamos sempre esteve na oposição, estamos completamente ilibados e esperamos continuar assim, na oposição, para garantir a nossa pureza imaculada! E assim, vamos cumprindo os mínimos olímpicos na nossa responsabilidade cidadã sobre a representação democrática e a governação.

Mas há mais actividade democrática para além das eleições! A participação cívica pode, e deve, assumir-se na sua plenitude. Todas as formas de associativismo (ambiental, cultural, desportivo, político, etc.), sindicalismo, actividade partidária de base, fóruns de opinião, reuniões e manifestações públicas, etc., podem dar expressão democrática alargada e consistente à vontade colectiva. Sempre, mas mais ainda em momentos difíceis como o que vivemos, poderá vir daí a sementeira de ideias novas que tanta falta nos fazem. Infelizmente, também aqui nos vamos revelando pelos mínimos. Pouca convicção na capacidade de provocar a mudança, quase sempre os mesmos nos mesmos sítios, muitos pretextos sobranceiros de muitos para não participarem, dificuldade em multiplicar novas formas de comunicação que quebrem barreiras de cultura política e ainda insuficiente permeabilidade entre diferentes agentes de mobilização.

Para quem considera indispensável uma revolução que traga justiça social e uma economia que respeite os direitos humanos. E que, para isso, só a democracia é caminho. Torna-se urgente assumir que cada um de nós tem que dar mais de si em todas as dimensões da democracia. São necessários novos espaços de encontro de ideias e de vontades, nas coisas mais simples e nas outras, sem modelos fechados, sem espírito catequizador, com humildade democrática e construindo todas as pontes possíveis e circulando nelas com naturalidade. Menos é pouco.

Querem-nos num beco sem saída? Temos que juntar forças! Temos que passar por cima!

Carlos da Torre


Edições C@2000
Do Coura se fez luz. Hidroeletricidade, iluminação pública e política no Alto Minho (1906-1960)"
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Edição: C@2000/Afrontamento
Apoiado pela Fundação EDP

Da Monarquia à República no Concelho de Caminha
Crónica Política (1906 - 1913)

Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


O Estado Novo e outros sonetos políticos satíricos do poeta caminhense Júlio Baptista (1882 - 1961)

Organização e estudo biográfico do autor por Paulo Torres Bento
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