Júlia Paula faz tabu sobre ausência
PS diz que a autarca está desmotivada
Contrato de advogados considerado "insulto"
Maioria aprovou mais cinco contratações

O PS, pela voz de Jorge Miranda, levou à última reunião do Executivo alguns temas que têm agitado a opinião pública caminhense, nomeadamente a inexplicada ausência de Júlia Paula, durante mais de duas semanas, e o contrato celebrado por ajuste directo com a firma de advogados "Vellozo Ferreira e Associados, Sociedade de Advogados RL", por mais de 400 euros por dia, conforme o C@2000 noticiou.

O primeiro assunto ficou sem resposta e o segundo mereceu uma reflexão surpreendente por parte da presidente, que comparou os serviços jurídicos em causa à bicicleta do vereador, recusando-se a responder às questões colocadas e a quaisquer outras.

A reunião começou precisamente com a interpelação do vereador socialista, que quis saber se, durante o corrente mês de Junho "existiram representações por parte do Executivo em eventos em Portugal e no estrangeiro". E, em caso afirmativo, "quem nos representou, em que eventos e quais as mais-valias para o município?"

O vereador tinha considerado, pouco antes, que existe, da parte de Júlia Paula, um notório afastamento da gestão da autarquia, visível até pelo número de despachos que chegam às próprias reuniões de Câmara assinados por Flamiano Martins, mas também pela sistemática ausência em actos públicos. Acabou mesmo por considerar que a presidente está "desmotivada, ou zangada, ou desinteressada em assumir a responsabilidade da gestão do município para que foi mandatada pelos caminhenses nas eleições de Outubro de 2009".

A resposta foi, na verdade, uma não resposta. Júlia Paula começou por atacar o PS nacional e considerou o tudo o resto como a sua vida privada. Aliás, quanto a faltas à reunião do Executivo, a presidente colocou-se no mesmo patamar de Jorge Miranda. Ignorou o facto de um estar a tempo inteiro e o outro não e atirou: "se calhar o senhor até já faltou mais do que eu".

O tabu das viagens em representação do município

Sobre a sua mais recente ausência, de mais de duas semanas, e o recurso ao voto antecipado, Júlia Paula ficou muda e optou pelo tabu. Como o C@2000 noticiou, a autarca esteve fora do concelho durante a última semana de campanha e recorreu ao voto antecipado, alegando, ao que apurámos, motivos profissionais e representação do município. De facto, para usufruir da possibilidade de votar antecipadamente, não lhe restavam alternativas, conforme se pode constatar numa simples consulta ao Portal do Eleitor (www.portaldoeleitor.pt), na área relativa às "Legislativas 2011".

Os motivos profissionais são exactamente os primeiros evocados no portal e um folheto informativo explica o restante. Depois referem-se os estudantes, os eleitores deslocados no estrangeiro, eleitores doentes internados e os eleitores presos e não privados de direitos políticos. Tudo categorias em que a autarca não se enquadrava.

Júlia Paula não disse que representação a afastou do concelho e que "ganhos" e "despesas" estiveram em causa. No final, Jorge Miranda ainda quis replicar, mas Júlia Paula não o deixou falar e atalhou: "pode fazer as perguntas que quiser. Não lhe vou responder".

"Qual é o preço da sua bicicleta?"

O vereador do PS classificou como "chocante e inaceitável"o ajuste directo com a sociedade de advogados do Porto, por 74.990,00 € (mais IVA), por um período de 229 dias, que, feitas as contas, resulta em mais de 400 euros por dia.

Jorge Miranda falou do período difícil que atravessamos e das dificuldades dos caminhenses, exemplificando com pedidos de isenção de pagamento de água e outros e com os "altíssimos" níveis de desemprego no concelho: "E os senhores têm a coragem de fazer um ajuste directo para serviços de assessoria jurídica. Acho que perderam a noção da realidade. Considero um insulto aos caminhenses", rematou.

A seguir, quis saber que processos tem essa firma entre mãos, que resultados obtiveram para se continuar a apostar nos seus serviços "a preços proibitivos" e para que serve a outra assessoria jurídica que o município suporta (Narciso Correia).

Foi este assunto que mais parece ter aborrecido a autarca e a resposta/comentário (!?) não deixa de ser surpreendente. A presidente afirmou: "Outro dia cruzei-me consigo na marginal". Ficamos a saber, momentos depois, que o vereador andava de bicicleta na marginal, mas ficou por apurar a qualidade real da sua bicicleta, desconhecendo-se ainda se a autarca é perita neste tipo de veículos. Jorge Miranda ainda sorriu e informou que a sua bicicleta é vulgar.

É que Júlia Paula continuou: "qual é o preço da sua bicicleta? É boa. É cara. Podia comprar mais barato…"

De seguida fez a estranha analogia com os serviços jurídicos de Vellozo Ferreira, dizendo que é sua opinião ser essa a pessoa que a representa melhor, assim como aos interesses da Câmara.

Quanto aos processos e resultados formou-se novo tabu. Júlia Paula diz que quem manda é ela e não respondeu.

A situação do abrigo dos animais/canil

Entre os assuntos abordados pelo vereador do PS esteve ainda o abrigo de animais/canil. Jorge Miranda queria saber se o processo de licenciamento está concluído, se a infra-estrutura já funciona com todas as licenças obrigatórias, se há ainda obras em curso, que valor foi já investido e que iniciativas de sensibilização têm sido promovidas junto da população para aproximar os caminhenses.

A maioria das perguntas ficou sem resposta mais uma vez e os comentários foram vagos. Júlia Paula admitiu apenas que há ainda obras e criticou o vereador pela curiosidade, comentando que deveria ser motivada por alguém "descontente e ressabiado" que lhe "soprou aos ouvidos".

As últimas palavras de Jorge Miranda foram para saudar o Sporting Clube Caminhense, que disse ser o clube do seu coração, estendendo a saudação e agradecimento "a todos os clubes e associações do concelho que nas diversas modalidades desportivas vão, com grande esforço, dignificando o bom nome do concelho de Caminha".

O vereador Flamiano Martins também falou do Sporting Clube Caminhense, em termos elogiosos e salientando os resultados obtidos.

Jorge Miranda lançou por fim um desafio ao Executivo: "foquemo-nos no exemplo de toda esta gente abnegada que a troco de um simples reconhecimento, deixa a pele em competição, dignificando a camisola que veste. Julgo que devemos fazer o mesmo, exemplos de aplicação do dinheiro público como aquele que referi hoje aqui, não são a melhor resposta para estes heróicos caminhenses".

Ainda nesta reunião, com os votos contra dos vereadores do PS, a maioria aprovou mais cinco procedimentos concursais para contratação de cinco assistentes técnicos.