CONCELHO DE CAMINHA



UM MOSAICO DE PAISAGENS

Jornal Digital Regional
Nº 243: 25 Jun a 1 Jul 05 (Semanal - Sábados)

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TRIBUNA
Espaço reservado à opinião do leitor


" TÁ-SE BEM "

Vai sendo habitual ouvir os nossos jovens dizer " Tá-se bem! Ta-se bem!.

Confesso que não gosto da expressão mas, neste momento, responderia feliz com o mesmo " Ta-se bem ", a quem me perguntasse como é ser-se Português hoje, aqui.

Não o posso fazer.

Doem-me os sorrisos desfeitos das crianças brutalmente assassinadas pelos pais-monstros.

Doem-me os passos trôpegos e os ais dos nossos idosos que esperam a passagem para a outra margem.

Doem-me as nódoas negras das vítimas da violência doméstica que um dia acreditaram no amor.

Doem-me as horas de frio e fome a ocupar vãos de escada e bancos de jardim.

Doem-me os dedos esgravatando restos de comida nos contentores de lixo.

Doem-me a revolta dos desempregados a quem arrancaram o ganha-pão.

Doem-me as filas intermináveis de doentes em busca de alívio, parecendo o rio de S.Pedro de Muel que não consegue desaguar estando tão perto da foz.

Doem-me estas vidas cinzentas, que vivendo no nosso jardim à beira-mar plantado, não conseguem alguma vez perceber porque é que existem flores coloridas e perfumadas ao lado das suas pétalas sem cor e sem perfume.

Vivendo neste presente, recordo também o meu passado longínquo, quando o direito à paz, ao pão, à educação, era só o direito de alguns, quando o trabalho escravo era mal remunerado, quando os jovens eram reduzidos a carne para canhão nas terras quentes de Além-Mar, quando os cuidados de saúde eram para quem tinha dinheiro para os pagar, quando as pontas de cigarro queimavam a carne, quando o clarão constante impedia o sono, quando a "frigideira" matava, quando o exílio era a saída.

Há cinquenta anos atrás, também não havia lugar para um " Tá-se bem ".

Já não vou ter tempo para viver o futuro…

Mas tenho ainda tempo e esperança para sonhar!

E um dia virá em que os meus netos irão dizer "Tá-se bem! ".

Assim o espero, assim o desejo para o meu País.

Zita Leal

Razões do Gambozino

Festa, flores e passarinhos, em casa dos nossos vizinhos, lá diz o adágio popular. E, na verdade, após a festança do "Dia do Pescador", bem cedo se ofuscou o horizonte e os mais justos sonhos dos pescadores inesperadamente se turvaram.

- Há vinte anos que nos andam a prometer o desassoreamento, D. Gambozino! E agora que estava em curso, e em fase adiantada, é que mandam suspender os trabalhos de dragagem do canal de acesso ao cais da Rua. Não há direito - gritaram os pescadores.

- Não me digam que, tendo começado essa intervenção em Novembro, ainda não está totalmente concluída. Já lá vão sete meses…

- É que não é fácil, D. Gambozino. Há que ter em conta o estado do estuário…

- As condições do rio em toda a sua conjuntura. - Que estudos foram feitos nesse sentido?

- Não sabemos, nem somos técnicos.

- Previamente, deveria uma equipa técnico-científica, credível independente e séria, ter procedido a um rigoroso diagnóstico de toda a complexa situação, com um consequente e aprofundado estudo, em ordem a uma global e integrada aplicação da mais adequada estratégia, com definição de medidas ajustadas que salvaguardem a vida do rio com sua natural diversidade piscícola.

- Vossa Majestade sabe que nós não temos culpa. Nem imaginamos o que possa acontecer.

- O que houve foi precipitação, foi a pressa de agir, sem estudos concretos conhecidos, para fins de poder sobejamente conhecidos. E, entretanto, só resta, como solução de remedeio, para minimização de vossa rude e dura actividade, a permanência de uma draga que actue diariamente, como acontece com o canal do "ferry", até que haja coragem para agarrar, como vocês dizem, o touro pelos cornos.

- Não estará Vossa Alteza a exagerar?!

- Claro que não. Os vossos alcaides já o deram a entender: que tudo conseguiram no tempo em que o poder central era da mesma cor, com o mesmo objectivo de poder, objectivo eleitoralista, num "tu cá tu lá", mas que agora se acabou esse dito colo e respectivo beberão.

- Quer Vossa Majestade dizer que temos de ir para a luta, que temos de exigir uma draga em exclusivo para o nosso canal.

- Com certeza. Mas cuidado. Ou assumem, como princípio de vossa acção, o lema do "antes quebrar que torcer", nem que seja à solha, ou perdem o tempo por completo.

- Vamos organizar a coisa, D. Gambozino.

- E tenham em conta que este vosso (des)Governo está decidido a acabar com os privilégios, o que seria de louvar. Só que, para ele, os direitos são privilégios. O direito ao trabalho é um privilégio, porque há muitos desempregados; o direito a um horário de trabalho é um privilégio, porque os agricultores não têm horário de trabalho; o direito à habitação é um privilégio, porque há os sem abrigo a dormir na rua; o direito a um salário é um privilégio, porque há muitos que nada ganham; o direito a comer é um privilégio, porque há muitos que passam fome e miséria; o direito a estar vivo é o maior dos privilégios, porque há quem não tenha dinheiro para médico e medicamentos e assim morrem; e o vosso direito a exigir a draga é um privilégio, porque os agricultores não têm direito a um canal para regarem os campos em abundância; etc., etc. Têm um (des)Governo preparado para acabar com tudo isto. Com tudo isto, e mais alguma coisa, como breve brevemente irão ver.

- Mesmo assim, não vamos desistir da nossa reivindicação.

- Força! Assim é como é. E bem sabem quem sempre esteve convosco, em Bruxelas, contra o abate de embarcações, e a redução das milhas da nossa costa. Boa sorte!

Manuel Afonso

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