A par de só agora ter sido possível ao Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora (CSCVPA) aprovar o seu relatório e contas de 2019, adiamento provocado pela pandemia do Corona vírus e autorizado para todas as IPSS, associações e autarquias, dado que nos meses de Março/Abril o país estava confinado, esta nova forma das instituições se adaptarem a uma realidade inesperada e com repercussões graves a vários níveis, dominou grande parte dos trabalhos da assembleia geral realizada em finais de Julho.
O trabalho desempenhado pelos trabalhadores do Lar e Creche foi enaltecido por alguns dos intervenientes na reunião, como foi o caso de Manuel Luís Martins, presidente da AG, concentrando no presidente da direcção o seu voto de reconhecimento a todos esses profissionais que impediram que o vírus "entrasse" nessas valências, nomeadamente no Lar de Idosos.
Este combate contra o inimigo invisível obrigou a despesas extras cujo reflexo será "expressivo" na aprovação das Contas de 2020, no próximo ano, previu o presidente da AG.
A par das medidas de segurança e higiene tomadas na defesa dos utentes do Lar, José Luís Presa, presidente da direcção, assumiu que são estes "os que mais têm sofrido por não poderem sair", no que foi corroborado por Angelina Presa, secretária da AG, ao lamentar "o estado emocional e físico" dos idosos", para os quais "não há alternativa, nem para os que vierem a ingressar" no Lar, o que obrigará a "outro paradigma" de actuação com eles.
Esta situação levou a que "tivéssemos de mudar a forma de trabalhar", admitiu Adelaide Marques, directora-técnica da instituição e integrante da sua direcção, não só com os idosos, como com as crianças da creche Mundo Colorido.
Revelou a necessidade de "ocupar permanentemente os iodos por causa do stress" gerado pela reclusão e impossibilidade de contacto físico com os seus familiares, perante "uma sociedade que mudou radicalmente, obrigando todos os profissionais de saúde a encarar todas as infecções "de uma forma diferente", porque "vão surgir mais vírus", advertiu.
Referiu que para além da admissão de mais funcionárias a que o Ministério da Segurança Social já tinha obrigado, conseguiram evitar mais contratações como resultado da pandemia, optando pelo pagamento de horas extraordinárias.
"Nada será igual"
José Luís Presa manifestou preocupação pela possibilidade de os resultados negativos poderem surgir no final de 2020, como resultado das despesas imprevisíveis, a não ser que a Segurança Social reforce as verbas de apoio, mas considerou imprescindível concretizar as obras previstas para o Lar, nomeadamente as escadas, e rever a utilização das dependências dos dois edifícios. O presidente do CSCVPÂncora fez votos para que a falta de apoios do Estado, não os obrigue a dar apenas prioridade no futuro a utentes que possuam dinheiro, "porque nunca o fizemos", assumiu.
Assinalou que as aulas teóricas da ETAP passarão para o auditório do Centro Cultural (decisão saudada por Manuel Luís Martins), dado permitir uma afastamento dos alunos, além de já disporem de mais duas salas, após o Etnográfico as ter libertado após a inauguração da nova sede na antiga Escola de Vilarinho (alusão que Gaspar Pereira, secretário da AG e membro do Etnográfico, aproveitou para agradecer à direcção a sua disponibilidade, em nome de todos quantos utilizaram as instalações do Centro Cultural nos últimos 28 anos). Precisou ainda que para finais de 2020, está prevista a conclusão da obra na nova Escola Básica e sede da Academia de Música Fernandes Fão, resultando que as salas ocupadas actualmente por esta academia ficarão vagas.
Uma valência encerrada devido ao vírus, foi o Centro de Dia, decisão comum à generalidade das IPSS, face ao risco de transmissão da doença. Adelaide Marques deu conta que a única alternativa resultou na criação de equipas de apoio domiciliar aos idosos sem suporte familiar durante o dia, fornecendo-lhes comida, compras, remédios e proporcionando higiene pessoal. Teme, contudo, que "quando reabrirmos, muitos deles já não terão capacidade para frequentar o Centro de Dia".
"Não podemos fazer mais"
Todo este esforço desenvolvido pelos profissionais de saúde ou similares nos últimos meses, tem causado a sua exaustão, reforçou Manuel Luís Martins , tendo ainda consciência de que "não podemos fazer mais", além de "haver muita gente com muito medo", e ser impossível cair num novo confinamento porque a economia não aguentaria.
Os dramas sociais multiplicam-se, com João Franco, sócio da instituição ancorense, a conceder um voto de louvor ao CSCVPA pela sua dedicação na defesa dos utentes, após o que deu o seu exemplo pessoal, porque "não vejo o meu filho desde Março", utente de uma IPSS de Viana do Castelo.
"Reabertura da creche não foi fácil"
A creche encerrou no pico da pandemia e reabriu há pouco tempo, situação que "não foi fácil com as novas regras", assinalou Angelina Presa, mas "os pais sentem que os seus filhos estão seguros", graças às medidas de protecção pessoal e desinfecção introduzidas, antevendo a necessidade de admissão de mais pessoal "e mais gastos" para este ano e o próximo por causa da pandemia.
Contas 2019 elogiadas
Embora a maior parte do tempo tenho sido absorvido com o surto pandémico que irrompeu com virulência em todo o mundo, um dos pontos centrais da reunião prendia-se com a apreciação e aprovação das contas de 2019.
O Conselho Fiscal tem acompanhado exaustivamente a contabilidade do CSCVPA e concedeu um louvor à forma como foi apresentado o respectivo relatório, conforme leu Francisco Cunha no decorrer da apreciação do seu parecer.
Segundo adiantou José Luís Presa, o relatório de 2019 estava de acordo com "o que aprovamos em 2018", recordou, tendo concedido prioridade às valências, mas advertiu que haveria necessidade de "reflexionar" sobre o seu futuro. O número de utentes do Lar manteve-se, agradeceu aos trabalhadores pelo seu desempenho, pelo apoio prestado por todos às respectivas valências, incluindo o apoio às vítimas de violência doméstica. Foram admitidos mais trabalhadores para a cozinha, creche e apoio social, o que agravou os custos, advertiu, a par da compra da casa do "Fiúza", junto ao Lar, o que permitirá a sua expansão. Contudo, conforme assinalou Daniel Labandeiro, tesoureiro, a aquisição deste edifício degradado absorveu a verba da venda de outro imóvel, localizado na Meadela, realizada um ano antes, pertencente do CSCVPA, o que teve implicações nas contas de 2019, "um ano de maior aperto", vincou, apesar do saldo positivo de 20.000€, num movimento de 816.000€, em que algumas valências deram lucro e outras não.
Candidaturas aprovadas para o CI do Vale do Âncora
No campo cultural, José Luís Presa disse ter cumprido os objectivos, incluindo a apresentação de candidaturas e aprovadas, frisou, destinadas à dinamização do Centro de Interpretação do Vale do Âncora.
A 10 de Dezembro, o CSCVPA cumprirá mais um aniversário, e José Luís Presa aponta para essa data uma homenagem a Cesário Lagido, um músico ancorense já falecido, cujo labor em prol da música no concelho nunca é esquecida por João Franco. Contudo, tudo dependerá da evolução da pandemia, alertou o presidente da direcção, tendo aproveitado João Franco para apontar o exemplo de Viana do Castelo na homenagem prestada recentemente, ao maestro José Pedro.
Elogios ao Conselho Fiscal e a uma sócia
Refira-se que apesar dos elogios "ao melhor Conselho Fiscal de entre todas as associações a que estou ligado", sublinhou o presidente da direcção, após ter recordado que ele tinha promovido quatro reuniões com os corpos gerentes ao longo de 2019, e ter desejado que se mantenha em funções por muitos anos (Francisco Cunha fez sinal com a mão a dizer que isso não sucederia), no que foi corroborado por Manuel Luís Martins, , o mesmo presidente do CF advertiu de que se não voltarem a apresentar estes documentos (relatório e contas) nos prazos estabelecidos nos estatutos, "não haverá parecer do Conselho Fiscal".
A direcção referiu que toda esta situação decorrente da pandemia, atrasou a entrega desses documentos.
A presença habitual de Maria Cardoso na assembleias gerais, onde os sócios rareiam, refira-se, mereceu igualmente uma menção elogiosa da parte do presidente da AG.
Sempre interveniente e atento aos documentos, Francisco Cunha pretendeu ainda saber por que razão não constavam as Vicentinas e a Junta de Freguesia da lista de entidades felicitadas pela sua colaboração com o CSCVPA e evidenciadas no relatório de actividades, Adelaide Marques explicou que as Vicentinas não são muito solicitadas na actividade da instituição, e quanto à ausência de referência à autarquia ancorense, tratar-se-ia de uma "omissão", provavelmente.