Câmara de Caminha e Etnográfico de Vila Praia de Âncora escolheram a manhã do 10 de Junho para inaugurar a nova sede deste grupo folclórico, após ter sido concretizada a recuperação e adaptação do antigo refeitório da antiga Escola Primária de Vilarinho.
Foi uma cerimónia com reduzida presença de pessoas devido às medidas restritivas decorrentes da pandemia, embora tivesse decorrido em espaço aberto, num adro construído em frente ao edifício e que servirá no futuro para actos culturais e sociais, conforme destacou o próprio presidente da Câmara.
No interior da antiga escola, cuja reabilitação orçou em cerca de 180.000€, foi dada prioridade a um salão mais amplo onde possam decorrer os ensaios, uma copa para proporcionar convívios e uma sala dos troféus e direcção.
Um par (casal) do Etnográfico interpretou uma única dança, acompanhado por um diminuto grupo de tocadores, tendo em conta as medidas de segurança que vêm sendo seguidas, as quais impedem esta associação e todas as demais de desenvolverem a sua actividade normal.
Miguel Alves prometeu num futuro que não pôde prever, naturalmente, tudo dependendo da evolução desta praga que assola o mundo, um acto que permita recuperar esta inauguração de uma forma mais participada.
"Não houve colectividade que não tivesse parte activa do José Meira"
"Criado há 44 anos e 80 dias", a história deste grupo foi revisitada por José Meira, actual presidente da direcção e filho de um dos fundadores, precisamente seu pai, já desaparecido, o que o emocionou por diversas vezes, sempre que fez alusão a ele - um homem que esteve sempre ligado às actividades culturais, desportivas e recreativas de Vila Praia de Âncora, desde o Orfeão, Âncora-Praia Futebol Clube (foi dirigente e treinador), Clube de Pesca e Caça, Comissão de Festas de Nª Sª da Bonança, encenação de peças de teatro e outras actividades e eventos em que esteve envolvido.
Mais de mil
Recordou as andanças do Etnográfico desde a sua criação, começando pelos "primeiros ensaios ao ar livre, na Rua 31 de Janeiro e que "mesmo sem tecto, poder ser considerada a primeira sede do Etnográfico", após o que se mudaram para um refeitório de uma serração, "num espaço muito exíguo", perto do Largo da Estação, seguindo-se as instalações do Centro Cultural.
Insistiu nos primeiros executantes e directores deste grupo ancorense, que "lançaram a primeira pedra", bem como a todos aqueles que integraram os corpos sociais ao longo destes anos, mas que não tiveram a felicidade de conseguir uma sede como a actual e que foi sempre um desiderato "das mais de mil pessoas que passaram pelo Etnográfico de Vila Praia de Âncora".
"Estamos cá!"
"Espero que este seja um digno sucessor de todos os outros espaços" que serviram como sede do Etnográfico, profetizou José Meira, depois de ter demorado muito tempo a conseguirem uma sede condigna, mas, ressaltou, "as coisas acontecem quando têm que acontecer", depois de terem perspectivado muitas outras soluções, incluindo esta que chegou a ser adiantada há 40 anos e só agora materializada graças "ao apoio muito grande da Câmara Municial", após várias alterações ao projecto inicial, e que "acreditou em nós".
"Um espaço de cultura aberto à população"
José Meira insistiu que esta obra "demorou o tempo necessário para se tornar uma coisa boa" e relevou a receptividade do Município para aceitar todas as propostas apresentadas "por nós" para melhorar um projecto inicial que se tornasse o mais funcional.
Aproveitou para elogiar a "sincera vontade de colaborar da parte do amigo Miguel Alves", e acredita que com este novo espaço o Etnográfico "tem condições para crescer", quer a nível nacional, quer internacional.
3.000€
José Meira elogiou igualmente "o amigo Castro", presidente da Junta e que "sempre tem mantido as portas abertas" para esta associação - autarca este que aproveitou para entregar ao Etnográfico um cheque (subsídio) de 3.000€ -, e realçou o "trato" e facilidade de contacto com a autarquia ancorense.
José Meira agradeceu o contributo e "carinho" de toda a população de Vila Praia de Âncora e dos ancorenses "espalhados pelo mundo", citando "os grandes amigos espalhados por França e Andorra".
Com a entrega desta sede ao Etnográfico, acredita que muitos "entrarão em depressão" por já não poderem falar deste assunto na Praça da República, assunto recorrente perante o adiamento deste projecto.
Corroborando a ideia do presidente da Câmara, aponta para a realização de uma grande festa nestas novas instalações, assim que a pandemia desaparecer.
Elevar o nome da freguesia
O reconhecimento da obra cultural do Etnográfico mereceu uma apreciação positiva de Carlos Castro, presidente da Junta de Freguesia, aproveitando ainda o autarca ancorense a ocasião para destacar a aposta da Câmara Municipal na passagem das instalações renovadas da Escola de Vilarinho para a posse desta associação.
Evocou a memória dos que a fundaram e elogiou os actuais dirigentes e executantes que "tanto têm elevado o nome da nossa freguesia", tanto a nível nacional como externamente.
"Trabalho conjunto"
Câmara e Etnográfico esboçaram em conjunto o projecto desta nova sede, cujo resultado permitirá à associação retirar o melhor proveito da obra, assinalou Miguel Alves, presidente do Executivo camarário, antes de procederem ao descerramento de uma lápide que registou o acto.
Assim, o autarca agradeceu a todos aqueles que contribuíram para a concretização da obra pela qual os componentes deste grupo tão ansiavam: empreiteiro e seus trabalhadores que "tiveram a paciência para ouvirem as nossas constantes alterações" necessárias a melhorar o projecto; aos funcionários camarários que ajudaram a melhorar os arranjos exteriores; o vereador Rui Lages que "acompanhou este projecto com muita proximidade"; a Junta de Freguesia que "em conjunto" apoia o Etnográfico; e a "todos aqueles que têm sabido construir este futuro em comum".
"Vila Praia de Âncora tem características (boas) únicas"
Miguel Alves aproveitou para elogiar "as características (boas) únicas" que Vila Praia de Âncora possui, as quais devem ser potenciadas, especialmente "a cultura essencial do nosso povo", sem a qual todas as demais realizações ficarão subvalorizadas, porque ela é a única que perdura.
Entendeu como apostas neste domínio, obras como a construção da sede da AMFF e da Escola Básica, sendo que em Julho deverão começar os trabalhos, anunciou. Sem deixar de repisar a colaboração com os Bombeiros Voluntários para a recuperação do cineteatro e organização de "novos eventos" em Vila Praia de Âncora, sendo exemplo disto o "Âncora Folk" que foi "reinventado", vincou.
Considerou este trabalho com as associações ancorenses como "invisível", mas que perdurará. Neste seu discurso, Miguel Alves decidiu dirigir-se aos emigrantes que eventualmente poderiam estar a acompanhar "esta festa da etnografia" por "streaming" neste Dia das Comunidades (embora no estrangeiro o Dia de Camões não seja feriado).
O autarca falou da "justiça" que é feita àqueles que trabalham no momento associativo, "recuperam as nossas origens" e insistiu no trabalho conjunto entre autarquias e colectividades.
"Não é a festa final"
Por fim, repisou que esta não tinha sido a festa que todos gostariam de ter desenvolvido, mas ela não tinha sido a "festa final", reservando-se uma celebração para mais tarde, quando as condições o permitirem, neste "promontório" de Vila Praia de Âncora, em referência à localização elevada da antiga escola.
Terminou a fazer um jogo de palavras com esta actividade etnográfica da associação, dizendo que esta casa "é mui chula" - com diriam os espanhóis -, tendo sido construída com muito amor, "gota a "gota" e, prosseguindo, "a Câmara não é só tirana, é também amiga, cantando a Rosinha convosco", garantindo que teremos ocasião de a cantar "noutro momento".