Dos dois lados do rio Minho, vinha sendo repetido insistentemente e com inteira razão que este curso de água não os separava, mas antes os unia.
Agora, inesperadamente, devido a um vírus maléfico sem rosto, estamos impedidos de o cruzar, intercambiar amizades, trabalho e negócios, fruir das belezas e simpatia das gentes das duas margens.
Apesar das medidas fronteiriças restritivas tomadas com a finalidade de travar a expansão desta pandemia, as novas tecnologias conseguem manter-nos em contacto permanente. Pena é que estes avanços tecnológicos não tenham tido correspondência a nível da ciência no combate a esta pandemia que alastra em praticamente todo o planeta, e da qual Espanha tem saído fortemente castigada. 
António Lomba, alcaide de A Guarda, município irmão de Caminha, falou para o C@2000 sobre estes dois meses de separação forçada, "coisas da vida", lamentou, quando "nunca estivemos tão separados como agora, mas o que é verdade é que já não sabemos viver separados", vincou com determinação.
A situação actual em A Guarda reflecte de uma maneira geral o estado da expansão da pandemia na Galiza, uma comunidade autónoma com uma baixa percentagem de contaminados e falecimentos, em comparação com outras.
O presidente do concelho guardés comentou o número de casos nesta vila marinheira, apesar de o Serviço Galego de Saúde não fornecer dados aos municípios. No entanto, de uma forma não oficial, sabe que em A Guarda, os casos de pessoas infectadas não chegaram aos 10, embora admita a existência de alguns confinamentos domiciliares como medida preventiva.
Nesta vila existe uma "residência" (lar de idosos), perto do Molino, com 150 utentes e 100 trabalhadores, "com quem mantenho contactos assíduos e a quem ajudamos no que podemos e, de momento, está tudo bem", embora tivesse havido um funcionário infectado, mas que "não tinha contactos com os internos porque pertencia aos serviços gerais da instituição".
"Comportamento da gente é bom"
Manifestou satisfação pela forma como os seus conterrâneos acataram o confinamento, tendo surgido apenas alguns pequenos casos "no princípio, porque as pessoas ainda não estavam bem informadas". Presentemente, de acordo com as informações recebidas da Guardia Civil, "decorre tudo com normalidade", registando-se um grande vazio de gente na zona urbana da vila, "a exemplo do que deve acontecer em Caminha, creio", no que não se enganou.
É interessante constatar os comportamentos semelhantes adoptados pelas pessoas das duas vilas, embora em dois países distintos, após António Lomba nos relatar que "apenas da parte da manhã se vê bastante movimento de gente, deslocando-se aos bancos, padarias, mas as pessoas respeitam o distanciamento", assegurou.
Pequenas aberturas a partir de Segunda-feira
Em relação aos serviços do próprio Concelho, revelou que se encontra tudo a funcionar, "excepto o atendimento presencial ao público". Optaram pela descentralização através do teletrabalho e "atendemos as pessoas pelo telefone, mas a partir do próximo dia 11, retomaremos o contacto presencial de todos os departamentos com o público através de marcação prévia".
A grande aposta até ao momento tem sido o reforço do apoio aos serviços sociais, protecção civil e polícia.
Durante este período de maior controle social, apenas se realizou um plenário do Concelho (geralmente reúne uma vez por mês), estando presentes todos os vereadores. Foi formada uma comissão de coordenação com representação de funcionários e membros do Executivo municipal a fim de dar conhecimento "das necessidades que temos e da coordenação necessária", além de reuniões de dez ou quinze dias de intervalo com os porta-vozes dos grupos políticos municipais.
António Lomba admitiu a existência de uma certa colaboração dos partidos da oposição até ao passado dia 5, tendo sido "sempre muito leal e apoiando todas as medidas", mas, a partir desse dia, "já começaram a surgir interesses políticos e pretendendo retirar protagonismo político".
Deu como exemplo uma nota de imprensa emitida no dia anterior pelo BNG, em que se atribuía a si as medidas que o Executivo estava a lançar.
A partir dessa reunião da passada Terça-feira, ficou assente que nas reuniões de porta-vozes, "se começará a esboçar uma estratégia para a reactivação económica.
"Pescadores trabalhavam com normalidade"
Sendo esta vila do Baixo Miño um porto importante de pesca, quisemos saber qual o movimento na lota nestes últimos tempos. A safra da lampreia, no rio Minho, começou a baixar à medida que os dias foram passando até que terminou praticamente antes do tempo de veda, justificando tal facto pela diminuição de encomendas dos restaurantes entretanto encerrados e pelo consequente abaixamento do preço.
A mesma situação sucede com a pesca proveniente do mar, porque "apesar da muita qualidade do pescado e da regularidade com que os barcos saíam, surgiam igualmente dificuldades em colocar o peixe nos restaurantes, o que não se tornava rentável". Referiu que apenas um restaurante se manteve com as portas abertas, mas apenas servindo refeições para fora.
Esplanadas com mais espaço e isenção de taxas até final do ano
Com alguma abertura que se venha a produzir nos próximos tempos, apesar da manutenção do estado de "alerta" (emergência), algumas esplanadas começarão a funcionar "com apenas 50% da sua capacidade". Perante esta situação, o Executivo local está a preparar um plano de alargamento da área de ocupação das esplanadas, para que seja possível manter um distanciamento seguro entre mesas, e tendo já aprovado em reunião camarária a isenção de taxas de ocupação do terrado até final do ano.
"Temos que abrir as praias ao turismo"
 
A partir de agora, o Executivo presidido pelo socialista António Lomba vai preparar a organização das praias, atendendo a que "temos distintos tipos de praias".
Deu como primeiro exemplo a da Areia Grande, uma espaço reduzido que os "obrigará a parcelar, porque tem muita afluência de banhistas". Quanto às demais, maiores, pretende recolher as opiniões dos responsáveis pelo turismo, acreditando que bastarão "recomendações", sem necessidade de medidas restritivas obrigatórias.
A contratação de "socorristas" (nadadores-salvadores) está nas suas intenções, pretendendo utilizá-los na "organização/distribuição dos banhistas na praia".
Bloco de medidas para recuperar comércio e restauração
Devido às medidas de enceramento de inúmeras actividades e à diminuição de visitantes, o comércio e o turismo serão bastante afectados, não hesita em admitir, com excepção das farmácias, padarias e lojas de abastecimento alimentar.
Espera alguma recuperação a partir da próxima Segunda-feira, quando começarem a reabrir alguns comércios e a restauração possuidora de "terrazas" (esplanadas exteriores), funcionamento este que vem sendo exigido pelo sector comercial e de hotelaria/restauração "porque estiveram muito tempo sem atividade", tendo faltado essencialmente o turismo habitual da Semana Santa que "já não será possível, recuperar".
De modo a minorar os prejuízos causados pela pandemia e consequente fecho de actividades essenciais numa vila turística como esta, o Concelho de A Guarda está a elaborar um "bloco de medidas", incluindo apoios financeiros, que permitam uma recuperação o mais rápida possível da economia local.
Eventos cancelados ou adiados
Os eventos tradicionais e importantes desta vila galega, atracção habitual de milhares de turistas, foram cancelados até 12 de Julho, ou adiados para Agosto, sendo este o caso de um concerto (a cargo do grupo Herdeiros da Cruz) aprazado para o dia 11 de Julho. Quanto aos tapetes florais do Dia de Corpo de Deus e a Festa da Lagosta, não se realizarão este ano. O mesmo sucedeu com a Festa do Peixe-espada, coincidindo com finais de Julho, cujo organizador já informou a Câmara de que não se realizaria neste Verão.
"Festa talvez um pouquinho descafeinada"
 
Quanto à Festa do Monte, as festas maiores de A Guarda	 em inícios de Agosto, "toda a gente me pergunta se vão realizar-se ou não, mas não posso adiantar nada de momento, embora a comissão organizadora ainda continue a trabalhar". Admite que "se a coisa for bem, poderá organizar-se sob determinadas medidas de limitação de afluência", tudo dependendo da evolução da pandemia, insiste, admitindo que venha a ser "uma festa um pouquinho descafeinada".
Estas declarações foram recolhidas no dia em que o Congresso, em Madrid, aprovou mais uma quinzena de Estado de Alerta, medida reconhecida como necessária por António Lomba, "só me admirando como é que há pessoas que se posicionem contra".
Exemplificando, assinalou que "certas medidas estão veiculadas ao estado de alarme", sem o qual seria impossível implementá-las, apontando o caso da interdição "da mobilidade entre províncias, controlar a saída e o confinamento das pessoas", sem as quais poderia haver um aumento de casos.
Acusa quem não pretende manter estas medidas, de apenas pretender recolher "proveitos políticos" em Espanha, ao contrário do que lhe parece suceder em Portugal, em que "a oposição é muito mais leal do que cá".
Ponte da Amizade deveria ser reaberta ao trânsito
A questão da reabertura das fronteiras entre os dois países tem dominado o debate nesta zona raiana.
O  número reduzido de casos na Galiza é argumento para que seja pedido o fim da interdição da circulação.
António Lomba concorda que há mais casos no norte de Portugal do que na Galiza, mas, o importante não seria a abertura das fronteiras, mas sim haver mais "passos fronteiriços". Deu o exemplo da importância da ponte da Amizade, que, se estivesse aberta, pouparia muito tempo de viagem (pelo menos uma hora) para quem trabalhasse em Vila Nova de Cerveira. As pessoas são obrigadas a viajar mais 20 ou 30 quilómetros, a par de não se poder circular mais de que uma pessoa por carro, o que lhe parece mal, nomeadamente para quem recebe um salário "muito baixo". Ir de A Guarda até Tuy e descer depois até Cerveira, e fazer o caminho inverso no regresso a casa, "representa um corte substancial no seu já pequeno ordenado", denuncia.
Ferry imobilizado até final de Maio
 
O ferry-boat Stª Rita de Cássia encontra-se imobilizado no cais português. Pedimos-lhe um palpite para o reinício das travessias. Todavia, o alcaide da A Guarda, confessou-nos que "na verdade, não sei, nem tenho falado com o presidente da Câmara de Caminha sobre isto".
Reafirma que a sua maior preocupação actual prende-se com a reabertura da Ponte de Góyan e, a cumprir-se o que anunciou o Faro de Vigo, "até ao mês de Junho não irá ser reaberto mais nenhum posto transfronteiriço", o que implica que também o ferry-boat não irá funcionar até final de Maio.
"Dar um abraço ao presidente de Caminha antes de rematar o Verão"
 
Por último, pretendemos saber quando seria que o alcaide de A Guarda e o presidente da Câmara de Caminha se poderiam voltar a abraçar.
Após uma pausa, António Lomba, respondeu que "mais do que fazer futurismo, estás a expressar um desejo".
"Eu gostaria que não rematasse o Verão sem que o alcaide de A Guarda pudesse ir de ferry até Caminha, ou vice-versa, ou mesmo no ferry, ou num dos cais, dar-lhe um abraço e celebrar que voltarão a estar unidas duas regiões da Europa (Norte de Portugal e Sul da Galiza) que não deveriam estar tão afastadas como estão agora".