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Semanário - Director: Luís Almeida

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CIDADANIA

Filosofia Social do Interventor

Refletir e assumir uma praxis perante a sociedade, face a circunstâncias, factos, acontecimentos e situações do âmbito social, constitui uma boa base de formação, para toda a pessoa que pretende intervir com o objetivo de solucionar um problema, que afeta uma outra pessoa, família ou grupo.

Estabelecer os limites dentro dos quais se concetualiza uma situação social é, objetivamente, impossível, na medida em que, por uma cultura social, quase tudo o que acontece na sociedade e interfere com as vidas individuais e/ou grupais, pode ser interpretado como uma situação do foro social, considerando aqui a qualificação social como uma carência que urge satisfazer pelas pessoas e/ou pelos Serviços e técnicos competentes do Estado e Instituições Não-Governamentais, vocacionadas para as situações classificadas de sociais.

A pessoa humana dispõe, atualmente, de muitas oportunidades e tem em si imensas capacidades para se realizar, justamente, como pessoa digna e portadora de valores, desde logo, valores sociais. Ao se realizar numa ou em diversas das suas dimensões: política, profissional, religiosa, cultural, social, axiológica e outras, certamente que alcança uma bem determinada felicidade; e quando se envolve na participação da resolução de problemas que afetam as pessoas e grupos mais fracos ou temporariamente fragilizados, seguramente que a felicidade é vivenciada com mais intensidade e objetividade.

Com efeito: "O homem encontra sua felicidade na vida ao consagrar-se a um desígnio comum. Devemos convidar outros a entrar nesse desígnio, mas impõe-se a maior cautela para que este convite não se converta no exercício de um poder inumano." (KWANT, 1969:209). ( )

A comunicação e o relacionamento interpessoal, que, cada vez mais, se tem vindo a tentar intensificar no seio das famílias, grupos, comunidades e sociedades alargadas, é uma imposição que de forma quase impercetível envolve as pessoas, ainda que estas, em certas circunstâncias, pareçam demonstrar o contrário, precisamente, pelo facto de que é impossível ao ser humano viver isoladamente.

Todo o conjunto de relações nas sociedades modernas, sempre comporta, com maior ou menor envolvimento, determinados aspetos, pormenores, indícios sociais. Neste sentido a: "Nossa existência é social porque podemos realizar nossas possibilidades só dentro do contexto e através da ajuda do nosso existir junto com outros e também porque não é possível fazer justiça a qualquer classe de valores fora da nossa coexistência com outros. Nossa existência é social porque todos nós vivemos de uma herança comum que impregna tudo o que somos. Ainda nos nossos feitos mais pessoais estamos sustentados por essa herança comum." (Ibid.:177). ( )

A condição social do homem implica reflexões metódicas, rigorosas, como se de uma outra qualquer ciência se tratasse. Lidar com o fenómeno social, em sociedades cada vez mais heterogéneas, equivale ao domínio do conhecimento e práticas de natureza científica, principalmente para o técnico e/ou especialista do Serviço Social, desejavelmente complementados com outras faculdades inatas ao nível da sensibilidade, perceção e acutilância para as situações de verdadeiras incongruências sociais, detetadas nos casos de carência material mas que o carenciado não tem qualquer iniciativa, pese embora o facto de possuir condições físicas, intelectuais e profissionais para melhorar, por si próprio e como seria seu dever, as condições de vida dele mesmo e, quantas vezes, daqueles que estão na sua dependência.

São situações desta natureza que os diversos sistemas sociais devem enquadrar de forma justa e, quando e se necessário, sancionatória. Nesse sentido é perfeitamente compreensível o envolvimento do Filósofo Social, através das técnicas e teorias que a Filosofia Social naturalmente proporciona: "A Filosofia Social (tal como a sua disciplina, a História do Pensamento Social) ocupa-se das várias concepções sobre a natureza dos sistemas sociais ou sociedades desejáveis e, por vezes, formula suas próprias propostas sobre o que constitui uma sociedade boa ou desejável. A avaliação do valor, bem como de outras características, das ideologias políticas é uma preocupação usual dos filósofos sociais." (Ibid.:209).

A conceção de ciência como atividade que pressupõe um método e um objeto de estudo, permitindo alcançar resultados rigorosos, objetivos, previsíveis, reversíveis, implicando toda uma metodologia e técnicas científicas, também se aplica à sociedade humana, porém, as dificuldades, aqui, são bem maiores e, eventualmente, os resultados não serão tão exatos.

O objeto de estudo das Ciências Sociais e Humanas envolve dimensões do próprio ser humano, que comportam variáveis, imprevisibilidades e situações que não são quantificáveis com a mesma objetividade e rigor das alegadas Ciências Exatas.

O técnico de intervenção social tem a sua vida profissional extremamente complicada, como igualmente difícil é a tarefa do investigador social: "(…) o homem sempre foi um descontente e um inquieto; sempre se sentiu em conflito, dividido contra si mesmo e as crenças e as práticas às quais, em todas as sociedades e em todas as civilizações, ele dava mais importância, tinham e têm ainda por objectivo, não suprimir estas divisões inevitáveis, mas atenuar as suas consequências e dar-lhes sentido e uma finalidade, torná-las mais facilmente suportáveis, ou pelo menos reconfortá-lo." (DURKHEIM, 1970:295).

Bibliografia

KWANT, Remy C., (1969). Filosofía Social. Buenos Aires - México: Ediciones Carlos Lohlé.

DURKHEIM, Emile, (1970). "A Ciência Social e a Acção", Trad. Inês Duarte Ferreira, São Paulo: DIFEL - Difusão Editorial.


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