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- Duna dos Caldeirões - (1)

Razões e consequência da sua destruição

Joaquim Vasconcelos

O debate está lançado há muito em Vila Praia de Âncora e Âncora, sobre as causas da destruição da Duna dos Caldeirões e previsões do seu futuro, bem como do estuário e foz do rio Âncora.

Joaquim Vasconcelos tem sido uma voz crítica em relação à projecção e execução do Portinho da vila, como variadas vezes o tem evidenciado neste jornal.

Nesta edição, iniciamos a publicação de uma série de capítulos de um trabalho seu dedicado a esta problemática, como forma de contribuir para o relançamento de uma discussão pública de um assunto actual e que se receia venha a ter continuidade nos próximos tempos.


Duna dos Caldeirões

ANÁLISE TÉCNICA E ESTUDO DA SUA EVOLUÇÃO E CONSEQUÊNCIAS FUTURAS

1 - INTRODUÇÃO

Depois de ouvir pessoas de Vila Praia de Âncora a referirem que a destruição da duna dos Caldeirões foi um mau menor. Ou que agora é que está bem, pois o areal da praia de Vila Praia de Âncora está mais amplo. Os responsáveis parecem esquecer que a destruição da duna dos Caldeirões é o princípio de uma vaga de destruições no litoral de Vila Praia.

A vontade de uma comunidade ver um problema resolvido leva-os acreditar em soluções tecnicamente erradas e que senão for feito de acordo com o que é referido pelos grupos que os controlam (políticos, ambientalistas e até empresariais), a mensagem parece não conseguir passar.

Mas parte do que se passou já tinha sido referido à 13 anos, chegando ao ponto de se referir o prazo desse acontecimento, e agora a situação irá continuar a evoluir, tornando a situação cada vez mais difícil de solucionar.

Quase todos os problemas da erosão costeira a nível nacional, tem a ver com a execução de portos de mar mal localizados, ou com esporões que os responsáveis referem ser para travar a migração das areias, mas que eu refiro ser para alterar o sentido das correntes naturais.

Os culpados referem que o problema está acontecer em toda a costa portuguesa, esquecendo-se de referir que "devido a terem semeado esporões por toda a costa atlantica.

Eu deixo uma questão, a quem ler este trabalho.

Quem é que ganha com isto?

Eu com estes pareceres só perco muito dinheiro e só ganho inimigos poderosos.

Embora a duna dos Caldeirões em 1990 tivesse sido galgada pelo mar, consequência de um rebaixamento daquela, originado pelo pisoteio de acesso ao campo de futebol, durante aproximadamente 30 anos, no entanto conseguiu resistir até à execução do porto de abrigo de Vila Praia de Âncora, cuja obra alterou o circuito das correntes marinhas.

A partir daí tudo começou acontecer, desde o rebaixamento e emagrecimento da praia, dando origem ao assoreamento do interior do portinho.

Para manter o portinho minimamente funcional fizeram dragagens quase anualmente.

Este ano com um mar mais forte e com orientação de um vento de Noroeste, em 3-2-2014 deu-se o rompimento da duna dos Caldeirões.

Se de facto se mantiver esta passividade e tendo em consideração que os períodos de retorno dessa erosão já estavam a ser anuais o avanço indiscriminado do mar, vai dar origem a mais erosão, demolições, desmoronamentos, o que vai provocar mais desemprego (abandono da actividade pesqueira, abandono da actividade agrícola, de restauração etc.), seguindo-se o desespero, falências e tristezas, que dão origem a mais emigração (como noutros tempos), fome e mendicidade.

Porque ainda há quem goste de Portugal e de Vila Praia de Âncora vamos alertar os responsáveis, para ficar para memória futura, que as consequências, originadas por uma obra que era para servir os pescadores, devido à teimosia mediocridade e outras coisas que não podemos referir, os responsáveis da execução de um portinho que não serve convenientemente os pescadores e onde se gastam milhares de euros para o dragarem, agora comprovou que também teve a sua cota parte na alteração do desenho da praia de V.P. Âncora.

Agora que sucedeu, pergunta-se pelos responsáveis, mas parece não existirem, isto é Portugal no seu melhor..


Esta era imagem aérea da zona que se vai analisar à uns anos atrás


2 - ANÁLISE DOS EFEITOS NATURAIS E ANTRÓPICOS

A Terra, desde a sua criação, sempre esteve em constantes mutações. No entanto os ciclos de aquecimento e glaciação, causados por fenómenos naturais, envolviam centenas ou mesmo milhares de anos.

Agora sabe-se que estamos num período geológico de transgressão marinha, ou, por outras palavras, de subida generalizada do nível médio das águas do mar. Este fenómeno, tal como o inverso (regressão marinha), é cíclico e de duração variável.

As suas causas naturais são, essencialmente, alterações de ordem climática e deformação tectónica (movimento das placas), que originam a subida generalizada do mar.

Estes são os EFEITOS NATURAIS que o engenho do homem não os consegue dominar.

No entanto, além disso, temos os EFEITOS ANTRÓPICOS que vão agravar as alterações de natureza climática, como é o caso da crescente industrialização, sem cuidados ambientais, sendo os principais factores do aquecimento global, que estão a originar, a fusão das calotes geladas dos pólos e a consequente subida dos oceanos. (efeito de estufa, rarefacção ou destruição da camada de ozono, que explicam a tendência do aumento da temperatura da atmosfera e consequentemente da fusão dos gelos das zonas polares e dos glaciares dos sistemas montanhosos).

Sendo a paisagem costeira um recurso natural que gera outros recursos, como por exemplo, o turismo de lazer nas praias, tem de ser convenientemente protegido, para não se perder.

Estas áreas litorais começaram a degradar-se pela redução dos volumes de sedimentos transportados pelas águas fluviais para alimentação da plataforma continental devido à execução de barragens e à extracção de areia.

Mais localizados aparecem os efeitos provocados por: - urbanização anárquicas junto das praias, que originaram uma pressão humana maior e consequente pisoteio excessivo alterando a dinâmica do cordão dunar, e os responsáveis continuam a preparar novas frentes. - Todas estas situações já aconteciam quando o projecto do portinho foi estudado e a obra executada. Por isso torna-se incompreensível as justificações apontadas pelos responsáveis e respectivos acólitos, não tivessem previsto que a realização do portinho naquele local ou com aquele desenho, era um empreendimento que em vez de permitir a fixação de uma comunidade piscatória e criação de postos de trabalho, tivesse dado origem a uma obra que se tornou perigosa para quem acede a ele e que não é economicamente viável. (situação referida até pela comunidade piscatória).devido às consequentes dragagens que periodicamente se tem de realizar

Mas a agravar a situação são as consequências do que essa obra originou a Sul, na denominada praia das crianças, que tem vindo a destruir todo o cordão dunar, tendo para já rompido a duna dos Caldeirões.

Mas isso era uma situação, que ao fazerem o esporão ou cais do portinho sabiam que iria acontecer (ver anexos).

No entanto na costa portuguesa há mais de meio século que houve alguém do clube político que considerou que as obras de engenharia pesada (esporões), solucionariam o problema. Embora cientificamente estivesse provado que é precisamente o contrario.

Tendo em conta todas as variáveis naturais já referidas, combinadas com os factores antrópicos (obras de "engenharia pesada" ) a entrar no oceano, caso dos molhes (esporões), a combinação dos factores naturais com processos antrópicos (esporões), acelerou e energizou as consequências, dos efeitos negativos ou destrutivos.


3 - ANÁLISE E ORIENTAÇÃO DAS CORRENTES

A - ORIENTAÇÃO DAS CORRENTES NATURAIS

Vamos começar por visualizar o circuito das correntes atlânticas, apoiando-nos em estudos do Instituto Hidrográfico Português

Como é do conhecimento geral a ondulação incide obliquamente à praia de V.P.Ancora. Essa orientação vai dar origem a uma corrente longitudinal que se desloca paralelamente à costa ou deriva, que , é responsável pelo transporte e reposição dos detritos sólidos no cordão dunar. Essa corrente vulgarmente tem o sentido Norte/Sul.


4 - "ESTUDO DA ALTERAÇÃO DAS CORRENTES

1º A análise que se vai realizar vai ter em conta o desenho da praia de Vila Praia de âncora criado por uma dinâmica costeira que recentemente sofreu mudanças físicas bastante acentuadas, com a execução de obras de engenharia pesada a entrar pelo mar dentro. Agora vamos procurar analisar a dinâmica costeira onde se inclui a deriva sedimentar (de onde vêm e para onde vão os sedimentos da praia, da pré praia e da ante praia); nos indicadores do sentido da deriva sedimentar inclui-se a orientação da previsão das perturbações que a estrutura costeira do porto de Vila Praia de ãncora introduziu na sua dinâmica.

Como nos referimos acima, vários factores naturais contribuiram na evolução das alterações na zona costeira. Outros há a referir como a acção da ondulação e das correntes litorais, das marés, dos ventos e das tempestades (morfo-dinâmica), que actuam a curto e médio prazo, nas praias e são mecanismos, fundamentais na sua evolução. É aqui que os processos antrópicos actuam de modo decisivo, interferindo com aqueles, modificando a morfologia e desencadeando acções tantas vezes irreversíveis e perniciosas para toda a comunidade.

1 º

Para analisarmos parte do que se passou na duna dos Caldeirões em Vila Praia de Âncora, temos de fazer uma análise multidisciplinar de forma a ter em conta os efeitos da obra do Portinho, na dinâmica costeira a Sul daquele, que deu origem à destruição da duna dos Caldeirões.

Consultada a página do Instituto Hidrográfico conclui-se que a ondulação, é sempre diagonal à praia, conforme o desenho anexo.

Neste verificamos o sentido das correntes, que são de Noroeste, que vão dar origem à deriva Norte-Sul, pelo que podemos ficar com a ideia das alterações, que a colocação de uma estrutura costeira, vai originar.


Nesta fotografia podemos ver a alteração da ondulação após cruzar o esporão norte do portinho.

Na fotografia vemos que a massa liquida ao cruzar o esporão origina a alteração da corrente.

Tendo em conta que a massa liquida, na costa portuguesa incide sempre obliquamente, ao encontrar o obstáculo ( neste caso o esporão ), vai dar origem à alteração da corrente natural e consequentemente a novas correntes.

Portanto, vindo essa massa líquida em equilíbrio, ao cruzar o esporão parte daquela fica para trás o que obriga a restante a ocupar esse espaço, originando a alteração dessa corrente (3). Essa nova corrente vai dar origem a uma corrente ovóide, a que vou chamar de sucção, para reequilíbrio da massa líquida. Essa corrente passa a ter actualmente tem o sentido inverso à corrente natural da linha de costa (deriva) ,que se fazia sentir antes da execução do portinho.

Essa corrente vai dar origem à sucção do areal, arrastando de uma forma ovóide os detritos sólidos, dando origem à destruição da duna dos Caldeirões e ao contínuo assoreamento do portinho.

Mas a situação pode-se agravar, pois quanto maior for a energia do mar, maior e mais ampla se tornam essas correntes e a sua envolvência, é por isso que se analisarmos a corda litoral portuguesa ficamos esclarecidos de quem são os responsáveis pelo estado de degradação do litoral português".

Joaquim Vasconcelos
(Continua)


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