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Lenda de Santo Aginha da Serra d'Arga

Em tempos que já lá vão e a que a memória perdeu conta, acoitava-se nas asperezas da Serra d'Arga um salteador de caminhos chamado Aginha. Por todas as redondezas era conhecido e temido, tais os seus brutais assaltos. Ninguém se atrevia a cruzar os caminhos depois do sol-posto, porque o Aginha nunca falhava os seus golpes. E, qualquer tentativa de resistência sempre dava mau resultado...

Ora, uma madrugada, descia a Serra vindo do mosteiro de S. João, um frade, que ía rezar missa a Arga de Baixo. O Aginha, confundido pelo negrume da madrugada ou porque nunca fora homem de muita fé, saltou-lhe ao caminho de facalhão em riste, soltando a frase costumeira: - A bolsa ou a vida! Mas o frade não tinha bolsa... e a vida não lhe custaria muito dar, desapegado dos valores terrenos como estava. Ainda ofereceu ao salteador a cruz que trazia pendurada ao peito. E o seu surrado hábito de religioso, mas o Aginha nenhum interesse tinha em tais peças! E ficou, pela primeira vez durante um assalto, tolhido, mudo e quedo, sem saber o que fazer.

Compadeceu-se dele o bom fradinho. Tomou-o pelo braço, sentou-o à beira do caminho e falou-lhe brandamente. Às palavras do religioso respondia um profundo silêncio do salteador de caminhos. Nunca se soube o que lhe disse o frade, mas o Aginha caiu-lhe aos pés ajoelhado, confessou-se de uma vida de misérias e de crimes, e soluçou por penitência.

O frade ordenou-lhe que se mantivesse pela Serra, pelos caminhos que sempre trilhara pelo mal, mas agora para ajudar aos viandantes e a todos os que se sentissem em dificuldades por aqueles trilhos pedregosos. Nessa convicção o deixou. Mas nada disse a ninguém do seu encontro, nem da conversão do malfadado Aginha.

Pouco tempo se passou, quando um dia, pela tardinha, um camponês seguia um caminho da Serra com um carro de lenha, ajoujado pela carga e puxado pela junta de animais. O caminho era mau e a carga pesada... logo, numa pedra, o carro tomba, estragando a atrelagem. O camponês tomou-se de medo, mas nada havia a fazer: começou a tentar descarregar o carro para o poder voltar a atrelar, quando lhe surge o Aginha, atraído pelo ruído. Vendo o apuro do camponês e lembrando-se da penitência que lhe dera o frade, o Aginha ia em seu auxílio. Mas o camponês estava possuído pelo pavor. Dissimuladamente, agarrou numa machada que tombara com a lenha e desferiu um golpe violento na cabeça do antigo salteador, que, não esperando o ataque, se não defendeu. Tombou morto. O camponês, convencido que matara em autodefesa, mas angustiado com o crime, arrastou o corpo para os brenhos, refez a carga do carro e seguiu à sua aldeia.

Passaram dias, e surgiu no povoado a notícia que El-Rei prometera grande recompensa a quem pusesse termo às malfeitorias do Aginha. O camponês, na mira do prémio, chamou gente e foi mostrar onde tinha derrubado o grande salteador. Mas chegados ao local, todos quedaram estarrecidos de espanto... haviam-se passado dias, mas o corpo estava incorrupto, e exalava um suave cheiro a flores silvestres. O pasmo era geral! Quando correu a notícia da conversão conseguida pelo frade, o povo logo clamou o Aginha como Santo e a ergueu-lhe, no local, uma capelinha de devoção.


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