As contribuições dos vilarmourenses durante o mês de Janeiro, no seguimento das Reisadas que o Grupo das Janeiras concretizou na freguesia nesse primeiro mês do ano, permitiu a realização de mais um Almoço dos Reis no passado Domingo, reunindo centenas de pessoas no pavilhão do Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense, à volta do arroz de sarrabulho e dos rejões de porco.

Famílias inteiras, crianças, jovens e idosos e alguns convidados não quiseram faltar a esta a tradição comunitária iniciada apenas por homens no antigo "clube", mas que os ventos de Abril alargaram ao sexo feminino.

Convivas munidos de lancheiras e sacos, contendo talheres, bebidas e sobremesa (o resto é por conta da casa) iam chegando às instalações do CIRV, à medida que se aproximava a hora do repasto.

Do interior da "cozinha" da antiga estufa, saiam fumos e aromas prenunciadores de algo de saboroso a extrair dos panelões onde ferviam 180 kg de febras, 100 de carne de porco, 26 de arroz, mergulhados em 15 litros de azeite, 10 de óleo e 40 litros de vinho branco e tinto, a par dos habituais condimentos à base de sal, cominhos, bacon, coentros, salsa, tudo revolvido por compridas colheres que os cozinheiros (habituais) apuravam minuciosamente, para que tivessem direito a uma (tradicional) salva de palmas por parte dos comensais que aguardavam ansiosamente que os servissem, sentados ao longo das mesas distribuídas pelo salão.

António Fiúza chefia a equipa de cozinheiros. Acompanham-no Carlos Porto (nisto há 15 anos), José Maria Barros há 14 anos, Carlos Porto há 15 e José Costa já com 7 anos de experiência.

De todas as idades

Maria Rosa Guerreiro, a caminho dos 93 anos, não falha ao convívio anual da comunidade da sua terra. Fez a quarta classe e foi logo trabalhar para a lavoura, disse-nos. Foi essa a sua vida. Nos tempos difíceis da "guerra da Espanha em que era fome de tremer, em que nem pão havia".

"Primeiro, quando isto se fazia no Clube, "era só para homens", precisou esta vilarmourense , recordando que o seu falecido marido Manuel Maria Parente, de Lanhelas, (no ano do seu falecimento não participou neste convívio) fazia parte desse grupo de homens que dinamizavam o antigo Centro Vilarmourense.

Desde a primeira hora que comungou da integração das mulheres no Almoço dos Reis, pois, vincou, "se os homens têm direito a voto, as mulheres também".

"Gosto muito destes convívios porque durante a semana não posso sair da casa", acrescentou, já sentada à mesa e preparada para saborear o repasto, porque "come de tudo e não faz dieta" completou sua filha (ex-dirigente do CIRV) que a acompanhou neste almoço.

Recordou que tal como nesses tempos da guerra, hoje em dia há pessoas a passar fome, mas acredita que em Vilar de Mouros isso não acontece porque sempre se cultivam produtos do campo.

Já pensa no próximo almoço, mas, "se calhar não chego lá", embora tenha como referência sua mãe (Maria do Carmo Pereira) que atingiu os 97 anos.

Almoço "representa muito"

Também os mais novos comparecem neste dia.

Foi o caso de Ricardo Ranhada, 21 anos, filho de um ex-presidente do CIRV, Armando Ranhada - a quem se deveu a construção da actual sede, entre muitas outras iniciativas.

Este jovem admitiu que o convívio "representa muito em termos pessoais e a nível da freguesia", sendo esta uma forma da gente de Vilar de Mouros, famílias e convidados "se juntarem, conversarem", embora reconheça que no tempo em que acompanhava o seu pai, as pessoas "falavam mais entre si".

Como se trata de uma tradição, "há que mantê-la e não deixar que acabe", porque, frisou, embora as coisas mudem, "sempre há que conviver".