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Atletas caminhenses brilham no Andebol Feminino de A Guarda Uma andebolista (Bárbara Rodrigues) é capitã da selecção nacional de Juvenis apurada para o Europeu Desactivado o Clube de Andebol de Caminha, ao que não foi alheio a falta de apoio institucional, jovens atletas do concelho de Caminha deram o salto até ao outro lado do rio Minho, inscreveram-se no Clube Balonman Atlético Guardés, mais conhecido por Mecalia Atlético Guardés devido ao patrocínio conseguido de uma empresa instalada em A Guarda para a equipa sénior feminina que joga na Divisão de Honra de Espanha. As equipas dos escalões inferiores possuem outros patrocinadores, pelo que também associam os seus nomes ao do próprio clube. Treinam e disputam os jogos em casa no pavilhão municipal disponibilizado pelo "concello" - incomparavelmente inferior ao de Caminha, o qual, em termos competitivos e com carácter regular, apenas dá guarida aos desafios de Futsal da Associação de Viana do Castelo e aos torneios de judo -, sempre com casa cheia quando entra em competição a equipa sénior feminina que disputa o Campeonato Nacional de Espanha e em que jogam com regularidade duas irmãs de Caminha (Ana e Bárbara Rodrigues).
O enraizamento e entusiasmo pelo andebol nesta vila galega é por demais evidente pelo número de crianças que desde os cinco anos já integram as escolas de formação. As jovens andebolistas do concelho de Caminha que se deslocam nas viaturas de alguns pais, quer pelo ferry-boat, quer pela ponte de Cerveira, são recebidas de braços abertos pelos directores e técnicos do clube guardés.
Esperanza Vila Chã vem presidindo aos destinos deste clube galego há 16 anos. Antiga praticante de basquetebol, chegou ao andebol por causa de suas filhas praticantes desta modalidade e uma delas chegou a integrar o seleccionado espanhol. A fundação do A.C.G. teve lugar em 1967, com primazia para o andebol feminino, tradição que ainda mantém e com excelentes resultados, bastando referir que recentemente, as seniores foram semifinalistas da Taça de Espanha. O andebol masculino não tem tanta pujança devido à existência de um clube no Rosal (Novás), para o qual são encaminhados os atletas formados em A Guarda, mantendo assim um intercâmbio favorável a ambos, conforme referenciou a presidente Esperanza que anseia por um pavilhão novo.
O município guardés disponibiliza este recinto desportivo desde a criação do clube, mas os seus 500 lugares são insuficientes para os cerca de 700 espectadores que seguem regularmente os jogos das seniores em casa e em que despontam, além das portuguesas, uma guarda-redes ucraniana, uma bielorussa, uma espanhola (Vanessa Almorós) medalhista de bronze nas últimas Olimpíadas e a própria filha da presidente que chegou a ser uma das convocadas assíduas da selecção espanhola. Dias antes, tinham-se reunido com a Deputação de Pontevedra, com a qual voltaram a discutir a possibilidade de ser construído um pavilhão novo neste município.
"Temos 125 atletas de todas as categorias", explicou-nos a presidente no decorrer da reportagem realizada num dos dias de treinos (diários para as seniores) dos diferentes escalões, destacando a "grande quantidade de miúdos (70)" das escolas abertas este ano e orientadas por dois técnicos seniores. Para os infantis, juvenis e juniores possuem um treinador nacional e nos seniores dois técnicos. Considera como principais feitos do Mecalia Atlético Guardés a subida à divisão de Honra do andebol espanhol e a participação em Março passado na poule final de quatro equipas que disputaram a Final da Taça de Espanha, o que nunca tinha acontecido no andebol galego.
Jogadoras caminhenses são "grandes defesas" Não deixou de realçar a presença das duas irmãs portuguesas jogadoras do Mecalia Guardés, nomeadamente o facto de a Bárbara ser ainda júnior e já alinhar no escalão seguinte, a par de ser a capitã da selecção portuguesa que conquistou no final de Março, na Hungria, o direito a participar no Campeonato Europeu da categoria (júnior).
Foi dado ainda ênfase ao treinador português Carlos Alberto Pereira (natural de Afife e professor de Educação Física na EB 2,3/S de Caminha) que tem contribuído para que as atletas portuguesas (as duas irmãs e outras, como veremos adiante, em Infantis, Cadetes e Juvenis) venham a optar pelo clube de A Guarda, após se terem revelado no desporto escolar. Embora o objectivo principal para esta época fosse a permanência na Divisão de Honra, o percurso da equipa tem sido "fenomenal" referiu a presidente, pelo que já se encontram praticamente classificadas para participar nas competições europeias da próxima época. As Júniores encontram-se classificadas em 2º lugar e prestes a alcançar a classificação para disputar o Campeonato de Espanha, as Infantis seguem invictas no Campeonato Galego e firmes no primeiro posto prestes a participar igualmente no Campeonato de Espanha e as Juvenis estão nos quatro lugares cimeiros. Reconheceu o receio que se apoderou dela quando conquistaram o direito a participar no Campeonato de Espanha de Séniores, pelas dificuldades financeiras que esse feito representava, mas "o nosso patrocinador passou a vice-presidente do clube e graças ao seu apoio estamos a fazer um excelente campeonato, tanto do ponto de vista de equilíbrio económico como de presença de público". Além do patrocinador, o Mecalia Guardés conta com as colaborações do Município, Conselleria de Desportos da Xunta e Deputação de Pontevedra, permitindo-lhe assegurar um orçamento de 220.000€ anuais. O Atlético Mecalia Guardés possui um dos orçamentos mais baixos de Espanha, sendo que o do primeiro classificado da Divisão de Honra atinge os 800.000€, além de A Guarda, com os seus 10.000 habitantes, enfrentar adversárias de cidades com mais de 200.000.
"Pai sacrificado"
José João Rodrigues, pai das duas irmãs caminhenses, cumpre religiosamente a sua tarefa diária no transporte das filhas para os treinos e regresso a casa, bem como nos dias de jogo, levando a própria presidente do clube a defini-lo como um "pai sacrificado". "Faço o que posso", diz-nos este ex-campeão nacional de futebol júnior. "Ando nisto há nove anos, trago-as todos os dias, vou e venho, vou pelo ferry e volto pela ponte de Cerveira e assim ajudo as minhas filhas no que posso", reconhece. Este pai também se iniciou no futebol aos nove anos e por forma a apoiar as filhas deixou a modalidade e "cá estou enquanto elas quiserem", asseverou. Admira a atitude da Ana e da Bárbara e elogia a sua dedicação, bem como as suas aptidões como atletas. "A Ana começou a praticar andebol aos 14 anos, enquanto que a Bárbara se iniciou mais cedo o que lhe permitirá mais progressão tanto aqui como na selecção portuguesa", o que deixa feliz toda a família, suas amigas e companheiras de escola, a par da direcção do Atlético Guardés. "Para um pai a melhor coisa que há no mundo é ver uma filha no desporto", um hábito que ele próprio sempre cultivou, frisou, assinalando que a mãe também se orgulha desta opção. Lamenta que em Portugal só haja um clube de andebol feminino desde Melgaço até ao Porto, em Esposende. Perante este cenário, a única saída foi jogar no outro lado do rio Minho, não descartando agora a possibilidade de a sua filha mais nova, a Bárbara, vir a estudar em Espanha para que consiga "conciliar o desporto com os estudos". A selecção espanhola também está interessada em que a Bárbara opte por a representar, mas isso não aflige José João, dada a qualidade do andebol feminino espanhol, embora de momento (enquanto não atingir a maioridade) Portugal não deixou que ela jogasse pela Espanha. "A minha filha está mais inclinada pela portuguesa - porque é portuguesa -, mas o futuro nunca se sabe", deixando-lhe portanto essa decisão.
"Proximidade e qualidade" Antes do início de mais uma sessão de treinos no pavilhão municipal de A Guarda, aguardamos pela chegada das atletas caminhenses, com quem conversamos sobre a modalidade que abraçaram.
Ana Rodrigues, 22 anos, natural de Caminha, já joga no Mecalia Guardés há 11 anos, fruto do incentivo de seu pai e encontra-se perfeitamente integrada neste clube em que "sempre me trataram bem e vinham-me buscar a levar quando era pequena e o meu pai não tinha disponibilidade para o fazer", assim justificou a vinda para A Guarda. Além do mais, o andebol sempre foi um desporto que a atraiu e, em Espanha, "é muito diferente de Portugal, tanto pelo seu nível, como pelos objectivos a cumprir desde o início da época". Teve muitos treinadores ao longo da sua já longa carreira, apesar de ainda ser uma jovem. Elogia a direcção que "nunca me faltou com nada e sinto-me muito feliz por estar aqui". A envolvência, a importância que dão ao deporto para "nos ajudar coimo seres humanos" e os objectivos que caracterizam a generalidade dos clubes galegos e espanhóis permitem criar raízes e a estimular os atletas que vêm de outros países, como é o seu caso. Ana Rodrigues não esconde o desejo - comum a todas as suas colegas - de chegar a campeã de Espanha, um objectivo bastante difícil devido ao nível competitivo que tal exigiria, dado existirem outros clubes com jogadoras da selecção espanhola e estarem há muito anos na categoria maior do "balonmano". Contudo, estar pela primeira vez na Divisão de Honra e garantir de momento o 5º lugar, já é um feito. A chamada à selecção nacional de Portugal não seria uma oportunidade nova, atendendo a que já esteve incluída no seleccionado nacional, mas alguns problemas surgidos com a direcção da Federação da altura, levaram-na a afastar-se. Presentemente, tem vindo a ser acompanhada novamente pelo treinador da Selecção Nacional A, mas, precisa, "por enquanto é continuar a trabalhar e talvez vir a ser chamada algum dia". Recorda os tempos em que jogava andebol na escola, o que lhe dá para comparar com o que se faz a nível da formação em Espanha e a diferença é notória, assinala Ana Cerqueira Rodrigues. Esta andebolista caminhense lamenta que possuindo Caminha um pavilhão municipal daquelas dimensões, não consiga ser um polo dinamizador de um lote de modalidades, incluindo o Andebol. Ana Seabra é a sua referência nacional nesta modalidade, pela sua "técnica e qualidade fantásticas", enquanto que nos masculinos as suas preferências vão para o Tiago Rocha, pivot do FCPorto. Uma vez que joga em Espanha, pedimos-lhe também que nos indicasse uma referência do andebol do país vizinho, uma escolha que considerou difícil dada a qualidade de todos os jogadores da selecção, mas inclina-se para Alberto Entrerios nos homens e Heli Pineda nas mulheres. Esta atleta caminhense encontra-se a estudar desporto em Melgaço e pretende conciliar os estudos com a competição, resultando daí que a continuidade no Mecalia Guardés deverá estar assegurada pela "proximidade e qualidade deste clube". Pretende continuar a jogar andebol, até "onde der", porque, precisa, "há momentos muito complicados quando temos de recuperar de lesões" e como o plantel do Guardés é reduzido, o tempo de descanso nem sempre é o ideal. Muitas vezes, ouve-se dizer que o andebol não é modalidade para mulheres. Ana Cerqueira admite a existência de "muito contacto" podendo mesmo defini-lo como "bruto", salvaguardando no entanto que nas mulheres prevalece a "técnica e a qualidade de lançamento", conseguindo haver por via disso "muitas jogadas de habilidade", frisando ainda que "não é por uma mulher jogar andebol que não é feminina". Comentando o andebol português, admite que algum dia Portugal poderá conquistar uma medalha num Europeu, Mundial ou até nas Olimpíadas, mas para que isso se concretize, "será necessário incutir nos miúdos, desde pequeno, o gosto pela modalidade", o que não acontece em Portugal, lamenta, porque "começar a jogar aos 10 ou 15 anos, há uma grande diferença". Aponta ainda como essencial a formação contínua dos treinadores para que acompanhem a evolução da modalidade, dando como exemplo os seus dois treinadores no Mecalia, em "constantes formações, porque eles vão a Madrid, vão a todo o lado", em contraste com o que se passa cá, um país "sem objectivos e mentalidade para trabalhar duro" e esse espírito ainda não foi conseguido, acrescenta. Refere que treina duas horas diárias e joga todos os fins-de-semana dentro de uma equipa profissional com várias estrangeiras, ("uma bielorussa, uma eslovena, uma húngara e uma ucraniana), sem contar com as duas irmãs portugueses, "porque nós somos como se fossemos de cá", diz com gratidão e afinco esta andebolista caminhense que apesar das profissionais de fora na equipa, "o amor à camisola das portuguesas e das espanholas nada nos faz parar", conclui.
"Construir uma carreira sólida no andebol"
Bárbara Cerqueira, 16 anos, já integra o plantel das seniores apesar de ser ainda júnior de primeiro ano, e não esconde alguma influência de sua irmã Ana para vir jogar para A Guarda. A ligação a este desporto começou aos oito anos, na escola básica, com o desporto escolar que o seu actual treinador das juniores (Carlos Alberto) orientava. Mas a Bárbara queria mais competição ("mais oportunidades"), além da que desfrutava no desporto escolar, daí resultando a experiência em frente a Caminha e que resultou em pleno, tendo conseguido "conciliar a competição com os estudos".
Começou a jogar no Mecalia na categoria de minis, foi evoluindo, já foi chamada à selecção nacional portuguesa (é a capitã) de juniores e está apurada para o Europeu. Espera "continuar a evoluir, melhorar cada dia e construir uma carreia sólida no andebol e conseguir ter um futuro". "Considero um orgulho representar a nossa selecção e sermos apuradas para o Europeu, o que já não acontecia há bastante tempo e logo no primeiro ano em que vamos a um apuramento, é muito significativo", após terem vencido todos os jogos da poule realizada na Hungria, tendo agora pela frente o grande repto de jogar na Polónia, onde "com muito espírito de sacrifício e luta iremos para lá para tentar alcançar o máximo possível", promete. Reconhece a diferença existente entre o andebol praticado nos dois países, com Portugal a apostar mais no ataque e a Espanha na defesa, mas diz haver já na selecção portuguesa um misto das duas coisas.
Apesar do estatuto que já possui no seleccionado nacional, Bárbara Cerqueira Rodrigues rejeita qualquer classificação de vedetismo, "sou ainda juvenil e nem as seniores sabem tudo, pelo que tenho muito que aprender e melhorar", contando para tal com o seu treinador e colegas de equipa. Embora não desdenhasse ter conseguido chegar à final da Taça de Espanha (Bárbara joga nas juvenis e seniores do Guardés), reconhece que o Balonmano Atletico Guardês não possuía tanta experiência como outras equipas do escalão maior do andebol espanhol, resultando para elas que chegar às meias-finais já foi um grande feito. Sente-se bem no Atlético Mecalia Guardés, onde tem bons técnicos, boa camaradagem e com objectivos pré-definidos, não pensando em mudar-se. Refira-se que nos jogos disputados em cidades mais afastadas de A Guarda (Valência ou Barcelona, p.e.) e que obrigariam a viagens de longas horas de autocarro, as deslocações são feitas por avião. Não descarta a hipótese de prosseguir os estudos em Espanha, de modo a conciliar a prática desportiva no Guardés com a universidade, contando para tal com a colaboração e "ajudas de que precisar" dos dirigentes do clube, está ciente disso. Sendo este o último ano de ensino secundário em Caminha e apostada em seguir medicina ou química, reconhece que as médias para entrar nas faculdades espanholas são mais baixas do que em Portugal, podendo este pormenor pesar bastante na decisão a tomar. Possuindo Caminha um pavilhão que faz inveja às jogadoras, técnicos e directores do clube galego (já pensaram em pedir a sua utilização para a realização de alguns jogos, face à reduzida capacidade de assistência do velhinho pavilhão municipal de A Guarda), Bárbara Rodrigues crê que com vontade e apoio camarário seria possível o funcionamento de um clube na sua terra natal, porque "há pessoas em Caminha interessadas", garantiu. Guillaume Joli, pivot da selecção francesa é uma referência sua, no andebol mundial, revelou-nos.
De Dem para A Guarda
Outra colega de equipa de Bárbara Rodrigues nos escalões juniores é Ana Rita Carvalho, 17 anos, natural e residente em Dem. Vai para casa no final dos treinos e jogos com o seu treinador Carlos Alberto, aproveitando a sua boleia, uma vez que ele reside em Afife.
Nasceu para o andebol por influência de uma irmã (chegou a treinar em A Guarda), no desporto escolar, passou para o desporto federado no Clube de Andebol de Caminha, após o que "passei para cá (A Guarda)", integrando actualmente a equipa júnior.
Salienta as boas condições para a prática desportiva e o ambiente bom que aqui encontrou, ao que se aliou o facto de o treinador com quem começou na EB 2,3/S de Caminha ser novamente o seu técnico no Atlético Guardés, o que, a não ter acontecido, "provavelmente teria desistido", reconhece. Tem como objectivo para esta época conseguir a classificação para disputar o Campeonato Nacional de Espanha, o que lograrão se conseguirem um dos dois primeiros lugares no Campeonato da Galiza (entretanto, foram informados de que apenas a primeira equipa classificada iria disputar o nacional, pelo que o segundo lugar alcançado não foi suficiente). Ana Rita salienta a importância da prática desportiva regular - no caso o andebol - para aliviar tensões ou preocupações do dia-a-dia, ajudando a "esquecer os problemas", a par de ser uma "motivação" pessoal. Rejeita igualmente que se diga ser este um desporto violento, embora o "contacto" exista de uma forma acentuada. Apostada em tirar um curso de gerontologia, faz depender a continuação da prática da modalidade da sua colocação na universidade em que ingressar. "Ainda estou bastante indecisa" quanto à decisão de se manter no Mecalia Guardés, disse-nos Ana Rita, mas, em princípio, gostaria de continuar neste clube, frisando ainda que "o andebol vale a pena" pelo "companheirismo, espírito de grupo e luta", tendo como referência na modalidade a própria colega Bárbara que "joga o triplo de mim e representa a selecção portuguesa, o que é o sonho de qualquer atleta", afirmou entre os risos de ambas as jogadoras e com o seu treinador apreciando a boa disposição das suas pupilas para enfrentar os próximos jogos.
Lanhelas, Caminha, Cristelo, Vilar de Mouros…
Outras três jovens jogadoras do concelho de Caminha praticam também desporto no clube galego: Luciana Guerreiro, Maria Torre e Filipa Veiga.
A primeira, natural de Lanhelas, falou com o seu professor da escola sobre a possibilidade de praticar andebol no Atlético Clube Baloman Mecalia Guardés, recebendo concordância e prosseguindo a actividade desportiva que mais aprecia. "Sinto-me bem aqui", reconhece esta atleta (futura contabilista, assim o espera) iniciada que treina três vezes por semana em A Guarda, mercê da disponibilidade de seu pai que a transporta regularmente. De momento, apenas pretende jogar e desfrutar de uma modalidade que aprecia.
Maria Torre, natural de Caminha e residente em Vilarelho, igualmente iniciada, também veio aqui parar por influência do seu professor de Educação Física e do Desporto Escolar, Carlos Alberto. Gosta das condições que veio encontrar neste clube, após ter começado a praticar andebol em Caminha "porque calhou, gostei e fiquei", afirmou resolutamente. A sua equipa não ficou apurada para a fase seguinte por apenas um golo de diferença, o que não satisfez a atleta ("foi mau", disse sem hesitação, embora o seu treinador que a trouxe de Caminha não comungasse dessa apreciação). Maria não faz projectos quanto à sua passagem pela modalidade.
Outra colega, de Cristelo, Filipa Veiga iniciou-se neste desporto no decorrer dos jogos que faziam por vezes no Pavilhão Municipal de Caminha, ainda quando se encontrava na escola primária. Apreciou, e por influência do treinador acabou por acompanhar as amigas até ao clube galego. Recusa que se diga que é um desporto violento e encontra-se "a gusto", como se diz na língua de Cervantes, no Mecalia Guardés, onde encontra "todas as condições" para praticar a modalidade pela qual optou. Reconhece que estas viagens e treinos poderão afectar os estudos, mas "pelo Andebol", assevera, "sobe-se as notas".
Uma outra atleta portuguesa, de Vilar de Mouros, Maria Amélia Barros, 17 anos, joga nos juniores e iniciou-se na modalidade porque "sempre gostei do Andebol e como jogava no Clube de Andebol de Caminha que acabou, perguntei ao treinador se podia jogar cá e aqui estou", plenamente satisfeita com o ambiente que aqui encontrou.
Para ela, o andebol é um mero hobbie que não condicionará os estudos, embora pretenda continuar a jogar enquanto tiver oportunidade.
Caminhenses "transferiram-se" para A Guarda
Carlos Alberto Pereira dá aulas de Educação Física em Caminha e está ligado ao andebol desde os 15 anos, quando começou a jogar na Associação Desportiva Afifense. Mais tarde, jogou nos seniores e era técnico dos miúdos de nove anos. Chegou a jogar em Vila do Conde, parou durante algum tempo, até que foi convidado há dois anos pela presidente do Atlético Guardés para treinar as iniciadas e juvenis, encontrando-se presentemente apenas como técnico das segundas (júniores, em Portugal, juvenis em Espanha), nas quais se encontram a Bárbara, a Ana Rita, a Sara e a Amélia. Além destas jogadoras de Caminha, há ainda a Luciana nas Infantis, a Filipa e a Maria Torre nas Iniciadas. Referiu que como resultado da sua participação no desporto escolar, em Caminha, algumas jogadoras vieram a integrar-se no clube galego, onde já se encontrava a Ana, iniciada no andebol com o professor Luís André. A Bárbara nem chegou a completar o desporto escolar, ingressando logo no Guardés onde já se encontrava a irmã, como já referimos. As demais jogadoras viriam a seguir os passos das duas irmãs por "influência minha", sublinhou. Embora reconheça que o pavilhão que utilizam já tem muitos anos, confirma que tem as condições mínimas para treinar, aproveitando para sublinhar que pelo que tem visto em Espanha, Portugal tem melhores infraestruturas. Em contraste, o andebol espanhol está "muito mais desenvolvido do que no nosso país", precisa.
"A Bárbara sabe o que quer"
Das atletas portuguesas, destaca o estatuto já conseguido pela Bárbara Cerqueira, porque para além das suas capacidades técnicas, tem uma forte atitude mental quando ainda se encontra no início da sua carreira, porque, efectivamente, "quer ser jogadora de Andebol", a par de ser uma excelente aluna, concluindo que "tem as portas abertas no mundo do andebol se ela o quiser", tal como a sua irmã Ana, "titular da equipa sénior". Salienta também a evolução da Ana Rita, titular das juniores e que já foi convocada para a selecção da Galiza ("qualquer jogador(a) que jogue em clubes galegos pode ser chamado(a) à selecção galega, independentemente da sua nacionalidade), mas tudo dependerá do seu futuro imediato em termos de carreira universitária, embora o treinador a esteja a animar "porque tem muita qualidade como jogadora", precisa Carlos Alberto.
Este técnico admite que se encontra a treinar em A Guarda por gostar de Andebol, porque o que recebe apenas cobre as despesas de transporte. Lamenta a situação do andebol na sua terra, Afife, após ter perdido o apoio da Ancorensis Cooperativa de Ensino devido aos cortes financeiros que a escola sofreu, temendo que esta modalidade "tenha os dias contados", até porque a Câmara de Viana do Castelo também não apoia como o fazia antes. Garante que pretende continuar em Espanha, até porque pretende evoluir na modalidade, o que é incomparavelmente mais fácil fazer no país vizinho. |
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Crónica Política (1906 - 1913)
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