Miguel Alves, o candidato do Partido Socialista à presidência da Câmara Municipal de Caminha, reuniu-se com a presidente da Academia de Música Fernandes Fão, a pianista Eugénia Moura. Este encontro foi dominado pela problemática da sede, prometida repetidamente pelo atual Executivo, sem nunca se concretizar. Miguel Alves rejeita a hipótese de se equacionar sequer mais uma perda irreparável para o concelho - a saída da AMFF, por falta de condições para trabalhar. O jurista insta a Câmara a resolver imediatamente o problema e lamenta que as promessas velhas de vários anos e repetidas em períodos eleitorais nunca tenham saído do papel: "basta de se fingir que se aposta na cultura".
Esta reunião insere-se na estratégia definida pelo candidato de auscultar as instituições do concelho de Caminha de modo a perceber quais são os desafios e os problemas com que se debatem. Neste caso, porém, Miguel Alves pretendeu conhecer com pormenor o trabalho realizado pela Academia no concelho e no distrito de Viana do Castelo, mas sobretudo perceber o eventual fundamento das notícias vindas a público na última semana, que dão conta da possibilidade da sede da AMFF passar de Vila Praia de Âncora para Ponte de Lima.
"Passaram vários anos desde que foi anunciado o grande projecto de remodelação da escola de Vilarinho e nada: só propaganda, nenhuma acção. Passaram sete meses desde que a Câmara aceitou a proposta de fazer obras de adaptação do Centro Social e Cultural de Vila Praia de Âncora e nada: só propaganda repetida" - lamenta Miguel Alves.
O candidato lembra que "a cultura é mais do que um emaranhado de eventos desgarrados, é mais do que uma flor na lapela, é aquilo que nos distingue, que torna único cada povo, é a interiorização do que fomos e do que somos na vivência do quotidiano e na preparação do futuro".
Infelizmente - refere Miguel Alves - o concelho de Caminha e Vila Praia de Âncora, em particular, tem vindo a perder emprego, indústria, comércio. "Agora corremos o risco de perder a Academia de Música Fernandes Fão. Eu não me resigno à fatalidade de termos que ser menos que os outros concelhos, não desisto perante as adversidades, não finjo que aposto na cultura e deixarei que a sede da AMFF vá para Ponte de Lima. A Academia merece outro respeito e os alunos, professores e funcionários da Academia também".
Projeto apresentado em vésperas de eleições
Depois de vários anos de promessas repetidas sem nenhuma concretização, o Executivo PSD que gere a Câmara de Caminha há mais de 11 anos, com pompa e circunstância, apresentou em 2009, em vésperas de eleições, um projeto de remodelação da antiga escola de Vilarinho e anunciou um investimento de cerca de 500 mil euros.
O projeto foi encomendado ao arquiteto Mário Sá e anunciava salas de formação musical, laboratório de música, laboratório de som, sala de aula acústica e vários outros requisitos. A página 31 da Revista Municipal de 2009, distribuída nas vésperas das eleições ocupa uma página inteira com a descrição do novo equipamento e mostra imagens coloridas.
Passaram mais quatro anos e o projeto continua sem sair do papel. Sem condições para trabalhar, mas com muita vontade de continuar em Vila Praia de Âncora, a Academia mantém-se na sede do Centro Social e Cultural. Entretanto, com outros concelhos a manifestarem-se disponíveis para acolher a AMFF, o Executivo PSD fez mais promessas, agora mais modestas: fazer obras no Centro Social. A direcção do Centro Social e Cultural concordou com a ideia, mas a Câmara voltou a esquecer-se das promessas.
"Sete meses depois ainda não sabe, em concreto, o que a Câmara quer fazer. Agora. Esta semana parece que finalmente, e lamentavelmente só por causa das notícias vindas a público, a Câmara anuncia vontade de começar a 'analisar' e a 'estudar' uma solução. Já se perdeu tempo demais", afirma Miguel Alves.
A persistência que é de louvar e o risco de perda efetiva
Miguel Alves saúda a persistência da AMFF em resistir às facilidades que outros concelhos, em particular Ponte de Lima lhe oferecem. Seria mais fácil ceder, mas "sei que têm lutado por manter a sede em Vila Praia de Âncora com argumentos onde pesa mais com o coração do que a razão".
O jurista rejeita o prolongar desta indefinição e denuncia a falta de palavra do Executivo PSD de Caminha que poderá ter consequências: "sei também que a luta tem um limite e esse limite é o cumprimento imediato das promessas. Eu quero que a sede da Academia se mantenha em Vila Praia de Âncora e, quer como candidato, quer como Presidente da Câmara, tudo farei para que a Academia se mantenha como uma das instituições mais brilhantes da nossa terra".
O candidato assume também um compromisso: "ou a Câmara Municipal de Caminha avança, nos próximos meses, para a obra que promete há tanto tempo, ou quem avançará para essa obra serei eu, como Presidente da Câmara, que estou confiante que serei. A cultura e a educação não podem ser os parentes pobres do investimento municipal".
A AMFF está prestes a completar 25 anos de existência, envolve 800 alunos em todas as suas actividade e relaciona-se regularmente com cerca de 4000 pessoas, através do trabalho que faz com os jardins-de-infância e o ensino básico.
Miguel Alves congratulou a Academia pelo trabalho desenvolvido e pela visão que preside à sua estratégia: "A aposta na educação e na cultura é fundamental. A educação dá-nos as bases para estruturarmos aquilo que queremos ser no presente e, sobretudo, no futuro. O ensino vocacional da música é muito mais do que ensinar a tocar um instrumento, é antes de mais a potenciação de cada indivíduo e a capacitação de trabalho em grupo. É a possibilidade de transmitir valores e sensibilidade, de trabalhar a disciplina e capacidade de estudo e superação".