"E Depois do Adeus", a canção inicial escolhida pelo Movimento das Forças Armadas para indicar aos militares envolvidos que a operação destinada a derrubar a ditadura estava prestes a iniciar-se na madrugada do 25 de Abril, foi o prólogo do principal acto comemorativo em Caminha da Revolução dos Cravos, celebrado no Cineteatro da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora, onde a Assembleia Municipal (AM) se reuniu de uma forma protocolar.
O guitarrista Joaquim Rodrigues e a cantora Tânia Esteves deram música e voz, a "Krisálida" concedeu a voz-off e encenou o símbolo de Abril, com um soldado empunhando uma espingarda com um cravo no cano, e uma actriz declamou um poema (As Brumas do Futuro", de Pedro Ayres Ferreira Magalhães), antes de todos os representantes das formações políticas com assento neste órgão autárquico usarem da palavra - facto que não sucedia até 2014, em que apenas o poder de "então" tinha esse direito.
União, liberdade, democracia, economia, quatro palavras com força nestas comemorações no palco do cine-teatro ancorense.
As intervenções dos representantes dos partidos com representação parlamentar exprimiram as suas ideias sobre a Revolução dos Cravos, a evolução do processo revolucionário, até chegar aos dias de hoje.
"O futuro que a Revolução de Abril nos proporcionou"
O representante do BE, Abílio Cerqueira, acentuou que "não recordamos apenas a Revolução de um dia, recordamos também a longa história da resistência à ditadura e ao colonialismo".
"Abril foi uma revolução e não uma evolução"
Celestino Ribeiro, o eleito pela CDU para a AM, destacou que "a palavra LIBERDADE assume contornos singulares na Revolução dos Cravos, porque foi sentida como uma explosão".
"Atalhos autocráticos"
Pela OCP, através da voz de Ricardo Cunha, foi dito que "não haverá uma verdadeira sociedade democrática se não tivermos uma base económica sólida e geradora de melhor autonomia financeira".
"As nossas mães e avós falavam do que significava ser mulher nos tempos de penumbra"
Cláudia Fernandes, do PS, evocou a emancipação da mulher, os seus direitos e o seu lugar numa sociedade democrática e não esqueceu a solidariedade com a Ucrânia e seus habitantes em fuga da guerra sangrenta.
"Para os cínicos, repito, será sempre tudo igual"
Miguel Alves, presidente da Câmara Municipal, recordou a revolta contra o "cinismo" há oito anos, e apontou para o cruzamento de datas que sucederá em 2024: 50 Anos do 25 de Abril, elevação há 100 Anos de Vila Praia de Âncora (então Gontinhães) a vila e os 750 Anos do Foral de Caminha.
"Uma conquista do 25 de Abril - a saúde"
Já o médico Manuel Luís Martins, presidente da Assembleia Municipal, centrou as suas palavras na saúde, depois de recordar que os refractários (os jovens e militares que tinham recusado combater em África) quando apanhados pela polícia política, eram enviados para os "piores (mais perigosos) lugares da guerra".
O acto terminou com a Grândola Vila Morena a cargo dos dois intérpretes e cantado pelos políticos locais que se associaram ao cântico, o mesmo sucedendo com A Portuguesa.








Refira-se ainda que como vem sendo habitual nesta data, foram hasteadas as respectivas bandeiras nacionais nos Paços do Concelho de Caminha e na Praça da República de Vila Praia de Âncora, ao som do Hino Nacional interpretado pela Banda Musical Lanhelense nas duas vilas, perante as formaturas de cada uma das duas Associações de Bombeiros Voluntários de Caminha e Vila Praia de Âncora.
Integrado nestas comemorações, teve ainda lugar um "Concerto de Abril" no Pavilhão Municipal de Caminha e a exibição do filme "Salgueiro Maia: o implicado" no cine-teatro ancorense.