Na edição anterior relatamos um dos pontos mais controversos da assembleia geral do Sporting Club Caminhense realizada no último dia do passado mês de Março, mas muitos outros assuntos absorveram a longa sessão que tinha como principal finalidade aprovar o relatório e contas de 2021.
Desde logo a entrega dos emblemas de 25 e 50 anos aos associados que completaram esses períodos de fidelização ao clube em 2021 suscitou um comentário do sócio Jofre Pinto, após receber das mãos do presidente da direcção essa homenagem (que em alguns anos anteriores nem sempre teve lugar, como foi referido) por meio século de ligação ao clube, recordando que quando lhe tinham entregado a pequena bandeira do SCC pelos 25 anos, ela possuía uma pequena capa em prata, e, agora, ao completar cinco décadas, o emblema (que deveria ser revestido com uma fina película de ouro) era de níquel, valia apenas 50 cêntimos!
Um assunto sensível, relacionado com o falecimento do último remador olímpico caminhense, José Vieira ("Faísca") participante nas Olimpíadas de Roma, em 1960, suscitou um esclarecimento da parte da direcção.
Pedro Fernandes, presidente da direcção, referiu que a filha do atleta os tinha abordado, interpelando-os pelo facto de seu pai não ter merecido uma cerimónia similar à de outro remador (Jorge Gavinho, igualmente integrante desse Shell/4+ olímpico) desaparecido há quatro anos.
Pedro Fernandes disse que já não se lembrava dessa situação — embora já estivesse à frente do clube nessa ocasião, registe-se —, mas prometeu-lhe que "faríamos um pedido público de desculpas" à família desse atleta olímpico. Embora na altura do seu funeral não estivesse em Portugal — apesar disso não servir de desculpa, reconheceu —, Pedro Fernandes, assinalou que estes momentos são sensíveis para todas as famílias "que estão envolvidas nestas situações", tendo levado a direcção a propor a elaboração de uma espécie de "guião" que impedisse tratamentos diferenciados em casos similares, documento esse que deveria ser aprovado em assembleia geral.
No seguimento deste caso, a direcção decidiu mandar fazer umas placas com dados biográficos desportivos dos atletas olímpicos falecidos, entregá-las às famílias e se elas assim o entenderem, colocá-las nas suas sepulturas ou ficarem com elas em casa.
A colocação das placas na sala de troféus e no court de ténis, com os nomes de Domingos Terra e de António José Pereira, já se encontram feitas e pretendem pô-las nos locais o mais rapidamente possível, assim como desejam fazer a entrega das faixas e medalhas de campeões nacionais das duas épocas transatas, cerimónias adiadas — e inicialmente previstas para a data da fundação do Clube —, devido à pandemia, assim respondeu a interpelações de Jofre Pinto e seu filho.
Ida a Gent
Após assegurar que o clube irá adquirir mais embarcações, Pedro Fernandes anunciou que irão participar na Regata Internacional de Gent, na Bélgica, no mês de Maio, e que precisamente nessa semana da reunião, tinha surgido a possibilidade de se financiarem a fundos comunitários a custos zero para o SCC, destinados a custear a renovação da plataforma de embarque — embora fosse sua intenção deslocar a existente no Coura, entre-pontes, para o local da actual prancha, por ser mais longa —, acreditando que isso será possível em colaboração com as autoridades espanholas (Xunta da Galiza) e a Câmara Municipal.
Barcos cedidos
A cedência de um barco (e não barcos, como fez questão de precisar o sócio e ex-presidente Eduardo Gonçalves, em cujo mandato a embarcação foi entregue a um técnico que pretendia criar um clube de remo na margem direita do rio Lima) voltou a ser objecto de polémica em assembleia geral, quando o antigo presidente exigiu que o assunto fosse esclarecido definitivamente.
Referiu que o barco ou barcos encontravam-se em péssimo estado, razão da entrega ao técnico que o solicitara. Passados estes doze anos, as embarcações ou o que resta delas, deverão regressar ao SCC, comprometendo-se Eduardo Gonçalves a interceder junto desse treinador a fim de pôr cobro à polémica latente.
Venda e compra de barcos
Este sócio pediu ainda à direcção que esclarecesse a compra de barcos, face à atribuição de um subsídio camarário de 65.000€ para uma nova frota, e após terem vendido um Shell/8.
Segundo Pedro Fernandes, não pretendem utilizar essa verba para aquisição de barcos novos, mas sim três embarcações Empacher de 2020/2021 que "dêem resposta ao que precisamos", porque um único casco não seria suficiente para as necessidades actuais, precisou. No entanto, se tiverem oportunidade de adquirir um barco de remos parelhos italiano de marca Filippi (vencedor das últimas Olimpíadas), não desdenharão comprá-lo porque "têm saído muito competitivos".
Rendas suscitaram controvérsia
Nesta reunião fértil em polémicas, a questão das rendas dos espaços comerciais arrendados pelo clube e as obras e cedência de espaços preencheram grande parte da discussão entre sócios e direcção, nomeadamente durante a discussão do Relatório de Contas.
Jofre Pinto perguntou se já tinha sido encontrado o contrato da Barbosa e Ferreira, porque se encontrava desaparecido. Interrogou-se sobre a não existência de aumentos das rendas e perguntou como era possível que os balneários do campo de ténis estivessem todos ocupados por um dos arrendatários, quando no passado apenas possuía uma das dependências.
Por fim, após estranhar que se cobre dinheiro aos remadores pelas ferramentas (3.750€ todos os anos) e sejam obrigados a pagar inscrições, transportes e equipamentos (vendidos a preço de custo, explicou o presidente, embora Miguel Braga tivesse sugerido que fosse substituído pela entrega de uma caução), Jofre Pinto pediu que lhe fosse fornecida uma cópia dos estatutos do Clube.
Contrato desaparecido
Em resposta ao contrato de arrendamento da Riviera, Pedro Fernandes assegurou que "nunca o vimos e se o tivéssemos isso resolver-nos-ia alguns problemas", esperando que o advogado que o sócio Eduardo Gonçalves iria arranjar para resolver a situação, permita tratar das actualizações de todas as rendas.
Este sócio pretendeu saber quanto é que cada um dos arrendatários pagava. Segundo lhe respondeu Pedro Fernandes, o bar do ferry cedido à exploração pela Câmara de Caminha pagava 362€; Barbosa e Ferreira, 443€; restaurante da sede 225€; restaurante Remo 527€; restaurante Chafariz, 526€; sala de ginástica no rés-do-chão do posto náutico, 125€ (fechou há dois meses).
Após referir que os 40.000€ recebidos a mais de subsídios em 2021 tinham como proveniência a Câmara Municipal, o que era "muito bom", sublinhou Eduardo Gonçalves, nomeadamente em ano de pandemia e em que as actividades diminuíram, este sócio centrou-se nas contas totais das rendas explícitas no relatório de Contas aprovado com 11 votos a favor, seis abstenções e um contra (eram "pouco transparentes", justificou Jofre Esteves Pinto).
Segundo as suas contas feitas com base no relatório de Contas, "houve alguém que não pagou renda", acrescentou Eduardo Gonçalves, corroborando Jofre Esteves Pinto que havia menos 770€, pelo que pediu à direcção que esclarecesse a situação. Na próxima assembleia, a direcção prometeu apresentar um balancete e contar com a presença do contabilista a fim de explicar melhor as contas.
Além das contas, Eduardo Gonçalves disse "estar na hora de despedir o advogado do clube" e contratar um advogado a sério, porque, "conforme o Jofre Esteves Pinto referiu", actualmente, a lei das rendas permite a sua actualização.
"Trespasse encapotado"
Esse associado frisou ter existido "um trespasse encapotado" na Riviera, acusando o presidente de ter conhecimento de que "o clube foi enganado" — embora o presidente o tivesse de seguida negado —, o que levou Eduardo Gonçalves a dizer que, contudo, desde daquele momento passava a saber disso, e, a partir daí, "tens de tomar uma atitude", alertou-o.
Face ao que explanou, Eduardo Gonçalves aconselhou a que fosse contratado um advogado para resolver certas situações relacionadas com as rendas, um investimento inicial, admitiu, mas que teria resultados no futuro, assegurou.
Recordou à direcção que a lei do RAU (Regime do Arrendamento Urbano) entrou um vigor a seguir a ele ter saído do clube, razão pela qual rejeitou que Pedro Fernandes lhe devolvesse a acusação de ter sido igualmente enganado, alteração essa que permitiria actualizar rendas, além de o ter tentado quando esteve à frente do SCC (Eduardo Gonçalves), esbarrando, no entanto, com a legislação existente até à data.
Dessa forma, o associado disse ser "impensável que o melhor restaurante e com a melhor vista em Caminha pagasse 530€", a par de "estar a fazer um mausoléu à moda de Lanhelas" no posto náutico, acusou ainda, acrescentando outro sócio que também "estava a fazer uma salgadeira em cima da pala".
"Esplanada não necessita de licenciamento"
Interpelou a direcção sobre se o SCC tinha autorizado essa obras por escrito, respondendo afirmativamente Pedro Fernandes, além de perguntar se estavam licenciadas. Segundo referiu este, a obra não carece de licenciamento camarário por se tratar de uma esplanada, no que foi contrariado pelo sócio.
Pedro Fernandes disse que o inquilino está disposto a aumentar a renda "brevemente, para próximo do dobro", depois de Eduardo Gonçalves o ter avisado que ele poderia recusar-se alegando que tinha feito obras. Pedro Fernandes, em referência à alusão "à moda de Lanhelas", referiu que como ele é de Lanhelas, "também tem palavra", não temendo, portanto, que ele possa vir a reter metade da renda para se ressarcir das obras.
O assunto suscitou intensa troca de palavras entre ambos, pretendendo Eduardo Gonçalves saber se será celebrado um contrato novo, tendo-lhe sido garantido que sim.
Direcção instada a actuar
Voltando ao tema da Riviera, o presidente da direcção foi instado a actuar, perante a insistência de Eduardo Gonçalves de que estavam perante uma "vigarice", por ter sido estabelecido um novo contrato que não favoreceu o clube. Caso não o faça, os sócios poderão fazê-lo com recurso aos tribunais.
Muitos outros assuntos polémicos foram objecto de discussão nesta assembleia, podendo ainda vir a ser abordados nestas páginas.