Desde o passado dia 27 de Junho que a Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora se vê impossibilitada de movimentar a suas contas bancárias, devido a terem sido penhoradas por um gabinete de arquitectura que reclama o pagamento de 30.000€ respeitantes a um projecto de arquitectura de recuperação do Cineteatro, cuja dívida remonta ao ano de 2008.
Situação dramática
Os próprios ordenados dos funcionários encontram-se congelados, contando agora a direcção dos Bombeiros com a boa-vontade dos fornecedores de combustível e afins para que o serviço de apoio à população não entre em ruptura.
A situação mereceu a convocação de uma conferência de imprensa no passado dia 30 de Junho por parte da direcção dos Bombeiros, Câmara Municipal e Junta de Freguesia, na qual, Laurinda Araújo, presidente da direcção da associação, expôs a situação dramática pela qual passa a corporação.
Laurinda Araújo precisou que para além desta dívida, existe uma segunda igualmente reclamada por outro arquitecto, no valor de 20.000€, mas cuja solução se encontra numa fase negocial, não existindo presentemente risco de se tornar em mais um pesadelo imediato para os responsáveis da associação.
37.000€ de dívida pelo projecto de arquitectura
O montante inicial reclamado no valor de 30.000€ deverá já atingir os 37.000€, tendo em conta os juros, custas judiciais e honorários do solicitador, respeitantes à injunção e respectiva execução agora concretizada.
O advogado da associação, presente neste encontro com a imprensa, referiu as diligências realizadas junto do seu colega representante dos credores, mas sem resultado, face à sua irredutibilidade, ao exigirem garantias pessoais de liquidação do valor em causa, para uma proposta de pagamento faseado em doze meses que lhes apresentara.
"População tem de saber"
Laurinda Araújo, ao realizar o processo que descambou nesta situação "dramática", como a apelidou o advogado da associação, referiu que o antigo presidente da direcção, Francisco Sampaio, e Adriano Fernandes lhes tinham assegurado que o anterior executivo camarário presidido por Júlia Paula se comprometera a pagar os projectos (arquitectura e especialidades), independentemente de a obra se concretizar ou não.
Recorde-se que chegou a haver a aprovação de uma candidatura para a recuperação do cineteatro, em que a câmara deveria comparticipar com 40%, mas que acabou por não receber luz verde do município, gerando-se este impasse que perdura até hoje. Este tema foi debatido em diversas assembleias gerais da corporação, bem com foi dito que o anterior executivo assumiria o pagamento dos projectos. Edições:(519, 546, 568, 566, 616)
A presidente da direcção actual disse existir um compromisso verbal assumido pelo executivo camarário anterior, pelo que já tinha solicitado uma reunião com o novo presidente do município, em que lhe tinha sido exposto o problema.
Laurinda Araújo frisaria que que as suas funções "não são um trabalho político", e que ela era apenas a presidente da Associação, cuja sobrevivência estava em causa, pelo que a "população tem de saber" a situação.
A Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora mostrou-se igualmente preocupada com esta situação, recordando Carlos Castro, presidente da autarquia, que "a minha prioridade são as pessoas", acreditando por isso que "arranjaremos uma solução".
"Esta é só mais uma surpresa!"
Miguel Alves, presidente do executivo camarário, ao referir-se a este caso, disse que "esta é só mais uma surpresa" com que se deparou após ter assumido funções.
Testemunhas contrariam versão de Júlia Paula
O autarca referiu que após ter sido posto ao corrente da situação pela presidente dos Bombeiros, se reunira com ela, após o que solicitara um encontro com o antigo presidente e um director, a fim de clarificar os apoios eventualmente prometidos pela sua predecessora.
Segundo lhe confirmaram Francisco Sampaio e Adriano Fernandes, a câmara anterior tinha-lhes dado luz verde para avançarem com os projectos (principal e de especialidades) a fim de ser apresentada uma candidatura de financiamento, assumindo o executivo o seu pagamento.
Miguel Alves, a propósito, confirmou nesta conferência de imprensa a existência de e-mails e ofícios relacionados com o assunto.
"Esforço compartido"
O autarca, perante estas evidências, assumiu que "quero honrar esse compromisso", prometendo levar à próxima reunião camarária de 8 de Julho - a qual, por sinal, se realiza em Vila Praia de Âncora, pelas 15 horas, no Centro Coordenador de Transportes -, uma proposta que assegure um "esforço compartido" entre todos.
A Câmara propõe-se atribuir um subsídio de 15.000€ faseado em 12 meses, tantas quantas as prestações que os Bombeiros deverão assumir com os credores, além ter conseguido um acordo com o promotor do concerto de Anselmo Ralph previsto para 9 de Agosto em Vila Praia de Âncora, em que 2.50€ de cada bilhete de entrada (12,50€) serão canalizados para os Bombeiros. Prevendo-se uma assistência de 5.000 pessoas, a associação humanitária poderá arrecadar 12.500€.
A exploração a meias pelas corporações de Vila Praia de Âncora e Caminha dos parques de estacionamento do Festival de Vilar de Mouros, poderão acrescentar mais alguns dividendos para liquidar a dívida, tal como a entrega de um espaço comercial aos bombeiros ancorenses, junto à praia, a fim de beneficiar os soldados da paz.
No final, Miguel Alves frisou que foi criado um problema mas, "vamos resolvê-lo", ao passo que Laurinda Araújo lamentou a passividade do anterior executivo.
Na sessão da Assembleia Municipal realizada dias antes, Miguel Alves tinha dado a conhecer que nesse mesmo dia tinham sido penhoradas as contas dos Bombeiros, o que gerou discussão entre a maioria socialista e os sociais-democratas.
Explicou ainda que tinha reunido previamente com os arquitectos credores na tentativa de os sensibilizar para o problema dos Bombeiros e de eles lhe terem dito que nunca tinham conseguido reunir-se com a anterior presidente, o que apenas acontecera agora.
Júlia Paula assume que foi ela que perdeu as eleições…
Júlia Paula, ex-líder do executivo caminhense, veio dizer que não tinham assumido o pagamento porque nunca poderia prometido uma coisa que não existia em termos de dívida, mas - para espanto de todos -, desafiou o novo presidente a pagar uma dívida… com uma série de anos.
A antiga presidente respondia dessa forma a uma pergunta que se pretendia que tivesse uma resposta "telegráfica", colocada anteriormente pelo deputado socialista Manuel Falcão: "- É ou não verdade que se comprometeu a pagar o projecto da requalificação deste equipamento?". Sim ou não, era o que o deputado queria ouvir.
...e nega ter prometido pagar dívida dos projectos
Como se disse, Júlia Paula negou e "mandou" o seu sucessor nos destinos do concelho… a pagar aquilo que ela própria negou ter prometido.
Júlia Paula, em concreto, respondeu que "nunca poderia ter prometido a uma direcção dos Bombeiros, pagar uma coisa que não estava facturada e que não estava nas contas da associação". Prosseguindo, Júlia Paula após dizer que "como perdi as eleições" (embora o candidato à câmara pelo PSD tivesse sido Flamiano Martins e não ela), "não sou eu que tenho de pagar, mas sim o senhor presidente da câmara, que foi quem ganhou as eleições".
Miguel Alves quer "transparência"
No final da conferência de imprensa de Vila Praia de Âncora, perante as declarações de Júlia Paula na AM, em contradição com o que os anteriores directores dos Bombeiros tinham dito à actual direcção, e reconfirmado perante o actual presidente da Câmara, pedimos a Miguel Alves um comentário às palavras da agora deputada municipal.
Miguel Alves optou por não o fazer, limitando-se a reforçar aquilo que parece evidente: a existência de um compromisso, "efectivamente", o qual, inclusivamente, se encontra atestado em vários documentos, além de ter sido testemunhado por Francisco Sampaio e Adriano Fernandes - pessoas que não podem ser conotadas politicamente com o PS - tinha frisado o autarca na sessão da AM.
De modo a evitar estas confusões já habituais num passado recente, Miguel Aves pretende protocolar com os Bombeiros os apoios que venha a conceder, para que mais tarde, não venha alguém a dizer que se esqueceu, criando problemas, mas que o autarca, repisa, irá resolvê-los.
A propósito deste assunto que determina a vida dos Bombeiros ancorenses, o Secretariado do Partido Socialista de Vila Praia de Âncora tomou uma posição.