![]() Jornal Digital Regional Nº 590: 2/8 Jun 12
(Semanal - Sábados) |
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UMA FUGA EM FRENTE CHAMADA
A cobertura mediática da operação da Polícia Judiciária deixou Câmara e PSD local à beira de "um ataque de nervos" e a solução encontrada para desviar as atenções dos factos e minimizar os danos foi uma "teoria da conspiração", que meteu denúncias anónimas, PJ, jornalistas, a Federação de Viana do Castelo do PS e uma ex-assessora da Câmara, entretanto a ser ameaçada por sms. O caso acabou, por agora, com uma participação ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), do Porto. Na conferência de imprensa dada a meio da tarde, Júlia Paula sublinhou a tese de que toda a operação policial se baseava em denúncias anónimas, expressão que repetiu por inúmeras vezes. A seguir, o PSD local, liderado pelo vice-presidente da Câmara, Flamiano Martins, divulgou um comunicado, com o título: "PSD lamenta utilização das instituições judiciais para fins político-partidários". O comunicado insiste na tese das "queixas anónimas", refere-se à operação da Judiciária como uma "visita" dos inspectores à Câmara de Caminha e sublinha que estas coisas costumam ser "sigilosas". No caso de Caminha não foram e o PSD culpa uma estratégia eleitoral conspirativa, que envolveria o PS distrital e uma ex-assessora.
Uma "esquizofrénica estratégia eleitoral" A visada, entretanto, após participação ao DIAP, emitiu um comunicado bastante duro, onde considera que a argumentação não passa de "uma estratégia no âmbito da comunicação de crise, atabalhoada, ensaiando um contra-ataque baseado na corriqueira técnica retórica do complot e da conspiração". O texto do comunicado, aliás, chega a ser irónico, qualificando a tese da "teoria da conspiração" como "esquizofrénica" porque, a verificar-se, "uma tal estratégia só teria sucesso se pudesse contar com a cumplicidade da própria Polícia Judiciária e dos jornalistas, o que roça o inimaginável". A professora universitária escreve ainda que a "manobra de diversão" é "descarada" e não lhe mereceria qualquer comentário, "não tivesse a minha pessoa sido contemplada com mais esta difamação, arrastando agora outros nomes respeitados".
"Perseguição" relacionada com condição de testemunha A ex-assessora também é perentória, ao afirmar ser cada vez mais claro que a "perseguição" de que está a ser alvo se relaciona com o facto de ser testemunha abonatória de Teresa Amorim, a ex-secretária de Júlia Paula. Teresa Amorim, recorde-se, foi alvo de um processo disciplinar que culminou com o despedimento, mas este seria suspenso por uma providência cautelar. Júlia Paula, apesar de ter tentado, em todas as instâncias, contrariar a decisão dos tribunais, não o conseguiu e foi sendo sucessivamente derrotada. Aliás, a ex-secretária já voltou ao serviço, tendo sido colocada no Centro Coordenador de Transportes de Vila Praia de Âncora, habitualmente chamado de "unidade de queimados", por ser destino dos castigados, aí colocados sem funções e submetidos à inerente pressão psicológica. O caso não foge à regra e repetiu-se mais uma vez. Ao que o C@2000 apurou, Teresa Amorim é mantida sem qualquer ocupação e apenas cumpre o horário e "pica o ponto". Também outra ex-testemunha de Teresa Amorim, o economista Fernando Aleixo, regressou recentemente à Câmara e… à Biblioteca, depois de intenso tratamento psiquiátrico, na sequência do afastamento, nunca explicado, das funções que exerceu durante mais de 20 anos.
A advertência a Flamiano Martins Voltando ao imbróglio mais recente, o C@2000 tentou ouvir a ex-assessora, que recusou fazer quaisquer comentários, explicando apenas que não teria ido além da participação ao DIAP (recorde-se que a ex-assessora emitiu um comunicado em resposta ao da concelhia do PSD), se não se tivesse tentado envolver outras pessoas que, "como eu, são absolutamente alheias a toda a trapalhada que se passa por aí". Disse também que a participação ao DIAP já tinha sido equacionada há cerca de um mês atrás, por causa das mensagens de sms, que entretanto pararam, depois de uma conversa com Flamiano Martins. Essa conversa, clarificou ao C@2000, decorreu num evento público. A ex-assessora garante ter mostrado ao vice-presidente da Câmara de Caminha e líder do PSD local as mensagens então recebidas, assim como um documento do Tribunal de Caminha, dando conta da abertura de um processo contra Júlia Paula por suspeita de difamação, motivado pelo episódio "Antonieta". "Queria definitivamente afastar-me dessas confusões, sem contudo prescindir dos meus direitos de cidadã, como ser testemunha de quem entender ou circular livremente onde me apetecer. Apenas garanti que esta conversa foi devidamente testemunhada por terceiros e ponto final". Nesse mesmo dia terá recebido mais um sms, mas teria sido o último até ao dia da chegada da PJ à Câmara. Comentou ainda que a reação de Flamiano Martins foi aparentemente bastante compreensiva e que este até terá "mostrado surpresa" pelo sucedido: "não sei se a reacção foi ou não sincera, mas também não podia ser outra, soubesse ele ou não soubesse o que estava a acontecer, nunca o poderia admitir como é óbvio. A minha intenção foi pôr fim à brincadeira", rematou a responsável.
Eventuais escutas podem identificar autor dos sms O envio de mensagens insultuosas e ameaçadoras, que constitui crime, teria sido retomado terça-feira à noite, precisamente no mesmo dia da operação da Polícia Judiciária, e determinou a decisão de concretizar a participação ao DIAP. O C@2000 quis saber o teor dos sms, mas a responsável recusou-se a divulgá-lo. Relativamente às hipóteses do autor ser identificado, à partida remotas, a ex-assessora não é da mesma opinião e diz que as probabilidades não são tão remotas como se pode pensar. Lembrou que as investigações da Polícia Judiciária costumam incluir escutas: "há muitos meios de prova e este tipo de comportamento não é propriamente típico de pessoas inteligentes. Muitos pensam que os cartões pré-pagos e descartáveis não deixam rasto, mas tudo depende, digamos, do contexto. Podem existir conversas cruzadas que tenham sido escutadas e registadas - ao telefone… ou não". "Ainda mais agora, que se tem uma ideia da dimensão das investigações da Polícia Judiciária, em termos temporais pelo menos, é praticamente uma certeza que incluíram escutas, faz parte do protocolo normal de investigação. Além disso, poucas pessoas sabem como são feitas as escutas da PJ e como estão vulneráveis sem saber, mas também não sou eu que vou explicar isso agora".
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