O Agrupamento de Escolas do Concelho de Caminha há muitos anos que possui cursos diversificados de saída profissional para aqueles alunos que não têm como objectivo atingir o ensino superior, mas simplesmente "prepará-los para a vida activa" após concluírem o 12º Ano, explicou-nos Maria Esteves, directora do Agrupamento, obtendo dessa forma "uma ferramenta que lhes permita "integrar-se mais rapidamente" no mundo do trabalho.
Este ano, dentro de todo este processo anormal derivado à pandemia e que também afectou o ensino, as reuniões que habitualmente são realizadas com diversos parceiros (Câmara Municipal, CIM Alto Minho, Agrupamentos de Escolas e a Associação que tutela o ensino profissional, entre outras entidades) não tiveram lugar.
Contudo, quando o Ministério da Educação pediu ao Agrupamento que indicasse os cursos desejados para o ano lectivo 2020/21, integrados na respectiva rede escolar, responderam que não iriam autorizar a abertura de novos cursos profissionais, com o argumento de não ter sido possível efectuar as referidas reuniões, com excepção daquelas escolas que já tinham iniciado cursos profissionais no ano passado, equivalentes ao 10º Ano regular.
Escola insistiu nos cursos
Embora não agradados com a justificação e respectiva decisão, a direcção da Escola integrou o pedido na plataforma que anualmente é aberta a fim de pedirem os cursos.
Mas, "quando não é o meu espanto, nessa plataforma nem sequer era autorizado pedir um curso profissional". Pensando que poderia ser ela própria que poderia estar a cometer alguma falha, Maria Esteves decidiu contactar a DGEST, tendo-lhe sido confirmado que efectivamente não estava aberta a inscrição porque "nós não tínhamos cumprido o requisito de não ter tido o curso profissional do 1º Ano a funcionar neste ano lectivo", justificaram, de acordo com as directrizes do Ministério da Educação.
Exposição à DGEST e pedida intervenção do Município
Não conformadas com esta justificação, "não ficamos de braços cruzados, tendo enviado um ofício à DGEST (Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares)", no qual "explicitávamos as razões pelas quais deveríamos abrir um curso no Agrupamento para dar resposta a todos os nossos alunos" que optassem por esta via de ensino.
Conselho Geral da Escola exige cursos profissionais
A resposta do director-regional da DGEST Norte surgiu alguns dias depois, voltando a insistir na mesma argumentação, o que levou a directora a expor a situação ao Conselho Geral da Escola para que exercesse as suas influências pelas formas que entendesse, ao mesmo tempo que a própria directora enviou um ofício ao presidente da Câmara Municipal de Caminha, pondo-o ao corrente da situação e das diligências alegadas para a abertura do curso, para que ele próprio "exercesse alguma pressão para conseguisse trazer o curso para Caminha", prossegui esta directora.
Segundo lhe revelou Miguel Alves, apesar do contacto estabelecido com o chefe de Gabinete do Ministro da Educação, a situação não parecia fácil, mas perante a persistência da directora da Escola, iria tentar mover as suas influências com a finalidade de dar resposta a uma necessidade escolar no concelho de Caminha.
Maria Esteves explicou-nos a gravidade desta situação a persistir a posição do ME.
"Nós temos no concelho uma escola profissional (ETAP) com os seus cursos na área da Hotelaria, Restauração, Mecatrónica, etc., mas o problema reside nos alunos que não querem seguir essas áreas e apenas conseguirão ensino profissional" que corresponda às suas vocações a 25 km, como é o caso de Viana do Castelo, e, precisou, "nós sabemos como são os transportes", obrigando-os a ficar bastante tempo nessa cidade até conseguirem regressar a casa, o que é um risco acrescido com a pandemia, precisou.
Alunos regressaram ao Agrupamento
Acresce outro problema surgido este ano com alguns alunos em Caminha e Vila Praia de Âncora, os quais, após concluído o 9º Ano, "ingressaram nos cursos da ETAP mas regressaram ao Agrupamento porque não gostaram deles. E, outros, "nem sequer saíram de cá porque não queriam ir para Viana do Castelo - e noutros casos eram os próprios pais que os impediam por serem muito novos e isso poder comportar alguns riscos -, a par de terem seguido todo o seu percurso escolar desde o pré-escolar no Agrupamento de Caminha e entendiam que deviam concluir aqui os estudos".
Perante este cenário, o Agrupamento confrontou-se com outro problema, acentuou esta professora.
"A marcar passo"
Desta forma, "a nossa turma de Línguas e Humanidades do 10º Ano de Vila Praia de Âncora tem sete miúdos sem qualquer motivação para os cursos científico-humanísticos, nem perfil para estudo teórico dos cursos regulares, mas que se inscreveram lá na perspectiva de que haveria cursos profissionais no ano seguinte". Em Caminha havia também três alunos nas mesmas circunstâncias.
Como estavam desmotivados, "criaram problemas aos professores porque não tinham rendimento, por mais que se esforçassem", estando simplesmente "a marcar passo", porque são obrigados a fazer o 12º Ano.
Este desinteresse vai obrigar a que eles reprovem no final do ano, o que é mau para os alunos e para o próprio Agrupamento que vê a sua "taxa de insucesso" subir, prevê a responsável pelo Agrupamento.
Alunos não querem sair da escola
Adiantou ainda que há alunos da turma do 9º Ano que já informaram os directores de turma que não pretendem sair da escola no próximo ano lectivo "mesmo que não tenham curso profissional".
"Estamos a dificultar a vida aos miúdos, a fazê-los perder tempo e ao próprio Agrupamento" se os cursos profissionais não forem autorizados, a par de prejudicarem os próprios colegas que aspiram a entrar nas universidades e "têm outra forma de trabalhar", e, como tal, "não têm interesse em ter colegas desinteressados ao lado que os prejudiquem", ao que se junta o "desespero" dos professores que tentam motiva-los, mas sem resultados.
Estes cursos já tiveram várias designações ao longo dos tempos, aos quais a escola sempre concorreu e ministrou este tipo de ensino, e, no caso de o Ministério da Educação não reverter a sua posição "será mau para o concelho", tal como sucederá para outros municípios, "porque em todas as escolas há alunos com perfis diferentes", talvez com excepção das cidades onde as alternativas existem, nomeadamente a nível de transportes, precisa Maria Esteves.
"Combater o insucesso escolar e o abandono"
Aponta ainda outra justificação para a continuação destes cursos de turismo e informática ("com o cuidado de não entrar em colisão com o cursos da ETAP), como acontece neste momento, em que para que os alunos possam assistir às aulas presenciais do Secundário, "tivemos de pedir à Câmara para os transportar", porque as operadoras privadas suspenderam a actividade por falta de passageiros, com excepção do combóio.
15 a 20 alunos
A professora Maria Esteves prevê que a partir de Setembro teriam entre 15 a 20 alunos nestas circunstâncias, o que permitiria formar uma turma do 10º Ano, e, principalmente, "combater o insucesso escolar e o abandono", sem esquecer a forte componente turística do concelho que só teria a beneficiar com a formação a conceder a estes jovens, e a informática "que é transversal a todos os níveis de ensino e profissões, como ainda agora se comprovou com esta pandemia".
A ser criada esta turma, ela funcionaria onde houvesse mais alunos, em referência às escolas de Vila Praia de Âncora e Caminha.
Câmara preocupada
Contactado Miguel Alves, presidente do Município de Caminha, confirmou que já tinha contactado o Ministério da Educação e perante uma resposta negativa ("assunto encerrado")
tinha marcado uma reunião com a DGEST Norte para tentar resolver esta situação.
O autarca referiu ainda que esta norma tinha saído há uns meses e não estava a par dela, mantendo, contudo, a expectativa perante a reunião solicitada e que deverá ter lugar no final da semana.
"Lamentável"
Valdemar Vieira, presidente da Associação de Pais da Escola de Vila Praia de Âncora, embora ainda sem grande conhecimento do assunto, "lamenta" que os cursos profissionais não venham a funcionar no Agrupamento, porque "há crianças que não querem ir para Viana do Castelo".
Considera que será um rude golpe para o concelho de Caminha, depois de terem encerrado a Ancorensis que dispunha desses cursos, quando garantiram na altura que haveria correspondências suficientes, pelo que "há coisas que não se percebem".
"O Agrupamento nada ganhou com o fecho da Ancorensis", levando-o a considerar difícil a posição da Associação de Pais que "nada mais poderá fazer que não seja pressionar", além de ignorar qual a posição do presidente da Câmara de Caminha na tentativa de resolver este problema.