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Ushguli
Acordo. Como é hábito, espreguiço-me como se fosse crescer mais uns quantos centímetros e, sem me aperceber, toco nas nuvens. Não, não é utopia. A intocada Mãe Natureza envolve aquele que é considerado o ponto mais alto permanentemente habitado da Europa. Estou na Geórgia, na região de Svaneti, mais precisamente no sopé do Monte Shkhara (5268 metros) e no vale de Enguri e Kvishiri. Um local incrivelmente pitoresco (ainda!) e diferente de tudo o que já visitei. Estou em Ushguli, uma comunidade que se encontra a uma altitude que varia entre os 2060 e 2200 metros e que é constituída por cinco aldeias: Murkmeli, Chazhashi, Chvibiani, Zhibiani e Lamjurishi.
Esta localidade fica a cerca de quarenta e sete quilómetros de Mestia, que se traduz aproximadamente em duas horas e meia de jipe ou carro de tração. Sim, duas horas e meia, caso as condições meteorológicas assim o permitam.
No contrato do carro alugado, em Tbilisi, um dos itens que constava era a proibição de ir com o mesmo até Ushguli. Se já encabeçava a lista dos imperdíveis, a inibição automaticamente despertou ainda mais interesse por este inóspito local e, simultaneamente, curiosidade sobre o estado do acesso.
O motorista que nos acompanha nesta tumultuosa aventura trocou apenas duas palavras: “Extreme Ushguli”. Não é, de todo, um caminho apropriado para cardíacos, mas o que nos espera supera a adrenalina sentida e serve de reforço energético para o regresso.
As mais de vinte torres Svan e a autenticidade social fazem de Ushguli, mais concretamente a aldeia de Chazhashi, parte integrante da lista de Património da Humanidade da Unesco desde 1996. A raridade arquitetónica desta comunidade é composta por um grande número bem conservado das chamadas torres de defesa da família. Edificações de três a cinco andares de torres altas, em pedra, com um piso superior defensivo mais alto. Se por um lado serviam às famílias como espaço vital, por outro tinham um carácter protetor, contra as avalanches e outros caprichos da natureza. Com o tempo, a degradação foi tomando conta destas torres mas, recentemente, os habitantes foram tomando consciência da singularidade e originalidade que tornam esta área apetecível aos olhos dos viajantes, optando pela conservação e preservação das mesmas.
Cada uma das cinco aldeias tem a sua própria igreja/capela. Existem oito igrejas, que datam dos séculos XI e XII, em Ushguli, sendo a mais famosa a de Lamaria, dedicada a Santa Maria e situada na colina mais alta. Todos os anos, no dia 28 de agosto, os georgianos reúnem-se aí para celebrar o dia de Santa Maria.
É a partir desta igreja que se inicia o trilho até ao glaciar de Shkhara. São cerca de seis horas para percorrer oito quilómetros (ida e volta). Ainda para os amantes de caminhadas, é possível fazer Mestia – Ushguli. São aproximadamente cinquenta e sete quilómetros, em quatro dias, dependendo, naturalmente, da forma de cada um.
Importante monumento secular é a torre defensiva da rainha Tamara. Segundo a lenda, este é o remanescente da residência de verão da famosa rainha georgiana Tamara (1160-1213). O Castelo da Rainha estava situado numa colina acima de Chazhashi e consistia em quatro altas torres defensivas de pedra ligadas por uma parede e um pequeno degrau. Atualmente, apenas a igreja, uma das torres e parte da segunda estão preservadas. As restantes foram destruídas durante a ocupação soviética da Geórgia, na década de 1930.
É possível visitar uma torre, em Chazhashi, que dá vida ao Museu Etnográfico de Ushguli, com uma coleção de ícones de ouro, prata e madeira que datam do século XII, das igrejas de Ushguli.
Há dias no inverno que Ushguli fica inacessível devido à neve; no entanto, é aqui que atualmente vivem cerca de 70 famílias e, aproximadamente, 200 pessoas. A agricultura e o afluente turismo são os meios de subsistência destas famílias. Várias casas foram convertidas em modestas guesthouses, disponibilizando quartos e a culinária típica georgiana. Infelizmente a barreira da língua dificulta um possível diálogo que satisfaça a minha eterna curiosidade sobre as pessoas. Com as poucas pessoas que se cruzaram a comunicação resumiu-se a um sorriso acompanhado com o erguer da mão, a um olhar e a um forte e genuíno aperto de mão de um senhor.
Julgo que pela minha profissão, quando viajo pergunto ou tento descobrir se existe uma escola e caso não exista para onde se têm de deslocar os meninos. Ushguli tem uma pequena escola. Cruzei-me com dois meninos. De mochila às costas; brincavam mas não se mostraram muito sorridentes por uma cara estranha estar a admirá-los. O verde água pintava os olhos de um deles. Pergunto-me: quais serão os seus sonhos?
De acordo com Besarion Nizharadze (1852-1919), o nome “ushguli” como topónimo significa “coração destemido” (em georgiano “ushishari guli” / “ush-guli”). Ushguli sempre representou o símbolo do Svaneti livre.
A Geórgia é daqueles países a que espero regressar, sendo Ushguli a cereja do topo do ‘bolo’. Entrou na lista dos pequenos paraísos.
Gosto de adormecer a sonhar. Neste dia o sonho começa assim: com os pés nas montanhas e a dar cabeçadas nas nuvens, como os futebolistas fazem, inicio a caminhada a partir de Mestia. Ainda não acordei desse sonho.
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