Ex-jogadores de todas as épocas do Âncora-Praia Futebol Clube reuniram-se num almoço-convívio no Hotel Meira, no passado dia 11, após terem procedido a duas homenagens nos cemitérios de Vila Praia de Âncora e Âncora.
No cemitério da vila que o Âncora-Praia representa, foi depositada uma coroa de flores em memória de todos os antigos companheiros de longas jornadas desportivas, quer os que se se encontram ali sepultados, quer, simbolicamente, todos os demais que eram naturais de inúmeros pontos do distrito, conforme justificou Álvaro Meira, um dos promotores deste encontro de atletas e dirigentes. Referiu que era humanamente impossível a deslocação a todos os outros locais e nem quererem "ferir susceptibilidades" se fossem às campas de todos os atletas sepultados em Vila Praia de Âncora, porque "corríamos o risco de esquecer alguns".
Em Âncora, foi depositada um ramo de flores - pelas mãos de José Carlos, ex-atleta que chegou a jogar em clubes como o Guimarães - na sepultura de Paulino Velho Gomes, primeiro presidente da direcção e responsável pela construção do estádio que ainda hoje tem o seu nome, um homem que "colocou o seu dinheiro, as suas máquinas e os seus trabalhadores" ao serviço do Âncora-Praia para que o capo de jogos fosse uma realidade, acentuou Álvaro Meira.
Após ter sido tirada uma fotografia de conjunto neste campo de jogos instalado na Mata da Gelfa, rumaram para o hotel onde foi servido o almoço, altura aproveitada para rever momentos e jogadas inesquecíveis, protagonizados pelos antigos futebolistas, a par dos êxitos do clube.
Como foi o caso de Álvaro Meira, provavelmente o guarda-redes mais baixo de sempre do futebol português, mas que nem por isso ficou diminuído nas suas funções de defender com êxito a baliza do seu clube.
Em declarações ao C@2000, Álvaro Meira explicou que a ideia de realizar este encontro "já vinha de há muito tempo", estando a ser desafiado constantemente por antigos jogadores - dando como exemplo o Manuel Gaiolas - para fazer um almoço de confraternização.
"Eu estava a desviar-me constantemente porque isto dá muito trabalho e, normalmente, sobra sempre para um, até que ultimamente, o Adriano e outros mais aderiram e resolvemos fazer isto".
Álvaro Meira mostrou-se "surpreendido" com a adesão verificada, porque "isto representa 10 gerações de atletas que passaram pelo Âncora-Praia", incluindo dois jogadores actuais. Frisou que "eu sou o mais velho e há 57 anos fiz o primeiro jogo pelo Âncora-Praia", recordou.
Um caso de sucesso, este guarda-redes com 1,65 metros de altura, com o seu boné característico e bem à maneira da época em que o clube foi fundado em 1962, tendo jogado até 1969.
Quisemos saber se tinha adoptado algum plano especial para compensar a sua baixa estatura, tendo-nos confessado que se fosse nos dias de hoje, "não tinha qualquer hipótese e nem sequer me tinham deixado treinar".
Esclareceu que "eu tinha um pequeno segredo ensinado pelos mais velhos - porque eu nunca fui treinado, era um autodidacta da baliza -, como foi o Xico Gomes, de Caminha, o Tetinho de Lanhelas e o José Bota, os quais, cheios de experiência diziam-me: - Meirinha, joga nas pontas dos pés e, efectivamente, eu experimentei saltar com os calcanhares assentes no chão e não conseguia elevar-me".
"E não há dúvidas que com as pontas dos pés" conseguia mais altura, reconheceu, além de "ser uma particularidade minha, o grande poder de elevação que tinha", o qual, aliás, era uma aptidão inata.
Outra característica deste guarda-redes prendia-se com a sua agilidade e frontalidade na saída às bolas, admitindo que "até tinha tiques perigosos porque saía de cabeça aos pés do adversário, procurando tirar-lhe a bola e isso deu-me alguns desaires, com clavículas partidas, pontapés na cabeça e mãos, etc.".
Álvaro Meira fez parte de uma equipa que ficou famosa, quando ascenderam à III Divisão Nacional no ano de 1964, da qual "só estamos três vivos (o Adriano, o S. João e eu).
Esta antigo guarda-redes não encontra uma explicação plausível para a subida de divisão nesse ano, porque "nós jogávamos com equipas muito fortes da Associação de Braga - onde eu sempre joguei -, como era o caso do Maria da Fonte e o Taipas, apenas sei que fizemos um grande campeonato e ganhamos".
Destacou que a equipa (Taipas) que veio jogar a Vila Praia de Âncora "possuía um jogador, o Rola, proveniente do Guimarães e que até me marcou um golo num canto directo, mas acabamos por ganhar 3-1", não esqueceu de referir.
"Saudades muitas desses tempos e um certo orgulho porque levei sempre muito a sério o desporto e quando hoje me perguntam pelo meu estado físico - razoável para 77 anos -, eu digo que respeitei sempre certas regras, como seja não sair à noite quando havia jogos, evitava abusos e fazia a sério todos os exercícios que me diziam para fazer, tanto na tropa como no desporto", considerando por isso que tal atitude lhe concedeu um "bem-estar físico que eu ainda hoje mantenho".
Esta ligação umbilical ao Âncora-Praia Futebol Clube levou-o a assegurar que no dia seguinte estaria na bancada do seu clube de sempre a apoiar os jogadores para que subissem de divisão, como veio a suceder.
Acentuou que a sua atracção pelo Âncora-Praia teve a ver "comigo e com o clube que eu ajudei", tendo aproveitado para deixar um "desabafo" à Associação de Futebol de Viana do Castelo porque "não nos têm respeitado muito, porque dava a ideia de que já se sabia antecipadamente qual era o clube que iria subir", ao contrário do que sucedia quando pertenciam à Associação de Braga que "nos respeitavam e eramos tratados com grande amizade".
Os anos vão passando e já não se recorda bem quem era o presidente do clube nessa época, mas está certo que ou era o senhor Paulino Gomes ou o Jorge Moreira.