Lanhelas viu a noite surgir no passado dia22, recuando a tempos antigos, em que Maria e José fugiram da perseguição do Rei Herodes (representado por um lanhelense, mas mais parecendo um vicking retinto, totalmente ruivo, do que uma personagem da palestina), até se instalarem na cabana construída no adro da Igreja Paroquial, seguindo um guião da própria Bíblia.
Rebanhos de ovelhas e cabras, artesãos (oleiros, ferreiros, carpinteiros, padeiras, taberneiros, cozinheiras), legionários romanos, reis magos, anjos e arcanjos (narrando os diversos capítulos da encenação histórica do cimo de uma varanda), seguidos de bem perto pela população que não quis deixar de apreciar um ano mais esta representação envolvendo largas dezenas de moradores desta freguesia.
A encenação esteve a cargo de Fernando Borlido, mais uma vez a dar a cara e o seu entusiasmo pelo teatro que se faz em Lanhelas.
Cantora foi a inovação
Este encenador admitiu que a experiência adquirida ao longo destes anos lhe permite ser fiel a uma linha de continuidade, embora haja sempre oportunidade de introduzir algo de inovador, como fez questão de salientar ao referir-se a uma professora em Caminha que se radicou em Lanhelas e que se prestou a interpretar duas canções a meio da representação, considerando Fernando Borlido ter sido a "parte inovadora" deste ano.
Sem alterar a tradição, Fernando Borlido reconhece, contudo, a necessidade de "inovar um bocadinho, sobretudo ao nível dos cenários, o que é difícil", admite, porque "envolve muito trabalho, mas que há que pensar a fim de os melhorar".
Participação e envolvimento
Louva a forma "participativa" como as pessoas se envolvem, porque há aqueles que "nunca pensaram em participar, mas depois aparecem".
Apreciando a forma como os actores e figurantes representaram e encarnaram os seus papéis, acentuou que muitas partes ocorreram "quase de improviso, porque não há disponibilidade das pessoas em virem ensaiar". Assim, optou por uma forma narrativa e através de duas das participantes neste Presépio Vivo, "foi-se adaptando a tudo o que está a decorrer", criando-se uma "simbiose" entre os assistentes e actores que é "fantástica", vincou, classificando-a portanto como "interessante", para que "as pessoas convivam e conversem umas com as outras", concluiu.
Herodes mal humorado
Tentamos falar com o Rei Herodes, mas estava de má catadura, depois de ter sido gorada a possibilidade de ser dado cumprimento ao pregão, lido por um dos seus sequazes, para que o recenseamento de todas as crianças da aldeia conduzisse à descoberta e aniquilação do filho de Maria e José, pese embora o esforço dos legionários romanos que se encarregaram de arrancar os miúdos dos braços dos pais e lança-los para dentro de uma carroça.
Daqui a dois anos, deverá repetir-se esta representação, com mais ou menos inovação, conforme confirmou Josefina Covinha, presidente da Junta de Freguesia, organizadora de mais um Presépio Vivo.