Os vilarmourenses corresponderam um ano mais à chamada e cerca de 400 convivas desfrutaram de um convívio comunitário e do afamado Almoço dos Reis (Arroz de sarrabulho e rojões) servido no salão do Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense no passado dia 25.
António Fiúza já não consegue contar os anos ("mais de trinta e assim continuarei enquanto tiver força e vida e as pernas ajudarem", afiançou ao C@2000), em que se encontra a chefiar ininterruptamente a equipa de três cozinheiros ("mais o meu filho que veio dar uma mão, a ver se lhe meto o bicho no corpo, tal como a um neto que não pôde estar presente, mas está a gostar", garantiu) que confeccionam o saboroso repasto, apoiado por ajudantas e pelo grupo de jovens que servem à mesa.
Admitiu que a "experiência" nestas andanças é fundamental para o sucesso da confecção, já iniciada na "Sexta-feira, preparando o que se pôde e ontem (Sábado) foi só dar uma afinadela e hoje de manhã, às oito horas já estávamos a dar fogo às panelas. António Fiúza definiu como "bem razoável" a adesão das pessoas.
Ninguém paga nada pelo almoço, porque a receita para fazer face às despesas com os produtos de carne de porco (280 kg para os rojões e para o arroz) etc., é arrecadada no mês de Janeiro, altura em que o grupo das Reisadas sai à rua de noite, tocando a cantando junto a cada um dos lares de Vilar de Mouros, recebendo o respectivo donativo que servirá para custear o Almoço dos Reis.
"Todos os anos"
A jovem Amélia Barros, familiar de um dos cozinheiros e do tocador de concertina do Grupo das Reisadas, deu o seu contributo a esta festa de convívio, coisa que faz "todos os anos", ajudando a servir às mesas montadas ao longo da nave do CIRV. Relevou esta iniciativa, como uma "forma de estarmos todos juntos e vermos toda a gente da aldeia, o que considero engraçado". Quando era mais jovem, antes de ingressar na universidade, participava sempre no grupo das Reisadas. Aposta pelo futuro deste Almoço dos Reis - a festa de Vilar de Mouros… "a par do Festival", disse-nos, sorrindo de alegria pelo regresso do evento.
De entre as inúmeras famílias que se dirigiam com as suas lancheiras (contendo os talheres, bebidas e sobremesa), para o interior do edifício do CIRV, tivemos oportunidade de colher a opinião de alguns vilarmourenses (por nascimento ou por adopção) sobre os motivos que os tinham levado a participar neste dia da comunidade local.
"Quem não gosta de sarrabulho?!"
Alcino Santos, natural da Póvoa de Varzim mas a residir em Vilar de Mouros há 18 anos, desde logo aderiu a esta tradição, da qual "sou frequentador mais ou menos assíduo", confessou-nos à entrada do CIRV. Considerou interessante este almoço que se mantém, pese embora a diminuição da população "devido à idade ou por emigração", concluiu, louvando "os resistentes e resilientes para que esta tradição não se perca de todo". Além de apreciador do arroz de sarrabulho - com este almoço "nem preciso de ir a Ponte de Lima…", confessou-nos, rindo. Louvou António Fiúza , ("um cozinheiro experimentado").
"Desde sempre!"
Emília Lopes, "desde sempre" participa nesta jornada de convívio. Esta vilarmourense considera "boa" a manutenção do Almoço dos Reis e contribuiu com um donativo quando o Grupo dos Reis se deslocou a sua casa, situada no lugar da Cavada. Embora admita que as pessoas de alguma idade são as que mais aderem, reconhece que o número de jovens também é substancial.
"Isto nunca devia acabar"
Acompanhava-a Eva Torres - da estirpe dos Torres, ligados aos antigos serralheiros e ferreiros vilarmourenses -, com 87 anos, mantendo a jovialidade necessária para marcar presença anualmente nesta confraternização gastronómica, "porque é muito bom", assegura, completando o seu pensamento, dizendo que "isto nunca devia acabar".
"Nascido e criado"
Sebastião Penedos, "nascido e criado em Vilar de Mouros, com o orgulho de pertencer a esta comunidade, esclareceu-nos que "aqui estou, já desde os tempos em que o Almoço se fazia no antigo Clube".
"É um bom evento e acho que nunca deve acabar, porque é o Dia de Vilar de Mouros, além do Festival", adiantando que "só não vem quem não quer". Como bom vilarmourense, "contribuí quando as Reisadas me bateram à porta, para que "a tradição se mantenha".
No final do almoço, Basílio Barrocas, presidente do CIRV, Carlos Alves, presidente da Junta de Freguesia e Miguel Alves, presidente da Câmara, dirigiram algumas palavras aos presentes.
"Estamos numa festa muito antiga"
O primeiro, reforçou a ideia de que "é complicado ser presidente de uma associação", porque" nem tudo são rosas", em referência ao Almoço dos Reis, iniciativa que, aliás, satisfaz qualquer director, mas existem outros problemas que afligem os responsáveis do CIRV.
Pegando no exemplo da tragédia de Tondela, Basílio Barrocas pediu o empenhamento da Câmara Municipal na emissão de uma licença de utilização para o edifício, coisa que nunca existiu desde que a nave foi inaugurada pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva nos anos 80.
"Isto tem de ser resolvido"
Basílio Barrocas sublinhou que "trabalhamos de graça e ainda por cima corremos riscos", levando-o a apelar ao presidente da Câmara, porque "isto tem de ser resolvido", pedindo ainda aos sócios para contribuírem (apenas 40/50 associados pagam quotas), porque "sozinhos", vincou, "não resolvemos o problema".
Adiantou que já tinha reunido com o presidente da Câmara, o qual se mostrou "preocupado" com a situação e disponibilizou-se para realizar o levantamento de todas as associações que se encontram numa situação idêntica, com a finalidade de "as legalizar com o mínimo de custos".
O presidente do CIRV solicitou ainda a legalização do parque infantil.
Vilar de Mouros é uma terra com unidade"
Contudo, Miguel Alves, ao intervir no final do almoço, não deixou de reconhecer que "as dificuldades elencadas são difíceis de ultrapassar", atendendo a que perante as condições actuais do edifício, será difícil emitir licenças.
Miguel Alves referiu ser importante aquilatar se fará sentido intervir, se as pessoas de Vilar de Mouros não se interessam pelo futuro do edifício e da própria instituição, segundo depreendeu das palavras do próprio presidente do Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense.
Referindo-se ao Almoço dos Reis, o autarca caminhense agradeceu a todos quantos tornam possível manter esta tradição e incentivou os presentes a marcar sempre presença "em alegria e amizade" a fim de desfrutar "deste almoço muito saboroso", fruto de "um sentido de comunidade muito importante", vincou.
Centrando seguidamente o discurso na freguesia, Miguel Alves afirmou que Vilar de Mouros "tem um nome a preservar" e possui "uma bandeira altíssima que é o Festival". A propósito, anunciou que este mês (Março) "serão apresentadas quase todas as bandas", vincando ainda a obra de instalação da rede saneamento em curso, bem como a rede de fibra óptica.
"Iniciativa ímpar"
Da parte da Junta de Freguesia, Carlos Alves agradeceu à direcção o empenho evidenciado na organização das Reisadas e do Almoço dos Reis, permitindo que "ano após ano, tenhamos esta sala composta", iniciativas que "devemos acarinhar", graças igualmente aos componentes do grupo dos Cantares dos Reis, aos cozinheiros e ajudantes.
Assinalou também que a Junta de Freguesia se mostra "solidária" com os problemas apresentados pela direcção do CIRV, apesar das suas escassas possibilidades de intervenção na sua resolução.
Terminou, assegurando que "Vilar de Mouros é uma terra com unidade".