Miguel Alves foi reeleito presidente da Câmara Municipal de Caminha para os próximos quatro anos, com um reforço substancial de votos em relação à sua adversária mais directa, Júlia Paula, tendo em conta os resultados obtidos por PS e PSD em 2013.
A 29 de Setembro de 2013, Miguel Alves conseguira apenas mais 262 votos do que o seu adversário político Flamiano Martins. Nessa ocasião, Júlia Paula também se tinha candidatado à presidência da Assembleia Municipal e obtivera menos 174 votos do que o seu companheiro de partido à Câmara Municipal.
Quatro anos volvidos, Júlia Paula tentou recuperar um lugar que lhe pertencera entre 2001 e 2013, através de três vitórias consecutivas, mas nunca com uma diferença tão expressiva sobre os seus adversários políticos, como a que se registou no passado dia 1, mas, agora, a favor de Miguel Alves e sua equipa. O PS venceu com 1505 votos de vantagem sobre o PSD.
"Gato escaldado…"
Esta tentativa de regresso à ribalta da política caminhense da candidata social-democrata deparou desde logo com uma dificuldade decorrente de um passado de 12 anos que não foi esquecido pela maioria do eleitorado.
Júlia Paula bem se esforçou por apagar a prática autoritária dos seus consulados, mas não o conseguiu. Isso foi bem visível nas apreciações pós-eleitorais feitas por diversas pessoas com quem falamos. É o tal provérbio: "Gato escaldado….."
A insistência na defesa da PPP das piscinas municipais, na estratégia das dívidas do actual Executivo (como se a situação financeira deixada pela autarca tivesse sido exemplar), os ressentimentos (embora tentando que não fossem muito evidentes) contra a aposta do Executivo socialista no Rali de Portugal, no Festival de Vilar de Mouros, na obra do Cais da Rua (Caminha não beneficiou de uma única obra da Polis nos mandatos de Júlia Paula, ao contrário de Viana do Castelo e Esposende), na crítica à projecção mediática que a figura do presidente da Câmara representou para o concelho de Caminha, bem como a apresentação de listas concorrentes às assembleias de freguesia dificilmente competitivas com a generalidade das que eram apoiadas pelo PS, não permitiram à candidata atingir o seu objectivo.
A sua candidatura foi vista como algo "requentado", tendo pela frente um candidato mais jovem de verbo fácil e réplica pronta - algo com que nunca se deparara no passado recente - a quem lhe foram perdoados alguns erros de gestão e de campanha, porque a maioria do eleitorado pretendia apontar ao futuro e não voltar às trocas e baldrocas de um tempo que cheirava a "mofo", como Miguel Alves chegou a dizer num dos comícios.
Embora os tempos não estejam para grandes comícios, o PS ousou chamar os seus apaniguados à rua, ao passo que o PSD optou pelo contacto pessoal e pelo porta-a-porta (prática igualmente tomada pelo PS, diga-se), apenas convocando os seus simpatizantes para um jantar oferecido numa unidade hoteleira nas derradeiras horas da campanha.
"Grândola"…de novo
Tinha razão Miguel Alves quando disse ao C@2000 em Setembro de 2016, numa entrevista a um ano da realização das Autárquicas, que "gostaria" de ter como adversária Júlia Paula.
Além de ter conseguido fazer ouvir no Terreiro, na noite das eleições, a canção de Pedro Abrunhosa "Vamos fazer o que ainda não foi feito", tal como tinha previsto na mesma entrevista.
E a "Grândola" também regressou ao coração de Caminha. O que seguramente voltará a criar engulhos a alguns dos eleitos do PSD, a fazer fé nas vezes a que se referiram a essa situação durante o último mandato.
Vitória de Guilherme Lagido
A aposta na aprovação da revisão do PDM a escassos meses do acto eleitoral - contra a opinião de alguns dos barões do partido -, foi um teste superado com êxito pelo actual Executivo, designadamente pelo vereador Guilherme Lagido - a cara mais visível da estratégia da carta de solos do município de Caminha para os próximo anos -, fortemente criticado pelo PSD e especuladores imobiliários.
PS com maioria absoluta na AM
Em termos de mandatos, o PS vê-se reforçado com mais um deputado municipal (à custa do PSD), a juntar às presidências das juntas de freguesia que manteve (sem contar com as dos independentes de Riba d'Âncora e Gondar-Orbacém que apoiaram o PS e provavelmente das Argas, embora o PSD também apoiasse esta lista), o que lhe permitirá assegurar a maioria absoluta na Assembleia Municipal.
Os socialistas arrasaram em Lanhelas, Moledo/Cristelo, Vilar de Mouros (para a Câmara) e Gondar-Orbacém, venceram folgadamente em Caminha/Vilarelho (elegeram mais um delegado para a AF), Seixas (Câmara), ultrapassaram o PSD na votação para a Câmara em Riba d'Âncora e a lista independente apoiada pelo PS resistiu com facilidade ao aparecimento de uma candidatura social-democrata à AF.
Para a AM, o PS desceu alguns pontos a favor da CDU - o que vem sendo habitual -, compensado pela transferência de votos que os eleitores desta coligação depositam na lista socialista para a Câmara.
Júlia Paula perde em Venade/Azevedo
O PSD conseguiu um dos seus grandes objectivos, manter a Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora (mais de 600 votos de diferença), a par das demais juntas que já possuía, embora em Dem a luta tivesse sido renhida, tal como sucedeu em Âncora, onde o PS manteve a maioria por 17 votos, ao que não terá sido alheia a votação da CDU (40 votos), formação política que concorreu este ano nesta freguesia. Foram normais as vitórias do PSD para as AF de Vile e Venade, mas um prenúncio da derrota deste partido surgiu logo ao serem conhecidos os primeiros resultados para a Câmara, em que nesta freguesia (local de residência de Júlia Paula), Miguel Alves se superiorizou com oito pontos de vantagem.
CDU reforça-se em Vilar de Mouros
Em Vilar de Mouros confirmou-se uma das principais aspirações da CDU, ao atingir a maioria absoluta para a AF. Contudo, esta formação política não conseguir reforçar a presença (um deputado municipal) na AM ao que se junta o presidente da Junta de Freguesia de Vilar de Mouros. Em Moledo, o PCP-PEV elegeu um delegado para a AF, o PSD manteve os dois que já possuía e o PS arrecada seis lugares (perdeu um para a CDU).
Festival é para continuar
Carlos Alves, presidente vilarmourense, confirmou-nos que contava com a maioria absoluta em Vilar de Mouros, "a fazer crer no bom desempenho que tivemos neste mandato, indo ao encontro daquilo que os vilarmourenses desejavam". Admitiu que "ainda há muito a fazer em Vilar de Mouros, porque nunca está tudo feito", tendo a garantia da existência de projectos para o futuro "com o apoio da Câmara", apontando como um exemplo seguro a continuação do Festival de Vilar de Mouros, o qual "veio para ficar", tendo em consideração o "êxito das duas últimas edições".
Pronunciando-se sobre a ideia lançada na campanha por um dos candidatos, de criação de um parque aquático em Vilar de Mouros, disse tratar-se de "uma demagogia estúpida que não deu resultados para quem a propôs".
CDS enigmático
O CDS retirou 140 votos ao PSD e continua a ser um enigma a aparição desta lista para a Câmara Municipal, cujo mandatário protagonizou um dos casos mais mediáticos da campanha caminhense.
Extra programa, os cartazes e panfletos anónimos espalhados pelo concelho não surtiram o efeito desejado, acabando mesmo por beneficiar os visados.
Novos órgãos autárquicos a 21 de Outubro. 11h. Cine Teatro dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora.