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A três meses das eleições autárquicas

Júlia Paula em entrevista ao C@2000

"As vitórias não se marcam por antecedência"

"Eu sei que as pessoas estão de alma e coração comigo"

Júlia Paula vai tentar reconquistar a Câmara de Caminha para o PSD nas eleições autárquicas do próximo dia 1 de Outubro.

Após a entrevista realizada a Miguel Alves, candidato socialista, em Setembro do ano passado, endereçamos idêntico convite ao PSD, o que se concretizou agora.

P: O que sentiu quando constatou que o C@2000 tinha avançado com o seu nome como cabeça de lista do PSD às próximas eleições autárquicas, dado que ainda não estava oficializada a candidatura?

R: Não senti, nem deixei de sentir. Achei perfeitamente natural que os meios de comunicação antecipassem essa possibilidade, tal como outras. Não estranhei portanto esse facto, até porque estava como deputada municipal e continuava inserida na vida política activa.

"Foi uma decisão muito pensada, muito consciente e ponderada"

P: Demorou bastante tempo a dar esse passo, embora o C@2000 sempre acreditasse que iria ser candidata, nomeadamente após o sucedido na tomada de posse dos órgãos autárquicos em Outubro de 2013, no Cineteatro Valadares. Mas porque hesitou tanto?

R: Penso que se refere ao facto de os candidatos do PSD terem sido vaiados.

De facto foi um episódio triste que não dignifica a democracia, porque as pessoas são eleitas e estão legitimadas pelos votos das pessoas, mas não confirmo isso que acaba de dizer.

Foi uma decisão muito pensada, muito consciente e ponderada, porque é um desafio muito grande e não deve ser uma decisão leviana ou tomada por impulsos ou pela forma como fui tratada. A Júlia Paula como pessoa não está aqui em causa. Antes pelo contrário, pelo facto de ter sido vaiada, até poderia levar a que não quisesse voltar a passar por este tipo de situações. Por isso, foi um acto de coragem da minha parte. Do ponto de vista político, foi objecto de muita reflexão e consciência de que tenho capacidade, competência e experiência suficientes para fazer um bom desempenho, tal como fiz nos três mandatos em que fui presidente de Câmara.

Unanimidade versus debate interno

P: A Comissão Política Concelhia do PSD emitiu um comunicado em que frisava que este órgão tinha escolhido por unanimidade o seu nome para liderar a candidatura à Câmara Municipal. Contudo, o C@ tem conhecimento que nem todos estavam de acordo com essa decisão. Foi assim?

R: Em primeiro lugar, agradeço que a Comissão Política tivesse votado por unanimidade o meu nome e é isso que pesa em termos de comentários. Foi essa declaração de voto unânime. Esse são os factos. Tudo o resto pode ser objecto de especulação, mas reafirmo, a principal razão para ser candidata foi a atitude de reflexão que fiz… P: …mas houve debate interno?

R: Não faço ideia, pois como sabe, não pertenço à Comissão Política…

P: …mas é militante. Não houve debate?

R: Poderá ter havido debate interno, mas que eu tenha conhecimento, ou que tenha testemunhado ou estado presente, nunca aconteceu.

P: Mas foi convidada pelo PSD a ser candidata.

R: Sim, claro que fui. Mas o que eu senti da parte do PSD e de muitas pessoas anónimas, foi o apoio popular à minha pessoa e isso é que foi decisivo.

"Isto não é um teatro"

P: Em 2001, a sua estratégia residiu numa campanha de "dentro para fora", do interior do concelho para o litoral, conversando com as pessoas, participando em actos religiosos, festas, actos públicos, mas nem tanto nos oficiais. Creio que este ano, continua a privilegiar essas abordagens pessoais, mas em todo o concelho, em, simultâneo. Concorda?

R: Essa leitura é um pouco subjectiva, nomeadamente quando se refere aos actos religiosos, porque alguns dos governantes políticos locais, das interpretações que fazem é de que o Estado é laico e os actos religiosos são só uma parte da nossa sociedade. Mas transversalmente aos partidos que estão no poder ou já estiveram no poder, eu vejo-os a participar em tudo o que são religiões ou actos religiosos. A própria Câmara e o poder actual dão esse exemplo, estando presente em todos os actos religiosos.

Quanto aos contactos pessoais, o que eu posso dizer é que a proximidade com as pessoas é fundamental, seja ela na área que for. Os palcos são diversos, mas eu não estou preocupada com eles - mesmo quando fui presidente de Câmara -, nem com as fotografias, porque as pessoas não pautam as suas prioridades em termos políticos e no exercício dos cargos que ocupam, com palcos. Isto não é um teatro.

P: Mas quem não aparece, esquece…

R: ...isto não é uma passerelle, ou desfile trajes. É uma coisa muio séria. Estamos a falar da vida e dos problemas das pessoas. Os autarcas são eleitos para resolver os problemas das pessoas.

Eu preocupei-me mais em fazer coisas do que em comunicar coisas. Esta é a minha forma de fazer política. Junto das pessoas, no terreno, fazendo coisas, embora não diga que não tenha cometido erros nesses doze anos, mas temos que ter humildade para reconhecer que os cometemos e aprender com eles e corrigir trajectórias. E assim vou pautar a minha vida política.

"As vitórias não se marcam por antecedência"

P: Tem estabelecido, portanto, muitos contactos?

R: É lógico que a vida política passa por esses contactos.

P: E tem tido receptividade?

R: Estou a dizer-lhe que uma das coisas que mais influiu na minha decisão foi a interpelação constante das pessoas, dizendo que achavam ser importante que eu voltasse.

Estou muito tranquila. É este o adjectivo mais adequado para esta candidatura.

P: Mas a tranquilidade, às vezes, não dá vitórias…

R: As vitórias não se marcam por antecedência. As vitórias são o trabalho. E esse trabalho, vou fazê-lo. Mas isso não significa que não esteja tranquila. E sabe porquê? Porque eu sei que as pessoas me conhecem muito bem e ao meu trabalho e daquilo que sou capaz. E isto está subjacente no slogan da minha candidatura: eu estou de alma e coração com as pessoas e eu sei que pessoas estão de alma e coração comigo.

P: Apesar de dizer que as pessoas a incitaram a candidatar-se, há quem diga que o seu tempo político já passou.

R: Isso faz parte das regras da democracia. Não podemos agradar a todos. O que eu tenho é de sentir se esses apoios são isolados, casuais ou pontuais. E eu sinto precisamente o contrário. É um crescendo.

P: Também se fala de que se não vencer as eleições, terá desde logo garantido um lugar como candidata do PSD à Assembleia da República ou ao Parlamento Europeu. É verdade?

R: Digo-lhe desde já que não é verdade, apesar de o convite poder ser honroso. Mas se fosse verdade, isso seria um garante da minha qualidade, da minha mais-valia e de possuir um perfil adequado, caso contrário não me fariam esse convite. Mas de especulações, não estamos (todos) livres.

P: Na sua apresentação pública, não avançou com mais qualquer nome de candidatos. Há quem diga que se tem deparado com dificuldades para formar listas.

R: Já disse tudo na sua pergunta: - na apresentação da sua candidatura. Aquela foi a apresentação da minha candidatura, dizendo quais as minhas motivações e objectivos. A agenda política, somos nós que a definimos.

As equipas para a Câmara, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia serão apresentadas a seu tempo. E, presentemente, apenas se sabe quem se candidata à presidência da Câmara por parte do PSD e PS.

P: Não pode adiantar algum nome mais?

R: Não tem a ver com o poder, mas sim com uma estratégia que tem os timings definidos que são para manter. A seu tempo darei tempo dessas equipas e do manifesto eleitoral.

P: A actual presidente da Comissão Política Concelhia (Liliana Silva), o seu antigo vereador Paulo Pereira, serão uma possibilidade?

R: Não vale a pena adiantar qualquer nome, porque a equipa será anunciada a seu tempo. Embora esses nomes que referiu me mereçam o maior carinho e sejam pessoas absolutamente competentes. Mas, insisto, não é a altura de anunciar.

P: Não contará com uma pessoa com características técnicas para a acompanhar no domínio das obras, como sucedeu em mandatos seus com a inclusão de Bento Chão ou Mário Patrício?

R: Nós temos muitos técnicos competentes na Câmara. Eu própria tenho uma experiência de 12 anos e já tive o pelouro das obras durante quase dois anos. Portanto, pode vir a ser escolhida uma pessoa com essas características ou não.

P: Nos últimos anos, os executivos viram sair dos seus cargos dois vereadores em dois dos seus mandatos, e no actual, abandonaram o Executivo outros dois. Isto é sina do Concelho de Caminha? Ou há uma razão para tal?

R: A questão dos vereadores do PS não é a mim que me deve colocar a questão…

P:…mas peço-lhe um comentário.

R: Os dois vereadores do PS voltaram para o lugar de origem e a análise que faço disso é que não acreditaram nesse projecto e nessa estratégia - se é que ela existia -, porque se acreditassem lutariam por ela, permaneceriam e recandidatar-se-iam. Seria essa a lógica normal.

No caso dos meus vereadores, na altura, tomei decisões e relembro que depois dessas decisões, fui a votos e saí reforçada dessas eleições…

P: ...isso quer dizer que o PS vai sair reforçado das próximas eleições?

R: Não, porque os motivos foram completamente diferentes. No meu caso, saiu um vereador no primeiro mandato, e outro no segundo e isso não teve quaisquer reflexos. No caso actual é diferente e ainda nem sabemos qual a equipa que o actual candidato vai levar com ele. Apenas sabemos que dois terão de ser substituídos. O que não é muito lógico que dois vereadores saiam num primeiro mandato, levando-me a crer que ambos não credibilizaram o projecto para prosseguir. E isso é que é preocupante, estando em crer que terá consequências políticas.

"Calma"

P: Isto leva-me a questioná-la sobre as suas alusões - pelo menos duas - na Assembleia Municipal (AM), à saída da vereadora Ana S. João, bem como a uma intervenção de um familiar de um ex-vereador socialista nesse órgão autárquico sobre o novo PDM. Deu a sensação de que estava a tentar cativá-los para o seu lado. Já quanto ao vereador Rui Teixeira, muito criticado pelo PSD enquanto titular de diversos pelouros, nomeadamente das Finanças e Desporto, passou a ser elogiado após ter abandonado o cargo….

R: Creio que não esteve atento aquando da minha apresentação. Eu disse que os meus inimigos são os problemas do concelho de Caminha. Não tenho como inimigos pessoas…

P: …não falei em inimizades…

R…calma. A minha candidatura visa resolver os problemas do concelho de Caminha. Não tenho inimigos nos partidos a ou b. Ana S. João e Rui Teixeira pertenciam ao actual Executivo. A sua saída tem que ter uma interpretação política e a AM é o local próprio para o fazer. Eu não tenho que captar ninguém para o meu lado. O senhor presidente da Câmara é que tem um problema para resolver por uma vereadora se ter ido embora, porque não estava satisfeita, nem com o desenvolvimento das coisas, nem com o projecto que ela inicialmente abraçou. O PSD fará as leituras que qualquer pessoa fará e que são óbvias: a senhora vereadora não teve eventualmente o apoio suficiente nas áreas que ela abraçava, para desenvolver os projectos e os programas que faziam parte da sua candidatura. E isso é que é preocupante. Eu não estou preocupada com os votos - embora eles sejam importantes -, o que é mais importante para mim é falar com verdade e chegar às pessoas desta forma e mostrando que na área social - e nas outras -, temos um projecto para Caminha, contando com todas as pessoas, independentemente do partido a que pertençam mas que se reconheçam nesse projecto…

P:…já contactou a ex-vereadora Ana S. João?

R: Não tem que me contactar, nem eu a ela. Nem teríamos que o fazer. E se o fizéssemos ou fizermos, ela é uma cidadã que trabalha no concelho de Caminha, trabalha numa instituição e eu vou ouvir todas as instituições, nomeadamente a dela, e isso não deve constituir estranheza para ninguém.

E para que não percamos o fio à meada, em relação ao munícipe que interveio na AM (sobre o PDM), eu perguntei ao senhor presidente da Câmara se se tinha esquecido de lhe responder, ao que ele foi claro em dizer que não iria responder. Mas também é verdade que até ali, o senhor presidente sempre respondeu ao público. Não teria que o fazer, mas respondeu sempre. Há claramente uma mudança de atitude. Não se trata apenas do senhor Fernando Miranda, mas também de outro munícipe a quem não respondeu.

"Eu só sei aquilo que você escreve"

P: Aquando da sua apresentação pública em que participou Marques Mendes, este político ficou colocado entre duas pessoas que têm problemas com a justiça. Não comentou com ele esta situação, atendendo a que Marques Mendes se insurgira contra candidatos autárquicos com problemas judiciais?

R: Vai-me desculpar, mas eu não tenho quaisquer problemas judiciais. Do processo inicial, tudo foi arquivado e do facto que ficou, eu fui absolvida embora haja um recurso pendente. E vou ser coerente com o que fiz desde o princípio. Não faço declarações, nem comentários enquanto houver situações pendentes.

P: Mas há mais investigações em curso…

R: Vamos esperar que as instituições funcionem e ainda bem que funcionam para bem da transparência e para o apuramento da verdade não só para mim, como para todos os outros. E a seu tempo tomaremos uma posição.

O facto de estar pendente um recurso não pesou para a minha decisão porque eu estou de consciência tranquila…

P: …comentou esta situação com Marques Mendes?

R: Eu não posso dizer o que vai na cabeça de Marques Mendes. Ele conhece-me muito bem a sabe com certeza o estado dos processos porque eles são públicos, portanto, penso que está com a mesma tranquilidade que eu.

Eu sei muito bem o que fiz, não sou culpada rigorosamente de nada. E se me diz que há outro processo, haverá - se calhar sabe mais desse processo do que eu -, mas eu só sei aquilo que você escreve.

E também sei que o actual presidente da Câmara vai ter processos e que alguns já estarão em investigação. O que vai dar, não sei. Isto é inerente ao exercício do cargo público, porque estas pessoas estão muito mais expostas e correm esses riscos. Tudo depende da forma como estamos perante essas coisas.

Repito, estou perfeitamente tranquila e admito que o actual presidente da Câmara também esteja.

No meu caso, só lamento que em relação às denúncias anónimas, eu não possa defender-me perante essas pessoas, porque na maioria dos casos são usadas para fazer política e prejudicar a imagem dos políticos.

P: Mas a própria Procuradoria-Geral da República admite no seu site a possibilidade de serem feitas denúncias anónimas…

R: Eu não questiono isso, mas até acho muito bem em nome da transparência, que se existem dúvidas, elas se investiguem.

"O concelho não só estagnou, como piorou"

P: Em Assembleia Municipal, o deputado Rui Taxa acusou de aventureirismo o presidente de Câmara. Revê-se nessa palavra?

R: Era mais razoável que fizesse essa pergunta ao Rui Taxa. Mas a procura da aventura radical, num sentido de adrenalina, do desconhecido, esse aspecto até é positivo e motivador. Acho que esse adjectivo foi mais usado noutro sentido. A minha interpretação sobre o actual presidente, foi a de que a sua candidatura não trouxe nada de novo, não fez desenvolver o concelho. Pelo contrário, o concelho não só estagnou, como piorou e isso não pode ser branqueado e é visível aos olhos de toda a gente. O seu discurso não tem rigorosamente nada a ver com a realidade do concelho. Ele candidatou-se com duas ou três ideias mais marcantes: mais diálogo, mais emprego, mais e melhor para Caminha. Acredito que as pessoas viram nessa candidatura uma esperança e uma estratégia para o concelho de Caminha, uma mudança de paradigma, ao contrário dos meus mandatos que foram muito marcados por obra - ao nível da requalificação e da criação de infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do concelho -, aproveitando os fundos estruturais e comunitários.

Com esta vereação, foi exactamente o contrário. O concelho não só não se desenvolveu, como estagnou e regrediu…

P:…mas há dados estatísticos proporcionados por entidades exteriores à Câmara que contrariam um bocado essa ideia…

R: …os dados estatísticos têm a leitura que nós lhes quisermos dar. E a verdade é que esses dados estatísticos não alimentam nem dão de comer às pessoas. Dou como exemplo a anunciada baixa de desemprego no concelho. Não é verdade. O que havia era pessoas no fundo de desemprego, de média e longa duração (três, quatro anos), que, pelo facto de não poderem mais usufruir desse fundo, foram saindo do sistema.

A verdade é que nós olhamos para as nossas esplanadas e ruas das duas vilas, e o que vemos é um deserto completo. Zero em criação de postos de trabalho. O turismo é fruto de um crescendo a nível nacional que se espalha e também chega cá, mas que não fica. Não há um aproveitamento do turismo para todo o ano. Só temos turismo três meses no ano.

P: E no seu tempo havia turismo durante todo o ano?

R: Nós tentámos promove-lo. E temos uma ideia para o turismo. Procuramos desenvolver eventos de qualidade e de marca para todo o ano. E alguns deles são desenvolvidos pelo actual presidente, só que com menos qualidade e têm vindo a perder essa mais-valia. Dou como exemplo o Caminhadoce. E é necessário promover os privados para que criem riqueza no concelho e promovam o turismo. Não há uma estratégia para o concelho.

Veja que estamos no fim do mês de Junho, e ontem, pelas oito e meia da noite, ao descer a Rua da Corredoura, vi um Terreiro completamente vazio. Até compreendo que isto se passe no inverno. Agora no Verão?! Com a vila e o Terreiro completamente sujos. Isto não é promoção do turismo. Há muito coisa que se pode fazer em parceria com os nossos empresários e comerciantes e que se sentem completamente abandonados. Isto está muito pior do que quando estava a exercer funções.

Nós estávamos numa dinâmica de continuidade. Miguel Alves é que propôs a mudança. E essa lógica de ter uma ideia para Caminha foi zero.

P: Dá sensação de que sempre que Miguel Alves aparece na rua e a senhora candidata se encontra próximo, se afasta. Esta interpretação é correcta?

R: É uma interpretação pessoal. Nesta entrevista, já por diversas vezes me dirigi ao dr. Miguel Alves, como presidente da Câmara. Ele foi legitimado com uma vitória e eu dou uma grande importância às decisões populares. Ele é presidente da Câmara Municipal de Caminha e não tenho qualquer problema com isso, tal como eu já fui sufragada e tive três vitórias.

Isso que me está a dizer até é um elogio para mim, que sou uma pessoa humilde e sei muito bem qual o meu lugar e o meu espaço.

"Eu quero é vencer no concelho de Caminha"

P: Vila Praia de Âncora será o grande centro de batalha eleitoral nas próximas Autárquicas, porque ambos os partidos querem vencer aí?

R: Deus nos livre! Então Vila Praia de Âncora é tão bonita e vai agora ser centro de batalha e sujar aquilo tudo?! Eu quero é vencer no concelho de Caminha.

P: Mas Vila Praia de Âncora tem características particulares. É a maior freguesia, tem sido um baluarte do PSD nos últimos anos - embora no passado tivesse sido socialista. E acha que o presidente da Junta tem sido utilizado pelo PSD como uma arma de arremesso contra a Câmara Municipal? Nunca se viu no passado um presidente tão crítico em relação ao Executivo municipal.

R: Eu posso não estar de acordo consigo sobre muitas coisas, mas acho que o senhor é uma das pessoas que mais sabe sobre a história do concelho de Caminha e sobre as posturas de todos. Sei que pessoalmente pode não gostar muito de mim, ou não estar de a cordo com as minhas ideias, mas não é disso que se trata agora. A minha atitude e a minha presença aqui é neste registo. Temos que nos respeitar e como eu vou ganhar a Câmara de Caminha teremos de trabalhar mais quatro anos juntos…

P: ...mas não sabe o que vai suceder ao C@2000 dentro de um ano…

R: …Pronto. Mas isso é uma coisa que lhe diz respeito a si…

P: ..nem sabemos se vai ganhar…

R: …claro que não sabemos, nem sabemos se o dr. Miguel Alves vai ganhar, e como isto não depende de nós…

P: …e não falamos da CDU…

R: …sobre a CDU também poderemos falar. Mas voltando um pouco atrás, seria bom recordar como é que Vila Praia de Âncora foi tratada e o que era Vila Praia de Âncora antes de eu ser presidente de Câmara. Vila Praia de Âncora foi desprezada anos e anos a fio. Não houve nenhum tipo de investimento em Vila Praia de Âncora e tinha um atraso em relação ao resto do concelho que era indigno e incompatível com um mínimo de gestão autárquica que fosse coerente, democrático e correcto, de tal que forma que havia um movimento para a elevação da vila a concelho.

"Vila Praia de Âncora é uma mais-valia para o concelho"

Isto é sintomático. Vila Praia de Âncora esteve votada ao abandono e desprezada. E o que eu fiz, foi valorizar uma jóia no meio do concelho, porque nem todos os municípios se podem vangloriar de ter uma marginal como a de Vila Praia de Âncora e com toda a potenciação que pode trazer para o próprio município se estiver arranjada.

E como eu tenho Caminha como um todo, tenho de pautar a minha gestão em relação a Vila Praia de Âncora como uma mais-valia para o concelho.

Além de ter encontrado uma dicotomia neste concelho que possui duas corporações de bombeiros, dois quartéis da GNR etc., que obriga a um esforço redobrado. E o investimento no Parque Ramos Pereira, foi igual ao que fizemos no de Caminha, tal como requalificamos a Praça da República e o núcleo urbano e as muralhas de Caminha, e construímos o passadiço na foz…

P: ..e que se encontra totalmente degradado…

R: Sim, tal como o parque municipal por não ser haver conservação…

P: … a Câmara actual fala de utilização de materiais fracos…

R: …então imagine o que eu teria de dizer do concelho de Caminha quando cá cheguei. Se eu pautasse a minha gestão por aquilo que herdei no passado, não teria feito nada.

Porque eu herdei 20 anos de vazio.

P: ...mas outras freguesias como Seixas, Lanhelas ou Vilar de Mouros, por exemplo, foram preteridas no seu tempo…

"E se tivesse feito tudo, o que é que os outros poderiam fazer?"

R: ...Sabe quantos quilómetros de rede de água e saneamento fiz em Seixas? E que fica enterrado. Não se vê. Acha que a estrada de Marinhas e da Cavada não são investimento em Vilar de Mouros? Ou a requalificação do Centro Escolar de Dem? E o que é que foi feito antes em Vilar de Mouros? E os investimentos realizados foram de acordo com as verbas dos quadros comunitários existentes e às quais poderia candidatar-me, sendo natural que os investimentos tivessem tido lugar nos sítios onde essas candidaturas tinham mais probabilidades de ser aprovadas

E se tivesse feito tudo, o que é que os outros poderiam fazer? Mas fiz muito e as pessoas estão aí e vêem.

P: Mas as Câmaras anteriores também realizaram obras…

R: ..sim, mas eu requalifiquei algumas dessas obras, como os pavilhões municipais, requalificações que não foram feitas em muitos domínios nestes últimos quatro anos.

"Quando a falta de jeito é muita, tudo estorva"

P: O Executivo actual disse desde início que não tinha dinheiro para investimento, assacando culpas à sua gestão financeira.

R: Mas eu deixei-lhes dinheiro e isso está expresso na auditoria feita pelo senhor presidente de Câmara. E fazer obra durante doze anos e deixar dinheiro, não é para todos. O que não tem mérito é gastar esse dinheiro todo e não se perceber em quê. E as únicas obras que estão em curso não são da Câmara Municipal de Caminha, mas da Polis, um investimento do Governo através do Eixo 1 e acontecem nesta altura por razões eleitoralistas. Não fez nada durante três anos e deitou culpas para os outros. Limpar as ruas, por exemplo, nada tem a ver com uma lógica de investimentos, tem a ver com brio e vontade.

P: No entanto, o actual Executivo não teve qualquer problema em aproveitar projectos do seu último mandato e requalificou o convento de S. João d'Arga e construiu a Biblioteca Municipal.

R: Com projectos meus. Mas não se pode desculpar de que não tinha dinheiro e depois não se faz. Ele tinha de saber. E eu não nunca me refugiei no argumento de que não tinha dinheiro para não fazer. Se não, não me tinha candidatado. E o actual presidente, como candidato há quatro anos, tinha pleno conhecimento de todas essas questões. Não é, primeiro ganha-se, e depois não se faz. Há um ditado popular que diz que quando a falta de jeito é muita, tudo estorva.

"Rali de Portugal foi uma opção política"

P: Porque é que projectos e iniciativas lançadas pelo actual Executivo mereceram reticências ou críticas do PSD? Refiro-me ao Rali de Portugal, ao Entre-Margens, Serralves, o Provedor do Munícipe, o Orçamento Participativo ou reuniões camarárias descentralizadas?

R: Não é essa a leitura que faço. Por exemplo: Alguma vez o Rali de Portugal veio para o norte que não passasse por Caminha?

P: Pergunto-lhe. Se estivesse na Câmara teria aceitado essa hipótese?

R: Durante muitos anos, por falta de apoios, o Rali foi para sul. O PSD não critica o facto de o Rali vir para Caminha, mas o investimento feito. É uma opção política. O PSD está é contra o presidente da Câmara dizer que não tem dinheiro para umas coisas que consideramos essenciais, como a resposta às associações e instituições, e ter para outras.

P:…e o Rali não é importante em termos de promoção da região?

R: Se o presidente da Câmara considera que é importante e como tem legitimidade para o fazer porque foi eleito, nós até aceitamos isso. Agora não pode é dizer que não tem dinheiro para fazer o resto. E é a mesma lógica com Serralves.

Tem alguma lógica andarmos a promover acções solidárias de angariação de fundos para as nossas instituições e associações e dispor de 100.000€ para uma instituição que, aliás, nos merece todo o carinho e respeito, quando existem necessidades no concelho de Caminha?!

P: Quer dizer que seria contra o Rali, se fosse presidente da Câmara?

R: O que eu não diria era que não faria a recuperação do passadiço porque não tinha dinheiro. Porque não era verdade. O que eu digo é que este presidente e este Executivo têm uma lógica de comunicação e não de trabalho e, estou a demonstrar o falhanço dessa lógica de comunicação.

P: Portanto, na sua lógica, o Rali não é essencial.

R: O Sr. Presidente tem o direito de dizer que o Rali é importante. Eu, quando chegar lá e verificar a realidade financeira de Caminha, poderei apoiar. O que eu nunca vou dizer às pessoas do meu concelho é que não tenho dinheiro para lhes dar e ter de andar a promover angariações de fundos, quase a pedir esmolas, e, depois, dizer que temos dinheiro para o Rali. Agora têm que ser os munícipes a tirar essa leitura. Olhe, o Rali poderia constar das propostas do Orçamento Participativo.

P: Ultrapassa os 65.000€ estabelecidos para cada proposta.

R: Então se não pode ultrapassar os 65.000€, para que incluíram a obra do Cais da Rua ou a do Mercado Municipal? (*)

"Eu sou muito desconfiada das participações que não dêem em nada"

P: Acha que a participação das pessoas é importante? Como é caso do Orçamento Participativo?

R: Eu sou muito desconfiada das participações que não dêem em nada. De tudo o que eu vi nestas participações, o resultado foi zero. Dê-me um exemplo.

P: O Dólmen da Barrosa, por exemplo.

R: Iluminação? Os muros que ficaram a meio? A retirada da pista de skate?

Mas voltando ao Rali, de que serve promover o concelho que tem uma paisagem tão bela, se quando as pessoas vêm cá, encontram áreas degradadas, sem o mínimo de conservação como é o caso do passadiço.

P: Mas há as outras ecovias…e o passadiço em madeira à beira do rio e do mar…

R: …mas sabe que esse projecto vinha do passado, do Executivo anterior, e que eu não quis desperdiçar. Eu não tenho problemas em assumir o que veio do passado, ao contrário do actual presidente.

É o caso do Entre-Margens.

P: Mas o PSD criticou-o…

R: …quem começou mal esse evento foi a Câmara que não o promoveu, e desde logo tentou misturar o Entre-Margens com a Feira Medieval (**), e as pessoas nem percebiam o que era um e outro.

Nós não estamos contra o evento. Achamos que é interessante e com pernas para andar, mas a forma como está a ser tratado e feito não é uma mais-valia até agora. Poderá vir a sê-lo.

Tem sido tentado passar a mensagem de que estamos contra, mas não é verdadeira.

"Há uma mistura. Um ruído"

P: Não acha que há mais eventos nos dias de hoje? Não me refiro agora à qualidade mas à quantidade.

R: Às vezes a quantidade não é sinónimo de qualidade. Pelo contrário, é sinónimo de prejuízo, porque a forma como as coisas estão a ser tratadas, prejudicam em muito o nosso comércio local, porque são sucessivos os cortes de trânsito, nem o nosso centro histórico (Caminha) é bem tratado, e até conseguimos correr com as pessoas do Terreiro. Recordo que ainda há bem pouco tempo havia música tradicional num lado, e decorria música do sunset noutro. Isto não é compatível. Há uma mistura, um ruído.

Somos mais apologistas de eventos com qualidade, que tragam mais-valia para o concelho, e estruturados durante todo o ano para que atraiam gente ao longo dos doze meses. Não podemos estabelecer concorrentes de outros eventos, quando é a própria Câmara que os promove.

"Não acho que a paragem do Festival tivesse sido prejudicial"

P: Referiu recentemente que "nós também fizemos o Festival de Vilar de Mouros". Mas foi no seu mandato que ele acabou.

R: Nós apoiamos o Festival. Mas quando terminou o protocolo existente entre a Junta e os organizadores, propusemos que o acordo fosse tripartido. Isso tinha todo o sentido, porque era uma garantia de que a Câmara estava a apoiar e envolvida, chegando-se à conclusão que sem o apoio da Câmara seria impossível realizá-lo.

P: Mas sempre houve ajuda da Câmara, sem que tivessem existido esses problemas…

R…Vamos lá ver. Estamos a falar de dinheiros públicos e não vejo qual era o problema desse protocolo ser feito com a Câmara. Nem a Junta perguntou à Câmara qual seria a empresa organizadora dos eventos seguintes. Foi uma decisão unilateral da Junta escolher a Portoeventos.

A partir daí, a Câmara comprometeu-se a dar o mesmo apoio logístico, mas o que aconteceu é que o Festival perdeu qualidade, os grupos que vieram não tiveram qualidade e a Portoeventos não esteve à altura de angariar os patrocinadores que dão sustentabilidade ao Festival. E foi por isso que acabou.

P: Na última edição, estava o evento para começar e ainda não tinha sido ligada a água, nem emitidas as licenças camarárias…

R: …mas isso foi uma falha da organização, porque é que pergunta isso à Câmara?

P: A organização é que acusou a Câmara…

R: …se o futuro do Festival se resolve a perguntar quem é que liga a água ou não, em último recurso, também lhe posso dizer que não sou canalizadora e não ligo a água. E quanto às licenças, também posso dizer que não era uma área da minha responsabilidade.

P: E tentaram recuperar o Festival por intermédio da AMA (Associação dos Amigos dos Autistas), a mês e meio das eleições.

R:…E o senhor presidente poderia ter optado por outra forma de organizar o Festival após ter sido eleito. E se quis manter o processo existente foi porque viu alguma mais-valia. Nalguns casos, o senhor presidente da Câmara não faz porque está agarrado ao passado. Neste caso, em que poderia ter dado o exemplo e fazer o que quisesse…

P:: …talvez não pudesse.

R:…Nós o que queremos é que o Festival de Vilar de Mouros tenha o melhor sucesso, para o bem de Caminha.

P:…Não foi o presidente distrital do PSD que trouxe a AMA para organizar o Festival?

R: Não. Isso é absolutamente falso. Quem a trouxe foi a presidenta da Junta de Freguesia, após ter contactado com ela. Mas isso também não importa. É passado. O que eu quero dizer é que o Festival de Vilar de Mouros tem de ter qualidade.

P: Porque é que não foi ao Festival no ano passado?

R: Porque não estava cá. E este ano, se eu puder, lá estarei. Eu agora sou candidata e a minha agenda política é diferente. E fico contente por acharem que a minha ausência no Festival do ano passado foi importante para o seu sucesso.

Mas a verdade é que o PSD nunca esteve contra o Festival de Vilar de Mouros. O que o PSD está contra é tudo aquilo que prejudica a marca de Vilar de Mouros. E o que aconteceu nestes dois primeiros anos deste mandato, não dignifica o Festival.

P: Mas foi a senhora que trouxe a AMA (organizadora dos dois primeiros festivais deste mandato)…

R: …Vamos lá ver. Eu não trouxe a AMA. E o senhor presidente era livre de não o fazer. E quem lhe garante que a nossa gestão com a AMA seria a mesma que o senhor presidente fez com ela? Quem lhe garante que não seria de outra forma? É incomparável. Só podemos falar de realidades que existiram. E o passado demonstra que o Partido Socialista esteve muito tempo sem fazer o Festival e não o prejudicou por isso.

P: Mas o problema não esteve nesse hiato. Mas na forma como ele foi interrompido em 2007. Em conflito entre a Câmara, a Junta e Portoeventos.

R: De que forma é que a Câmara podia ser responsabilizada por um problema de relacionamento entre a Junta de Freguesia e o organizador? A Câmara até aprovou um subsídio de 40.000€ para resolver o problema do protocolo que a Junta de Freguesia possuía. Até fomos muito solidários com a Junta de Freguesia, para salvar a marca do Festival de Vilar de Mouros: Agora, não acho que a paragem do Festival tivesse sido prejudicial. O passado demonstra-o.

Não branqueiem a nossa participação no Festival e o sucesso que teve quando fomos Executivo. Isso é que não. E comigo como presidente de Câmara, o Festival voltará sempre que resulte num investimento importantíssimo na dinâmica e na promoção do concelho de Caminha.

"As pessoas conhecem-me muito bem"

P: A sua candidatura tem como lema com alma e coração. Mas há quem o interprete de outra forma: vai-se vingar de certas pessoas, entidades, associações e autarquias.

R: Eu comecei esta entrevista a dizer que os meus únicos inimigos são os problemas do concelho de Caminha. E não preciso de convencer porque as pessoas conhecem-me muito bem, e sabem que não sou vingativa e que não me vou vingar de ninguém, nem é essa a minha forma de estar na vida. Isso seria uma atitude de desinteligência pura.

"Transformaram o concelho numa reserva natural"

P: Vai rever o PDM - acabado de ser aprovado - se for eleita. Já o disse. Mas não procedeu à sua revisão durante os seus mandatos, quando deveria ter sido revisto a partir de 2005. O PSD teceu muitas críticas relativamente às limitações de construção vertidas no novo documento. Mas a questão dos fogos florestais teve maior relevância com as tragédias do último fim-de-semana, sendo apontado pelo próprio Executivo como um exemplo das boas medidas, as que foram vertidas neste PDM, de modo a evitar situações idênticas.

R: Isso é um argumento ridículo, porque em áreas perfeitamente urbanas, com infra-estruturas, estradas, arruamentos e em alguns casos com saneamento e com aglomerados de casas já existentes, transformou-as em áreas florestais e zonas agrícolas na confluência do que já existia, Colmatar as áreas urbanas e permitir aí a construção, não pôe em perigo rigorosamente nada. Perigo é transformar toda a encosta de Santo Antão, sem arruamentos e infra-estruturas, numa zona urbana.

O problema é que houve pessoas que fizeram os investimentos das suas vidas e compraram terrenos em sítios de construção…

P: …e não construíram, conforme frisou o vereador responsável pelo PDM…

R: …e eu até agradeço que fale nesse argumento. Quem é o senhor vereador para dizer às pessoas que passaram uma vida a trabalhar para comprar um terreno e que não fizeram a casa porque não tinham podido, que tivessem construído. Isso é um atentado ao património das pessoas e ao património do concelho de Caminha.

Eu estive na presidência da Câmara 12 anos. Os PDM deveriam ser revistos ao fim de 10 anos. Não era obrigatório esse prazo. Mas nós iniciamos a revisão em 2005 e no decurso desse prazo, toda a legislação foi revogada para aqueles que iniciavam o processo de revisão a partir dessa data. São factos.

E eu prefiro ser acusada de ter demorado o processo de revisão, do que ser acusada de ter prejudicado o concelho de Caminha ou ter feito uma revisão em dois anos, de uma forma leviana que está a lesar e muito os interesses do concelho de Caminha, quando os planos directores municipais têm demorado cinco a seis anos a serem revistos.

O ordenamento do território tem de ser uma mais-valia para o futuro do concelho. Nos outros concelhos, a área de construção foi mantida, ao passo que em Caminha houve uma redução dessa área, e dos índices de construção por opção política deste Executivo, nomeadamente no interior. E isso é inadmissível e um atentado às expectativas criadas durante doze anos.

P: Se calhar nunca deveriam ter tido essas expectativas…

R: …em muitos casos há iluminação, infra-estruturas e casas ao lado. Reduziram deliberadamente a área e o índice de construção, transformando o nosso concelho numa reserva natural, num fundamentalismo sem sentido nenhum, sem que haja retorno dessa opção.

O concelho de Caminha fica prejudicado em relação aos demais, porque vive muito da segunda habitação e em que a promoção imobiliária e a construção civil são uma área importante da nossa actividade económica.

Além de estarmos a prejudicar a receita da Câmara, nomeadamente na arrecadação do IMI.

P: Mas não acha que é incentivada a construção nas áreas urbanas com este PDM?

R: Já existia. Repito: a minha prioridade será rever e reverter esta situação urgentemente, porque isto lesa os interesses não só do Município, como dos privados que perderam os seus bens e património devido a esta revisão absolutamente inqualificável.

Isto requer prudência e bom senso. Eu durmo muito mais descansada na minha almofada por ter demorado tanto tempo, do que não ter tomado decisões que prejudicassem as pessoas.

"Descansadíssima"

P: E também dorme descansada com a parceria feita para a construção das piscinas de Vila Praia de Âncora?

R: Descansadíssima. Faria a mesma coisa e explico porquê.

As piscinas foram uma promessa eleitoral de todos os executivos e candidatos, com parangonas nas revistas, projectos que não existiam e terrenos que ainda não estavam comprados.

Quando fomos eleitos, arranjamos forma de comprar os terrenos para fazermos as piscinas sem recurso a crédito, executamos o projecto e tentamos conseguir uma candidatura que o financiasse, tal como fizemos com todos os outros equipamentos. Recordo que todas as câmaras do distrito têm uma piscina municipal, graças a candidaturas.

Poderá ter sido coincidência, mas todos os executivos socialistas que apanhei, chumbaram as candidaturas que apresentei - pelo menos duas.

Só tínhamos dois caminhos: ou não fazíamos as piscinas e ficávamos com os terrenos, ou cumpríamos as promessas. A parceria (PPI) que foi escolhida é completamente diferente, porque ao fim de 23 anos, as piscinas passam para o património do município de Caminha. Nós não estamos a gastar dinheiro em filhos alheios. Ao contrário, por exemplo, do arrendamento do edifício do antigo hospital da Misericórdia, feito por um executivo socialista. E eu quero ver o que é que vai ser feito ao fim dos 20 anos?! Quando eu cheguei havia um projecto e uma candidatura aprovada para a recuperação e adaptação do edifício do antigo hospital para os serviços administrativos. Dei-lhe seguimento e não desperdicei esses fundos, porque os passos estavam dados, mas o que é facto é que o património não é nosso.

Das piscinas, estamos a pagar 56.000€/mês, e cerca de 30.000€ são para pagar a renda que comparticipou a construção. O resto é conservação e manutenção e ao fim de 23 anos volta para nós.

Isto tem uma lógica de investimento de longo e médio prazo. E sabe quanto é que o presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira pagou agora pela conservação das piscinas? Dois milhões de euros.

P: O pior é pagar…

R: …eu sempre paguei as piscinas e que eu saiba não houve nenhum terramoto no Município de Caminha. Eu respondo por esta opção política e com ela ganhei as eleições. E este senhor presidente, quando se candidatou, sabia que este problema existia. Ele é que teria de dar o salto qualitativo para estabilizá-las e dinamizar políticas que as rentabilizassem.

P: E a hipoteca dos terrenos do largo da feira, Hospital e Calouste Gulbenkian, em Caminha, para que essa obra fosse levada a cabo?

R: Essa deliberação foi aprovada no mesmo dia em que o foram as piscinas. Para que se possam fazer obras em que estão envolvidos privados, tem que ser dado direito de superfície, destinado a construir os parques de estacionamento em Caminha e as piscinas em Vila Praia de Âncora. O senhor presidente só tinha que cumprir sagradamente. E se não queria construir os parques de estacionamento, tinha que mudar essa circunstância e fazer a opção dele.

Esta nossa decisão é tão legítima como a revisão do PDM que esta Câmara fez.

Se o senhor presidente da Câmara quer arranjar desculpas para não construir o mercado, é um problema dele. Ele é que quis construir o mercado. E se não o constrói, é porque não tem dinheiro, porque não tem projecto e andou a engonhar.

P: Mas os terrenos estão hipotecados ou não?

R: Não estão. O direito de superfície é um direito para que o privado pudesse construir, tal como sucedeu com as piscinas. E no projecto da Polis - que obrigava a um investidor privado para a requalificação da marginal - estava previsto um parque de estacionamento.

P: Mas há que negociar com a empresa, se não quiserem construir os parques de estacionamento…

R: Foi para isso que foi eleito. Até já me disseram que está a negociar uma média superfície no Largo da Feira, existindo inclusivamente um projecto.

P: Essa pergunta já foi feita ao presidente da Junta de Freguesia de Caminha, em Assembleia de Freguesia, e ele disse desconhecer tal projecto.

"Diálogo existe como distracção"

R: Isso é também o reflexo da nota de diálogo que existe no concelho de Caminha: Ele prometeu diálogo, mas as coisas infra-estruturantes para o concelho de Caminha foram feitas sem diálogo. É o caso do Continente, em Vila Praia de Âncora, o PDM, ou encerramento da Ancorensis. Onde está o diálogo? O diálogo no concelho de Caminha não existe. Existe como distracção. E o diálogo não pode ser impeditivo de fazer coisas. :

"Eu falo, nunca deixei de falar e vou voltar a falar"

P: Porque volta a falar na ponte em Caminha, após doze anos no poder sem que a tivesse concretizado?

R: Eu falo, nunca deixei de falar e vou voltar a falar.

Mais do que falar na ponte, vou falar na ligação transfronteiriça.

Tenho muita pena que o actual presidente da Câmara não tenha essa ambição.

Eu estive dois anos com um Governo (Lisboa) PSD, no início do meu primeiro mandato, e, depois, praticamente com governos socialistas e só no fim do terceiro mandato é que voltei a ter um governo PSD.

Eu poderia dizer que não vi aprovadas duas candidaturas para as piscinas; que a Regency e a Mourassos fecharam porque após ter ido montes de vezes lá abaixo, o Governo foi autista e não perdoou a dívida da Mourassos à Segurança Social quando tinha contratos assumidos para imensos anos. Fui sempre tentando resolver os problemas e nunca me desculpei de que o partido não era da mesma cor política para não fazer coisas. Pelo contrário, o senhor presidente da Câmara é favorecido por um cenário político que ninguém teve nos últimos anos: uma Câmara socialista, um Governo socialista apoiado por uma maioria que permite uma paz social, é presidente da Federação Distrital, é amigo pessoal do primeiro-ministro. O senhor presidente tem todas as condições para conseguir apoios.

A ponte é fundamental para o próprio distrito. Mas passará sempre pela vontade política dos dois países que deverão tomar decisões nas Cimeiras Ibéricas.

O concelho de Caminha é o único que não a tem.

Tem gasto dinheiro nestes últimos anos com dragagens para o ferry, sem que o Município de A Guarda tivesse comparticipado, e tudo o que já se gastou em todos estes anos já tinha dado para fazer uma ponte que é essencial para o desenvolvimento do concelho.

O senhor presidente deveria canalizar toda a sua energia para aquilo que é essencial para o desenvolvimento do concelho e não tenho culpa que ele não tenha ambição política para Caminha.

"Eu falo numa ligação transfronteiriça"

P: Fala apenas na ponte. Mas não poderia haver outras opções?

R: Eu não fecho a porta a opções. Eu falo numa ligação transfronteiriça que poderá passar por uma ponte, se for viável. Aliás, a Valimar comparticipou o estudo da ponte.

A CIM foi a que mais valorizou uma ligação transfronteiriça em Caminha. Repare que todos os outros municípios se desenvolveram com a construção das pontes.

P: E haverá condições para que, hoje em dia, a Europa comparticipe este tipo de obras? Ou esse tempo já passou?

R: Esse tempo não passou, porque uma coisa é estarmos a discutir as candidaturas para este tipo de obras a nível local, outra coisa é falarmos de um investimento que tem de resultar de um entendimento dos dois governos.

E acho estranho que o senhor presidente não tente cobrar ao Município de La Guardia aquilo que lhe deve e que é um montante significativo - quando se lamenta da falta de dinheiro -, após ter referido que pretendia resolver o problema através do diálogo, para reconhecer em Assembleia Municipal que tinha de recorrer à via judicial, mas correndo agora o risco de parte da dívida já ter prescrito.

"Vejam bem!"

P: No dia das eleições de 2013, cantou-se a Grândola em Caminha, o que teve um certo significado político. Se ganhar, o que é que se vai cantar?

R: Eu não pauto as vitórias por canções.

Eu adoro cantar, até porque faz bem à alma.

Mas acho que essa pergunta é um desrespeito para com o eleitorado de Caminha.

P: Foi uma acção espontânea…

...não sei se foi espontaneamente. Respondo-lhe com aquilo que o professor Flamiano disse na minha apresentação. Acho que as pessoas do concelho de Caminha estão mesmo a precisar de ouvir uma canção do mesmo autor: "Vejam bem!".

É o conselho que dou ao eleitorado: vejam bem aquilo que aconteceu (ou não) no concelho de Caminha nos últimos quatro anos e vejam bem aquilo que vão fazer, porque pode ser decisivo para o futuro.

O senhor presidente não foi eleito para andar a rebuscar actas, nem processos antigos, para justificar porque é que não fez.

(*)A obra do Mercado Municipal de Caminha nunca esteve incluída no lote de propostas do Orçamento Participativo. Quanto ao Cais da Rua, constou no primeiro ano para a instalação de um guincho, e no segundo para a construção de uma rampa de acesso sul. Como a Câmara conseguiu posteriormente uma candidatura para a obra de todo o cais (iniciada esta semana), foi acordado com a Associação de Pescadores que as duas verbas seriam utilizadas na componente que o Município deveria comparticipar na empreitada de recuperação dessa infra-estrutura portuária.

(**)O Entre-Margens começou de facto no mês de Julho, tendo sido realizado imediatamente antes da Feira Medieval (1º ano) e do Festival de Cerveja Artesanal (2º ano), devido à falta de dinheiro, tendo sido aproveitadas as estruturas montadas para os dois eventos. A confusão criada foi corrigida nas duas edições seguintes, ao antecipar-se o Entre-Margens para o mês de Junho, o que permitiu também contratar artistas e grupos com mais facilidade, dado que as suas agendas se encontravam muito preenchidas nos meses de verão.


Edições C@2000
Do Coura se fez luz. Hidroeletricidade, iluminação pública e política no Alto Minho (1906-1960)"
Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000/Afrontamento
Apoiado pela Fundação EDP

Da Monarquia à República no Concelho de Caminha
Crónica Política (1906 - 1913)

Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


O Estado Novo e outros sonetos políticos satíricos do poeta caminhense Júlio Baptista (1882 - 1961)

Organização e estudo biográfico do autor por Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


Rota dos Lagares de Azeite do Rio Âncora

Autor: Joaquim Vasconcelos
Edição: C@2000


Memórias da Serra d'Arga
Autor: Domingos Cerejeira
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