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TRIBUNA
Espaço reservado à opinião do leitor


Caminha abriu um novo ciclo político

Apenas um pouco mais de metade dos portugueses eleitores participaram nas escolhas autárquicas de domingo passado. A outra metade não o fez pelas razões mais diversas. De entre esses, alguns dizem que assim os políticos perceberão o seu descontentamento. Que políticos? Que descontentamento? Em eleições locais, onde se podem construir tantas formas de participação cidadã? Onde todos somos políticos pelo que fazemos ou pelo que deixamos de fazer! Felizmente, o concelho de Caminha, apesar de tudo, registou uma participação eleitoral 12% acima da média nacional e o descontentamento foi expresso em votos que apearam uma maioria PSD que há doze anos punha e dispunha do município como se fosse coisa sua.

Caminha, uma das três principais mudanças que estas eleições trouxeram às câmaras municipais do distrito de Viana do Castelo. As outras duas são Vila Nova de Cerveira e Monção. Cerveira onde o novo executivo será liderado por Fernando Nogueira, alguém muito ligado à governação anterior, do Partido Socialista. Nogueira foi durante longos anos vice de José Manuel Carpinteira. No processo interno de escolha de candidatos foi preterido em circunstâncias que não aceitou e avançou para as eleições como independente com uma candidatura própria, abrangente. Obteve o apoio dos cerveirenses e liderará o próximo executivo. Em Monção, o vencedor, com apenas mais quatro votos que o candidato do PSD, foi Augusto Domingues do PS, até agora também vice-presidente de José Emílio Moreira. Nenhum partido fica em maioria no executivo monçanense. As decisões terão sempre que ser partilhadas entre pelo menos dois dos três partidos representados na câmara.

No concelho de Caminha a mudança que os votos expressaram é a mais clara de todas. O PSD perde após três mandatos de poder exercido em estilo jardinista. As marcas deixadas são profundas, com uma partidarização muito para além do razoável em todo o lado. Foram doze anos de democracia mínima e propaganda máxima. Culminaram com uma vaga final de protocolos e compromissos em nome do município que procuraram condicionar o futuro de Caminha de uma forma absurda.

O candidato do PS, Miguel Alves, venceu com a ideia chave de recuperar a pluralidade de opiniões para o debate do futuro concelhio e tornar a política municipal mais participada em todas as suas dimensões. Chegou a ser negociada uma coligação de todas as esquerdas, inviabilizada logo no início pelo PCP e mais tarde também pelos dirigentes nacionais do Bloco, contra a vontade unânime dos bloquistas de Caminha apoiados sempre nesse propósito por todo o distrito.

Esta mudança de poder em Caminha cria agora grandes e justas expectativas de uma nova vitalidade democrática que tenha reflexos efectivos na qualidade de vida dos caminhenses, potenciando desenvolvimento com uma orientação estratégica amplamente partilhada, respondendo às emergências sociais com programas eficazes e solidários, estimulando a actividade associativa, cultural e desportiva e tornando todos os aspectos da vida do município transparentes. Está aberto um novo ciclo. Há que encará-lo com boa-fé e ambição. Com muito sentido crítico também. E por aí se verá rapidamente, pelo menos, se o ganho de cultura democrática veio para valer.

Carlos da Torre


Jogadores-Vencedores Magnânimos

Qualquer jogo tem as suas regras, que envolvem local, tempo, recursos diversos, normas, prémios e punições, que devem ser, honesta e legalmente, observados, a fim de se chegar ao objetivo principal que é vencer, de resto, uma das principais finalidades do jogo.

O Jogo, no âmbito de uma competição amadora, profissional ou filantrópica, aqui também no sentido da solidariedade para com alguma pessoa, grupo ou situação, que carecem de auxílio material e psicológico, face a uma contrariedade, normalmente dramática, com origem natural e/ou provocada por outra pessoa, grupo ou país que, ilegal, injusta e desumanamente infligem em quem desejam dominar, também tem uma finalidade altruísta.

Importa, portanto, refletir sobre esta dimensão humana que é o jogo e, desde já, e como muito bem indica a sabedoria popular: "Ninguém gosta de perder, nem a feijões". Ser vencedor, em qualquer competição, tem sido sempre, quase sempre, o objetivo, e aqui até convém não esquecer que a própria vida é uma competição, que proporciona vitórias e derrotas, entusiasmo e desânimo, alegrias e tristezas, felicidade e infortúnio, nas diversas atividades que ela implica e nas oportunidades que nos proporciona.

Sendo o sucesso o objetivo fundamental de uma qualquer competição, compreende-se, dentro de certos limites legítimos e legais, que as pessoas intervenientes, mantenham uma certa reserva e sigilo relativamente às estratégias, métodos e recursos que tencionam utilizar, sem que os procedimentos, atitudes e comportamentos prejudiquem, em circunstância alguma, o respeito devido aos adversários, à honra, ao bom-nome e à dignidade.

No jogo da vida, não vale tudo, também aqui há regras, valores, sentimentos e emoções, próprios da sociedade civilizada que, afinal, é o palco, o espaço, o estádio onde se desenrolam os diversos desafios. Neste campo, todos os jogadores são muito mais do que uma camisola, com um número e uma publicidade qualquer. Neste jogo da vida, todos os intervenientes são pessoas humanas, com deveres e direitos, com caraterísticas singulares que têm de ser totalmente respeitadas, sob pena de regressão à mais violenta selvajaria, imposta pela lei do mais forte.

Jogar no palco da vida e para além de taticismos e habilidades diversas, o essencial é a magnanimidade dos jogadores, o respeito que uns devem aos outros, o espírito último de que o jogo da vida, em que estamos envolvidos, é o mais importante, único e irrepetível de cada interveniente e, ainda que, para além do resultado pessoal, o benefício, tanto quanto possível, deve ser extensível a todos os alegados "adversários", porque terminada a competição, todos, mas mesmo todos, terão o mesmo fim: com pompa e circunstância; ou no anonimato, ficando de uns e de outros as recordações, a memória coletiva e/ou das famílias e amigos, sobre os métodos (ações) que ao longo da competição utilizamos.

A vida é, portanto, um exigente campeonato, com diversos, muitos e diferentes jogos, que nem sempre conduzem aos resultados pelos quais lutamos. É uma competição onde existem em disputa várias "taças": saúde, família, educação formação, trabalho, economia, política, religião e lazer. Os diferentes campeonatos decorrem em diversas fases da vida, desde a infância à velhice, sendo certo que em todas as etapas existem regras, valores, sentimentos, emoções, objetivos que se devem observar, apoiar dentro da legalidade e da legitimidade, respeitar e acatar os "resultados finais".

E se a título, meramente ilustrativo, analisarmos o "campeonato político", nas suas diversas componentes: legislativa, presidencial, autárquica e europeia, verificamos que os jogadores são oriundos de quadrantes ideológicos diferentes, apoiados pelas respetivas "claques partidárias", que utilizam táticas e técnicas distintas. Por vezes, quando a lei permite, juntam-se a competir, equipas independentes, com apoios heterogéneos ou relativamente conotados com alguma orientação partidária.

Assiste-se, com deplorável frequência, que as regras da boa educação, do civismo, do respeito, da objetividade das ideias e projetos, dos interesses coletivos, entre outras igualmente importantes são, sistematicamente, violadas e até parece que "vale tudo", inclusive "desenterrar os mortos, familiares e/ou amigos" dos jogadores em competição. Infelizmente, tantas vezes se agride física, psicológica e moralmente quem não pode, ou não é capaz, de se defender com "armas" tão traiçoeiras.

Na verdade, este campeonato político, nas diferentes "Divisões" ou "Ligas" demonstra que alguns jogadores fazem, primeiro, no palco eleitoral e, depois, no âmbito do exercício do respetivo poder de "campeão", o espaço e o tempo para as maiores atrocidades, contra situações, interesses, legal e legitimamente instalados e contra pessoas que sofrem, injustamente, a violência do/s vencedor/es, em vez destes implementarem e praticarem valores humanos.

Os jogadores que pelos processos, recursos, táticas e técnicas, acima descritas, vencem estes "campeonatos", correm o risco de se tornarem relativamente insensíveis às situações, problemas e dificuldades das pessoas que, alegadamente, não teriam feito parte das suas "claques de apoio", o que a verificar-se, haveria razões para os considerar incapazes, que não reúnem condições para se relacionarem com tolerância, compreensão, respeito e generosidade para com os vencidos e apoiantes destes.

Os "treinadores", ou seja, os Lideres, destes jogadores, deverão ter muita atenção e eles próprios, começarem por dar os bons exemplos, para que as mais elementares regras da boa convivência, saudável disputa e, acima de tudo, o respeito pela dignidade dos adversários sejam, em todas as circunstâncias, preservadas, antes, durante e depois do "jogo", porque a vida vai continuar, todos vão, mais tarde ou mais cedo, precisar uns dos outros. Esta é que é a verdade.

Algumas ideias podiam avançar-se para este campeonato da vida, mas na verdade é essencial saber-se ganhar e saber-se perder. Com efeito: por um lado, quem ganha não tem o direito de humilhar, de ridicularizar, de perseguir, de se vingar dos seus adversários, pelo contrário, deve dar-lhes a mão, saber colocar-se na situação psicológica e social de quem perdeu, reconhecer-lhes os méritos, mitigar-lhes o sofrimento que toda a derrota inflige na pessoa; por outro lado, quem perde tem o dever de não recorrer à desforra, à represália, à traição e à difamação, mas tem o direito de exigir ser respeitado, considerado, estimado e a ser-lhe dada uma oportunidade para demonstrar as suas capacidades, a sua vontade de participação, porque afinal também contribuiu para o mérito que é reconhecido, ou não, ao seu oponente vencedor porque, como diria Monsieur de la Palice: "Se há um vencedor; então existe um derrotado".

A necessidade de formação cívico-democrática, parece que cada vez se afigura mais necessária, inclusivamente, para todos os campeonatos políticos na disputa pelo poder, porque em Democracia há sempre alternativas e, quem venceu o campeonato numa determinada "Liga", pode, no ciclo seguinte vir a perde-lo, até porque nas próprias ditaduras, as mais ferozes e duradouras, que se queiram imaginar, o ditador e o poder sempre acabam por ser derrubados, entregues e/ou conquistados, democraticamente, por intervenientes verdadeiramente imbuídos de valores humanistas.

Em democracia devem funcionar sempre valores cívicos, que são um conjunto de caraterísticas, comportamentos necessários, para que exista uma cidadania responsável, para que as pessoas participem realmente na comunidade em que vivem. Estes valores baseiam-se no princípio segundo o qual: para que haja um entendimento entre todos os cidadãos, é muito importante que estes respeitem os direitos e o bem-estar de todas as pessoas.

Estes valores da cidadania democrática, constituem uma excelente carta de orientação, para quem deseja dar algum contributo à sociedade. Valores como: Transparência, Pluralismo, Civilidade, Tolerância, Compromisso, Legalidade Solidariedade, Participação são, portanto, essenciais para o bem-comum e são incompatíveis com "valores" e "sentimentos" de autoritarismo, de vexames, de revanchismo e de todo e qualquer comportamento de intromissão na vida privada das pessoas, de ações do tipo: "caça-às-bruxas".

O importante, e é para isso que os cidadãos, generosa e voluntariamente se oferecem, é resolver situações que afetam e dificultam a vida das pessoas, é para lhes proporcionar uma melhor qualidade de vida, com dignidade, não para criar mais problemas, mais conflitos, mais retaliações.

Durante estes campeonatos, os jogadores, verdadeiramente profissionais, aqui no sentido de fazer as coisas em feitas, cumpridores de regras e valores cívicos da democracia e do Estado de Direito, respeitadores das qualidades e dignidade dos seus adversários e executores de um jogo limpo, objetivamente, integrados num estado societário onde o civismo, o altruísmo e o humanismo são os grandes pilares, devem desenvolver sempre as suas intervenções com caráter e honradez, revelando assim a grandeza das virtudes próprias das pessoas inequivocamente humanas e bem formadas.

Depois do campeonato político-partidário, os vencedores têm responsabilidades acrescidas: por um lado, cumprirem, integralmente, com as promessas que fizeram, ao longo das diversas "jornadas", porque só assim se credibilizam e enaltecem a política do voluntariado ao serviço do povo; por outro lado, devem respeito e atenção para com os vencidos, dos quais sempre virão a precisar, para executarem um programa que prometeram cumprir, para ouvir as suas críticas construtivas, opiniões, sugestões. O respeito pelos adversários vencidos patenteia, certamente, as superiores qualidades e valores dos vencedores, como sejam: tolerância, compreensão, generosidade, solidariedade, enfim, revelam toda a sua magnanimidade.

De igual forma os vencidos também devem assumir com: dignidade e respeito a situação decorrente da derrota, disponibilizarem-se para colaborar nos projetos que beneficiam o coletivo e o bem-comum, observando, contudo, os seus próprios ideais, independentemente de serem ou não da sua autoria, porém, desde que não colidam com os seus princípios, valores, sentimentos e dignidade, porque é bem conhecido o grande lema destes jogos: "servir o povo".

Assim, a melhor estratégia e método mais eficaz são os projetos comuns, que beneficiam as populações, através de decisões consensuais justas, que privilegiam o bom-senso, para se alcançarem os objetivos que se relacionam com os superiores interesses do povo e não para satisfação de egos pessoais e exibição de vaidades mesquinhas.

É evidente que os procedimentos referidos para vencedores e vencidos, muito dificilmente serão compagináveis com comportamentos anteriores que estejam relacionados com ataques pessoais, difamações, ofensas à honra e bom nome das pessoas, com faltas de respeito, com ausência de solidariedade, lealdade, com atitudes de manifesta desconsideração, com ostensiva rejeição de pessoas e das ideias, justas, legais e legítimas que estas defendem.

Quando durante o relacionamento interpessoal, uma das partes revela e realiza atos incompatíveis com os valores, sentimentos e emoções caraterísticos das pessoas de bem, de boa educação e formação, então o melhor será prosseguir o caminho, o rumo, sem o desejável apoio dos restantes adversários. Aqui estabelece-se o princípio, segundo o qual: "Quem não se sente não é filho de boa gente", então a nossa dignidade, os nossos valores, sentimentos e emoções, têm que ser defendidos, salvaguardados, consolidados.

Diamantino Bártolo


Edições C@2000
Do Coura se fez luz. Hidroeletricidade, iluminação pública e política no Alto Minho (1906-1960)"
Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000/Afrontamento
Apoiado pela Fundação EDP

Da Monarquia à República no Concelho de Caminha
Crónica Política (1906 - 1913)

Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


O Estado Novo e outros sonetos políticos satíricos do poeta caminhense Júlio Baptista (1882 - 1961)

Organização e estudo biográfico do autor por Paulo Torres Bento
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