O jornalista Manso Preto formalizou quinta-feira passada uma queixa-crime relativa ao atropelamento de que foi vítima no último dia da campanha eleitoral, incidente que envolveu um funcionário da Câmara de Caminha e uma viatura municipal. Foram entregues às autoridades, com o processo, várias provas que justificam a presença do jornalista no local e que configuram a prática de crime. Entretanto, imediatamente a seguir à ocorrência, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) emitiu um comunicado a nível nacional, solidarizando-se com Manso Preto e exigindo o apuramento de todas as responsabilidades até às últimas consequências, nomeadamente por parte da Câmara Municipal de Caminha.
Conforme o C@2000 relatou na edição da passada semana, o último dia da campanha eleitoral do PSD ficou marcado por um incidente que ainda vai dar muito que falar e que terminou com o atropelamento de um jornalista por uma camioneta da Câmara Municipal de Caminha, conduzida por um funcionário que se encontrava em férias e que participara activamente em toda a campanha de Júlia Paula e Flamiano Martins.
A acrescentar à notícia do C@2000 da passada semana há a dizer que os ferimentos sofridos pelo jornalista são bastante graves, para além dos prejuízos materiais, designadamente com a máquina fotográfica profissional que utilizava na altura e que ficou partida devido à queda.
Crime de peculato "provado"
Segundo o C@2000 apurou, o jornalista Manso Preto chegou quinta-feira ao princípio da tarde ao Tribunal de Caminha, juntamente com o seu advogado, Pedro Meira, com o intuito de formalizar a queixa-crime e de entregar um dossiê contendo "vários meios de prova". Uma vez que a apresentação da queixa no Ministério Público carecia de "agendamento" e não podia ser feita no momento, a mesma queixa-crime foi formalizada minutos depois junto da GNR de Caminha, o meio mais célere para chegar ao Ministério Público.
A formalidade exige também uma perícia médico-legal, marcada pela GNR e que decorreu ontem no departamento de Medicina Legal do Hospital de Viana do Castelo.
Recorde-se que o jornalista procedia à captação de imagens dos trabalhos de montagem do comício de campanha do PSD, em que participavam vários funcionários da Câmara de Caminha, encontrando-se também no local várias viaturas do município, para além da camioneta com a matrícula QP-71-34, que seria envolvida directamente no atropelamento.
O C@2000 soube entretanto, junto de fonte ligada ao processo, que foram recolhidos até quinta-feira passada "vários meios de prova" que demonstram, pelo menos, a prática de crime de peculato no caso. Para além das duas testemunhas oculares, que se identificaram à GNR de Vila Praia de Âncora no momento do incidente, existem, ao que apurámos, outros elementos em "formatos" diversos, que "não deixam qualquer dúvida" e que por si só justificam a cobertura jornalística do que se estava a passar no exterior e no interior do Pavilhão Municipal de Vila Praia de Âncora. A nossa fonte não quis elencar as provas que estão em causa, por considerar que não é oportuno e que devem ser analisadas previamente pelos meios judiciais. Soubemos entretanto que foram identificados nessas provas vários funcionários do município de Caminha e múltiplas viaturas.
Tudo indica assim que, para além do processo relativo ao atropelamento, as autoridades venham a abrir outros, sendo a presumível prática de peculato um deles.
Quando isso acontecer, porém, os responsáveis máximos do Executivo, Júlia Paula e Flamiano Martins, que eram simultaneamente os principais candidatos do PSD a 29 de Setembro, já terão abandonado as suas funções, fruto da derrota sofrida nessa noite que deu a vitória ao socialista Miguel Alves.
Sindicato exige apuramento total de responsabilidades
O Sindicato dos Jornalistas, no comunicado emitido na sequência do atropelamento, exige "com a máxima urgência", que a "Câmara Municipal de Caminha apure, pelos seus próprios meios e até às últimas consequências, todos os factos e responsabilidades por esta grave ocorrência".
No portal do SJ, antecedendo o comunicado, diz-se que "o Sindicato dos Jornalistas (SJ) quer ver apuradas todas as responsabilidades no incidente ocorrido ontem, dia 27, em Caminha, em que o jornalista Manso Preto foi atingido por uma viatura da Câmara Municipal".
O comunicado tem por título "SJ solidário com jornalista Manso Preto", desenvolve-se em cinco pontos, e sintetiza a evolução dos acontecimentos do dia 27. O C@2000 sabe também que o presidente do Sindicato dos Jornalistas, o jornalista Alfredo Maia, esteve em contacto telefónico com Manso Preto nas horas que se seguiram ao atropelamento e continua a acompanhar pessoalmente o processo.
O C@2000 tentou pessoalmente, nas instalações camarárias, durante toda esta semana, obter um esclarecimento da presidente da Câmara - além de outros assuntos - sobre este caso, mas tal revelou-se impossível por a mesma não estar contactável ou por desconhecimento do seu paradeiro.