Foi apoteótica a recepção de Miguel Alves junto à sede da sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Caminha, na Rua do Cais, na sede do concelho, após serem conhecidos os resultados eleitorais que lhe deram a vitória com 261 votos de avanço sobre o candidato do PSD.

Foto: António Garrido
Nem sequer chegou a entrar nas instalações, foi transportado pela multidão empolgada pela reconquista do poder até ao Terreiro, onde improvisou um discurso de vitória.
Lágrimas de liberdade
Muito choro e gritos de liberdade foram a expressão do sentimento de alívio sentido por milhares de caminhenses (pelo menos de pouco mais de metade dos votantes) após a confirmação da mudança operada no concelho de Caminha, numa noite de emoções fortes quanto à incerteza do resultado.

Foto: António Garrido
Miguel Alves, vitoriado pelos seus apoiantes, frisou logo de início que mesmo aqueles que pensaram ou votaram "de forma diferente de nós, são da nossa família, do nosso concelho e conto com todos", respeitando por isso as opções de cada um.
Congratulou-se com as candidaturas apresentadas pelas diferentes forças políticas a todos os órgãos autárquicos, pois todos quiseram apresentar o que de melhor tinham a oferecer ao eleitorado.
Miguel Alves disse sentir naquele momento uma grande responsabilidade e "ter de actuar em prol do povo", agradecendo à sua mulher, família, "à gente da minha terra, Moledo e à de todo o concelho" a vitória conseguida.
"Tudo farei por vós" - em diálogo

Foto: António Garrido
Mais à frente, disse que não será possível "resolver todos os problemas de uma só vez", como sempre disse durante os meses que precederam o acto eleitoral, admitindo mesmo que "nem sempre conseguirei acertar, nem corresponder a todas as vossas expectativas", mas assegurou que tudo "farei por vós", em diálogo, um dos lemas de toda a sua campanha.
Nesse dia de S. Miguel, o candidato lembrou aos presentes que "hoje é dia de festejar, não é dia de rancores nem de mágoas, é dia de libertarmos a nossa alegria" e festejar "esta grande vitória do concelho de Caminha".
A terminar, Miguel Alves agradeceu "a todos vós pelo empenho, pela alma, pelo brio, pela força, por tudo o que deram" por essa vitória.
A Guarda presente

Foto: C@2000
O novo presidente não deixou em claro a presença naquela noite do "amigo Freitas, alcaide de A Guarda", com quem Caminha terá de colaborar, obrigatoriamente. O autarca galego emocionou-se com tanta alegria espelhada nas caras das pessoas, como se uma reedição do 25 de Abril tivesse acontecido em Caminha.
Demonstrativo da ânsia de liberdade sentida pelos milhares de pessoas concentradas no Terreiro, foi a entoação da "Grândola", a canção emblemática do 25 de Abril, com a qual já fora encerrado o comício de final de campanha em Moledo.
Júlia Paula derrotada

Foto: António Garrido
No seio do partido perdedor destas eleições, tiravam-se ilações desta derrota, além do mais porque Júlia Paula, candidata à presidência da Assembleia Municipal, era uma das vencidas do acto eleitoral, sofrendo o primeiro desaire eleitoral da sua carreira política, desde que triunfara pela primeira vez em 2001.
Luís Mourão, candidato socialista, obtinha 5001 votos, contras os 4767 de Júlia Paula. Uma diferença de 234 votos. Há quem a considere a verdadeira derrotada desse dia e a principal responsável pelo desaire social-democrata, devido à sua política acentuadamente prepotente, persecutória, e ao ter-se candidatado à Assembleia Municipal numa tentativa entendida por muitos de se perpetuar no poder através de um candidato à Câmara Municipal escolhido por si.
CDU fará a diferença na AM

Foto: António Garrido
Na Assembleia Municipal, os dois mandatos da CDU (um deputado municipal e o presidente da Junta de Vilar de Mouros) poderão fazer a diferença, face ao equilíbrio verificado entre PS e PSD (10 deputados municipais cada um, e sete presidentes de Junta para o PS e seis para o PSD, num total de 35 membros eleitos).
A CDU viu quase duplicar a sua votação para este órgão autárquico, comparativamente aos votos expressos em urna para a Câmara Municipal.
Festival à pressão não resultou em Vilar de Mouros

Foto: António Garrido
Refira-se que o resultado de Vilar de Mouros era um dos aguardados com maior expectativa. Não só por ser a única freguesia com quatro listas concorrentes à Assembleia de Freguesia (dois mandatos para a CDU, PSD e PS e um para os independentes), como pela polémica que envolveu o súbito anúncio da realização do Festival para 2014, mês e meio antes das eleições. Nesta freguesia, prevê-se um entendimento entre a força vencedora (CDU), mas sem maioria absoluta, e o PS, de modo a tornar governável a Junta que tivera como presidente uma social-democrata nos últimos quatro anos, aliada ao que agora foi eleito pela lista de cidadãos independentes e com o qual terminara o mandato em rota de colisão.
CDU "deslocou" votos

Foto: António Garrido
Nesta freguesia, tal como em Caminha/Vilarelho, Lanhelas, Seixas ou Moledo, foi notória a deslocação de votos da CDU para o PS no que à votação para a Câmara se refere, de modo a evitar que a direita se perpetuasse no poder, assim como os votos no BE há quatro anos contribuíram agora para evitar essa possibilidade.
Se nos fixarmos nos resultados de há quatro anos para as assembleias de freguesia e em que que existiam 20 freguesias, verifica-se que o PSD perdeu Vilar de Mouros e Vilarelho (agora junto com Caminha), respectivamente para a CDU (Carlos Alves volta à presidência da Junta) e PS. Nas demais, o poder manteve-se nos partidos que já o detinham, embora haja agora a situação dos independentes em Riba d´Âncora, onde pontifica um presidente próximo do PSD e de Gondar/Orbacém, em que o presidente é do PS, podendo considerar-se que o PSD perdeu um presidente nesta última freguesia e que detinha há vários mandatos.
Independentes deram luta em Seixas

Foto: António Garrido
É de registar o bom resultado dos Independentes de Seixas para a Assembleia de Freguesia, um feudo tradicional para o PS, mas que este partido apenas venceu por 35 votos. Para a Câmara, o resultado foi mais dilatado: 187 votos de diferença sobre o PSD que apoiava os Independentes de Seixas.
Vila Praia de Âncora perde quatro delegados por um eleitor
Vila Praia de Âncora era a freguesia que mais expectativa gerava, face aos seus 5.008 eleitores.
Aliás, o número de eleitos para a Assembleia de Freguesia, ao ultrapassar a barreira dos cinco mil, poderia dar-lhe o direito de eleger 13 membros, em vez dos actuais nove. Foi difícil descortinar o que a lei determinava sobre esta situação. Nós próprios fomos induzidos em erro face à impossibilidade de conseguir conhecer o número exacto de eleitos para este órgão autárquico. Os próprios partidos vacilavam e um deles (PSD) avançou-nos com os 13 delegados, embora reconhecesse que os advogados ainda se encontravam a analisar a lei.

Foto: António Garrido
Só durante o apuramento final dos votos, pela respectiva comissão concelhia, é que foi possível chegar a uma conclusão, tendo em conta um acórdão do Tribunal Constitucional sobre a questão do recenseamento até 1 de Julho (e que prevaleceu para a definição do número de mandatos, já que Vila Praia de Âncora tinha nesta data 4.999 eleitores), e o recenseamento feito até final de Agosto, servindo este apenas para o acto eleitoral de 29 de Setembro.
Desta forma, Vila Praia de Âncora continua com nove delegados na Assembleia de Freguesia e o presidente de Junta mantém-se em tempo parcial. Situação bem diferente teria sucedido se tivessem contado os mais de 5.000 eleitores inscritos nos cadernos de recenseamento desta vila até final de Agosto, uma vez que o novo presidente teria direito a permanecer a tempo inteiro neste cargo. Reconheça-se que o número de habitantes e as especificidades de Vila Praia de Âncora mereceriam uma presidência dedicada exclusivamente aos assuntos da terra. Mas por um eleitor, perdeu essa possibilidade.
Com esta situação, a CDU acaba por não eleger qualquer representante para a Assembleia de Freguesia.
A contagem de votos nesta freguesia originou atrasos no apuramento final, levando a que o concelho de Caminha fosse o último do país a ver divulgados oficialmente os seus resultados.
PS sobe em V.PA. mas não supera PSD

Foto: António Garrido
Os resultados para a Câmara Municipal revelaram que o PSD perdeu 356 votos em comparação com 2009, ao passo que o PS subiu 376, enquanto que para a Assembleia Municipal, o PSD teve mais votos (1420) e o PS menos (980), traduzindo-se numa diferença de 540 a favor dos social-democratas.
O PSD, embora dominando no Vale do Âncora (com excepção de Âncora, em que António Brás ampliou a vantagem conseguida há quatro anos para a Junta e Assembleia, e para a Câmara, registou-se uma pequena vantagem social-democrata de 12 votos, mas para a AM, Júlia Paula perdeu por dois votos), viu o PS conquistar terreno nomeadamente em Vile, Orbacém e Vila Praia de Âncora.
Dem, um feudo laranja durante estes últimos 12 anos, viu surgir agora um foco de contestação ao poder instituído contra o qual Miguel Alves corporizou uma aposta muito pessoal, devido às "dificuldades" encontradas para formar lista para a Assembleia de Freguesia.
Azevedo manifestou a sua rejeição à agregação com Venade, mantendo-se um bastião socialista, mas agora absorvido pela maioria social-democrata resultante dos votos maioritários de Venade.
Lanhelas deu sinal vermelho nos três órgãos autárquicos ao PSD, pois embora a lista independente para a assembleia de freguesia (em que despontava a ex-vereadora socialista Teresa Guerreiro) se apresentava como tal, a sua colagem ao PSD era evidente, até porque era apoiada por este partido.
Caminha manteve-se fiel ao PS, contribuindo com os seus 220 votos sobre o PSD para a vitória socialista, de nada valendo a inauguração do Valadares na véspera da abertura da campanha eleitoral e a apresentação virtual do ante-projecto da marginal, ou a pintura apressada do bairro social, assim como as obras no mercado municipal ou a instalação a esmo de passadeiras com lombas na vila.
Nas Argas registou-se uma ligeira subida do PS em Arga de Cima e Arga de S. João, não acompanhada pela votação em Arga de Baixo, a freguesia serrana mais numerosa e em que Ventura Cunha voltou a ganhar confortavelmente.
Argela voltou a garantir supremacia rosa, mesmo para a Assembleia de Freguesia, em que apresentava nova candidata à Junta, o mesmo sucedendo em Vile e Venade, mas nestes casos com resultados favoráveis ao PSD.
Flamiano Martins versus Miguel Alves
Um dado curioso registado nestas eleições, é o facto de Flamiano Martins ter obtido uma votação precisamente igual à de 2009 na sua terra natal, Riba d'Âncora.
Por seu lado, Miguel Alves, sobe a parada em Moledo/Cristelo, passando de 511 votos obtidos pelo PS há quatro anos, para 714 no passado dia 29 - Dia de S. Miguel.