A assessora de imprensa da campanha eleitoral de Júlia Paula recebeu em Janeiro cerca de quatro mil euros da Câmara de Caminha para a realização de uma "auditoria" ao Gabinete de Comunicação do município. O PS diz que nunca viu nada assim e classifica todo o processo como uma "operação relâmpago". Esta semana, na reunião de Câmara, além da ratificação desta contratação, havia uma proposta para abertura de concurso público, entre outros, para um técnico superior na área da Comunicação, que ficou adiado para um próximo encontro do Executivo. O PS diz que não acredita em "super-poderes" nem em tantas coincidências.
Depois da polémica sobre a permanência de Ana Lourenço no Gabinete de Comunicação da Câmara de Caminha, desde 13 de Janeiro deste ano, de que o nosso jornal deu conta, tudo se precipitou. Como referimos, o vereador Jorge Miranda pediu esclarecimentos e tentou consultar, nos Serviços de Pessoal, o eventual processo da ex-assessora da campanha eleitoral de Júlia Paula, no que foi impedido, com a justificação de que teria de fazer o pedido por escrito.
Na última quarta-feira, cumpridos que tinham sido os procedimentos burocráticos, os vereadores Jorge Miranda e Teresa Guerreiro consultaram então os processos relativos a Ana Lourenço e Maria José Azevedo, também esta, alvo de um contrato de tarefa no âmbito da Comunicação, mas que, na verdade, está há vários anos neste serviço, acompanhando todos os actos públicos.
PAGAMENTO IMEDIATO
Segundo o C@2000 apurou, o contrato com Ana Lourenço, celebrado em 20 de Janeiro deste ano, referia-se, afinal, a uma auditoria. A "proposta" foi feita à presidente da Câmara por Marcos Fernandes, e indicava expressamente Ana Lourenço, uma jovem de 24 anos, como a pessoa ideal para realizar a tarefa.
A proposta do responsável pelo Gabinete de Comunicação foi despachada favoravelmente, escassos dias depois: "adjudique-se". Em meados de Janeiro já o respectivo relatório estava entregue e no mesmo mês o pagamento estava feito, rondando os quatro mil euros.
No final do referido relatório, a "auditora" oferece-se para permanecer na Câmara gratuitamente e acompanhar a implementação das medidas propostas.
Este será, resumidamente, o historial do processo, que deixou os vereadores socialistas "estupefactos". Jorge Miranda garante que não está esclarecido e que é tudo muito estranho: "Nunca vi nada assim. Uma auditoria decidida num espaço de tempo tão curto, realizada em menos de um mês, e pagamento imediato". Acrescenta o socialista: "O prazo médio de pagamento aos fornecedores é superior a quatro meses, apesar das obrigações inerentes ao endividamento, que a Câmara contraiu a coberto do Programa de Regularização Extraordinária de Dívidas - esta auditoria é certamente uma excepção".
O C@2000 questionou o vereador sobre a personalidade da "auditora" escolhida. Jorge Miranda diz que é mais um factor estranho: "super-poderes só conhecia na ficção. Foi uma auditoria relâmpago, em todos os aspectos".
Conforme é público, Ana Lourenço tem apenas 24 anos. É uma jovem recém-licenciada com escassa experiência, mal sucedida, de cerca de um mês, no Gabinete de Imprensa da Câmara do Marco de Canaveses, por intermédio da Agenda Setting. Daí transitou, como noticiámos, para a última campanha de Júlia Paula. Marcos Fernandes considerou-a competente e ideal para auditar o Gabinete de Comunicação da Câmara de Caminha e a presidente concordou. A auditoria terá sido executada entre Dezembro e os primeiros dias de Janeiro, envolvendo um período festivo, em que a Câmara esteve fechada vários dias.
CÂMARA ENCOMENDOU 120.000 FOTOGRAFIAS
As surpresas ligadas às contratações à tarefa não ficam por aqui. Os vereadores socialistas também não perceberam a necessidade da Câmara encomendar 120 mil fotografias a uma outra jovem, Maria José Azevedo, por um pouco mais de quatro mil euros.
O caso desta jovem é intrigante, porque ela está ligada ao Gabinete de Comunicação há vários anos, cumprindo, ao que tudo parece indicar, um horário de trabalho alargado, e estendendo os serviços a fins-de-semana.
Os casos de contratações por tarefa não ficam por aqui. Na lista que foi levada a reunião de Câmara para ratificação (porque a lei o impõe e isso não foi feito em devido tempo), está ainda um primo de Marcos Fernandes e a irmã da secretária do vereador da Cultura, Tomásia Cunha, que foi candidata nas últimas autárquicas nas listas de Júlia Paula.
"NÃO SEI, NÃO CONHEÇO" E "NÃO COMENTO"
Na tentativa de clarificar quantas pessoas e empresas trabalham efectivamente para o Gabinete de Comunicação da Câmara de Caminha, mas sobretudo para apurar algo mais sobre a alegada "auditoria", o C@2000 contactou a ex-jornalista e professora universitária Rosa Sampaio, mas esta recusou-se a fazer quaisquer comentários. Apesar da nossa insistência, a responsável, que acompanha Júlia Paula na área da Comunicação desde a sua primeira eleição, transitando do Executivo de Valdemar Patrício, disse apenas que nunca ouviu falar de qualquer auditoria ao Gabinete de Comunicação. Quanto a Ana Lourenço, afirmou: "não conheço, nunca me foi apresentada, nunca falei com ela".
Sobre a presença menos assídua de Rosa Sampaio em Caminha, respondeu que isso foi uma escolha da Câmara, optando-se pelo teletrabalho, o que deverá manter-se até final do contrato, não precisando quando isso será. Comentou que a decisão foi até ao encontro do que eram os seus interesses porque concluiu, precisamente esta semana, a sua tese de doutoramento sobre Comunicação Política, onde aborda a gestão da informação e da comunicação nas câmaras municipais.
Aproveitando a posição da ex-jornalista, pedimos-lhe para comentar uma situação abstracta, que seria avaliar se um recém-licenciado está em condições de realizar uma auditoria a um Gabinete de Comunicação. Depois de um breve silêncio, desculpou-se e disse apenas: "não comento, entenda que não posso, eticamente, comentar situações dessas, seja do ponto de vista abstracto ou não".
O C@2000 tentou também ouvir a assessora Gabriela Lopes, mas Marcos Fernandes informou que se encontrava de férias.
CONCURSOS PÚBLICOS COM PROGNÓSTICOS
Fiáveis ou não, existem prognósticos, repetidos por várias fontes do C@2000, para próximas contratações pela Câmara de Caminha. A tentativa de abertura de vários concursos públicos na última quarta-feira continua a ser motivo de conversas e especulações, sobretudo na própria Câmara de Caminha.
O concurso na Área da Comunicação já tinha sido "anunciado" e fontes bem colocadas junto das chefias do município, ouvidas pelo C@2000, continuam a dar como certo que a "vencedora" será a ex-assessora do PSD e agora "auditora": Ana Lourenço.
A arquitecta Joana Silva, de Vilar de Mouros, deverá ser a "escolhida" para a área da Arquitectura.
Por seu lado, a irmã de Tomásia Cunha, Odete Cunha, é apontada como a "triunfadora" do futuro concurso para assistente operacional. Para os concursos de assistente técnico fala-se de Elisa Rodrigues (na Divisão Administrativa e Financeira - Serviço de Atendimento e Comunicações) e de Maria José Azevedo (na Divisão Sócio-Cultural), mas haveria aqui mais uma "estranheza", uma vez que a jovem estaria, diz-se, a ser como que despromovida face a Ana Lourenço.
As propostas para os concursos deverão ser levadas à próxima reunião do Executivo e os tempos futuros dirão se os prognósticos que circulam vão, ou não, concretizar-se.