A actividade profissional, no seio de uma instituição, tem regras muito próprias, que resultam da ética e deontologia profissionais. Desenvolver valores de fidelização e espírito de cultura da empresa, camaradagem, solidariedade, tolerância, entre-ajuda, cooperação e até alguma cumplicidade, quando esta não afecta a dignidade de outros colegas e/ou os objectivos da instituição, revela-se fundamental para o sucesso do empresário, dos trabalhadores e para a manutenção dos postos de trabalho.
As regras profissionais não podem, portanto, confundir-se com a Amizade Pessoal e particular, que os colegas de trabalho possam ter entre si. A recíproca é, igualmente, verdadeira. É como levar para casa os problemas do trabalho e/ou trazer para o trabalho os problemas de casa. São situações incompatíveis entre si. Até porque o recurso à Amizade Pessoal no local de trabalho pode suscitar determinadas reacções entre os restantes colegas, que acabam por prejudicar o relacionamento entre eles e, consequentemente, o bom ambiente de trabalho que é necessário existir.
O que se acaba de referir não significa, em absoluto, que uma Amizade Pessoal verdadeira, não ajude num bom relacionamento profissional, porém, tal amizade, nesse mesmo contexto de trabalho, deve ter limites, até para não suscitar interpretações, eventualmente erradas.
O relacionamento profissional enquanto tal desenvolve-se com preocupações que visam atingir determinados objectivos de natureza material: - produtividade de bens e serviços, em qualidade e quantidade, por conta própria ou por conta de outrem.
A amizade entre os trabalhadores, deve ser exercida sem ferir susceptibilidades, ou provocar situações que possam configurar sentimentos mais profundos, porque estes devem ser do foro íntimo daqueles que possuem tal Amizade Pessoal. Também não será aconselhável que, entre trabalhadores, se desenvolvam, durante a actividade profissional e no interior da empresa, quaisquer atitudes que possam causar conflito, atrito ou mágoa noutros colegas.
Se dois colegas estão envolvidos numa amizade de verdadeiros amigos, ou mesmo num "Amor-de-Amigo", então este sentimento jamais pode ser prejudicado, por um qualquer relacionamento profissional, sob pena, de aquele sentimento de "Amor-de-Amigo" estar, constantemente, posto em causa e poder conduzir a um desgaste com consequências que serão incompatíveis com a Amizade Pessoal, verdadeira, leal e duradoura. É como colocar a tal amizade resultante de um "Amor-de-Amigo" no "lume brando da sua morte"
Muito dificilmente se poderá ter tudo na vida. É impossível pactuar com "Deus e com o Diabo", como se costuma dizer, por isso o relacionamento profissional, não sendo totalmente incompatível com a Amizade Pessoal, haverá que saber utilizar muito bem estas duas dimensões do ser humano: trabalho e amizade.
Vive-se, actualmente, num mundo em que não se olha a meios para se atingirem determinados fins. Significa que, por vezes, é utilizando a Amizade Pessoal de um colega que se atingem benefícios pessoais, justamente, em prejuízo daquele mesmo colega, que disponibilizou a sua amizade, os seus conhecimentos, para interceder por aquele o qual, depois de servido, atraiçoa a amizade existente entre eles. O relacionamento profissional ou, se se preferir, a actividade profissional, sobrepôs-se à Amizade Pessoal.
Os valores que resultam de uma Amizade Pessoal, onde se reconhece como principal expoente esse verdadeiro "Amor-de-Amigo", não podem ficar à mercê de um qualquer colega profissional, por muito, aparentemente, que seja, uma pessoa correcta, educada e até, cooperante.
Uma Amizade Pessoal, consolidada num sincero e leal "Amor-de-Amigo", não é negociável com qualquer outra pessoa ou situação, quer no contexto profissional, quer no âmbito mais alargado dos diversos papéis que se desempenham na sociedade.
Esta Amizade Pessoal, quando fundada no insubstituível "Amor-de-Amigo", deve ser algo de muito sublime, intocável. Não é possível, portanto, compatibilizar, um relacionamento profissional com outra pessoa, que vá colidir com aquela amizade entre pessoas que a vivem, justamente, na dimensão sentimental.
De igual forma, quaisquer actos, atitudes, comportamentos e sentimentos, em circunstância alguma podem ser trazidos para a esfera profissional, quando eles emanam da Amizade Pessoal, protegida pelo verdadeiro "Amor-de-Amigo".
As pessoas devem fazer opções conscientes e, depois de serem implementadas as respectivas decisões, devem ser coerentes, fiéis aos princípios que, livremente, abraçaram. As escolhas dos colegas para um relacionamento profissional não podem trair as escolhas que fizeram, por outras pessoas, no domínio da Amizade Pessoal.
Quando tal Amizade Pessoal, já se encontra num patamar de um verdadeiro e irreversível "Amor-de-Amigo", ainda assim, podem continuar a escolher: ou o relacionamento profissional, sem regras, mesmo que ofendendo a outra pessoa com quem tinha uma Amizade Pessoal; ou optarem por esta, moderando, porém, o relacionamento profissional.
Será injusto que se misture tudo, com pessoas diferentes, seja na presença umas das outras, seja à revelia daquelas com quem se tem uma relação de "Amor-de-Amigo". Será uma violentação daquelas ou daqueles que, numa dimensão da Amizade Pessoal se sentem ultrapassados, por um qualquer relacionamento profissional, casuístico, efémero e, quantas vezes, oportunista.
É necessário distinguir, perfeitamente, as situações para que ninguém saia humilhado e ofendido por via dos respectivos relacionamentos: profissionais e das amizades pessoais.
Evidentemente que os pressupostos acima descritos não se aplicarão, por exemplo, na constituição de uma sociedade, onde a Amizade Pessoal entre os sócios é fundamental, justamente, para que a confiança seja total, para que os negócios sejam transparentes.
Bibliografia
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BARTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2009). Filosofia Social e Política, Especialização: Cidadania Luso-Brasileira, Direitos Humanos e Relações Interpessoais, Tese de Doutoramento, Bahia/Brasil: FATECTA - Faculdade Teológica e Cultural da Bahia: (1. Curso Amparado pelo Decreto-lei 1051 de 21/10/1969. Exemplares em Portugal na Biblioteca Municipal de Caminha; Brasil: Bibliotecas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas;
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Venade - Caminha - Portugal, 2009
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
bartolo.profuniv@mail.pt
4910-354 Venade - Caminha - Portugal
Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea
Universidades: Minho/Portugal; Unicamp/Brasil
Professor-Formador
bartolo.profuniv@mail.pt
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