Jornal Digital Regional
Nº 531: 19/25 Mar 11
(Semanal - Sábados)






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CORDÃO DUNAR A SUL DO RIO ÂNCORA
ESTÁ A EM RISCO

A protecção da orla costeira entre a foz do Rio Âncora e o Forte do Cão vem sendo praticada, pelo menos, desde a Idade Média com a implantação de cortinas arbóreas a fim de fixar as areias e proteger os terrenos de cultivo próximos. Assim nasceram os Pinhais da Gelfa, tal como os pinhais do Camarido, de Leiria, etc..

Nas últimas décadas a erosão costeira neste litoral, tem se vindo a agravar com um recuo da linha de costa, que tem diversas origens, desde a extracção de inertes, obras costeiras, construção de barragens em cursos de água próximos e desregulação ambiental de origem humana, criando desequilíbrios que se interpretam conforme as conveniências.

Também não nos podemos esquecer que a pressão humana sobre zonas sensíveis, como são as dunas primárias, devem ser tidas em consideração o que nem sempre acontece, registando-se frequentemente uma falta de sensibilidade de quem gere e é responsável por esses espaços sensíveis.

A Sul do Rio Âncora, na zona da Duna dos Caldeirões, em 1990, o mar galgou a duna e alguns anos mais tarde, já no século XXI, provocou a destruição de parte da duna que vinha a ser regenerada através de meios naturais.

Outro factor de gravidade tem a ver com o facto do leito do rio se aproximar progressivamente da base posterior da duna estando a fragilizar o seu "alicerce".

Entre os anos de 2002 e 2004 foram construídos os molhes do portinho de Vila Praia de Âncora. A monitorização da zona envolvente a Sul estava prevista iniciar-se antes da obra arrancar e prolongar-se durante a sua construção. Nunca tivemos uma confirmação dos resultados e muito menos as suas conclusões. Sabemos apenas que a construção enferma de graves erros de concepção que originam um contínuo assoreamento do seu interior

Esta falta de clarificação causa-nos preocupação, porque não foram tomadas nenhumas iniciativas tendentes a corrigir algumas debilidades, nem as existentes, nem aquelas que se podiam prever.

É visível que esta orla costeira nestes últimos anos tem se vindo a fragilizar e que o recuo da linha de costa é evidente. Veja-se o caso da praia de Moledo onde o mar destruiu uma boa parte da duna primária, tendo mesmo invadido o Pinhal do Camarido. O silêncio mantido por parte das entidades competentes aumenta exponencialmente as nossas preocupações.

O NUCEARTES ao verificar que (Novembro 2010), maquinaria pesada avançou pelo cume da duna primária pelo lado do Forte do Cão, arrasando de forma indiscriminada a vegetação, numa frente que em certos locais atinge os 8 metros de largura, até atingir a Duna dos Caldeirões, presume que estão a assassinar este cordão dunar já de si sensível e débil.

Estamos preocupados, pois tanto o Plano de Ordenamento da Orla Costeira - POOC, como o POLIS LITORAL NORTE não tem uma orientação marcante de protecção do meio ambiente. As exposições apresentadas revestem-se de palavras sonantes e pouco mais.

Exemplificando quanto ao:

" O POOC diz que o cordão dunar que mais se aproxima do Rio Âncora é uma área frágil e de acesso difícil. No restante cordão dunar até ao Forte do Cão dizem que há sinais de pisoteio, evidentes sinais de erosão, dunas já escarpadas e revelam um avanço da linha de costa.

" POLIS LITORAL NORTE - a grande preocupação deste programa está essencialmente voltado para o litoral junto ao oceano, o que desde já é preocupante. Diz que é uma "Operação Integrada de Requalificação e Valorização do Litoral Norte", e que vão permitir "agilizar procedimentos, nomeadamente em matéria de expropriações, e da protecção, desocupação, demolição e defesa administrativa da posse de terrenos e instalações que lhe sejam afectos".

O NUCEARTES interroga-se se será que a construção de uma ciclovia no cume da duna é a solução engendrada, pois se é, estamos perante uma solução hilariante que vai acelerar as debilidades que enunciaram.

Quanto ao POLIS as requalificações e valorizações que vem ocorrendo por este Portugal e as agilizações de procedimentos, mais se assemelha a uma operação de cosmética e de imposições sendo muitas das soluções desenquadradas com o meio onde foram inseridas, vulgarizando muitos espaços e áreas sensíveis.

Estávamos à espera de um verdadeiro plano para o litoral abranger intervenções de carácter ambiental não só no aspecto de regeneração do cordão dunar, como de eliminação das diversas anomalias nas zonas adjacentes.

O NUCEARTES considera que o primeiro acto de arrasar a vegetação do cume da duna primária entre a Praia da Gelfa e o Rio Âncora é o exemplo de uma insensibilidade e ignorância a toda a prova, para quem diz que vai valorizar o litoral.

As praias vão emagrecendo, as dunas vão minguando e a tomada de medidas que se coadunem com a sua recuperação e regeneração de cariz ambiental vão sendo adiadas ou substituídas por operações de estética que delapidam financeiramente o erário público e com claro prejuízos para o ambiente e património natural.

Pelo que se detecta na prática, o POLIS LITORAL não parece preocupar-se com a erosão costeira, com o emagrecimento das praias e muito menos em intervir na recuperação e estabilização das zonas sensíveis, pois se algo de grave acontece avança a ordem será de atacar os problemas de "erosão costeira através de obras de engenharia".

Não compreendemos como se pode intervir de uma forma leviana, em áreas que integrantes da RESERVA NATURA 2000, que tem como "objectivo contribuir para assegurar a biodiversidade através da conservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens no território europeu dos Estados-membros em que o tratado é aplicável".

Qualquer intervenção que não tem em consideração a paisagem natural, o meio ambiente e a diversidade biológica, está no nosso entender condenada ao fracasso.

O NUCEARTES entende que devia ter sido pensada numa solução mais amiga do meio ambiente e mais económica, projectando o percurso da ciclovia pelo interior do Pinhal da Gelfa, aproveitando caminhos já consolidados, investindo em algumas melhorias parciais, até junto da entrada principal do campo de futebol do Âncora Praia. E assim o fio das lâminas dos meios mecânicos não teriam ceifado a vegetação dunar, nem teria sido aberto esse aceiro ou clareira no cume da duna primária de consequências previsivelmente graves.

NUCEARTES