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Feira do Livro dentro do espírito
da recém-criada Eurocidade

"Temos que olhar para o rio como algo que nos une e a cultura é um óptimo meio", assim apontou o caminho Rui Lages, presidente do Executivo caminhense, na abertura da Feira do Livro Luso Galaica que decorreu na vila de Caminha no final de Agosto.

O autarca acentuou o envolvimento dos três municípios (Caminha, O Rosal e A Guarda) nesta iniciativa, já dentro da perspectiva da criação da Eurocidade, reafirmando perante os representantes autárquicos galegos que "devemos saber afirmar a nossa cultura".

Gaita galega e concertinas "irmanadas" nesta cerimónia inaugural que decorreu nas arcadas dos Paços do Concelho, após o que visitaram os stands dos concelhos participantes.

"Unidos pelo Rio Minho"

O repto lançado pelo presidente caminhense foi escutado pelos seus congéneres do outro lado do Rio Minho, tendo afirmado Ánxella Callís, representante máxima de O Rosal, "ser um orgulho estar hoje em Caminha e fomentar os laços comuns" que se estendem desde o passado, tendo aludido à formação do seu município há 150 anos.

Frisou que "os livros expressam a ligação entre as duas margens" e considerou a criação da Eurocidade "uma grande responsabilidade" perante a possibilidade de apresentarem os três "projectos conjuntos".

Vincou ainda que "esta (Feira do Livro) foi a primeira pedrinha para a Eurocidade".

"O início de um novo caminho"

O concelho de A Guarda esteve representado pelo vereador da cultura Celso Fariñas, tendo recordado que "a união já é antiga", começando desde logo pelo contrabando, ou os livre-trânsito que eram concedidos pelos municípios de Caminha e A Guarda quando havia festas.

A exemplo dos seus colegas autarcas, apresentou-se "ansioso" pelo desenvolvimento da Eurocidade, acreditando ser este "o início de um novo caminho".

GEPPAV apresentou o seu sétimo livro

Esta Feira do Livro organizada em conjunto com a Junta de Freguesia de Caminha/Vilarelho e Jornal Digital Caminh@2000, apresentou no seu programa diversos actos culturais.

Desde logo gerou natural expectativa a apresentação de mais uma obra do GEPPAV "Grupo de Estudo e Preservação do Património Vilarmourense".

Tratou-se da sétima edição da sua responsabilidade, de seu título "O Barco de Vilar de Mouros e outras embarcações do Rio Coura", de que são autores Paulo Torres Bento, Joaquim Aldeia Gonçalves, Basílio Barrocas e Plácido Souto, com design gráfico de Carlos da Torre.

Perante uma numerosa assistência, em que se destacavam familiares do arquitecto Octávio Lixa Filgueiras, o Capitão do Porto de Caminha, comandante Vieira Pereira, e alguns dos depoentes da obra, como o modelista ancorense Norberto Carrelo e o vilarmourense António Fiúza, o presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages, abriu a série de intervenções saudando o GEPPAV pelas duas décadas de trabalho de pesquisa na freguesia, palavras secundadas pelo presidente da Junta de Freguesia de Vilar de Mouros, Carlos Alves.

De seguida, coube ao diretor do Aquamuseu do Rio Minho, Carlos Antunes, a apresentação do livro, destacando a sua feição de estudo social e antropológico, sem esquecer a assumida ambição dos seus autores de que o barco do Rio Coura seja integrado de pleno direito no rol das embarcações tradicionais portuguesas.

Por último, em representação do GEPPAV, Paulo Bento historiou o processo de investigação que culminou com esta edição, que passou pela pesquisa nos arquivos da Capitania do Porto de Caminha, do Arquivo Histórico da Marinha, do Aquamuseu do Rio Minho e do Museu Marítimo de Ílhavo (onde está depositado o Fundo Especial Octávio Lixa Filgueiras, conhecido investigador das embarcações tradicionais portuguesas), o que permitiu obter a comprovação científica para reivindicar a especificidade de uma embarcação própria do Coura, o "Barco de Vilar de Mouros", os pequenos barcos de fundo chato, de proa e popa afiadas, que na freguesia eram conhecidos por bateiras. Prosseguiu, enunciando a esperança que, pelo menos, um destes barcos, desaparecidos do Rio Coura há cerca de 30 anos, possa no futuro próximo ser posto de novo a navegar no rio, assumindo-se como um símbolo mais da freguesia de Vilar de Mouros.

No final da sua intervenção, em nome do GEPPAV, ofertou modelos à escala da embarcação, feitos por Norberto Carrelo, à Junta de Freguesia de Vilar de Mouros e ao Aquamuseu do Rio Minho, para que ambas as instituições os possam expor e assim contribuir para melhor divulgar este exemplar do património fluvial e marítimo do concelho de Caminha e da região alto-minhota, que vem somar-se ao consagrados carocho e masseira (gamela).

A sessão foi depois aberta à participação do público presente, o que originou um debate alargado sobre as atuais difíceis condições de navegação no Rio Coura, assoreado e invadido por vegetação caída das margens, o que levou os presidentes da Câmara de Caminha e da Junta de Freguesia de Vilar de Mouros a lamentar que a tutela de diferentes entidades sobre os estuários dos rios Coura e Minho dificulte por vezes a tomada de decisões sobre os seus problemas.

Poetisa Isabel Marouço com cinco livros editados

A poetisa, pastora e cuidadora de idosos Isabel Marouços, como a própria se autodefiniu no decorrer uma entrevista conduzida pela jornalista moledense Inês Silva Araújo, teve oportunidade de explanar uma série de pormenores da sua faceta literária, iniciada ainda jovem, quando pastoreava o rebanho de seus pais nas faldas da Serra d'Arga (é natural de Dem e reside em S. Lourenço da Montaria ), e se inspirou na quietude e imensidão da montanha para exercitar os seus dotes poéticos que começavam a despontar.

Já publicou cinco livros de poemas.

Ligações entre o Norte de Portugal e Galiza

Outro dos momentos culturais deste evento iniciado em 2020, quando o Jornal Digital C@2000 comemorou o seu vigésimo aniversário, deu-se no último dia da Feira, quando o professor universitário de Santiago de Compostela, e ex-reitor Ramón Villares, apresentou o seu livro "Composição Ibérica - Portugal e as Espanhas".

A obra foi apresentada por António Cunha, presidente da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional Norte, que não pôde dizer não a um "convite irrecusável" que lhe foi endereçado pelo Grupo de Amigos da Biblioteca Municipal de Caminha.

"Galiza é um pensamento político assente numa história comum"

Uma abordagem à trilogia Ibéria-Portugal-Espanha, numa perspectiva histórica à organização política das "élites" dos povos desde os primitivos celtas, permitiu, segundo António Cunha, perspectivar o "futuro da península", face aos conceitos de Espanha possíveis.

A Galiza e a sua emigração mereceu referência especial nesta obra e nas demais do autor, em que o futuro desta península que "terá de ser feito dentro da Europa" é preocupação dominante.

Os fantasmas que pairam ainda no relacionamento entre os dois territórios, desde o Minho ao Guadiana, levou António Cunha a subscrever que "nós temos medo de Castela" (e não propriamente de Espanha).

O termo "Gallaecia Magna" utilizado pelo autor num artigo publicado numa revista cultural galega, ou uma citação de Fina d'Armada utilizada, foram pontos introduzidos nesta apresentação pelo presidente da CCDRN, em que o relacionamento entre o Norte de Portugal e a Galiza mereceram destaque, atendendo a que 15.000 trabalhadores transfronteiriços cruzam diariamente o Rio Minho "de um lado para o outro", a par das empresas dos dois países estarem instaladas quer num, quer noutro lado.

"O título do livro já não engana"

Numa abordagem histórica a esta Ibéria dividida a partir do século XII, Ramón Villares - uma pessoa "sempre muito próxima de Caminha", como reconheceu -, afirmou que "é um problema estrutural entender a península ibérica".

Fez referência a Teixeira de Pascoais, um escritor e poeta português amarantino que em 1930 propôs que os galegos emigrassem para Angola a fim de criar "um novo Brasil".

Falou de uma teoria respeitante a um iberismo tripartido, cujos territórios se repartiriam desde a Catalunha até Andaluzia, Castela e galaico-português, em que os bascos caminhariam por outro lado.

Recuperou a colaboração de Mário Soares, com o pseudónimo de Carlos Fontes, com a revista Ibéria criada nos anos 40 em Nova York por uma ex-deputada republicana.

No final, após assegurar que o seu livro é "optimista", Ramón Villares, frisou que "necessitamos de outro iberismo", tendo o "caminho aberto" para esse fim, com a democracia na Europa, propondo um entendimento a vários níveis do território comum.


Edições C@2000

Cemitérios de Caminha - Fragmentos de memória
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Há estórias de casas e casas com história
Externato de Santa Rita de Caminha
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República em Tumulto
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História Nossa
Crónicas de Tempos Passados
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Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000

Do Coura se fez luz
Hidroeletricidade, iluminação pública
e política no Alto Minho (1906-1960)"
Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000/Afrontamento
Apoiado pela Fundação EDP

Da Monarquia à República no Concelho de Caminha
Crónica Política (1906 - 1913)

Autor: Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


O Estado Novo e outros sonetos políticos satíricos
do poeta caminhense Júlio Baptista (1882 - 1961)

Organização e estudo biográfico do autor por Paulo Torres Bento
Edição: C@2000


Rota dos Lagares de Azeite do Rio Âncora

Autor: Joaquim Vasconcelos
Edição: C@2000


Memórias da Serra d'Arga
Autor: Domingos Cerejeira
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