A sucessão de demissões, no elenco governativo, foi vertiginosa. Em média, mais de uma por mês.
Aparentemente, pelo que se vai sabendo, seriam todas evitáveis, se houvesse um escrutínio mínimo por parte de quem convida, ou se os convidados tivessem espelho em casa. O questionário das 36 perguntas é uma cortina de fumo que nada resolve. Quem mente ou omite, verbalmente, também o fará por escrito.
Todos os dias surgem novos casos que envolvem figuras do PS e PSD por suspeitas de corrupção e tráfico de influência.
Mas o que explicará este fenómeno? Sentimento de impunidade? A vaidade que cega, quais borboletas que se deixam atrair pela luz dos holofotes? Uma espécie de sentimento de pertença a uma casta que sente um direito natural de que tudo lhes é permitido, na coutada em que transformaram este país?
Será que não há ninguém melhor para recrutar e isto é uma tragicomédia que só pode acabar mal?
Ou será que estamos perante uma gigantesca conspiração e isto tudo está a acontecer porque é a direita, por artes mágicas, que "sugere", a António Costa, os nomes a convidar e escolhe a dedo, com grande eficácia, como está à vista.
Há quem diga que a próxima produção, da saga 007, será inspirada neste "case study" do lamaçal nacional e terá como título 007-LICENÇA PARA G??AR. Será integralmente rodado em Portugal e todos os actores serão conhecidos "artistas" portugueses. Terá o formato de série, dado o número interminável de episódios.
Para o papel de vilão, é abundante a oferta. A produção está com grandes dificuldades em encontrar o James Bond.
Pode ser que estes personagens, com tanta sede de protagonismo, se dediquem à vida artística e abandonem a política, dando lugar a gente que a prestigie e torne os areópagos da vida pública lugares frequentáveis.
Os trabalhadores, em geral: sejam do setor privado; sejam funcionários públicos, devem ser incentivados e terem todas as condições possíveis e legais, para poderem, em qualquer momento das suas carreiras profissionais, concorrer a cargos de maior destaque, que envolvam mais responsabilidade, mas também que facilitam a ascensão a melhores salários e estatuto socioprofissional mais elevado, com valorização pessoal e prestígio social.
Igualmente devem estar preparados para, periodicamente, serem avaliados e reunirem as melhores condições, designadamente, para as promoções por mérito excecional, considerando, conjugadamente, vários critérios de promoção: antiguidade, habilitações literárias adquiridas ao longo da carreira na instituição, formação profissional, modernização nas boas-práticas, polivalência, assiduidade, pontualidade, lealdade à instituição e seus dirigentes, entre outros.
A competição sadia interpares, constitui uma forma dinâmica de estar na vida profissional, e dignifica o funcionário, o qual adquire respeitabilidade, que lhe advém das diversas competências que vai acumulando, ao longo da sua carreira, e as coloca ao serviço do público, do crescimento e prestígio da instituição.
Um cuidado muito especial precisam ter os dirigentes, no sentido em que, sempre que houver um lugar de nível superior, devem: primeiro, convidar o pessoal da "casa", para ocupar tal cargo e, se for necessário, dar formação àqueles que possam vir a reunir condições; para, e só depois, caso não haja ninguém interessado, abrir concurso público.
O executivo municipal, bem como todos os titulares de cargos superiores, obviamente, devem ser os primeiros a dar exemplos do exercício daqueles princípios, sob pena de efetuarem avaliações incorretas e injustas, dos seus subordinados hierárquicos.
Além disso, conceber, e implementar, um sistema de avaliações imparcial, justo e oportuno, é outra medida que se impõe, cada vez com mais acuidade, porque será pelo trabalho, conjugadamente com outros fatores, que o funcionário terá condições de progredir na carreira, e na vida, proporcionando à sua família, as melhores condições de bem-estar em todos os domínios.
A maioria das pessoas, aspira evoluir na vida, ter uma situação económica sustentável, e confortável, um futuro promissor. O trabalho, com todas as suas envolventes: estudo, habilidades técnicas, cultura, princípios e valores, constitui, por isso mesmo, o grande propulsor do desenvolvimento, da dignidade humana, e da consolidação, sempre em crescendo, da economia, logo, tem de ser avaliado com objetividade, imparcialidade e justiça.
Hoje em dia: "O progresso económico torna-se o paradigma em todos os domínios - económico, político, cultural - e a organização racional do trabalho, entendida como a única maneira correta de se atingir os fins desejados, passa a se estender a todos os domínios da vida. O trabalho que em todos os tempos constitui o imperativo moral ou económico estruturador do dado social, com a ideologia do progresso tende a se tornar uma atividade instrumental." (TEXEIRA, 1990:60).
Acredita-se que a maioria das instituições: públicas, privadas e cooperativas; solidariedade e humanitárias; filantrópicas e não-governamentais; ou de qualquer outra natureza e fins, não deseje ter ao seu serviço um batalhão de trabalhadores, semi-operacionais, desatualizados, desmotivados, nada dignificados, e muito menos desrespeitados. Também não se acredita que a maioria dos profissionais que, como tal desejam ser considerados, queira viver profissional e civicamente em tais situações.
Poderá, inclusivamente, constituir uma ofensa ao trabalhador, enquanto tal, e às suas dignidades profissional e pessoal, não lhe serem dadas oportunidades, e condições para desenvolver-se como pessoa e como profissional, situação que pode ocorrer, numa qualquer instituição, quando os recursos são escassos, quando os departamentos são numerosos e se admite pessoal: que não é necessário, que não é qualificado e que depois fica numa posição de indefinida estagnação profissional, com todas as más consequências daí resultantes.
Um quadro de pessoal, ajustado aos fins/objetivos da instituição, parece ser a estratégia correta, e até a mais justa, tendo em conta os legítimos interesses de progressão profissional na respetiva carreira, de qualquer trabalhador que possua brio e capacidade profissionais.
O congelamento da admissão de pessoal, por exemplo, na função pública, bem como das promoções dos atuais efetivos, podem ser consequência do excesso de pessoal que, entretanto, foi admitido, daí resultando prejuízos materiais, pela estagnação dos vencimentos, agravada pela inflação e danos socioprofissionais, pela excessiva permanência na mesma categoria e grande desmotivação, conduzindo a que os funcionários não consigam dar o rendimento, que poderiam proporcionar à instituição e aos utentes da mesma, o que revela estratégias inadequadas, e uma gestão dos recursos humanos injusta e frustrante, quer para quem trabalha, quer para quem pretende vir a desenvolver condignamente a sua atividade profissional, quer, ainda, para os dirigentes.
O Executivo Municipal, e toda a sua equipa, têm, portanto, o dever ético-moral, e socioprofissional, de acompanhar a evolução dos funcionários que trabalham sob as suas ordens, orientações e diretivas gerais legais. Cumpre-lhes criar perspetivas, proporcionar as condições para que elas se concretizem, no sentido dos trabalhadores se realizarem como profissionais e como pessoas.
Sem qualquer dúvida que: "Os seres humanos gostam de saber como vão indo. Os administradores têm uma obrigação para com o seu pessoal, conservando-os avisados sobre seu progresso ou falta de progresso no trabalho. (…). Os líderes da moderna administração constroem em suas organizações um método formal de avaliação de desempenho e de aconselhamento de empregados sobre desempenho." (CARNEGIE & ASSOCIADOS, 1978:213).
Em muitas pequenas cidades e vilas, a Câmara Municipal é um dos principais empregadores, criando e mantendo postos de trabalho, tão necessários ao desenvolvimento social das respetivas localidades e populações, que nelas se fixaram ou pretendem estabelecer-se.
É de louvar o esforço financeiro despendido por estas autarquias que, com tal estratégia, contribuem para o desenvolvimento local, revelando uma visão humanitária da governação e grande sensibilidade pelas questões sociais, a partir da empregabilidade, que proporcionam aos seus munícipes. O problema maior, porém, reside na sustentabilidade dos postos de trabalho, na perspectiva do exercício do direito que todos os trabalhadores têm, nomeadamente, de progredir nas suas carreiras profissionais.
O dilema, aqui, coloca-se, portanto, nos seguintes termos: ou se mantém o maior número possível de postos de trabalho, porém sem progressão (o que até poderá ser ilegal, para além de ser injusto e frustrante); ou se adota um quadro de pessoal adequado às necessidades, em função das competências, fins e objetivos da instituição, contudo, todos tendo condições de serem promovidos, em tempo útil, com justiça, pelo mérito e outros critérios, de acordo com a legislação aplicável.
Poderão, aqui, os Sindicatos e as Comissões de Trabalhadores darem o seu contributo responsável, obviamente, com o assentimento dos interessados - os funcionários. Nestas circunstâncias, o Executivo deve agir em conformidade com a Lei, integrando nas suas decisões as sugestões que forem apresentadas pelos trabalhadores, através dos seus representantes, os sindicatos, e que se compatibilizem com a Lei.
Bibliografia
CARNEGIE, Dale & ASSOCIADOS, (1978). Administrando Através das Pessoas. Tradução, Ivan Zanoni Hausen. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército - Editora
TEIXEIRA, Maria Cecília Sanchez, (1990). Antropologia, cotidiano e educação. Rio de Janeiro: Imago Editora