Coincidindo com o Dia Internacional da Defesa Costeira (17 Setembro), a Corema, AquaMuseu, de Vila Nova de Cerveira, Associação Portuguesa do Lixo Marinho, RAIA-Associação Transfronteiriça de Educação Ambiental de Monção e a Fundação Oceano Azul, procederam a mais uma acção de limpeza da praia da Foz do Rio Minho, envolvendo algumas dezenas de voluntários.
Os diversos tipos de lixo iam sendo depositados em diferentes recipientes, após as explicações prestadas antes do arranque da acção, sendo tomadas todas as medidas de higiene.
José Gualdino, presidente da direcção da Corema, manifestou o seu contentamento pelo aumento de colaboradores "ano após ano" nestas campanhas, conseguindo que em 2022 fosse ultrapassada a meia centena.
"A novidade deste ano" - microplásticos
Confirmou-nos que "o lixo é separado por diversas categorias", de modo a obter informações que possam ser remetidas à Agência Portuguesa do Ambiente, para que "possam ter uma fotografia da poluição das zonas costeiras".
Patrícia Louro, da Associação RAIA e representando igualmente o AquaMuseum, já participa nestas campanhas de recolha de resíduos há cinco anos, e era quem elucidava as pessoas ("orientação de actividade", precisou) da forma como deviam proceder na apanha de lixo.
Declarou-nos que este ano tiveram em atenção as pessoas estrangeiras que participaram ou que "nunca tiveram contacto com os microplásticos", procedendo inicialmente a uma "simulação daquilo que iriam encontrar no areal", nomeadamente essas pequenas partículas de plástico "escondidas no areal", devendo efectuar uma "crivagem" do que fosse encontrado.
80% do lixo é constituído por microplásticos
Outra componente da iniciativa ambiental, reservava uma "sensibilização dos participantes para a origem dos microplásticos que se encontram nos nossos hábitos quotidianos, quando consumimos plástico", atendendo a que eles "não são bem recuperados ou eliminados", um perigo que valorizou, uma vez que "entram na cadeia alimentar dos animais marinhos", a par de já existirem "muitos registos de microplásticos nos peixes fluviais.
Não hesitou em classificar o plástico como o lixo preponderante "nesta e em muitas outras outras praias", apontando para uma percentagem na ordem dos 80%, tanto em Portugal como em outras partes do mundo.
Ucranianos participaram
Tal como frisou o presidente da Corema, Patrícia Louro realçou a presença de "várias faixas etárias e estrangeiros", conferindo a esta comunidade radicada na região um valor acrescentado, incluindo este ano, a inclusão de cidadãos ucranianos, "uma heterogeneidade" que muito valorizou, devido "à nossa persistência, ano após ano".
O perigo das plantas invasoras
Uma semana depois, no auditório do Museu Municipal de Caminha, com o apoio do Município caminhense, Elizabete Marchante, Professora Universitária da Universidade de Coimbra na área da Biologia e Ecologia, deu uma palestra sobre gestão e controle de plantas invasoras.
"Eram outros tempos"
A abrir esta acção educativa no campo ambiental, João Pinto estreou-se como representante do Município num dos pelouros que abraçou desde esta semana, precisamente o do Ambiente (Sustentabilidade Ambiental, Transição Energética e Adaptação às Alterações Climática).
Elogiou a iniciativa e persistência da Corema, designadamente "o lutador Gualdino", na defesa do ambiente há décadas, desde "esses tempos difíceis" para quem já pugnava por estes ideais, recordou, mas comprova-se hoje quão acertadas eram essa campanhas porque, precisou, "agora, não sobreviremos se não interviermos na defesa do ambiente".
"Não podemos aceitar como normal esta invasão", assim incentivou José Gualdino os presentes nesta palestra/debate, garantindo que "a Corema contribui para que este tema tenha repercussão junto da Administração Pública", dando como exemplo nefasto a proliferação da háquea proveniente do sul da Austrália e que "interfere negativamente com o meio", a par de outras espécies como a acácia das espigas e eucaliptos ou o jacinto de água.
A palestra da Professora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, suportada por muitas imagens das espécies invasoras, terrenos dominados por elas e dados estatísticos da sua proliferação em Portugal, não teve dúvidas em afirmar que "muitas delas chegaram cá com a ajuda do homem" ou "misturadas com outras sementes e solos", resultando em "impactes negativos na maioria dos casos, afectando a biodiversidade", considerando-as "a quinta ameaça" nesta área. Precisou, contudo, que algumas das espécies, em certos casos, "são a segunda ameaça", embora algumas até possam ter trazido benefícios.
Exibida uma espécie de háquea
"Há mil espécies de acácias", avançou, e apontou o jacinto de água como um perigo para a água, tendo mostrado aos presentes uma háquea retirada da Serra d'Arga, cuja proliferação se deve essencialmente à secura e fogos florestais, levando a que os seu frutos se "expandam para longe", alargando cada vez mais esta praga, causando ainda impactes económicos relevantes, ao que se associam todas os demais, tendo já causado nove biliões de euros de prejuízo entre 1997 e 2017.
Turismo, lençóis de água, saúde humana (erva das pampas provocam alergias, por exemplo) continuam a ser afectados, dando ainda como exemplo pernicioso a mimosa em flor, que chegou a ter uma época turística dedicada a ela, recordou.
Proseguindo, referiu que os estudos apontam para uma Agenda 2030 com um desenvolvimento sustentável, e a própria legislação tenta alcançar esses objectivos. Embora já haja legislação nacional desde 1999 impedindo o alastramento das espécies invasoras, na prática, ela não foi eficiente.
Eucaliptais descontrolados
A questão do eucalipto não poderia escapar neste debate, considerando Elizabete Louro que não estamos perante uma árvorde invasora mas sim "exótica", cuja perigosidade se mede pela sua expansão. "Enquanto esteve restrito às plantações, os problemas não foram grandes, mas a gestação espontânea e a plantação sem regras" causaram a gravidade por todos conhecida.
Esta investigadora colocou aos presentes duas situações ilustradas por fotografias, pedindo-lhes que dissessem em qual delas actuariam em primeiro lugar.
Dilema para autarquias e particulares
Se todos concordaram em que se deveria atacar em primeiro lugar as zonas em que as invasoras ainda se encontravam num fase embrionária, em contraste com as grandes manchas de território em que já nada havia a fazer, Miguel Gonçalves, presidente da Junta de Freguesia de Caminha/Vilarelho, chamou a atenção para a necessidade de cumprimento de legislação que obriga todos a assegurar as limpezas junto de habitações e dos aglomerados populacionais, porque em caso de incêndio e destruição de casas e outros haveres (sem falar de mortes), "nós temos responsabilidade civil", o que leva a que se atenda em primeiro lugar a estes casos mais prementes.
Esta Professora concordou que a legislação deveria mudar, tal como a "mentalidade" nas prioridades a conceder às eliminações e à reflorestação correcta, mas de novo Miguel Gonçalves a falar na dificuldade em concretizar acções de plantações de espécies autóctones, "por falta de fundos para investir" nesta prioridade sentida por todos, aliás.
Visita ao Camarido
Na parte da tarde, os participantes nestas palestra, visitaram a Mata Nacional do Camarido acompanhados pelo seu gestor distrital, verificando in loco exemplos de infestantes e acções de prevenção de incêndios, em que a limpeza e ampliação dos aceiros são relevantes, a par das plantações de espécies resilientes aos incêndios e autóctones.