Os 54 ucranianos - na sua maioria mulheres e crianças, "desde o Ivan com 17 meses, até à Antonina com 71 anos", como destacou Miguel Alves - que se encontram refugiados nas freguesias do concelho de Caminha foram alvo de um encontro informal organizado pela comunidade ucraniana já aqui residente (e que os tem acolhido e apoiado) na Quinta da Quinhas (onde estão igualmente albergados alguns deles, como a Oxana, que já pediu que sua mãe e sogra, fugidas recentemente de Mariupol, e presentemente em Kiev, possam juntar-se a ela, solicitação aceite pela Câmara de Caminha) na tarde do passado dia 14, contando com a presença de autarcas de freguesia, os presidentes da Assembleia e Câmara Municipal e vereadores, bem como a cônsul da Ucrânia no Porto, Alina Ponomarenko.
Num acto emotivo, pelas circunstâncias que rodeiam a vinda de cidadãos ucranianos para os municípios portugueses, a exemplo do que sucede nos demais países europeus que acolhem milhões de pessoas que fogem da guerra e da devastação do seu país causada pelo social imperialismo russo liderado por um antigo chefe do KGB.
Sandra Fernandes, vereadora com a responsabilidade da acção social, agradeceu aos proprietários da Quinda Quinhas (um albergue de peregrinos e um espaço coworking), inaugurado há pouco mais de um ano na Rua de Bulhente, a disponibilidade para realizar neste ambiente rural o convívio dos ucranianos, o qual foi apoiado pelos voluntários e colaboradores que "desde o início se juntaram nesta missão".
Miguel Alves, presidente da Câmara Municipal de Caminha apoiante da iniciativa, deu as boas-vindas a estes cidadãos do leste da Europa acolhidos em diversas casas do município caminhense.
Embora sabendo que "esta não é a vossa casa", o autarca frisou que "durante estes dias há um coração que bate e que tem as cores das bandeiras portuguesa e ucraniana, quer durante as semanas em que já se encontram cá, e o tempo que vocês quiserem, esta é vossa terra e esta é a vossa casa".
Ver as imagens na televisão "não é o mesmo que cada um de vós sente"
Embora observemos nas televisões "as imagens, de guerra, de destruição e de morte", disse a determinado passo da sua intervenção Miguel Alves, "não é o mesmo que cada um de vós sente", mas exortou-os a acreditar que "este povo de Portugal sente na pele" o seu problema e "está convosco neste sofrimento que acaba por contaminar as nossas vidas e que nos ensina que sermos humanos é abraçarmos o outro, quem tem necessidade e quem precisa de nós".
Acredita que os portugueses "também estão a aprender muito com a coragem, patriotismo e dedicação ao próximo".
"Embaixadoras da Ucrânia no concelho de Caminha"
As palavras do autarca caminhense foram sendo traduzidas para ucraniano por Irina, uma das emigrantes aqui radicadas há uns anos, sendo uma das que liderou o processo de acolhida dos seus compatriotas fugindo do genocídio cometido pelos invasores do norte, nas aldeias, vilas e cidades de um país soberano.
Miguel Alves agradeceu seguidamente a todos os que no concelho de Caminha "têm procurado receber da melhor forma os ucranianos que fogem à guerra", retribuindo a gratidão à comunidade ucraniana já existente cá e "que tem procurado receber da melhor forma" os seus conterrâneos, destacando a Ana Cardal (casada com um português) e a Irina, considerando-as "as embaixadoras da Ucrânia no concelho de Caminha".
"Uma lição para o mundo"
O presidente da Câmara, por fim, elogiou os seus conterrâneos que têm vindo a receber aqueles que "fogem de uma guerra injusta e ilegal", particularmente, "aqueles que têm aberto as portas das suas casas e oferecido parte da sua comida" aos ucranianos, sem esquecer todas as instituições, desde "a saúde, segurança social, trabalhadores da Câmara, freguesias e seus presidentes, vereadora Sandra Fernandes e das mais variadas áreas que têm estado a trabalhar connosco".
A presença da cônsul da Ucrânia mereceu igualmente relevo especial nas palavras de Miguel Alves, classificando-a como a representação oficial do Estado Ucraniano neste acto "junto de nós", pelo que lhe pediu que "transmita ao seu país o orgulho que temos no combate pela liberdade, pela democracia, pelos direitos humanos que vocês estão a fazer no coração da Europa" e que constitui "uma lição para o mundo".
"Ficarão para sempre nos nossos corações"
Em nome da comunidade ucraniana que vem crescendo em Caminha devido às contingências actuais, Irina agradeceu aos "anfitriões e hospedeiros desta casa" pelo acolhimento concedido, extensivo a todas as demais famílias que receberam nos seus lares os refugiados "de braços abertos".
Adiantou que toda essa amizade e solidariedade demonstradas "nestes tempos difíceis para os ucranianos ficarão para sempre nos nossos corações", extensivas a todos os que ficaram na Ucrânia.
Aleksandra, representante destes cidadãos europeus agora residentes no município caminhense, agradeceu o apoio e amizade evidenciados nestes dias, constituindo-se numa nova família, extensivos à Câmara Municipal e juntas de freguesia.
A representante consular da Ucrânia na cidade do Porto, Alina Ponomarenko, foi a última a discursar, antes de uma jovem cantora ucraniana encerrar o acto, interpretando uma canção do seu país.
"Estamos a lutar pela civilização"
A cônsul, em sintonia com os demais intervenientes, agradeceu de igual modo a solidariedade registada em Caminha, perante "a agressão de que foram alvo da parte da Rússia", em que "todos os dias as cidades são transformadas em ruínas", com todos os horrores inerentes, o que a levou a realçar a necessidade de apoio contínuo dirigido "a toda a comunidade internacional", quer pelas sanções impostas em todo o mundo, quer através, ainda, do pedido de apoio em todas as áreas.
Alina Ponomarenko não esqueceu de vincar que "o povo ucraniano está a morrer pela liberdade da Ucrânia e da Europa", levando-a a acreditar que um dia farão parte da União Europeia, terminando a assegurar que "a Ucrânia ganhará!".