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Vilar de Mouros

Centenária passou a vida a trabalhar na lavoura

Alice Alexandrina Morada, nascida no lugar de Marinhas há 100 anos, no dia 17 de Fevereiro de 1922, passou o dia de aniversário do seu centenário, na passada Quinta-feira, em casa de sua filha Filomena com quem vive há seis anos após o falecimento de seu marido, tendo recebido um ramo de flores da Junta de Freguesia para quem "é uma grande satisfação passar a ter uma pessoa centenária (a única) na freguesia", revelou-nos Carlos Alves, presidente da autarquia vilarmourense, "tendo em conta os tempos difíceis que passamos, fazendo votos para que sucedam mais casos como este" - atendendo a que há mais habitantes prestes a atingirem os três dígitos de idade -, nomeadamente por se encontrar lúcida e bem de saúde, completou.

No próximo Domingo, a família (sobrinhos e netos) reunir-se-á numa festa de aniversário, comemorando esta efeméride de uma mulher que trabalhou toda a vida na lavoura.

"Os meus pais eram lavradores"

Eram oito irmãos (sete raparigas — três delas "aleijadinhas — e um rapaz), trabalhando desde bem novos na agricultura, recordando que "em Argela também tínhamos quatro leiras", porque a avó dela era desta freguesia (seu tio, era o Dr. Júlio Baptista, irmão de sua mãe Clementina, filha da Jovina do Carvalhal), onde possuía "um campo com uma nora de tirar água à beira do rio puxada por vacas, mas só trabalhamos lá um ano, porque a minha mãe dizia que no final, as vacas até estavam inchadas de andar de roda". Milho, batatas e centeio para a casa era o que cultivavam, a par de irem com as vacas para pastarem, após o que se ia às ervas para as camas dos animais e fazer estrume para deitar nas leiras de milho, a fim de garantirem comida para esses animais, dos quais aproveitavam o leite e as crias para "fazerem um bocadinho de dinheiro para comprarem um porquinho". Referiu que o seu pai também pescava mujos, solhas e lampreias (estas duas espécies com uma fisga) de barco ("era o 105", ainda se recorda, movido a remos ou com vara) e iam vendê-las a Seixas com a finalidade de "comprar um cabritinho na Páscoa".

"Sá andei até à 2ª classe"

Frequentou a escola primária até à 2ª classe, mas por fim "só ia de noite uns bocadinhos, porque tinha de ir com as vacas para a junqueira e o meu pai teve de ir falar com a senhora professora (a D. Adélia) porque marcava-me faltas" e eram multados.

Apesar do pouco tempo de ensino, "ainda consigo ler, mas pouco", embora hoje em dia não dispense a leitura dos seus livros preferidos, "apesar da vista ser fraca", referiu-nos. Quanto à televisão, não a atrai, apenas se espanta ao ver tanta gente com aquelas máscaras.

Casou-se aos 30 anos com João Torres (habitual feirante às quartas-feiras, em Caminha), também de Marinhas, falecido há seis anos, tendo tido dois filhos.

"O meu tio e padrinho Boaventura ia buscar-nos e levar a casa depois dos bailes"

Na sua juventude, faziam serões e festas no monte, com concertinas, e chegou a ir aos bailes do clube, "com o meu tio e padrinho Boaventura, que morava à nossa beira, e que era sócio, mas tinha de pedir autorização ao meu pai, porque ele não nos deixava ir ao baile de noite".

Assim como ia anualmente ao Almoço dos Reis e costumavam "jogar o jogo da péli", chutando uma bola com os pés "de um lado para o outro".

"Fraco era o ano em que não houvesse sete cheias até ao Natal"

Estes tempos de sequia levou-nos a perguntar-lhe se outrora havia muitas cheias no Coura, referindo-nos que se dizia em Vilar de Mouros que "fraco era o ano em que não houvesse sete cheias até ao Natal" no rio Coura.

Perguntando-lhe se estava contente com este seu centenário, respondeu-nos sem hesitar que "muito contente não estou, porque estou cada vez mais velha e mais fraca".

Pedindo-lhe uma opinião sobre os jovens de hoje, disse-nos que "eles é que sabem por onde andam" (riu-se).



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