As eleições legislativas do passado dia 30 de janeiro culminaram numa derrota expressiva da direita portuguesa, contrariando as sondagens dos últimos dias de campanha eleitoral. É fácil fazer prognósticos no fim do jogo, mas devo dizer que o resultado eleitoral não me surpreendeu. A direita deixou de se dirigir aos trabalhadores que recebem salários baixos, aos pensionistas e aos funcionários públicos. Apostou, única e exclusivamente, no desgaste do Partido Socialista e não corrigiu o erro histórico que representou o acordo com o Chega nos Açores.
Ainda no período de campanha eleitoral, Óctavio Lousada Oliveira escrevia acertadamente no Semanário NOVO: "preocupa-me a atração dos tifosi por uma forma agressiva, truculenta, provocatória, insinuante e até malcriada de participação num momento de capital importância para o esclarecimento dos eleitores. Nos tempos que correm, de polarização máxima e sensatez mínima, a direita, órfã, deixou-se cativar pela mediocridade. A infantilidade é tida como irreverência. Para a deselegância encontra-se o eufemismo da assertividade. Ao autoritarismo chama-se pulso firme. Na técnica da amálgama argumentativa vê-se fluência e retórica ímpares. A intolerância passou de pecado a virtude. E a predisposição para a ofensa é aplaudida por, alegadamente, representar a recusa de rendição à esquerda, ao marxismo cultural, à ideologia de género, à política de cancelamento, às modinhas, ao Príncipe Real, aos salões do regime ou ao diabo a quatro".
Findo o processo eleitoral, a direita deve retirar consequências e lições para o futuro. A nível nacional, mas também a nível local, que representa o primeiro contacto de muitos cidadãos com o debate e a prática política.
Para minha tristeza, nos últimos meses, a representação da direita na Assembleia Municipal de Caminha tem seguido o caminho que ofereceu uma nova maioria absoluta ao Partido Socialista em Portugal. Um caminho provocatório, desprovido de qualquer tipo de moderação ou empatia pelos adversários políticos, baseado em questões acessórias, sem uma ideia de futuro, que mobilize e agregue os cidadãos em torno de uma alternativa positiva para uma vida melhor no nosso concelho.
Ao longo dos quatro anos em que tive a oportunidade de intervir na Assembleia Municipal nunca foi essa a minha postura. Defendi sempre as minhas ideias com urbanidade e respeito pelos adversários. Adversários que reconheceram várias vezes a justiça das minhas intervenções, mas com quem também aprendi. Adversários que admiro e em muitos casos se tornaram amigos, por quem tenho enorme simpatia. Porque, como disse várias vezes, se é verdade que as minhas simpatias pessoais não condicionam as minhas opções políticas, as minhas opções políticas também não condicionam as minhas simpatias pessoais.
Essa postura foi, no passado recente, descrita como "cobarde" ou "mansinha" pelo atual representante do grupo parlamentar. Tal como escreve Francisco Mendes da Silva, há sempre quem diga que a moderação é uma forma de cobardia. É precisamente o oposto, porque só o espírito da moderação enfrenta a única questão política fundamental: como é possível vivermos todos juntos? Que ordem garante que todos conseguimos, em paz, fazer valer um módico essencial dos nossos valores? Como é que, no caos da complexidade humana, se sustenta uma comunidade, uma nação, um povo, uma democracia, uma civilização? É este o problema radical da política, e só ele exige verdadeira coragem e engenho. Tudo o resto é desviar o olhar daquilo que importa.
Cheguei, portanto, a um momento em que, perante uma forma de estar tão distante daquela que defendo, não só como correta, mas também como a mais eficaz para que a direita possa voltar ao poder e apresentar um projeto de mudança para o concelho, não me resta, hoje, outra opção que não seja a de entregar o mandato que me foi conferido à coligação pela qual fui eleito.
Despeço-me com tristeza pelas razões que motivam este abandono, mas com um enorme orgulho pela oportunidade que me foi dada de representar os cidadãos do meu concelho na sua Assembleia Municipal.