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Caminha

Associação de Pescadores analisa várias situações

Apesar do preço elevado da lampreia e da safra do meixão ter sido razoável, chegando esta espécie a atingir os 500€ por quilo, a pesca não consegue atrair jovens para esta actividade profissional, e as perspectivas não são animadores.

Segundo nos revelaram responsáveis pela Associação de Profissionais de Pesca do Rio Minho e Mar, actualmente, há 135 barcos inscritos para pescar no Rio Minho. Na época da lampreia, existiam 20 embarcações de Vila Praia de Âncora que fainavam neste rio, e que se deslocavam para o Minho para a pesca da lampreia e meixão na época permitida. Hoje, são apenas três as únicas resistentes.

Nuno Castro, vice-presidente desta associação, prepara-se para se mudar para Viana do Castelo com o seu novo "truque" acabado de adquirir nesta cidade, porque "as condições da barra na foz do Minho são más", nomeadamente devido ao assoreamento, o que torna perigosa a sua travessia, estando muitas vezes encerrada, justificou Augusto Porto, presidente da Associação dos Profissionais de Pesca do Rio Minho e Mar, a decisão do seu camarada.

Só duas traineiras

Com a saída desta traineira, Caminha apenas ficará com dois "truques" a poder ir pescar no mar, contaram estes dois profissionais ao C@2000, apontando como outras razões, a dificuldade em atracar com a maré baixa no Cais da Rua e o mercado ainda não estar a funcionar.

Nuno Castro, com pesar, desabafou que "não vê Caminha com futuro na pesca". Atracadas em Caminha, existem 20 embarcações, quase outras tantas em Seixas.

Vila Praia de Âncora possui apenas 12 barcos pequenos de pesca que vão ao mar, porque "muitos pescadores reformaram-se e não há uma geração nova".

A remodelação da zona do "Quintas", à entrada do Pinhal do Camarido, "era fundamental para a nossa actividade", assumiu Augusto Porto, "criando-se uma zona de marina e um estaleiro e nós temos mecânicos que se querem instalar no concelho", garantiu-nos.

Associação já investiu no estaleiro do Quintas

De modo a proporcionar algumas facilidades a pequenos arranjos e pinturas nos barcos de pesca nos antigos estaleiros do Quintas, esta associação já gastou entre 4 a 5.000€.

A situação do arrumo dos apetrechos de pesca é outra das preocupações, apontando para esta zona como o local ideal para os colocar, mas enquanto que isso não for solucionado, a utilização do largo da Cabreira será um remedeio provisório.

Agusto Castro pede ainda a criação de um leilão de lampreias em Caminha, que deveria funcionar no novo mercado, sendo mais sentida a sua falta no verão, quando a pesca do rio diminui, levando a que muitos barcos se dirijam com as suas capturas para os portos onde existam lotas.

"Meixão é fundamental"

A pesca da enguia encontra-se interdita há alguns anos. Augusto Porto não vê grandes inconvenientes nesta medida, porque "a nível económico, para os pescadores, a enguia não tem peso e quem a pesca é quem o faz por diversão", ao contrário do meixão, porque, "esse sim, é fundamental para nós, apesar de pairarem algumas nuvens negras" a tentar impedir a sua captura. Se tal suceder, será um grande arrombo para a economia dos pescadores, dando como exemplo o sucedido este ano, uma época "regular" e em que houve luas com o preço a superar os 500€ por quilo. Teme que se esta pesca for proibida, será o fim dos pescadores no Rio Minho, porque, justifica, "é muito mais fácil ter mais lucro no meixão do que na lampreia".

Interdição da pesca no "caminho" não agrada a pescadores

Desde sempre, os pescadores portugueses e galegos pescaram no designado "caminho", entre a Ponta Grossa e a Ponta Ruiva, em frente à Ínsua.

No entanto, têm existido várias tentativas para fechar a pesca nesta zona de mar, no âmbito de uma nova gestão da pesca no troço internacional do Rio Minho, uma ideia que "a nossa associação considera errada a não ser que seja assente numa base bem fundamentada e que venha a proteger a pesca profissional", declarou ao C@2000 Augusto Porto.

Este pescador sinaliza que tal medida provocaria uma elevada concentração de barcos e redes a montante da Ponta Grossa, "o que impediria completamente a pesca" e prejudicaria os profissionais que fazem os seus descontos, ao contrário dos que o fazem sazonalmente.

"Critério que defenda ambas as pescas"

Augusto Porto não pretende que a pesca seja proibida a quem tem carta de arrais ou cédula de pesca, mas é de opinião "de que deverá haver um critério que defenda ambas as pescas", recordando, por exemplo, o que se passa nas águas interiores do rio Lima, em que apenas podem pescar os profissionais.

Contou-nos que está em curso um estudo levado a cabo por um investigador grego, que tem vindo a recolher opiniões de pescadores ao longo do rio Minho, na tentativa de criar três zonas próprias para a pesca, sendo que um delas poderia ser entre as balizas do ferry-boat até à Ponta Grossa, outra desde essa balizas para cima, e uma terceira mais a montante.

Isto teria como objectivo terminar com a pesca entre a Ponta Grossa e a Ponta Ruiva, sob o argumento de pretenderem defender a espécie (lampreia).

"Não estamos dispostos a ir para o meio da manada"

Contudo, Augusto Porto disse que os pescadores que vivem exclusivamente da pesca todo o ano, "não estão dispostos a ir para o meio da manada", adiantando que se na zona do "caminho", numa maré, podem existir 200 lampreias, na foz (acima da Ponta Grossa), "há mil". Frisou que essas 200 lampreias podem ser divididas por 20/25 barcos portugueses e galegos com dois homens a bordo, ao passo que a montante existem 100 embarcações.

No caso de só ser possível pescar no estuário, a montante da Ponta Grossa, Augusto Porto defende que os 4.700€ anuais que são obrigados a declarar na pesca da lampreia, até deveriam subir, porque considera "irrisório" esse valor, para que a pesca "se profissionalizasse".

Lampreia não está em extinção

Este pescador adiantou-nos que há estudos a demonstrar que a espécie não se encontra em perigo de extinção, e quanto a uma eventual possibilidade de retirar os pescadores do "caminho", no seguimento do projecto turístico de recuperação da Ínsua, de modo a que uma embarcação possa navegar sem o problema das redes, o pescador caminhense recordou a importância das espécies do rio Minho, "procuradas em todos os restaurantes do país durante todo o ano", dando como exemplos a lampreia, o sável ou o meixão.

"Espero que não haja aqui um conflito de interesses"

Acentuou que não será por causa do desenvolvimento turístico que a pesca deverá ficar prejudicada, recordando que sempre "coabitamos com as traineiras que iam ao mar" - quando, antigamente, havia bastantes em Caminha -, nunca existindo problemas com a sua navegação.

Entendem, contudo, que deveriam ter sido contactados sobre o projecto da Ínsua, nomeadamente sobre uma eventual construção de um molhe de atracagem ou utilização de um barco (overcraft) para realizar o transporte marítimo, porque, justificou Augusto Porto, "eles podem estar a cometer um grande erro sobre as condições de atracagem na Ínsua, porque não têm um grande conhecimento disso", a par de "não ser fácil durante o inverno atracar na Ínsua".

"Todos deveríamos ganhar com isto"

Vincam que "todos deveríamos ganhar com isto", mas o estabelecimento de uma ligação entre os autores desse projecto e os pescadores já deveria ter acontecido.

Questionados sobre se esta não poderia ser uma oportunidade para resolver o problema da barra sul, acreditam que "se houvesse investimento financeiro" seria a altura de que todos beneficiassem com este projecto, nomeadamente para a classe piscatória, em consentâneo com o turismo, acentuaram.


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