Foi com a expressão "vira o disco e toca o mesmo" que uma das pessoas que se concentravam junto às instalações do Centro de Saúde de Caminha na manhã da última Segunda-feira a fim de conseguir uma consulta aberta, classificou o funcionamento desta unidade de saúde, agora transformada em Unidade de Saúde Familiar de uma forma quase despercebida no passado dia 27 de Dezembro.
Esta mudança de nome em nada alterou as lacunas existentes, tanto no que se refere à impossibilidade de estabelecer um contacto telefónico (prometido para final de Dezembro), como ao aumento do número de consultas abertas.
"Isto está um bocado ruim"
Outro dos caminhenses postado desde as sete horas da madrugada à entrada do Centro de Saúde, desesperava perante esta situação, no intuito de conseguir uma consulta aberta, "porque não atendem o telefone, não há vagas, não há médicos e é uma dificuldade muito grande, apesar de ter médico de família, mas está sempre sobrecarregado", desabafou Jorge Duarte, natural de Venade, perante as vicissitudes com que se depara sempre que tem necessidade se ser atendido.
Ultimamente já nem tem telefonado muitas vezes para Caminha, perante a impossibilidade de contactar esta unidade de saúde nos meses de Outubro e Novembro, por causa das vacinas, "mas nunca fui atendido", lamentou. "Depois de ter tomado a primeira vacina, tive de telefonar para o Serviço Nacional de Saúde e mandaram-me para Viana". Insistiu que deveriam restabelecer os contactos telefónicos, mas, sublinhou, pesaroso: "até o balcão de atendimento (à entrada) suprimiram", concluindo que "isto está um bocado ruim".
"Sempre que venho aqui é isto"
Uma caminhense, Maria de Fátima Gravato, disse-nos que "já venho aqui pela quarta vez" para conseguir uma consulta, a fim de mostrar uns exames, mas "não tem sido possível atender-me, ou porque está nas vacinas, ou está de férias ou porque não veio", depois de ter estado no local várias horas, porque, frisou, "por telefone ninguém me atende".
Acrescentou que "moro mesmo junto ao Centro de Saúde e vejo o que se passa". Já chegou a pedir ao marido para manter a chamada ligada para o Centro de Saúde, enquanto que ela se dirigiu até à porta, no intuito de uma maneira ou de outra marcar uma consulta, mas sem resultado.
Havendo quem atribua este mau funcionamento que se arrasta há dois anos ao Covid, Mária de Fátima Gravato insiste que "estamos nisto e não tem jeito nenhum", advogando que "tomem outras posições, porque isto é ridículo, inconcebível", pois sempre que "venho aqui, encontro esta situação".
Voltamos a contactar com a Administração da ULSAM Alto Minho, com o objectivo de obter um esclarecimento sobre este impasse, tendo-nos sido remetido o seguinte esclarecimento:
O Centro de Saúde de Caminha é constituído por 3 unidades funcionais:
uma Unidade de Cuidados na Comunidade - UCC de Caminha; uma Unidade de Saúde Familiar modelo A - USF Foz do Minho e uma Unidade de Saúde Familiar modelo B - USF Vale do Âncora.
O Centro de Saúde de Caminha serve uma população de 17 924 utentes inscritos, num horário de funcionamento das 8h às 20h em dias úteis e com Serviço de Atendimento Complementar das 8h às 20h aos fins-de-semana e feriados, garantindo, desta forma, resposta assistencial à sua população de inscritos ao longo dos 7 dias da semana.
O atendimento telefónico nos Centros de Saúde do ACeS da ULSAM, ao qual pertence o Centro de Saúde de Caminha, é realizado pelos secretários clínicos de cada unidade funcional, acumulando esta atividade com todas as outras desenvolvidas no âmbito da sua competência.
O atual contexto pandémico veio aumentar de forma muito significativa o recurso ao contato telefónico, tanto pelos utentes como pelos profissionais de saúde, nomeadamente pela necessária vigilância sobreativa de doentes e suspeitos para COVID-19 (trace-COVID) e pelas convocatórias locais para vacinação contra a COVID-19.
Esta questão tem merecido toda a preocupação e empenho da ULSAM no sentido de melhorar e aumentar a capacidade de resposta dos Centros de Saúde, traduzido num investimento gradual na modernização tecnológica nesta área assente em tecnologia voz sobre o protocolo Internet (Voice over Internet Protocol - VOIP).
A tecnologia VOIP já está instalada em todas as Unidades Funcionais do ACeS desde outubro de 2020.
Desde então, estão em fase de desenvolvimento outras soluções complementares como aumento dos Canais Telefónicos, permitindo um aumento de número de linhas telefónicas disponíveis para utilização e a implementação de Quiosque Electrónico, com automatização de vários procedimentos administrativos, libertando os secretários clínicos para outras tarefas, nomeadamente, maior disponibilidade para o atendimento telefónico.
A ULSAM espera conseguir a médio prazo, com o sistema VOIP, o aumento do número de Canais Telefónicos e a implementação de Quiosque Electrónico em cada Unidade Funcional, um melhoramento significativo no âmbito do atendimento telefónico.