Os Bombeiros de Portugal, e em particular os do concelho de Caminha, encontram-se na linha da frente no combate ao Coronavírus, quando se celebram 125 Anos de existência da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Caminha, cujas comemorações num formato adaptado às circunstâncias actuais determinadas pelas medidas de segurança e higiene, se iniciaram esta manhã (1/Agosto).

A sessão solene prevista inicialmente para o Salão do Quartel-Sede da Associação Caminhense foi transferida para a Praça Calouste Gulbenkian, com os distanciamentos exigidos e com uma presença reduzida de convidados, e mesmo as condecorações, divisas, medalhas de assiduidade de I e II Classe e distinção ao Sub-chefe Abel Ramos de Vasconcelos, pelos 45 anos de vida dedicada à Associação, obrigaram à alteração de uma série de rituais habituais nestas cerimónias.

Cada Soldado da Paz alvo de homenagem compareceu no palco montado em frente às arcadas da Capela da Misericórdia, tendo à sua frente o representante da entidade que lhe iria entregar a distinção, mas era o próprio que a recolhia ou a colocava no seu fardamento se fosse caso disso.

Apenas a imposição da "Fénix de Honra" que a Liga dos Bombeiros Voluntários de Portugal entregou à Associação, por intermédio do seu vice-presidente, Comandante José Luís Morais, pelos seus 125 Anos, foi colocada no estandarte dos Bombeiros Caminhenses por Miguel Alves, Presidente da Câmara Municipal de Caminha.

Nos discursos da praxe, Vítor Silva, Comandante da Corporação caminhense, recordou "os que a fizeram nascer e os que vieram a seguir", neste momento particularmente delicado em que durante o período de confinamento estiveram ao serviço da população 24 horas por dia.

Agradeceu à Câmara de Caminha o apoio concedido durante o pico da pandemia (220.000€ foi a verba despendida pela autarquia com as duas corporações do concelho de Caminha, referiria mais adiante Miguel Alves) e pediu a reposição dos incentivos aos Bombeiros.

Solicitou ao representante da Associação Nacional da Protecção Civil presente neste acto, mais equipamentos de protecção individual (estão a ser tramitados, mas há formalidades a cumprir que atrasam a entrega, referiria o próprio) e agradeceu na pessoa do presidente da Direcção da AHBVC, Casimiro Lages, o terem "proporcionado as melhores condições" ao Comando e Corpo Activo, pelo que o seu conjunto de homens estão reconhecidos pela sua dedicação aos bombeiros.

Teve palavras para os presidentes de junta e suas populações pelo apoio nunca regateado aos Bombeiros, destacando que "somos solidários com todos vocês".

"Privilégio de assinalar o 125º Aniversário"

Após historiar cronologicamente a criação da AHBVC e destacar alguns dos momentos mais relevantes (espelhados numa tela fixada no gradeamento do quartel-sede), Casimiro Lages, na sua alocução, enfatizou as condecorações que se iriam seguir, e elogiou "o empenho do Corpo Activo" e o apoio recebido de diversas entidades, sem deixar de referir que aguardam há seis anos que a ANPC disponibilize os equipamentos de protecção individual prometidos.

Referiu que gastaram cerca de 60.000€ neste domínio, tendo apenas como contrapartidas as comparticipações camarárias, salientando o pagamento das refeições dos bombeiros em serviço permanente durante esse três meses de maior intensidade pandémica, material recebido, além de 5.000€ para aquisição de equipamentos de protecção e 25.000€ com a finalidade de contribuir para a aquisição de um veículo de combate aos fogos florestais.

Tendo sido colocado um painel no gradeamento da frente do Quartel com momentos históricos destes 125 anos de vida da AHBVC, Casimiro Lages pediu desculpa aos fundadores e integrantes da desaparecida Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Caminha, pela ausência de qualquer referência a esta secção nessa tela que pode ser apreciada durante as próximas semanas.

Após enfatizar a sua "gratidão" a todos os que serviram a AHBVCaminha ao longo dos seus 125 Anos, ofereceu lembranças à Câmara Municipal de Caminha, Liga dos Bombeiros, Associação Nacional de Protecção Civil e Federação dos Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo.

"Família também aguenta"

Nao são só ao Bombeiros que dão tudo na defesa de vidas e bens nesta região alto-minhota (incluindo a Galiza), também as suas famílias "aguentam" com ansiedade as saídas para emergências de todo o tipo, vincou José Salgado, presidente da Federação Distrital, perante a incerteza de voltarem a vê-los.

José Salgado referiu-se ainda a "um pilar fundamental" no apoio aos Bombeiros, ao referir-se a Miguel Alves, presidente da Sub-Comissão da Protecção Civil, na colaboração prestada às duas corporações existentes no município de Caminha.

Um minuto de silêncio

As quatro vítimas mortais de Soldados da Paz durante o passado mês de Julho não passaram desapercebidas nesta cerimónia, ao ter sido respeitado um minuto de silêncio sob proposta de José Luís Morais, vice-presidente da Liga dos Bombeiros.

Referindo-se à efeméride, assinalou que "125 Anos são um orgulho e os que cá não estão, orgulhar-se-ão dos que estão aqui", após o que felicitou os condecorados, incluindo o Sub-Chefe Abel Vasconcelos pela atribuição da Medalha de Cidadania e Mérito e todos os que tinham acabado de ser promovidos nas diferentes categorias.

Deixou uma recomendação ao representante da Protecção civil presente para que tenha em consideração os pedidos feitos para atribuição dos equipamentos de protecção ao Covid e fogos florestais, recordando que no decorrer da epidemia da designada gripe espanhola, no início do século XX, a "resiliência" dos Bombeiros dessa época fora igualmente deveras importante e reconhecida.

"Contem com a nossa colaboração"

O Comandante Operacional da Protecção Civil de Viana do Castelo disse ter "tomado nota das recomendações" ouvidas neste acto público.

Mostrou alguma mágoa pela escassez de Bombeiros Voluntários no distrito, mas, insistiu, "devemos confiar neles", referindo ainda que "125 Anos falam por si".

"Bolas! São 125 Anos de uma corporação!"

As intervenções encerraram com Miguel Alves a homenagear as centenas e milhares de pessoas (Bombeiros, seus familiares, directores e benfeitores) que contribuíram para que a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Caminha seja uma referência, após 125 Anos de serviço em que os voluntários correram e correm perigo de vida, frisou, recordando igualmente os quatro homens que perderam a vida no combate aos incêndios florestais no último mês.

Reforçando a sua ideia sobre a importância e dedicação dos Bombeiros que, acentuou, "quando saem das suas casas não têm a certeza de poderem voltar", Miguel Alves manifestou, contudo, alguma "decepção" pelas cadeiras vazias no Largo Calouste Gulbenkian, um espaço já de si reduzido à participação do povo devido às medidas de distanciamento que a pandemia (da qual os Bombeiros também nos protegem, assinale-se) obriga.

O autarca caminhense reforçou que "este deveria ser um tema - 125 Anos - que deveria mobilizar a população e, desabafando, Miguel Alves exclamou: "Bolas! São 125 Anos de uma corporação!".

"O caminho é para a frente"

Apesar deste pesar pelo eventual alheamento da população e de alguns dos seus representantes, o presidente da Câmara Municipal de Caminha insistiu que continuará a apoiar os Bombeiros Voluntários do concelho, porque eles são fundamentais na nossa defesa, citando, a propósito, uma série de acções em que se encontram envolvidos frequentemente, desde no transporte e assistência a doentes e sinistrados, ao combate aos fogos florestais e urbanos, aos resgates no rio e mar, nas inundações e situações de intempérie, "no fornecimento de água às populações" que dela necessitam, vincou, terminando com as suas intervenções na eliminação dos ninhos de vespas asiáticas a quem frequentemente as pessoas acorrem, porque mais ninguém faz esse trabalho.

As homenagens prestadas na manhã de Sábado a alguns dos elementos do Corpo Activo, mereceram igualmente uma referência especial do autarca porque "valem pelo valor da entrega e sentimento desses homens e mulheres", tendo palavras dirigidas ao seu amigo Abel Ramos de Vasconcelos, a quem "nunca ouvimos dizer mal de ninguém", disse, pela sua entrega à causa dos Bombeiros, razão da justeza do galardão recebido, completou.

Após destacar que "o caminho é para a frente", o autarca assegurou que "não me arrependo de um único cêntimo aplicado nos Bombeiros do concelho", tendo elencado os apoios prestados e as verbas direccionadas para as duas corporações (220.000€ neste ano de 2020, como já referimos anteriormente, e os 200.000€ distribuídos no ano passado).

"Estar sempre convosco na linha de combate"

Comunidade caminhense, direcção e corpo activo devem manter-se unidos e os apoios não devem ser regateados, insistiu o autarca, repisando que estes 125 Anos se comemoram precisamente "num período histórico" da Humanidade, o que o levou a sentir-se "um felizardo enquanto autarca de Caminha", prometendo "estar sempre convosco na linha de combate".

Desfile de viaturas

No final da cerimónia, 16 veículos da corporação caminhense desfilaram pelas ruas de Caminha, fazendo soar as suas sirenes e, à noite, a cantora galega Uxia, animou a noite caminhense, com um concerto na Praça Calouste Gulbenkian.

Nesse espectáculo, a cantora Uxia dedicou uma música aos Bombeiros Voluntários de Caminha e evocou uma das figuras maiores da música popular portuguesa, o cantor José Afonso que completaria 91 anos no dia seguinte, se fosse vivo.

As cerimónias comemorativas destes 125 ANOS culminarão na próxima Quarta-feira (Dia desta Associação Humanitária) com o hastear da Bandeira no Quartel-Sede pelas 10H, seguindo-se uma romagem (reduzida em número de participantes devido ao Covid) até junto do monumento de homenagem aos Bombeiros existente no Cemitério Municipal de Caminha.

Presidente da Câmara Municipal de Caminha - Miguel Alves