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Campeonato Nacional de Remo

Sporting Club Caminhense

Quatro remadores = três títulos

O Sporting Club Caminhense saiu do Campeonato Nacional de Velocidade realizado no último fim-de-semana na pista olímpica de Montemor-o-Velho com três títulos nacionais: Skiff Benjamim Feminino (Angélica Oliveira), Skiff lniciado Masculino (Luís Ferreira) e Shell/2- Feminino (Ana Gomes e Diana Ferreira).

Tantos títulos, quantos os conquistado no ano passado, em 2017 e 2016. Em 2015, o Caminhense trouxe seis vitórias para Caminha, incluindo dois barcos seniores (o tão ansiado Shell/8 e a consequente permanência da Taça Lisboa na sala de troféus durante um ano), um júnior e três veteranos.

Este ano, não apresentou qualquer tripulação júnior, não venceu qualquer prova em juvenis, abdicou do Shell/4- que vencia há cinco anos na tentativa de conquistar o Shell/8, mas a estratégia resultou mal pois apenas conseguiu um quarto lugar (não ficou em 5º por décimas de segundo), atrás da Associação Naval de Lisboa que rejubilou com o feito (3º lugar), tal a euforia dos seus remadores por terem superado o Caminhense, em contraste com os atletas verde e brancos, deitados no barco depois de cortarem a meta, aparentemente exaustos, com excepção do veterano Virgílio Barbosa, e o desespero do presidente do Clube, de mãos na cabeça, no lado oposto da pista de regatas.

A estagnação em termos de número de títulos nacionais nos últimos quatro anos, agravada pela ausência de juniores e o fracasso dos seniores (com a honrosa excepção do Shell/2- Feminino), leva a encarar com apreensão o remo em Caminha a curto prazo.

Não pela formação que mostrou ter pernas (e braços) para andar, desde que o Clube seja capaz de captar cada vez mais atletas, ensiná-los a remar e ganhar gosto pelo remo, dar-lhes condições para treinar (disponibilizando um número considerável de barcos) e manter a mística de que o Sporting Club Caminhense vai para a água para ganhar (atenção, ir para a água e não se contentar com títulos em seco - leia-se ergómetros) e não para se ficar por um 2º ou 3º lugar (o agora tão apregoado e enganador pódio).

Ninguém vai repreender ou castigar os atletas se não conseguirem atingir os objectivos que sempre nortearam o Clube de Caminha desde que o Remo é Remo nesta vila. Triunfos e desilusões são apanágio de qualquer desporto. O Caminhense sempre os teve e assim vai continuar, embora as vitórias tivessem sido uma constante no seu rico historial.

Sabemos que os tempos são outros, a diversidade de escolha desportiva aumentou, a Rua Direita é uma tentação, cada vez é mais difícil fixar os remadores após a conclusão do ensino secundário e o número de alunos vem diminuindo logo no ensino básico e preparatório, o Remo vive-se de outra maneira (menos apaixonada do que outrora ou mesmo de uma forma assustadoramente indiferente - com excepção de algumas assembleias gerais incompreensivelmente participadas) e falta discussão pública sobre a modalidade rainha (ainda?) do concelho de Caminha, não apenas entre os associados, mas também no seio de uma comunidade que viveu muitos momentos de euforia com os títulos conquistados internamente e no estrangeiro (tivemos dois remadores com uma medalha de ouro e uma medalha de bronze em dois Mundiais e vários atletas participando em Jogos Olímpicos, Mundiais, Europeus, Luso-Brasileiros e diversas regatas internacionais de prestígio, com resultados dignificantes).

Sirvam estas preocupantes reflexões (muitas mais mereceriam comentários) para despertar o leão apático que chegou a ter mil sócios no seu ficheiro, mas que não pode apenas viver de um passado a todos os títulos grandioso, se pretende regressar ao grupo da frente do Remo nacional.

O Viana Remadores do Lima saiu de Montemor-o-Velho com seis títulos juniores e o Infante com dois. Em seniores, os títulos foram muito repartidos, com Fluvial Portuense e Académica com dois primeiros lugares cada um, registando o clube do Porto o seu terceiro título consecutivo em Shell/8, após empolgante duelo com o Viana.

Skifista Benjamim Feminina de vitória em vitória em 2018/19

Nas camadas jovens, o SCCaminhense obteve uma boa vitória no Skiff Benjamim Feminino, com a ancorense Angélica Oliveira, 10 anos, estudante da EBS de Caminha, a evidenciar que pode ter futuro na modalidade que abraçou este ano por influência de seu irmão (Gonçalo Oliveira, remador Iniciado).

"Eu achei divertida a modalidade e como o meu irmão já estava cá há uns anos, pedi aos meus pais para vir", tendo-se confirmado logo acertada a opção neste seu primeiro ano de prática do remo porque venceu na distância de 500 metros.

"Eu, antes, decidi pensar positivo e deu resultado", foi o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça quando cortou a linha de meta à frente das adversárias, e com 15 segundos de avanço sobre a remadora do Barreiro, referiu ao C@2000 após ter recebido a medalha de ouro com a bandeira do Sporting Club Caminhense nas mãos.

"Venci todas as provas de Benjamins"

Acrescentou que "senti muita felicidade" ao conquistar este Campeonato, após uma época triunfal em que "venci todas as provas de Benjamins em que entrei"

Angélica Oliveira considerou ter sido difícil aguentar o primeiro lugar e "cheguei a pensar que a segunda me iria ultrapassar, mas, depois, aguentei"

Admitiu que o meio da prova (aos 250 metros) foi a parte mais difícil de superar, tendo de lutar contra o vento que dificultava o rumo a dar aos barcos.

Com este resultado, vai continuar a remar, garantiu-nos com um "sim" rotundo quando lhe perguntamos sobre o próximo ano desportivo. E quanto a mais títulos a conquistar, o "sim" foi ainda mais expressivo.

Skifista Iniciado Masculino mostrou fibra

Veio de Lanhelas o segundo título alcançado pelo Sporting Club Caminhense na tarde de Sábado, com Luís Ferreira a remar de forma elegante e a não dar hipótese aos adversários, fazendo os 1.000 metros com menos 7" que o atleta do Montemor, 2º classificado.

"Foi uma coisa incrível"

Após quatro anos de remo, este foi o seu primeiro título de campeão nacional, e não cabia em si de contente quando chegou à prancha de desembarque ainda ofegante pelo esforço desenvolvido ao longo da regata, mas com uma "felicidade enorme e até me saltaram lágrimas de alegria quando terminei a prova". Desabafou, emocionado, ainda sentado no carrinho quando o abordamos.

"Nunca pensei que conseguisse alcançar este nível", não se cansava de repetir, porque "sentia-me um bocado inseguro, mas com o apoio dos meus treinadores e dos directores do clube, senti-me com garra, inspirado e poder ganhar".

Comentando o percurso feito, confidenciou-nos que "a parte mais difícil foi aos 500 metros, quando comecei a sentir falta de ar, além de o vento estar muito forte e não dar muito jeito para remar", nomeadamente porque remou na pista 2, "das piores com vento e ainda no ano passado me espetei contra a margem", recordou.

Embalado com este êxito, este jovem franzino mas com garra, garante que "vou fazer os possíveis para continuar a remar durante muito tempo", não pretendendo mudar de barco, "porque já estou habituado ao skiff", um tipo de embarcação de que gosta, embora não se importe de participar noutros barcos.

"A regata foi muito dura"

Ana Gomes e a sua colega Diana Ferreira obtiveram o único título nacional em seniores e, a primeira, não disfarçou o seu regozijo pela vitória em Shell/2 s/ timoneiro (o Shell/ c/timoneiro já desapareceu do remo há bastante tempo, recorde-se), depois de terem ficado em 2º lugar no ano passado.

Referiu ao C@2000 que este era um grande objectivo das femininas para esta época, depois de terem falhado o título nacional de Fundo.

Superada a dificuldade do Sport, uma sombra no passado recente das remadoras do SCC, Ana Gomes, baseada no que se passara na Regata de Gondomar e na Litocar, explicou ao C@2000 que duas juniores da Naval poderiam ser as principais adversárias para este Nacional, mas acabou por ser o Viana a ficar em segundo lugar, "porque reforçou a equipa de Shell/2 -".

Esta cerveirense a remar no Caminhense há anos, não conseguiu determinar com exactidão qual a fase mais difícil dos 2.000 metros, porque "a regata foi muito dura", com alternativas no comando entre os três barcos, sendo forçadas a "apertar ao limite nos últimos 200 metros para vencer".

A preparação para este ano foi a de sempre, tendo em vista o título nacional, "tentando sair o máximo para a água porque é um barco muito técnico a exigir muitos e muitos quilómetros de água", recebendo ainda o contributo de um barco novo (um AVE), que embora "não fosse o mais adequado para nós porque é para pesados masculinos", confessou, conseguiram adaptar-se e "trazer o título" para Caminha, completou esta remadora já veterana (36 anos a completar este ano e que já rema há 26).

O Caminhense conseguiu dois títulos femininos, um facto notado por esta atleta, atendendo a que o Caminhense "sempre foi reconhecido como um clube masculino, com grande aposta no Shell/8, mas tentamos impor as femininas e fomos superiores aos masculinos", vincou.

Três dias depois da realização destes Campeonatos, de modo a permitir uma apreciação mais serena e a frio dos resultados obtidos, pretendemos recolher um comentário à prestação do Sporting Club Caminhense.

Contactamos o presidente do Clube, Pedro Fernandes, mas encontrava-se, no estrangeiro até ao fim deste fim-de-semana, disse-nos. Teremos oportunidade de o ouvir mais tarde, se assim o entender.

Outras classificações

Neste Campeonato, o SCCaminhense obteve ainda as seguintes classificações em Finais A:

1X Benj H - 2º (João Pinto) ;

1X Benj F - 3º (Gabriela Silva);

1X Inf H - 3º (Simão Gonçalves);

2X Inf H 5º (Tiago Carvalhosa e Duarte Braga);

1X Ini F - 4º (Carolina Cunha) ;

1X Ini F - FinalB ;

2X Ini F - 5º (Inês Silva e Diana Alves);

4X Ini H - 4º (Gabriel Afonso, Pedro Silva, Ulyssse Cancela e Simão Gonçalves);

4XJuv F - 2º (Luzia Rocha, Sara Rodrigues, Leonor Rocha e Inês Brito);

4X Juv H - 3º (Nélson Oliveira, Hugo Gomes, João Silva e Afonso Fernandes);

1X Juv H - 5º (João Lima).

8+ H - 4º (João Pinto; Anthony Passos; Paulo Veloso; João Carvalho; Márcio Vieira; Eduardo Gonçalves; José Vau; Virgílio Barbosa;Diana Ferreira (Tim)).

O quadro completo das provas pode ser consultado no site da FPR.

Assistência escassa

Voltou a assistir-se a uma reduzida presença de público nesta competição maior do Remo nacional, resumida praticamente aos atletas que observavam as regatas em que não participavam, técnicos, directores de clubes e familiares dos remadores.

Luís Teixeira ao C@2000:

Luís Teixeira, presidente da Federação Portuguesa de Remo, comentou para o C@2000 algumas das situações do remo português.

"Não se pode ter chuva na eira e sol no nabal"

P: Justifica-se a concentração de todos os campeonatos num único fim-de-semana?

R: Este ano mudou, porque os veteranos também estavam incluídos com todos os demais campeonatos e o seu Campeonato realizou-se no fim-de semana anterior.

Considero que seria muito mais engraçado fazer tudo ao mesmo tempo mas, para isso, as provas tinham que começar na Sexta-feira o que seria mais complicado para os clubes, porque tinham de pernoitar aqui mais uma noite. É complicado satisfazer todos os gostos e ter chuva na eira e sol no nabal. Acho que resultou bem fazer os veteranos à parte e, sinceramente, pergunto a mim mesmo se não faz mais sentido fazer as classes jovens à parte, juntando os veteranos com os seniores.

Não Sei. Não sei qual será a melhor opção, porque também faz pena ter aqui as classes mais jovens sem finais B,C e D para que os miúdos pudessem fazer mais do que uma prova, mas isso implica estar aqui mais tempo e vir um dia antes, com mais gastos para toda a gente e os clubes também têm esses problemas. Obviamente, que estarmos todos juntos é extremamente mais agradável.

"Jovens entre os 19 e 23 anos têm muitos apelos"

P: Como analisa o remo actual?

R: Está a acontecer uma mudança grande na sociedade que tem a ver com o envelhecimento da população, havendo cada vez mais veteranos e a praticar mais desporto, o que é muito bom.

Por outro lado, hoje em dia, os jovens entre os 19 e os 23 anos têm muitos apelos, como o ingresso nas universidades, aspectos sociais, a facilidade de viajar e estudar fora seis meses, e isso torna difícil o seu nível de comprometimento, levando a que deixem de remar aos 20/21 anos e voltem aos 30, 35 e 37.

Não estou a fugir à pergunta, mas isto é uma coisa que atravessa todos os desportos e que o remo também tem que repensar e adaptar-se a isso.

A nível do aumento de praticantes, isso não tem acontecido, o que tem havido é uma substituição com o aumento do número de veteranos. Em femininos, o número de praticantes tem aumentado bastante e nós temos apostado nisso.

Temos que nos adaptar a esta sociedade e captar o maior número possível de pessoas.

"Trabalhamos mais no silêncio"

P: Nota-se alguma evolução a nível de infra-estruturas e organização nesta pista de Montemor-o-Velho. Isso deve-se mais à influência da Federação Portuguesa de Canoagem ou também há mão da FPR?

R: Não acho que seja assim. Se calhar, nós temos uma postura um bocado diferente, trabalhamos mais no silêncio…

P: Mas a canoagem tem obtido mais resultados…

R:…sim, mas vem de um processo mais longo. Agora, tem tido a capacidade de organizar eventos importantes aqui, coisa que nós já tentamos mas o Estado português não nos garantiu financiamento. Nós fazemos parte da comissão local e estamos bastante presentes naquilo que é o desenvolvimento da pista e, posso dizer-lhe que já convidamos os membros da Câmara Municipal de Montemor para se deslocarem connosco a provas internacionais para perceberem o que é que se faz de espaços como este.

Estamos altamente empenhados em colaborar com a Câmara e as entidades que gerem a pista para dinamizar isto.

Esse papel é feito nas reuniões, e não nas redes sociais.

"É o equilíbrio possível"

P: Em termos de selecção, a FPR tem um técnico norte-americano em part-time. Acha que resulta, ou é um óbice ao desenvolvimento das prestações dos seleccionados?

R: É o equilíbrio possível.

O ideal era termos alguém a tempo inteiro mas não há dinheiro para isso. Um treinador de nível mundial, da qualidade ou equivalente ao norte-americano que temos custaria entre 80 a 100.000€ por ano. Mais os treinadores adjuntos que necessitaríamos. Foi um equilíbrio, dadas as restrições financeiras que nós arranjámos. Até onde é que nos pode levar? Não tão longe como se fosse um treinador a tempo inteiro.

Selecção renovada

P: Quantos atletas de alta competição é que existem hoje em dia?

R: Este ano, subimos bastante o número de atletas com o estatuto de alta competição. Temos uma selecção renovada e há cada vez mais atletas a trabalhar no Centro de Coimbra e o nosso double-scull Sénior A já é constituído por um elemento novo, o Afonso Costa, de Setúbal, que seguiu o seu percurso na selecção connosco, nos nossos mandatos, assim como todos os outros elementos à excepção do Pedro Fraga que já vem de 2003.

De facto tem havido uma renovação, mas os desafios, a este nível e as exigências são tão grandes que não há-de haver muita gente no país e no mundo com a dedicação e o compromisso que é necessário e que estes jovens têm.

"Cláudia Figueiredo será uma das grandes apostas do remo português"

P: Cláudia Figueiredo é uma atleta natural do concelho de Caminha (que remou no Cerveira) que se encontra nos EUA a remar e a estudar e que se prevê que participe no Campeonato da Europa e no Campeonato do Mundo, em Skiff. Quais as perspectivas que possuem em relação às suas prestações?

R: A equipa técnica vê-a como provavelmente a atleta nacional com mais potencialidade do futuro. Mas isso não chega. Tem potencial mas é preciso executá-lo porque vai haver mudanças no programa olímpico, as mulheres ganham cada vez mais peso nesse programa olímpico e a Cláudia é um peso pesado, não vai haver ligeiros, e ela deverá ser na minha opinião uma das grandes apostas do remo português.



Federação Portuguesa de Remo



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