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O controle exercido pela PIDE
sobre aqueles que não iam votar

Embora haja quem considere que "estamos a viver pior do que antes do 25 de Abril", como ainda ouvimos dizer recentemente em Caminha, convém relembrar a esses saudosistas como actuava o regime de então, de cujos alguns exemplos já demos na edição anterior.

Nesse período da ditadura, o regime salazarista realizava umas pseudo-eleições para eleger deputados para a então designada Assembleia Nacional.

Em algumas ocasiões, a oposição nem sequer concorria por conhecer antecipadamente o seu resultado (viciado) ou era simplesmente impedida de o fazer. Noutros casos, tentava aproveitar esses períodos de aparente "abertura" a fim de tentar fazer ouvir a sua voz e criticar a falta de liberdade no país e demais tropelias e perseguições praticadas pelo regime.

Em 1961, houve "eleições para deputados", e foram dadas instruções aos chefes dos postos da PIDE em cada concelho, para informarem o director desta polícia política em Lisboa dos "indivíduos que, pelas suas colocações, cargos que ocupam ou ocuparam" não tinham ido votar no 12 de Novembro desse ano.

Até os magistrados colocados em Caminha controlavam

Essa ordem foi seguida pelo chefe do posto de Caminha, conforme podemos apreciar no documento existente à guarda da Torre do Tombo, integrado num dos processos existentes na polícia política relativo a Luís Félix dos Santos Almeida, pai do director deste jornal, e de entre a lista de abstencionistas, nem escaparam o Juiz de Direito e o então Delegado do Procurador da República da Comarca de Caminha.

32 "indivíduos" dos quais se constava que eram do contra

Nesse mesmo ano, quatro meses antes da farsa eleitoral, já tinha sido remetida "informação" da responsabilidade de um chefe de brigada, contendo outra lista composta por 32 indivíduos, sobre os quais se "constava em Caminha que eram adversários da actual Situação Política", documento igualmente integrante de um dos processos referentes ao "ajudante do cartório notarial de Caminha".

É provável que de entre os nomes incluídos nesta lista, estivessem alguns (poucos) que não tivessem tanto a ver com as suas convicções políticas contrárias à situação - como se dizia na altura -, mas sim com inimizades pessoais.

E já quatro anos antes (5/Nov/1957), tinha sido feito um "aditamento" a um "relatório extraordinário" remetido nas 48 horas anteriores, contendo outros nomes.

Estas trocas de correspondência entre os serviços da PIDE revelam alguns detalhes incongruentes e pouco sustentados, como o atesta um pedido de informação "confidencial" de 3/Março/1959, de um director da PIDE solicitado ao chefe do Posto de Caminha sobre "a identidade completa, porte moral e político de Luís Félix dos Santos Almeida, marinheiro".

De facto, o meu pai nunca foi marinheiro, a não ser que se referissem ao facto dele ser pescador desportivo, uma paixão que sempre teve, quer pescando no rio Minho ou na costa, chegando a ser sócio do Clube Ancorense de Pesca e Caça, em cujos concursos, desfiles de pescadores desportivos e actos sociais posteriores participou por diversas vezes.
(*)

Outra faceta do controle pidesco, é revelado noutro dos processos em que o visado era José Manuel Correia da Gama Crespo, por ter tido a desfaçatez de ter exercido "as funções de fiscal da oposição (efectivo ou suplente) na assembleia de voto da sua freguesia a 26 de Outubro de 1969 às "eleições" para a Assembleia Nacional, depois de ter manifestado a sua adesão à lista dos candidatos oposicionistas desse ano.

Este mesmo caminhense tinha sido detectado pela PIDE a participar em Setembro de 1973 numa reunião da oposição democrática num "barracão" de um industrial de padaria em Viana do Castelo, além de ter manifestado a sua "adesão" à lista dos candidatos oposicionistas da CDE às eleições desse mesmo ano.

O simples facto deste caminhense ter subscrito (?) um abaixo-assinado (com mais de 1.000 assinaturas de pessoas de Viana do Castelo, Braga e Porto) dirigido ao presidente do concelho de ministros de então, mereceu uma atenção especial por parte da polícia política, tendo direito a uma referência particular, embora surjam dúvidas se o José Crespo de Caminha era um dos subscritores, ou sim outro José Crespo de Viana do Castelo.

Pelo sim, pelo não, os controleiros do regime incluíram uma cópia da "representação" (assim lhe chamaram) enviada a Salazar num dos processos de José Manuel Correia da Gama Crespo de Caminha.

(*) Fotos do concurso de pesca organizado em 1970 pelo Clube Ancorense de Pesca e Caça

O Director



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