I
Poisada ao pé do mar de fina areia loura,
Branca noiva do Oceano, encantadora e bela:
És das Vilas a flor, do norte a sentinela,
Que o belo sol da Ibéria acaricia e doura.
Guarda-te Santa Tecla, além, na Hesperia moura
E a Ínsua te defendeu, aquem, na cidadela;
Beijam teus níveos pés, veneram-te a capela
O Minho deleitoso e o sussurrante Coura.
Circunda-te em redor todo um vergel florido:
Os verdes pinheiros da Gelfa e Camarido,
Os montes de La Guardia e as praias de Moledo…
E o Mar, que é teu amante, a repetir - Caminha!
Soluça em cada vaga, assim como em segredo:
- "Ó pérola do Céu, sonho e verdade: - és minha!"
II
A Torre do Relógio, a Torre de Menagem,
O velho Varatojo, o templo da Matriz;
Os Paços do Concelho, o esbelto Chafariz,
As minas da Muralha em frente à Passagem;
Dos barcos sobre o Minho, a tépida arvoragem,
Das feiras regionais, o labutar feliz;
Os cerros de Cristelo e d'Arga os alcantis,
Da ponte sobre o Coura, a esplêndida paisagem;
Eis, em conjunto vário, os teus padrões de glória
- Monumental tesouro a enriquecer-te a história,
Grinalda, em luz e flor, a circundar-te a fronte…
Assim resplendes tu, filha de ignóto arcano,
Como garça de neve a ressurgir do Oceano,
Como a Estrela da Aurora em límpido horizonte…
(Cantos da Minha Terra, 1927 - Valado Rosas )
(Revista Portugal - Nº 101 - 23 /06/1927 )
- Transcrição de João Couto Ramalhosa
O velho continente, dos valores humanistas, com uma União Europeia, considerada expoente máximo da civilização ocidental, continua a ser um espaço onde, genericamente, os valores essenciais, tais como: o direito à vida, o direito à não tortura, os direitos humanos, consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, continuam a ser respeitados, salvo algumas, poucas, exceções.
Os países de Direito Democrático, da União Europeia, em regra, utilizam as melhores práticas, no relacionamento entre pessoas, contudo, por vezes, eventualmente, por falta de formação, preferem utilizar o autoritarismo e a violência, a partir de um, ou mais funcionários, deste ou daquele organismo, para impor, ilegal, injusta e ilegitimamente a sua vontade, a sua tão propalada autoridade, porém, antidemocrática, parcial e iníqua.
Grande parte dos países da União Europeia, Portugal incluído, naturalmente, são procurados por outros povos, para: iniciarem, ou refazerem a vida; para fugirem a guerras, a perseguições políticas, religiosas; ou de outra ordem. Os migrantes, ousam, por intermédio de "negociantes" de pessoas humanas, atravessarem mares, nomeadamente o Mar Mediterrâneo, em condições de eminentes catástrofes, ficando abandonados em barcos superlotados, facilitando assim a queda ao mar de muitas pessoas, que acabam por morrer afogadas. Há quem afirme que o Mediterrâneo é um verdadeiro cemitério de migrantes.
Atualmente, milhares de cidadãos, de muitas nacionalidades, etnias, credos e profissões, procuram Portugal: não só para férias; mas também, e principalmente, para trabalhar, de resto, é outro dos direitos fundamentais, consagrado na Constituição da República Portuguesa. Nas atuais circunstâncias, Portugal, um país super envelhecido e desertificado, só terá a ganhar, recebendo imigrantes, obviamente, cumpridas que sejam as formalidades legais, para o efeito.
Portugal, país de navegadores, de missionários, de hospitalidade e de emigrantes, é um bom exemplo para compreender a situação dos imigrantes, que desejam trabalhar em território nacional. No século passado, a partir de meados da década de cinquenta, e até meados da década de setenta, mas principalmente nos anos sessenta, centenas de milhares de portugueses, emigraram ilegalmente (a salto, como então se dizia), para diversos países da Europa, e até para fora do velho continente. Em geral sempre foram respeitados, bem acolhidos e elogiados.
Nos países de acolhimento, iniciavam a sua legalização e rapidamente começavam a trabalhar, porque: por um lado, parte da Europa estava destruída, em consequência da segunda guerra mundial e carecia de mão de obra; por outro lado, os nossos emigrantes tinham, pelo menos, cinco objetivos: 1) Melhorar o nível e qualidade de vida; 2) poderem vir a ter uma reforma para uma velhice tranquila; 3) construírem a sua casa ou fazerem obras nas que já possuíam, mas em mau estado; 4) comprarem a sua viatura, a melhor possível e 5) terem condições para mandarem os seus filhos estudar nas universidades nacionais ou mesmo estrangeiras. Tudo isto, mas não necessariamente pela ordem indicada.
Hoje, 2020, são milhares os portugueses que, devido às suas qualificações académicas, ocupam altos cargos: na política, no setor empresarial público e privado, em todos os organismos do Estado. Então, a pergunta que se deve colocar é muito simples e pertinente: quantos destes funcionários, públicos e privados, não são filhos de pais emigrantes portugueses? Será que estas pessoas gostariam de ver os seus pais maltratados, noutro país ou mesmo na própria pátria?
Neste caso, será justo, legal, legítimo e democrático, não se ajudar um estrangeiro, que vem procurar trabalho no nosso país, em vez de utilizar a indiferença, a sobranceria e a violência? Onde estão as boas práticas civilizacionais e o respeito pelos Direitos Humanos, que tantas pessoas se vangloriam? É claro que, "uma árvore não faz a floresta", e também é verdade que não é uma pessoa ou um pequeno grupo, que pode dar a imagem negativa de um país de brandos costumes, como assim é conhecido mundialmente.
Aproveito a oportunidade para desejar um Santo e Feliz Natal. Ditoso Ano Novo de 2021, dentro dos condicionalismos existentes. Que o próximo ano nos proporcione o alívio desta cruel pandemia e melhores condições de vida.